Tambor ▸ Parte 4

Acordo com um bom humor que até mesmo eu estranho. O despertador ao lado da cama toca, e eu nem reclamo quando o desligo, já jogando o lençol para o lado e esticando o corpo, me espreguiçando e abrindo um largo sorriso.

— Nem acredito que não vou ter que te carregar cama afora para chegarmos na hora da gravação querida — Chuck fala e olho em sua direção. Ele já está de pé e saindo do banheiro, pelo vapor que percebo sair de lá, ele já tomou um longo banho quente.

— Eu coloquei um despertador seu incrédulo! E quem atrasa as gravações é a princesa do Bart, nem vem querer colocar essa culpa em cima de mim! — fico em pé e com um empurrão o coloco de vez para fora do banheiro.

E com apenas alguns minutos de atraso, por culpa do Bart realmente, chegamos no local da gravação de hoje, mas nem teve muita importância, pois o apresentador ainda não tinha chegado, então ficamos apenas ali, conversando. Meus olhos já buscam uma pessoa específica e não demoro muito para identificar aquele rabo de cavalo dourado e alto.

Correndo o risco de parecer desesperado, vou em sua direção, porém, acabo sendo parado algumas vezes no caminho por outras participantes e membros da produção, mas nada me tira do objetivo.

— Oi — digo quando fico frente a frente com Raquel.

Ela está lindíssima, com aquelas roupas coladas e cabelo preso, e eu me controlo para não a abraçar apenas para ter certeza de que ontem foi mesmo real.

— Oi — ela diz de volta e ela parece estar tão inquieta quanto eu.

Mas não conseguimos falar nada além disso, pois o apresentador chega e a produção começa a se mover em peso para nos organizar em nossas posições. A gravação dá início, e logo estamos ouvindo uma detalhada explicação do percurso que elas têm de fazer e eu fico impressionado. Então ele pergunta se alguém se oferece para mostrar o caminho para as meninas, e eu me ofereço logo.

Abro um sorriso e começo a me aproximar do começo do percurso. Olho para baixo e percebo que estou com uma de minhas camisetas favoritas, não quero sujar ela de lama, então apenas a retiro e escuto alguns gritinhos femininos e uns xingamentos brincalhões dos meninos. Não me importo muito e apenas respiro fundo, me preparando para a tarefa.

Prontos ou não, aí vou eu! — digo mais para mim mesmo do que para alguém em especial e começo.

Vou passando pelos obstáculos sem muito problema e concluo mais rápido do que imaginei. Recebo aplausos e gritos bem animados. Quando a fala volta para mim, brinco de leve, dizendo que se alguma das meninas conseguisse bater o meu tempo, eu que teria um encontro com ela.

Falo isso encarando diretamente a lente da câmera, porém a piscadinha de olho em seguida é direcionada para a Raquel. Os nomes são sorteados e ela é a quinta a correr. E vejo que ela está se esforçando, e mesmo que não consiga bater meu tempo, ela assume a liderança isolada.

Seu peito está coberto de lama e o cabelo não estava mais tão bem preso assim. Sua bochecha está suja e o esforço trouxe muita cor a seu rosto. Ela está linda. Abro um largo sorriso para ela, mas não sei se ficarei muito feliz vendo-a num encontro com o Chuck. Estou quase gritando que eu que vou ter o encontro com ele quando a última candidata, Juliana, começa o percurso.

Estou impressionado com a rapidez dela. Quando percebi lá estava ela no botão vermelho. Ela chegou perigosamente perto de bater o meu tempo, mal falei alguma coisa, quando ela começa a comemorar o encontro com o Chuck.

Solto um suspiro duplamente aliviado. Não voltaria com a minha palavra. Se ela realmente tivesse batido meu tempo, realmente a chamaria para sair, mesmo não querendo. E claro, ainda de quebra, ela bateu o tempo da Raquel que consequentemente não terá mais um encontro com meu amigo.

Vamos almoçar e percebo que em vez de voltar comigo para o quarto e descansar para o seu encontro mais tarde, o fofinho simplesmente diz que vai caminhar um pouco. Até desconfio aonde ele vai, mas não o sigo nem me ofereço a acompanhá-lo. Apenas vou pegar uma cerveja para mim, e no caminho aceno para algumas pessoas da produção.

— Você viu como a Muniz está próxima do Charles? — escuto uma voz baixa falar e me aproximo discretamente para escutar um pouco melhor.

— Vi, e escutei um dos homens do som comentar que viu os dois conversando e eles pareciam muito íntimos, para falar o mínimo — uma voz feminina responde.

— Será que ela está querendo roubar o show? — a primeira voz responde.

— Bem que gostaria, mas ela não tem chance contra as participantes! Insossa do jeito que é — a risada debochada me incomoda bastante e odiei o modo como estavam se referindo a Catarina.

— Se vocês têm tempo para ficar fofocando coisas que não competem a vocês e rindo desnecessariamente, têm tempo para irem ajudar a equipe de iluminação com os testes para o encontro do Keller mais tarde — uma terceira voz se envolve na conversa e fico aliviado por não ter que me intrometer.

Os holofotes estão sob o Chuck. Não que a Raquel esteja completamente fora das atenções, afinal ela é uma das candidatas, mas o nome no programa é ele, então o cuidado dele deve ser redobrado. Não há como abafar essas fofocas, afinal, elas estão baseadas em algo real.

Não há como negar que a atenção do fofinho está voltada para a produtora.

— Fontanza! — a voz que impediu as fofocas está na minha frente e reconheço o Marcelo, um dos produtores. — Pensei que você já estava descansando.

— Ah, eu queria pegar uma cerveja antes de me recolher — digo apontando para minha mão, onde a cerveja ainda permanecia fechada.

— Sim, sim. Entendo. Mas se você precisar de algo, é só usar o walkie-talkie do quarto, que alguém pode providenciar isso para você — ele explica.

— Não vou incomodar ninguém. Consigo pegar minha própria cerveja — respondo com um sorriso tranquilo.

— Claro, é óbvio — Marcelo olha para trás e solta um pequeno suspiro. — Não se incomode com o que você escuta por aí. Com o acesso a tecnologia limitado, as pessoas tendem a olhar demais uns para os outros. Se precisar de alguma coisa, pode me procurar.

Sem me dar tempo nem de falar outra coisa Marcelo se afasta, indo na direção de outras pessoas do programa que estavam a uns bons metros de nós.

Ele não nega nenhuma das coisas que escutei. Então ele também sabe, e ao que parece, com muito mais certeza do que eu.

Charles só volta para o quarto umas boas horas depois, e mal fala comigo, já vai na direção do banheiro, me informando que está atrasado para a gravação e que tomaria um banho. Ele tem um sorriso bem idiota e largo nos lábios. Eu conheço aquele sorriso. Não demora muito ele sai, já com outra roupa, ainda tinha um sorriso, mas bem menor agora.

— Esse sorriso todo é para o seu encontro agora? — alfineto, e o sorriso dele vai embora na hora.

— Não enche querida. Você sabe que não — ele olha para mim, sem dar mais nenhuma informação.

— Você sabe que as notícias aqui correm rapidamente, não sabe? — digo com um toque de cautela em minha voz. Chuck me olha alarmado. — Fique tranquilo. Eu só escutei algumas coisas bem por cima, nada de muito comprometedor, mas seria bom você tomar um pouco mais de cuidado, afinal, esse programa é para você.

— Nem me lembre — ele responde azedo.

— E saiba que se você precisar da minha ajuda para qualquer coisa... Estou aqui. Seja para fazer algo ou apenas para escutar — dou dois tapinhas em suas costas.

— Ainda estou pensando em como melhor agir com tudo isso querida. Mas fico muito aliviado em saber que você pode me ajudar caso eu precise. Eu... — ele suspira e então coça a cabeça como se estivesse pensando no que dizer. — Tenho que ir.

— Bom encontro fofinho — aceno, me despedindo dele e ele não fala mais nada antes de sair, também acenando para mim.

Quando tenho certeza de que o Chuck não voltará mais para o quarto, pego as folhas com a continuação da história, deito-me na cama, e depois de ligar a luz do abajur, volto a mergulhar na história que Raquel está criando.

GANHEI! — Samantha pulava alegre e comemorava sua vitória. Antes que eu pudesse ficar de pé, Bart já passa por mim, indo dar um abraço de consolo na Raquel e então indo comemorar com todos os saltos com a vencedora da partida.

Já eu e o Fred caminhamos para o outro lado da quadra, porém, claro parabenizando Samantha por sua vitória, mas eu segui direto para o meu objetivo, falar e confortar Raquel. Ela não parece tão triste assim, mas não quis dar margem para esse pensamento.

Sem conseguir controlar minha vontade de encostar nela, fico passando a mão por suas costas. Sei que qualquer pessoa que visse a cena pensaria que estou apenas consolando-a. Mas aproveito cada segundo de sua pele quente e úmida em meus dedos.

Quero muito passar meus dedos novamente por ali, mas sem essa camada de roupa e eu sendo o responsável por aquele suor. Respiro fundo, tentando expulsar esses pensamentos.

Não consigo falar nada, meus pensamentos ainda estão muito eróticos, então deixo as palavras com o Fred e fico apenas ali do lado, sentido seu calor e tentando não surtar.

— Quinho! Vem logo comemorar com a gente! — a voz de Bart me chama a atenção e olho ao redor.

Se o Chuck não está comemorando com a Samantha e o irmão, e não está aqui conosco consolando a Raquel...

Onde está o fofinho?

Olho ao redor, procurando meu amigo, e o vejo não muito longe, e apenas disfarço uma risada quando percebo que ele está olhando com um sorriso bem largo para um ponto bem específico além das câmeras, ela está bem distante, então nem tem como negar que realmente ele está de olho nela.

— Sério que você está achando graça da Raquel seu cruel? — Fred chama a minha atenção e eu pisco rapidamente, soltando uma risada sem ao menos perceber.

— Não é isso! — digo apressado, mas pela cara que ele faz, não parece acreditar. — É sério Dinho! É sério Raquel. Não estou rindo da sua derrota — mordo a língua para não dizer que mesmo assim estou bem feliz por ela não ter ganho. Mais uma vez escapei de vê-la num encontro com o Chuck.

— Desculpe Raquel. Não é sua culpa nós termos um amigo tão insensível — Dinho fala colocando a mão em cima do ombro dela, removendo as minhas, como se meu toque a ofendesse.

— Ele não é insensível! — Raquel me defende com tanta intensidade que tanto eu como o Fred nos assustamos. — Quero dizer... Pelo que pude perceber.

Ela ganha um rubor nas bochechas e tudo o que mais quero fazer agora e abraçá-la apertado. Porém, me controlo e tento voltar a ter o controle da situação.

— Então vou deixar você com a sensibilidade do nosso amigo. Ainda não felicitei a Samantha — Fred diz com um sorriso tranquilo e dá um tapa forte demais em meu ombro. Fico se saber o que responder quando ele, ao passar por mim, pisca levemente o olho. — Com licença os dois.

— Será que ele percebeu alguma coisa? — Raquel pergunta baixinho assim que Fred se distancia um pouco mais.

— Não se preocupe. Mesmo que sim, ele não falará nada — a tranquilizo. — Dinho deve ser a pessoa mais discreta que conheço.

— Fico um pouco mais aliviada — ela coloca a mão no coração, soltando um suspiro.

— Sabe, por mais que eu queira ficar aqui somente com você, acho melhor nos reunirmos com o restante das pessoas. Melhor não dar margem para fofocas — falo e ofereço o braço a ela, que aceita e começa a caminhar comigo para onde o restante da banda e das candidatas estavam.

Junto de toda a equipe, comemoramos os bons números do programa. Mesmo cansados, deu para celebrar um pouco, porém, teríamos gravação no outro dia, então decidiram que era melhor para todos se nos recolhêssemos.

Ninguém reclamou, e fomos todos para nossos quartos com sorrisos nos rostos. Dou um longo bocejo e me espreguiço depois de tomar um belo banho quente. Pensei que Chuck já estivesse dormindo, mas dou uma risada quando olho para o lado e percebo que ele está um tanto quanto inquieto.

— Sério mesmo que você ainda tem energia depois do dia de hoje fofinho? — pergunto, me jogando de costas na cama, aliviado por conseguir descansar um pouco.

— Isso é bom não é mesmo? — ele pergunta, andando de um lado para o outro do quarto, com a ponta do polegar entre os dentes.

— Isso é energia sexual acumulada. Experimenta bater uma no banheiro e, com certeza, todo esse gás vai embora! — dou de ombros e não me defendo quando uma almofada voa em minha direção.

— Você é obsceno querida! — escuto a brincadeira em sua voz.

— Mas você adora — sorrio e me sento na cama, colocando o travesseiro que ele jogou em mim atrás da minha cabeça.

— Morro negando — ele volta a caminhar ao redor do quarto.

— Por que você não vai caminhar pela fazenda já que você parece tão disposto? — falo. — Afinal, se você continuar a dar voltar nesse quarto, vou ficarei tonto e não conseguirei dormir.

— Não seja exagerado — Chuck revira os olhos para mim. — Mas acho que uma caminhada essa noite pode me fazer bem! — os olhos deles brilham e percebo que ele tem algo em mente. Ele troca a blusa e mordo a língua para não falar nada quando ele passa perfume.

— Cuidado com as câmeras! — não acho que ele tenha me escutado antes de sair do quarto pulando num pé só calçando seu tênis.

Espero mesmo que ele tenha cuidado, ficaria muito triste se algo estragasse essa felicidade dele.

Mais um capítulo para vocês, e espero que vocês ainda lembrem e estejam se situando onde nós estamos aqui no livro 1. Para ser bem sincera não esperava que os fatos fossem se encaixar tão legal assim, mas ainda bem que está tudo indo de acordo com o roteiro.

Taz foi a pessoa que sugeriu o passeio noturno no momento do parquinho! Ele ajudou a proporcionar o momento enfermeiro Chuck para Catarina.

E aí, o que estão achando dessas lembranças, está legal de acompanhar, ou está ficando cansativo? Deixem aqui nos comentários!

Obrigada a todos que estão acompanhando, e nos vemos no próximo capítulo!

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