Tambor ▸ Parte 3
— Não acredito que ele teve coragem de falar aquilo! — é a primeira coisa que falo para a Raquel quando devolvo o caderno em suas mãos. — Você é má. Maltratar o coração dos seus leitores assim é errado, ou, pelo menos, deveria ser!
A risada discreta que ela dá revira tudo dentro de mim. E a risada discreta evolui para uma gargalhada cheia e sou pego de surpresa quando ela até chora de tanto rir. Esse som é tão feliz, que não consigo e nem quero esconder o sorriso.
Já notei que quando ela ri, mas ri de verdade, seus olhos quase se fecham, e o topo de seu nariz enruga levemente. Meu coração mal cabe no peito demais quando percebi que ela sempre faz isso quando está conversando comigo. As risadas dela na frente das câmeras, as vezes não é de verdade.
Sei que muito provavelmente nem deveria, mas estou muito satisfeito com essa constatação.
Consigo perceber tudo isso, pois nossos encontros são praticamente diários, ela está tão feliz em escrever assim como estou feliz em ler.
— Juro que não quero maltratar ninguém... Se aconteceu, foi sem querer — ela abraça o caderno que lhe devolvi com muito carinho. Ela já me conhece bem o suficiente para saber que estou apenas implicando com ela.
— Sem querer. Sei, sei... — abro um sorriso e reviro os olhos dramaticamente.
— Eu mal tenho controle sobre o que os personagens fazem, dizem, muito menos pensam... Normalmente eu só escrevo o que está acontecendo, nem que seja na minha mente — Raquel dá de ombros.
— Então pelo amor dos leitores me diz que aconteceu mais alguma coisa, acho que a curiosidade vai me fazer arrancar uns tufos de cabelo! — peço, exagerando um pouco, mas realmente estou muito envolvido com a história.
— Sorte a sua que eu não consegui dormir muita coisa de ontem para hoje e meus dedos trabalharam... — ela me estende algumas folhas destacadas de um caderno.
Recebo as páginas com empolgação, e já sinto a minha mente querer viajar, mas não é na história que Raquel está escrevendo.
Sem o meu controle, mas aparentemente com o meu subconsciente, meu cérebro vem distorcendo as informações que ela me dá, moldando as palavras que saem de sua boca para algo muito mais sensual.
É enervante ter que respirar fundo e dar um tranco no rumo dos meus pensamentos para voltarem para o presente e verdadeiro. Sempre me sinto um babaca quando tenho que fazê-la se repetir na conversa por ter sangue demais na cabeça errada.
Tipo agora.
Quando ela disse que não conseguiu dormir a noite, e que seus dedos trabalharam bastante. A grande maioria do meu cérebro sabe muito bem que ela está se referindo a escrita, que os seus dedos estavam trabalhando em anotar as coisas no papel.
Mas o problema é um pedaço da minha cabeça que insiste em pensar que ela perdeu o sono e que seus dedos trabalharam de outra forma. Que ela não conseguiu dormir pois seus dedos delicados e quentes estavam deslizando não entre uma caneta e papel, e sim em contornos femininos e bastante pessoais.
Quem sabe com a mente cheia de um novo leitor que ela ganhou, aqueles dedos ganham firmeza e sabem bem aonde ir, e sem pressa, vão caminhando, despertando, procurando aquele ponto...
De repente seus dedos delicados são substituídos pelas minhas mãos, e extasiado, vou sendo guiado por suas súplicas, e quando Raquel parece não saber mais o que pedir, eu tomo as rédeas e me deixo envolver por aquele corpo quente e receptivo.
A voz dela saindo baixa da garganta, aquele gemido mal contido, que vem rouco, com o meu nome sendo chamado uma vez e de novo, e de novo, e de novo e...
— Taz? — Raquel me chama e é o choque de realidade que estava precisando para frear esses pensamentos.
Pisco algumas vezes e volto ao presente, mas uma parte de mim lateja ainda perdido. Cruzo as pernas e dou um sorriso esperando que aquela seja a resposta.
— Você não escutou nada do que eu disse agora não é mesmo? — ela pergunta rindo levemente.
— Sinto muito, mas não — respondo sincero. Torço para que ela não pergunte o que eu tanto fantasiava, pois não saberei o que responder.
— Azar o seu, pois eu estava aqui falando sobre o possível final da história e qual será o destino do seu personagem favorito — Raquel diz, abrindo um sorriso que só posso descrever como perfeito.
— Ah não, não faça isso comigo... — meus olhos cerram, com certeza, aceitarei esse desafio de fazê-la falar.
— Quem mandou ficar no mundo da lua quando eu dei esse mole e falei mais do que deveria? — o tom divertido da sua voz e seu dar de ombros descontraído me mostram que provavelmente nem terei que insistir muito para arrancar dela essas informações.
— Se eu dissesse que estava pensando nos seus personagens e no que gostaria que acontecesse no livro, ajudaria um pouco a minha barra? — tento apelar, mentindo descaradamente, piscando os cílios como a pessoa inocente que sei que não sou.
— Ajudaria, se fosse sincero. Não sei onde a sua cabeça estava, mas no meu livro é que não era — ela acerta bem, só não é na mosca, e ainda bem, nem sei o que ela faria caso visse onde a minha mente poluída estava flutuando.
— Você está me conhecendo bem demais para o meu próprio bem senhorita escritora — brinco com ela, mas a verdade é tão grande aqui que me assusta.
— E estou adorando te conhecer assim — meu olhar é atraído para ela imediatamente. Ela comprime os lábios e se que ela quis engolir as palavras assim que foram ditas.
— E se o modo como as suas bochechas estão ficando vermelhas agora mostram o quanto estou passando a te conhecer um pouco melhor também, essa frase saiu sem querer, não é? — pergunto e sei que não deveria tornar mais a sua vergonha, mas não deixaria passar isso.
Raquel esconde as bochechas com as mãos e abaixa o rosto, desviando o olhar do meu, mesmo assim, concorda com a cabeça, respondendo a minha pergunta.
— Desculpe — sussurro sincero. — Mas se vale de alguma coisa. Eu também estou adorando te conhecer um pouco melhor. Sua criatividade é algo cativante e você é uma pessoa verdadeira e inteligente.
Seus olhos escapam do esconderijo de suas mãos e vejo um brilho suave ali. Os cantos de seus olhos enrugam e sei que ela está sorrindo.
— Obrigada — a sua voz sai um pouco abafada. Então ela puxa uma longa respiração e retira as mãos. — Obrigada — ela repete, agora em alto e bom tom. — Não estou muito acostumada a ser elogiada por um homem pela minha criatividade ou inteligência.
— É que infelizmente num primeiro momento, é apenas um rosto agradável e um corpo quente que estamos procurando — me arrependo quase imediatamente dessa resposta, porém minha língua aparentemente se recusa a ficar dentro da minha boca. — Não me entenda errado. Você é linda, e o seu corpo parece se encaixar perfeitamen...
Quase que escapa algo que nem deveria ver a luz do dia. A probabilidade de ter piorado a situação é alta, mas não vou deixar essa frase no ar. Ergo o meu indicador, pedindo um momento, mas fecho os olhos, sem conseguir encará-la. Respiro fundo algumas vezes, e quando acho que a minha língua não tirar o melhor de mim, continuo a falar.
— Não vou ficar falando demais o óbvio. Você é linda Raquel. Mas também tem muito mais a oferecer. E estou feliz em poder conhecer esse a mais. Além de poder apreciar sua beleza — okay, não foi bem como eu planejava, mas melhor de onde eu estava indo.
— Eu gosto muito da sua sinceridade Taz — ela abre um sorriso sincero e sou pego desprevenido quando ela levanta e vem me dar um abraço.
Meu cérebro demora um pouco para entender o que estava acontecendo, mas meu corpo está perfeitamente preparado, já que percebo meus braços abrindo e acolhendo o corpo da Raquel contra o meu num abraço.
— Suas mãos são pesadas — ela diz girando levemente o rosto para sua voz sair um pouco mais clara.
Não sei muito o que fazer, pois ela ainda está me abraçando com firmeza. Sem pensar demais, retiro as mãos de suas costas, mas se sobressalto com a voz dela.
— Não! — ela se afasta um pouco, para me olhar nos olhos. — Eu gosto — e o sorriso que ela me deu agora arrebatou algo que nem sabia que podia ser arrebatado em meu peito.
— Mãos de baterista — dou de ombros e volto a aproximar nossos corpos e dessa vez o aperto do abraço é de minha responsabilidade.
Tenho plena consciência que ela consegue escutar meu coração descontrolado, mas não me importo com isso agora. Raquel tem cheiro de aconchego, e nem sei quanto tempo ficamos ali, e sei que não foi pouco, mas para mim não foi o suficiente.
Seu rosto está vermelho e algo treme dentro de mim quando ela morde o lábio, puxando uma longa respiração. Seus olhos estão fechados quando ela ergue o rosto, e não estava preparado para ver a determinação naquelas írises quando ela abriu os olhos e me encarou.
— Por favor, não me odeie depois disso — ela diz e com uma delicadeza que me arrepiou completamente, coloca uma mão de cada lado do meu rosto e cola seus lábios nos meus.
Ah Raquel, como eu poderia te odiar se você acabou de fazer o que eu tenho sonhado há dias?
Seus lábios são macios e sou pego em tamanha surpresa que nem cheguei a fechar os olhos. Apenas encaro seus cílios longos cerrados. A pele de suas bochechas com um brilho avermelhado. Ela mal me deixa sentir seu gosto mentolado e se afasta de mim.
Passa a língua por seus lábios levemente entreabertos, agora úmidos, e o leve e sincero sorriso que ela abre me deixa simplesmente maluco.
— Vou devolver suas palavras. Por favor, não me odeie depois disso — mal reconheço minha voz.
Minhas mãos vão até a sua cintura e num impulso a trago para perto de mim. Suas pernas se encaixam ao redor do meu quadril e precisei de um pouco de autocontrole para me lembrar de ir devagar. Esse é o nosso segundo beijo.
Suas mãos vão para meus ombros e as minhas para suas costas, e por mais que eu quisesse descê-las, me obriguei a subir, passando os dedos lentamente ali, fazendo ela arquear o corpo ainda mais para perto e ergui o rosto, indo em direção ao seu pescoço e não para a curva tentadora de seu decote.
— Você está bem com isso? — pergunto segurando o último fio de sanidade.
— Sim. Mas vou entrar em combustão caso você não me beije tipo, agora — ela desce um pouco o rosto para deixá-lo deliciosamente perto do meu.
Agora que vai esquentar...
O beijo não começa devagar, nem vai aquecendo. Ele já começa intenso, e consome tudo. Deixo um momento seus lábios para me aventurar na pele arrepiada e quente de seu pescoço. O cheiro dela é inebriante, e mal raciocino quando sinto meus dentes rasparem levemente um ponto próximo a seu colo. Raquel segura com tanta firmeza meus braços, e solta um som tão cheio de prazer que acho que morri e fui para o céu.
Ela volta a me beijar com a sua boca ainda vibrando com esse som lindo e eu me agarro como consigo nela apenas para ter certeza que não estou sonhando.
Fico muito feliz quando Raquel devolve com a mesma intensidade o meu desejo. Seu quadril começa a fazer círculos lentos e ritmados em cima de mim e eu apenas pouso minhas mãos ali, mostrando com toques precisos, os meus pontos fracos.
Quando percebo o que fiz e o que ele movimento me faria ter vontade em alguns momentos, seguro ela parada. Seus olhos abrem e ela me olha um pouco alarmada.
— Eu fiz alguma coisa errada? — a preocupação na sua voz é evidente. Ela tenta descer do meu colo.
— Não! — digo rapidamente e a puxo de volta para mim. — Não é isso! É o oposto na realidade, você está fazendo tudo certo, e talvez as coisas acelerassem demais se continuássemos nesse ritmo.
— Ah — Raquel sorri. — Vamos então parar por aqui hoje? Podemos continuar a conversar sobre a história se você quiser.
— Não confio em mim o suficiente para ficar com você agora e continuar o que meu corpo claramente quer. Então acho que é melhor irmos dormir mesmo — e outra, já estávamos há um bom tempo ali. Não encontramos ninguém, mas não é bom abusarmos da sorte, mas melhor não compartilhar com ela esses receios.
— Não acho que conseguirei dormir, mas entendo o seu ponto — Raquel sai de cima de mim e vai para o lado.
Já sinto imediatamente falta do calor dela.
— Não me provoque dona escritora — brinco com ela e recebo um sorriso de volta.
Ela fica de pé e começa a prender seus cabelos no topo da cabeça. Então vai para a roupa que estava um pouco amassada em alguns locais e torta, mas com alguns ajustes, tudo vai para o lugar, mas sorrio ao perceber pequenas bagunças feitas por mim ainda intocadas.
— Como estou? — ela pergunta com os lábios úmidos e levemente inchados. Perfeita passa pela minha mente, mas não me permito falar isso.
— Linda como sempre. Nem parece que foi atacada por um baterista descontrolado. E eu, como estou?
— Uma tentação — Raquel sorri e puxa a gola da minha camisa para me dar um beijo estalado. Depois passa as mãos pelos vincos que ela mesma tinha feito. — Prontinho.
— Melhor você ir. Estou enfraquecendo aqui — e realmente estou.
Com uma risada divertida ela então se afasta de mim, acenando algumas vezes antes de sumir completamente de vista. Estou definitivamente ferrado.
Abro a porta do quarto o mais devagar que consigo, para não fazer barulho, e realmente não faço, mas não tenho sorte, já que Chuck ainda está acordado, com o seu baixo e caderno de composições em mãos. A diferença de iluminação do quarto faz com que ele erga o olhar.
— Já está fugindo de mim querida? — Chuck pergunta retirando os fones de ouvido que usava e os colocando de lado para me ouvir. Ele tem um sorriso tranquilo no rosto, mas vejo quando ele fecha o caderno e o coloca de lado.
— Nunca fofinho. Eu apenas estava andando um pouco. Você que saiu do quarto primeiro. Eu só não estava muito a fim de ficar sozinho — dou de ombros e escondo casualmente as folhas que a Raquel me deu no bolso.
Se ele não vai mostrar o que está escrevendo, eu que não mostrarei o que estou lendo.
— Foi mal. Quer comer alguma coisa? Um pessoal da produção deixou alguns sanduíches aqui mais cedo. Estão deliciosos — ele pergunta, apontando para um prato largo coberto com uma proteção de plástico.
— Sempre tem espaço para um sanduíche — abro um sorriso vou sentar-me ao seu lado, trazendo o prato comigo. — Sabe que foi até bom eu ter ido dar essa caminhada, é bom para esfriar a cabeça.
— Até que pediria desculpas por trazer vocês para essas situações, mas como fui jogado sem misericórdia para debaixo desse caminhão, é até um pouco satisfatório saber que eu tenho um pouco de peso nesses pensamentos — Chuck diz depois de morder um pedaço do pão.
— Justo. Mas você não é todo o motivo dos meus pensamentos precisarem de uma caminhada para acalmar — solto essa meia verdade e é o melhor que consigo fazer.
Ainda não consigo encontrar as palavras para falar que estou gostando da Raquel. Não quero que a nossa amizade fique complicada caso ele também goste dela.
— Touche. Quer conversar sobre isso? — sinto a curiosidade em suas palavras.
— Talvez depois. Agora ainda não. Você também deveria precisar de um momento só, já que saiu também silenciosamente.
— Era realmente isso, mas percebi que algumas vezes é melhor ter companhia — ele sorri.
— Então você voltou para mim fofinho? — digo fingindo estar emocionado. — Sabia que você me ama!
— Quer engolir um dente do soco que eu vou te dar? — Chuck fala, erguendo o dedo do meio para mim.
— Tão violento... Precisa de mais uma caminhada? — cubro a minha boca parcialmente, fingindo estar com medo do seu soco que sei que não virá.
— Amanhã. Já gastei minha sorte diária de hoje — o sorriso que ele abre me faz certeza de que ele está falando de mulher.
O que me deixa aliviado, já que eu sei que esse sorriso não é para a Raquel, pois ela estava comigo agora. Eu tenho certeza de que Chuck não ficaria chateado se eu lhe falasse agora sobre todo esse sentimento que está crescendo no meu peito, mas não consigo. Ainda não.
Uma sensação boa se forma na boca do meu estômago, e mordo bem mais satisfeito agora mais um sanduíche.
Continuando com as postagens, e vocês nem imaginam como fiquei feliz em conseguir escrever novamente, principalmente essas cenas de romance entre o Taz e a Raquel. Parece algo bobo, mas colocar isso em palavras é incrível e eu estou animada em dar ritmo para esses dois!
O primeiro beijo desses dois aconteceu bem mais cedo do que o do casal do livro passado não é mesmo? kkkkkk Vocês estão se situando onde estamos na história passada? Espero que sim! Acho que no próximo capítulo ficará mais claro onde estamos na história passada.
Obrigada pelo apoio que recebi de todos e fiquei muito feliz que ainda tem leitores por aqui ♥
Lembrando que se vocês gostarem do capítulo não se esqueçam daquele voto e comentário! Nos vemos na próxima sexta feira!
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