Quando cheguei na capela, eu não me importei com vaga e nem nada. Parei o carro saltando do mesmo e pegando a Ariel no carona. O pirralho havia não sei como dormido, em meio a tanto desespero ele dormir é o cúmulo.
A janela estava meio aberta do meu lado e tem ar circulando. Não tô preocupado, mas com a merda toda ocorrendo ser culpado de matar um bebê é o fim pra minha situação atual.

Adentrei a capela e notei uma senhora corcunda no balcão. Ela me olhou em choque e antes de falar me adiantei;

__Júlia! Onde tá Júlia?!

__JÚLIA!__a velha gritou e logouma garota ruiva surgiu ofegante em uma porta.

__me ajuda!__eu nem sei quem é ela, mas Ariel disse esse nome, provavelmente ela saiba o que fazer.

__traz ela aqui, rápido!__ela se virou e fui atrás dela o mais rápido que pude e logo estava em um porão bem jeitoso.

__deita ela aqui!__ela apontou pra uma mesa com um colchão encima.

Fiz como ela falou e logo ela veio com uma maleta pra perto da mesa.

__você lembra de mim?__ela examinava Ariel atentamente.

__não faço idéia de quem é você. Ela disse seu nome e a capela.__olhava cada ato da garota.__quem é você?

__eu estou treinando pra ser médica.__ela avisou rasgando o vestido da Ariel e notei muito sangue.

__o que...

__uma briga, ela foi encurralada e espancada lembro que havia tomado um tiro antes na parte de trás na altura do ombro. Depois só a encontrei na rua.

__entendi, ela levou um tiro de raspão no quadril. Eu vou tratar isso primeiro e depois vejo os outros problemas.

__quer...

__moço.__me virei pra escada e a senhora estava parada me olhando.__o seu filho tá chorando no seu carro.

Abri a boca e fechei algumas vezes, olhei Ariel sendo tratada e olhei a senhora.

Nada disse e sai rapidamente indo pra fora e vendo o remelento chorar sem parar.

Abri o porta malas e tirei o carrinho e montei o mesmo, peguei o mesmo no carro e deitei no carrinho.

__para um segundo de choro.__o encarei.__ninguém sabe o que fazer com você. Não somos seus pais e não entendemos seus choros.__ele diminuiu o choro.__eu não gosto de crianças, a única que tá cuidando de você e se preocupando com você está correndo risco de vida e sendo tratada por uma aspirante a médica.__ele parou.__se chorar resolvesse algo, eu seria o primeiro a sentar e chorar até tudo resolver, mas como não adianta, eu tô mandando você parar de choro!__ele piscava os olhos cheios d'água e mexia a boca em um beiço.__vocês sempre tem tudo que querem, sempre são os mais favoritos e queridos, eu não gosto disso. Por conta de bebês e crianças perdi uma chance incrível, por conta de vocês eu nunca fui escolhido. Então não me faça te entregar pra um qualquer, mais qualquer que eu e Ariel.

Me virei pegando a bolsa dele na no carro e cacei algo até achar a chupeta. Dei pra ele que pegou e mexia os bracinhos e encarei ele, ergui um paninho e balancei na frente dele.

__quer isso?__mexi pra um lado e outro e ele seguia com os bracinhos.__pega e vai dormir!__travei o carro e voltei pra dentro da capela com ele, ao chegar no porão Ariel estava parecendo um pouco melhor, já o chão abaixo da mesa só a tragédia. Panos e mais panos de sangue e a tal Júlia parecia em outro mundo.

Me sentei em um canto e fiquei empurrando com o pé o carrinho, não tirava os olhos da Ariel.

Sim, tenho um enjôo com essas coisas de sangue, mas agora? Agora não conseguia desviar os olhos, tanto sangue que vi desde que acordei, que acho que prefiro eles onde devem ficar, dentro do meu corpo e não fora.

Uns minutos depois notei Júlia cobrindo Ariel com um edredom.

Ela pegou uma toalha e limpou as mãos vindo até mim.

__eu dei alguns pontos no ferimento na parte de trás do ombro, na quadril dei só alguns pontos falsos pra cicatrizar mais rápido. O ombro esquerdo e o joelho direito foram deslocados, porém já os coloquei no lugar. Duas costelas foram quebradas e ela vai ficar com dor um pouco, os arranhões foram tratados e ela está fora de perigo aparentemente.

Ouvir aquilo foi duro, ela poderia ter entrado no carro e eu talvez conseguisse dá fuga, mas ela provavelmente poupou eu e o pirralho. Novamente ela me salvou, por que fossemos pegos juntos, teríamos ambos ido pra vala.

Ariel mais uma vez quase foi e eu não tô gostando disso, não mesmo.

__obrigado, quanto deu?

__que nada. É raro vê pessoas vindo aqui pra mim tratar, eu gosto. Não se preocupe.

Claro que ninguém em sã consciência viria aqui pra ser tratado, no normal era hospital, mas eu e Ariel não estamos podendo ficar no luxo, afinal nem sei como ela escapou do delegado, cruzar qualquer lugar possível de ser achado é nossa maior missão.

__então tá. Valeu.

__de boa. Pode ficar, eu vou ver se minha vó precisa de ajuda.

Na hora que ela saiu eu fiquei uns segundos pensando e não vou ficar aqui, não mesmo.

Me levantei e fui pro carro novamente, achei a saída dos fundos e após deixar o bebê no carro e guardar o carrinho voltei pelos fundos e peguei Ariel nos braços com o cobertor mesmo e sai de fininho, ao ajeitar ela no carona com cuidado passei o cinto e dei a volta entrando no carro e saindo dali sem olhar pra trás.

Agradeci, não vou correr o risco de nos acharem e pegarem a gente.

Quando cheguei no hotel mequetrefe, adentrei o mesmo e a recepcionista me olhou intrigada.

__bebeu demais.__avisei já que a cabeça da Ariel estava encostada no meu ombro e o cabelo dela escondia o rosto.

__não ligo, moço o que já vi passar aqui foi muita coisa.__contive o espanto e concordei.__não sei de nada, não vi nada.

__gracias.__desejei seguindo meu rumo e deixando Ariel deitada na cama e indo pegar o bebê.

Ao retornar pro quarto deixei o carrinho perto da cama, eu já havia o colocado lá dentro.

Me sentei no sofá e fiquei olhando os lanches que comprei e não comi e nem ela.

__quando essa maldita confusão termina?__fechei os olhos deitando a cabeça pra trás no sofá.