Episódio 6 - Um Pedido : Parte 3

E mais uma vez estávamos gravando uma cerimônia de eliminação.

Não era uma surpresa que o Charles pediu por isso logo depois do encontro com ele com a Samantha. Os dois conversaram durante aquele encontro e ela desabafou tudo, disse sobre os seus pensamentos, planos e sentimentos e os dois resolveram que era melhor para todos que ela fosse embora.

Teríamos que tirar aquilo do encontro dos dois, para manter o suspense com os telespectadores, mas não estava sendo nenhuma surpresa para os participantes.

Por isso que hoje as meninas não estavam nervosas. Mesmo pedindo que para o bem do programa, elas parecessem um pouco mais apreensivas com o desenrolar das gravações, e mesmo sem o elemento surpresa elas estavam se saindo bem.

E elas são bonitas, mas hoje tinham se superado. Juliana estava com os cabelos soltos numa chuva de cachos impecavelmente delineados, num belo vestido prateado. Raquel parecia nervosa de verdade mesmo, mordendo os lábios quase compulsivamente, com os cabelos preso num rabo de cavalo cheio e um vestido verde-escuro. Karina usava um vestido floral que combinou perfeitamente com o seu cabelo solto e cheio de ondas, mas não erguia muito o olhar. Diane estava elegante com um vestido branco-gelo, com os olhos voltados para cima e sua boca não parava quieta, parecia balbuciar algo, mas nada saía no microfone. E por último, a eliminada da vez, Samantha está linda com um vestido vinho, que abraçava seu corpo nos lugares certo.

Roger mais uma vez está cumprindo o seu papel brilhantemente, e com facilidade e leveza está nos levando ao ponto de escutarmos o Chuck eliminar quem é a eliminada da vez.

Não havia tensão, mas a música mesmo assim deu uma diminuída e a câmera passou por todos os rostos. Já que não haveria mistério para a equipe dessa vez, já tínhamos tudo preparado para o close dela. Charles está tranquilo, quase sorridente até, e quando a câmera foca nele, ele cumpre o papel de aumentar a tensão, respirando fundo antes de começar a falar.

— Chegamos num acordo não foi? Tenho que deixar claro que foi um prazer te conhecer, mas faltou algo. Samantha, te desejo apenas coisas boas daqui pra frente — os dois trocam um sorriso.

Pelo modo como a Samantha estava reagindo agora, não temos como saber como realmente está se sentindo. Não é bem felicidade, nem alívio, nem decepcionada. Parece que ela ainda tem um longo caminho pela frente até conseguir entender seus sentimentos.

Então há uma série de abraços, beijos e choros de despedida. As meninas já se viam todos os dias, tinham se aproximado um pouco mais, e com isso, cada nova despedida ia ficando mais sofrida.

Eu vou acompanhar a Samantha em sua entrevista final e ela nos fornece um bom material.

Quando o dia já pode se dar por encerrado, eu percebo que não estou com o meu celular comigo. Devo ter esquecido no set de eliminação... Foi uma pequena correria para sairmos de lá. Ele ainda deve estar em cima de alguma coisa por lá. Preciso do meu celular pra colocar o despertador. Não confio no meu instinto matinal.

Mesmo cansada, volto para o set de eliminação para procurar. Demoro um pouco, mas consigo encontrar o aparelho. Ainda tinham algumas pessoas terminando de organizar o set, e me ofereço para ajudar.

Já tinha colocado a última caixa dentro do depósito quando resolvo voltar para o dormitório. Cansei fingir que estava fazendo algo quando na realidade estava querendo encontrá-lo por acaso. Não tenho culpe se o Destino está me ajudando demais quanto isso e nas melhores oportunidades, estou esbarrando com um certo baixista.

Faço o caminho todo prestando atenção pra ver o vejo, mas isso só acontece quando estou estacionando o carrinho.

Chuck está encostado em uma das paredes do estacionamento, e se eu não estivesse procurando por ele, provavelmente não o teria visto e teria levado outro susto. Mas como estava olhando para ele no momento, eu apenas sorrio enquanto ele vem na minha direção.

— Nossa... Finalmente você apareceu Cat. Já estava pensando que eu não tinha visto você chegar, ou até pior... Quem sabe você tinha capotado esse carrinho por aí.

— Ei! Qual é o problema dessa sua fixação sobre eu virar um carrinho de golfe? É pessoal ou algo assim?

— Claro que não... Mas como esperei muito por você, acabei pensando em muitas possibilidades. Desculpe-me por sempre cogitar um acidente.

— Certo. Mas se eu soubesse que você estava me esperando, teria vindo mais cedo... — em vez de ficar te procurando pela propriedade. Agora percebo como a frase pode ter um outro sentido, mas prefiro não pensar demais. — O que você está fazendo aqui? Porque estava me esperando?

— Estava querendo falar uma coisa com você... Pensei que a gente pudesse caminhar um pouco, a noite está agradável.

Caminhada com ele? Claro e sempre. Obrigada.

— Tudo bem — digo sendo inundada com um pouco de curiosidade, o que ele teria a falar comigo. Seria algo relacionado ao programa, ou algo pessoal? — Aponte a direção e vamos lá.

Ele aponta e começamos a caminhar. Ele não fala por uns bons segundos. Estou para brincar com ele que aquela era a conversa mais silenciosa que eu tive, quando percebo que ele enche o pulmão de ar, e começa a olhar para cima. Seu perfil iluminado pelo brilho prateado da lua era de tirar o fôlego.

— Adoro o fato que aqui as estrelas brilham mais. Mesmo com as nuvens nublando parte do céu, a intensidade delas é algo que vou tentar lembrar pra sempre — ergo o rosto e constato que ele realmente tem razão.

Mas a visão dele é algo que eu vou tentar lembrar sempre, então posso facilmente me relacionar.

Acho difícil ele ter me chamado apenas para falar sobre as estrelas, mas resolvo não insistir num assunto. Apenas espero que ele fale o que desejar. E fico torcendo para ser uma conversa de tom pessoal.

— Estou ficando nervoso... — ele admite.

— Mas com o quê? É algo que eu possa ajudar? — assim mantenho a conversa aberta para todas as possibilidades.

— Espero que sim... Mas eu só não quero que você pense que eu estou agindo rápido demais. Quer dizer, tudo isso ao nosso redor pode ser bem maluco... Pelo menos na grande maioria das vezes.

— Agindo rápido... Se você não acha isso, então não tenho motivos para me preocupar... Mas você não fica com medo de fazer uma escolha errada no meio do caminho?

— Ainda tenho. Mas pensei que fosse ficar com muito mais medo... Mas as minhas decisões com o programa foram simples. As meninas foram sempre tão sinceras comigo... Até parece que as escolhas foram feitas por mim... Nem tive trabalho ou dor de cabeça para saber quem sairia do programa.

— Agora que você falou...

As escolhas aparentemente foram fáceis. Aline ele eliminou pelo comportamento rude comigo. Bruna e Lorena se apaixonaram. Rose por não conseguir se abrir com ninguém. Jéssica com a gravidez e querer dar uma chance ao seu ex. E a Samantha, os dois apenas conversaram e perceberam que aquilo não daria certo.

Não teve nenhum drama em excesso, nenhuma escolha que ele teve que tomar que pareceu errada.

— Mas pra ser sincera, eu bem pensei que você fosse dar mais uma chance para a Samantha, mesmo com as dúvidas dela... — estava me matando ter que admitir isso, mas ela é uma mulher bem legal, além de ser absurdamente linda e ter aquela comissão de frente que deixava até quem já coloco silicone com inveja.

Tinha uma parte dela que queria ficar aqui. E eu gostava que mesmo ela tendo todas as oportunidades de ser uma metida e esnobe, ela ainda foi educada e nunca quis passar por cima de ninguém.

— Ela é gente boa... Mas não tinha como eu ignorar a dúvida viva em seus olhos.

— E você conseguiu ver todas a dúvidas e pensamentos apenas com um olhar? Você deve ser bom mesmo em ler pessoas.

— Não posso dizer que sou especialista nisso. Mas muitas vezes um olhar diz muito mais que a pessoa pensa — e ele escolhe esse momento par queimar o seu olhar em mim.

— Eu sou bem ruim de olhares. Não entendo muitas vezes os sinais que pra outras pessoas são bem claro. Se não tiver um letreiro luminoso piscando na testa da pessoa com aquilo que ela deseja, muito provavelmente não vou entender o significado das entrelinhas...

— Duvido muito que isso seja verdade. Os nossos instintos não costumam falhar.

— Não é como se eu fosse uma completa tapada. Eu até que consigo interpretar algo, mas eu não prefiro pensar no que a pessoa quis dizer por meio de indiretas. Muitas vezes eu acabo pensando demais e me machucando pelos meus pensamentos serem bem diferentes dos que o da pessoa.

— Ah, agora sim, você deixou claro. Isso sim é fácil de acreditar. Realmente lemos sinais de maneira errada... Só espero muito que isso não seja o meu caso.

— Seu caso?

— Sim. Além da dúvida que eu vi nos olhos da Samantha mais cedo, tive outro motivo para eliminá-la... Você acredita que eu tive um encontro muito parecido um pouco antes? E mesmo durando bem menos, eu acabei me divertindo muito mais... A primeira garota teve um desempenho muito melhor, mesmo sendo a primeira vez dela montando... Eu espero ter lido os sinais que ela me manda corretamente.

Meu queixo deve ter ficado caído no chão em algum lugar atrás de nós.

Ele considerou o nosso teste com o microfone como um encontro. E mais ainda, ele tinha gostado? Então espera um momento: pelas palavras do Charles Keller, nós tínhamos tido um encontro? Será que tinha um desfibrilador por perto?! Meu coração vai precisar.

— Que tal isso como um sinal na minha testa piscando? — ele me olha com sorriso divertido e ergue minimamente a sua sobrancelha.

— Acho que está bem claro... — ainda que que contrariando as probabilidades, o meu cérebro não virou um mingau e eu não tinha entrado em combustão.

Eu escutei direitinho o que ele tinha dito, e com a força que a minha unha estava se enterrando na palma, a dor mesmo que fraca me fazia ter certeza que não é um sonho.

— Mesmo com sinal luminoso, eu ainda quero fazer isso direito — ele para de andar, e busca minha mão, acolhendo a palma direita entre as suas mãos aquecidas. — Eu gosto muito das nossas conversas. Não sei ainda como podemos fazer isso, mas eu quero muito sair com você. Num encontro valendo.

Mesmo tendo acabado de escutar as palavras que saíram de sua boca, eu ainda faço a pergunta boba. — Espera aí. Você está me chamando para sair?

— Ué, pensei que a gente tivesse superado as sutilezas. Estou aqui lendo o letreiro luminoso que eu deixei piscando pra você. Sim, eu adoraria te levar num encontro Cat. Você aceita?

— E-eu... — CLARO QUE ACEITO! minha mente quer gritar, mas me controlo. — Você tem certeza?

— Claro que sim. Estou tem um tempo pensando nisso. Mas agora que a certeza está clara para mim, só me restava perguntar a você.

— Mas e as meninas? E o programa? — não que eu achasse que ele fosse abandonar tudo, mas será que ele já pensou sobre isso?

— Cat, pra ser sincero, eu já pensei, mas não tem o que fazer caso não nos demos bem. Eu sinto que tem algo, mas posso estar enganado. Só tenho como saber se...

— Sim — eu o interrompo não conseguindo mais segurar dentro de mim.

— Devo precisar de uns poucos dias para organizar tudo o que quero. Não deve demorar mais do que uma semana para que eu consiga fazer algo legal pra você...

— Mas como você vai organizar isso Chuck? Eu que sou da produção, eu que deveria arrumar essas coisas para você.

— Só que se fosse você não ia ter graça. Pode deixar comigo que eu dou um jeito. Um cara pode ser engenhoso quando quer...

— Reitero aqui, se precisar.

— Nada disso. Pode deixar tudo comigo.

— Se você diz... Então tudo bem.

— Quando eu conseguir tudo o que preciso, eu falo com você para combinarmos o dia, pode ser assim Cat? — ele parecia tão animado com o nosso encontro que se não fosse tão adorável, seria engraçado. Eu concordo com a cabeça, minhas palavras fugiram e os meus pensamentos estão um tanto quando alvoroçados. — Vai ser um encontro inesquecível.

O sorriso que ele dá é tão brilhante que se fosse um sonho, aquele seria o momento perfeito para despertar.

— Acho que você está convencido demais... — de onde tinha surgido aquela coragem para tirar aquela brincadeira nunca vou saber, mas fiquei feliz em ver como o sorriso dele alargou.

— Espere e verá — ele dá um beijo no topo da minha mão, virando um pouco o pulso, beijando a minha pele sensível ali. Nem sabia que pulsos poderiam ser tão eróticos. — Ninguém ganha de mim quando se trata de primeiros encontros...

— Você tinha dito que já tínhamos tido o nosso primeiro encontro... — e as provocações continuam saindo e ele continua no clima descontraído.

— Vou considerar aquilo como um ensaio... Conta, mas não conta. E eu te garanto, eu sou bem melhor ao vivo... — ah, mas disso eu não tenho a menor dúvida.

— Me dê o melhor que conseguir senhor baixista... — devo estar possuída para estar falando assim, mas pelo menos gosto de onde estamos.

— Era isso o que eu tinha que falar. E o que estava torcendo pra ouvir. Mal posso esperar Cat. Falo com você o mais breve possível, agora deixa eu voltar. Tenho que ter boas noites de sono para colocar em prática o que tenho em mente. Boa noite Catarina.

Ele me dá um beijo demorado na bochecha, e antes de ficar longe demais, se vira e pisca um olho pra mim. Se eu não acordei depois disso, não acordo mais. Não é um sonho, mas ainda sim acabo dando pequenos beliscões no braço, porquê a certeza ainda não era 100%.

Isso vai acontecer mesmo?

Um encontro.

Acho que preciso me sentar um pouco, ou talvez correr uma maratona... Mas deixo pra extravasar dentro do meu quarto.

Tomo um banho antes de dormir e estou num misto de felicidade e também de incredibilidade. Mal podia acreditar que dentro de poucos dias eu teria um encontro com o Chuck! Mas eu sabia que isso poderia dar problema.

Eu tinha um nó na minha garganta que não me deixava aproveitar em toda a minha glória essa alegria. Não conseguia tirar de mim a impressão de que algo daria errado com aquilo. Não quero nem pensar qual vai ser a reação de todo mundo se descobrirem que eu tive esse encontro com ele. Ah meu Deus, a bronca vai ser enorme...

Mas não quero saber disso agora. Vou me preocupar com isso quando o momento chegar. Vou aproveitar o meu encontro com o Chuck e depois eu lido com as minhas consequências... Eu estava precisando desse encontro... 

QUERO UM LETREIRO LUMINOSO DESSES NA MINHA CARA PRA ONTEM! É pedir demais meu povo? kkkkkkkkkk finalmente o nome do episódio fez sentido, e um pedido desse não dá pra recusar nem com todo o peso por trás! Eu adoro tudo nesse pedido, e essa interação deles enche meu coração de carinho!

Terceiro dia de maratona, terceira parte de um episódio pra lá de especial pra mim. Agora só temos 4 meninas no programa oficialmente - mas não tem como ignorar a entrada da Catarina agora, não é mesmo? Espero que tenham gostado!

Até amanhã com mais um capítulo!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top