Episódio 6 - Um Pedido

Eu mal tinha terminado de tomar meu café da manhã e um problema já tinha sido jogado no meu colo.

Hoje, que seria o encontro com o Charles que a Samantha ganhou em uma prova, estava para não acontecer. Aparentemente ela pegou uma pequena gripe e estava se recusando a sair com o Chuck naquela condição...

Só que já me disseram que a gripe não é nada, é só o nariz escorrendo de vez em nunca. Se ela pensa que vamos atrasar o nosso cronograma por causa de um resfriado fraco, está redondamente enganada!

Vou meter na cabeça dela que com a maquiagem bem feita e a iluminação certa, ninguém perceberia que ela está doente. Dois produtores já tinham ido falar com ela, mas pediram para que eu tentasse, eles afirmando que era uma "frescura de mulher".

Acho um termo bem errado, frescura... Onde já se viu. Pode até ser, mas até que prove o contrário, poderia chamar de qualquer outro adjetivo. Mas para não atrasar ainda mais a gravação, não compro a briga com a equipe, e vou apenas bater na porta do quarto da Samantha.

Escuto uma voz baixa me dizendo para entrar.

Eu ainda tinha um pingo de esperança de encontrar com uma pessoa realmente doente. Um cabelo despenteado, quem sabe até um pouco de catarro e uns lenços espalhados pelo local. Mas é claro que eu não encontro nada disso.

Ela está calmamente deitada na sua cama, com as costas apoiadas na cabeceira, com o cabelo perfeitamente envolto num coque. O rosto corado, parecendo mais saudável que o meu... É, ela não vai me fazer engolir essa "doença".

— Samantha... Me disseram que você está resfriada, não sou médica nem nada, mas você não parece nem ao menos fraca.

— Mas eu estou... — ela força uma tosse, mas aquilo só serve para reforçar a minha ideia que ela está saudável. — Não está vendo?

— Por favor, não faça isso... O que está acontecendo Samantha?

— O que você quer dizer com isso? Eu realmente estou doente, estou sentindo uma coisa na minha garganta e...

— Não queria ter de perguntar novamente. Pode falar comigo o que precisa Samantha. Vamos lá. Sei que essa rotina de gravações pode exigir muito de uma pessoa... Mas isso não é físico, pode ser emocional quem sabe...

— Não é bem isso... Mas é que... — ela para de falar e me encara.

Ela parece querer se abrir, mas não sabe bem como começar a falar. Quem sabe se eu tentar forçar um início, ela comece a se abrir.

— Hum, sabia que era alguma coisa... Eu não posso ajudar com o seu problema? Você não se sente confortável falando ele para mim, é isso? — sento na ponta da cama, e tento me aproximar um pouco mais dela.

— Mais ou menos...

— Olha Samantha, eu não posso fazer muita coisa por você se não me disser nada. Eu prometo que tento te ajudar... Seja lá o que for.

— Como você se chama mesmo? — ela me pergunta e se aproxima um pouco mais de mim. — Desculpa, eu acabei me esquecendo, mas te vejo sempre pelas gravações.

— Me chamo Catarina. Você pode me chamar de Cat. Ou não. Do jeito que quiser me chamar por mim está bom.

— Então Catarina. O negócio é o seguinte... Eu estou com medo desse encontro com o Charles. Eu sei que não deveria ficar, afinal não é o meu primeiro, mas estou. Estou com medo que ele goste de mim. Estou com medo que ele não goste de mim.

— Como assim? Não entendi.

— Nem eu estou conseguindo me entender direito, desde que o programa começou, eu comecei a ter dúvidas... Sobre o que eu sinto aqui dentro. Sobre o que eu vivencio aqui todos os dias. Os meus pensamentos não querem se organizar.

— Dúvidas sobre o que mesmo exatamente?

— Sobre tudo, sobre nada, sobre mim mesma.

— Parece bem profundo isso...

— Ah Catarina, é difícil seguir em frente se você nem ao menos sabe onde está. 

— Eu não sou psicóloga, mas se quiser eu posso conseguir uma pra você. Se você já tiver uma, melhor ainda... Mas existe alguma coisa que eu possa fazer por você?

— Não sei te dizer... Eu estou muito feliz por ter a oportunidade de conhecer e me aproximar um pouco do Charles, mas não me leve à mal, não sei se estar aqui é exatamente o que eu tinha em mente.

— Você tinha outra pessoa em sua vida? — pergunto pois é o que estava acontecendo com a maioria das meninas aqui.

— Não... Sim... Não é tão simples assim. Eu tenho, mas não tenho. Pensei que vir aqui fosse me dar a oportunidade de esquecer logo esse assunto de vez, mas não é tão fácil como eu gostaria. Não foi um término tão claro, e eu não sei onde paramos.

— Complicado...

Não acho certo falar para a Samantha sobre a Jéssica, de como ela descobriu que estava grávida e resolveu dar um passo para trás, dando mais uma chance a um relacionamento antigo. Cada caso é um caso. Não irei opinar para ela sair ou ficar sem saber sobre todos os pontos. Apenas ela sabe os pesos e medidas das ações e pensamentos.

Bem que eu gostaria de falar algo mais profundo ou ter algo melhor a dizer do que "complicado", mas é apenas o que a minha boca consegue dizer.

— E eu não sei disso? Eu gosto muito do Charles, conhecer o homem por trás da figura pública que eu tinha dele está sendo uma maravilha. São lados deles e da banda que eu não imaginava que existiam. É um sopro de ar fresco muito bem-vindo. Se eu permanecer aqui, sinto que corro o risco muito sério de me apaixonar de verdade pelo Charles.

— E você não vai se dar essa chance? — senti meu coração sofrer por dizer essa frase, mas o meu lado profissional falou mais alto.

— Quero. Mas não sei se consigo deixar para lá uma parte pequena, mas importante de mim que não quer seguir em frente e se apaixonar por outra pessoa...

— E é por isso que você inventou essa doença... Para não ter esse encontro com o Charles. Assim você ainda fica aqui, podendo seguir em frente, mas ao não se envolver sacia o seu lado que quer permanecer inalterado.

— Acho que você foi no ponto correto. Eu não sei o que pensar, muito menos sei o que pensar.

— Sempre me disseram para não pensar demais. Muitas das melhores decisões que fazemos na vida são aquelas que mal pensamos antes de dar o primeiro passo.

— Só que isso se aplica também para as piores decisões. Não tem essa de apenas razão, ou apenas emoção. Tudo o que fazemos é uma mistura das duas.

— Bom ponto. O único problema, é que não temos como saber se as decisões vão ser ruins ou boas até tentarmos. Principalmente quando essas decisões envolvem e afetam outras pessoas.

— Exatamente, e o medo me paralisa.

— Você não está sozinha. Quando eu penso que vou parar de medo, eu lembro de algo que a minha mãe sempre me fala... "Melhor chorar na queda do que se arrepender de nunca ter pulado".

De imediato lembro da minha queda literal no balanço, e mesmo o meu tornozelo ainda dando umas fisgadas de dor quando eu me esforço demais, com certeza aquela queda valeu.

— Sua mãe parece ser uma pessoa sábia.

— Ela é — meu coração agora se aperta de saudades da minha mãe. Vou ligar para ela quando sair daqui, faz um bom tempo que eu não falo com ela.

— Essa conversa foi de certo modo relaxante. Acredito que agora consigo encarar o meu encontro com o Charles... Isso é, se ele ainda puder acontecer.

— Claro que pode! Você decidiu de acordo com as opções que te demos onde vai ser?

— Acho melhor no Haras...

— Vamos preparar tudo agora pela manhã, para quando for mais tarde acontecer tudo de acordo com o planejado.

— Pode ser já perto da hora do pôr-do-Sol? 

— Tudo bem. Vou avisar a equipe e o Charles. Só se preocupe em aparecer bonita e no horário certo.

— Catarina... Muito obrigada pelas suas palavras, me ajudaram.

— Sem problemas! Estou aqui pra ajudar mesmo — fico de pé num sorriso e vou me aproximando da porta do quarto.

— Antes que você vá... Se eu tiver outro problema assim, será que eu posso contar com você? O outro produtor que está sempre comigo é um cara legal, mas não me sinto muito bem falando certas coisas com ele.

— Basta me chamar.

— Obrigada! — ela fala e eu saio do quarto, já movimentando a equipe para o encontro de mais tarde.

Bóris agradece já que eu fui a única que consegui resolver o problema com a Samantha e me dá o restante da manhã de folga. Fico feliz e resolvo então ligar para os meus pais pra matar um pouco a minha saudade deles.

Minha mãe atende no terceiro toque. Ela atende a chamada de vídeo, meio esbaforida, com os cabelos desarrumados, com as bochechas rosadas e um belo sorriso. A saudade só apertou mais.

— Filha! Pensava que você tinha sido engolida por uma câmera! Faz tempo que você não liga...

— Pois é mãe, eu...

— QUERIDO! A CATARINA NO TELEFONE, VEM! — minha mãe grita, sem se importar com os autofalantes do meu celular que reclamam do agudo e do volume. — Desculpa princesa, você sabe que se não falar nessa altura com o seu pai, ele nem faz conta...

— Tudo bem... Mas como é que estão as coisas por aí, o Bart tem dado muito trabalho?

— Que nada, eu estou adorando a companhia dele! Mas o seu pai que está feliz, já que ele finalmente arrumou um companheiro nas suas caminhadas de tarde. Ele é bem comportado, e o seu pai anda tanto com o coitado, que ele chega já é procurando a caminha dele pra descansar...

— Bom saber mãe.

— E você minha filha, como está o trabalho? Eu vejo muitas propagandas do programa! Está um sucesso! Quando eu fui no salão de beleza ontem, o seu programa era só o que era comentado! Estou tão orgulhosa de você filha...

— Mas o programa não é meu! Longe disso, mas eu aceito o seu orgulho mãe. Estou trabalhando muito e os frutos que estou colhendo são os mais doces!

 Meu pai aparece na imagem, colocando o queixo no ombro da minha mãe e dando um aceno. Ele então aperta um pouco os olhos e me analisa um pouco melhor.

— Você não está dormindo direito. Olha só o tamanho das suas olheiras...

— Roberto! Isso é jeito de falar com a sua filha? — minha mãe briga com meu pai, batendo o ombro nele.

— Tá tudo bem pessoal. Eu realmente estou com uns horários malucos de dormir... Vou tentar melhorar...

— Tem que melhorar mesmo filha. Assim, você vai pescar o melhor partido daí... — meu pai diz bem sério.

— Já te disse senhor Roberto. Eu não estou aqui para arrumar ninguém, eu vim pra trabalhar e é isso que vou fazer...

— Mas bem que você queria o Bartolomeu não é... — minha mãe tenta. — Os pôsteres no seu quarto não te deixam negar isso. Aproveita que ele está aí e não é o alvo dessas mulheres e se atraca com ele.

— Tá maluca mãe! Não vou fazer isso com ele...

— Então com o baterista que parece um armário do amor, ou o violinista que parece uma balinha de coco com goiabada? — balinha de coco com goiabada? De onde a minha mãe tira isso eu nunca vou saber.

— Pode ir parando por aí também dona Cláudia! Mais uma vez. Estou aqui a TRABALHO.

— Se você ficar muito enfurnada no trabalho, eu nunca vou ter um netinho cheio de energia pra amar minha filha... Não custa nada você se abrir e considerar um pouco as suas possibilidades... — meu pai diz parecendo verdadeiramente arrasado.

Sei bem que ele quer que eu tenha um relacionamento firme, com filhos e casamento, não necessariamente nessa ordem, ele nesse momento está aceitando o que vier.

— Vocês dois são estranhos... — digo rindo. — Estou morrendo de saudades de vocês...

— Nós também querida — minha mãe diz com o olho úmido de lágrimas.

— E olha só quem ouviu a sua voz e veio ver o que estava acontecendo — meu pai se abaixa e quando volta a aparecer na imagem, está com o Bart nos braços. Meu cachorro quer se aproximar do telefone da minha mãe para lamber, mas é controlado pelo meu pai.

Vontade de abraçar aquele beaglezinho.

— Já gravamos pouco mais da metade do programa, não deve demorar muito para encerrarmos por aqui...

— Você deveria ter umas férias agora filha... Trabalhando todos os dias da semana de forma integral não está certo — minha mãe está realmente preocupada.

— Quando o programa encerrar, eu vou ter longas férias merecidas.

— Quero só ver mesmo... Ih filha, meu celular deu sinal de bateria fraca. Vou colocar ele pra carregar.

— E eu vou levar o Bart daqui, senão ele vai pular nesse celular. Beijos filha. Fica bem, e qualquer coisa pode nos ligar, não importa o horário ou a distância, estaremos aí com você.

— Obrigada pai. Beijos. Amo o senhor.

Ele murmura um te amo ao se afastar com um Bart bem agitado no colo. Minha mãe olha para ele se afastando e quando escuto um barulho de porta se fechar. Dona Cláudia olha pra mim com um rosto quase conspiratório.

— Que o seu pai nem sonhe, mas o meu estilo também bate certinho com o Charles. Se tivesse que ser alguém, seria ele mesmo... Pena que você não está no programa filha, você teria uma chance competindo com essas meninas. Nada contra elas, mas você dá de dez a zero nelas...

— Você diz isso porque é minha mãe...

— ARRÁ! Então você admite que é ele... Nem quero saber de protestos. Agora deixa a mamãe ir, tenho ainda que encontrar o carregador. Amo você filha! E vê se encontra o Charles com as câmeras desligadas e se joga!

Ela nem me dá chance de dizer que eu também a amo e desliga a ligação. Meus pais são umas peças e minha mãe me conhece melhor do que ninguém. Devia estar claro pra ela o quanto eu desejava certa pessoa aqui.

Olha só, começo de maratona, com a participação especial dos pais da Catarina! O que acharam deles? Eu simplesmente os adoro, mesmo não aparecendo tanto quanto deveriam, eles são uns amores! Claro que tinham que ser assim pra ter uma filha assim.

E pelo nome do capítulo, imaginam qual vai ser esse pedido? Ou se ele já aconteceu e a gente nem percebeu? HAHAHA deixem aqui o que acham...

Nos vemos amanhã com um novo capítulo de O que Acontece nos Bastidores!

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