Episódio 5 - Uma Eliminação Surpresa : Parte 3

Meu coração deve ter esquecido que ele deveria bater, e eu não o culpo. Onde essa frase nos deixava? Como eu deveria me sentir depois de escutar isso? Ele tinha algum motivo para falar aquilo? O que eu falo agora?

Mas do mesmo jeito que o meu coração esqueceu de bater minha língua travou e eu não sabia o que dizer. Ainda bem que sempre que eu perdia a fala, Chuck sempre continuava a conversar comigo.

— Ah, você deve escutar isso sempre que possível Catarina. Com certeza se tiver uma pessoa especial na sua vida, ele ou ela deve falar...

— Ele... Mas não é bem assim... E-eu não tenho um namorado.

— Perdão, mas eu pensei que uma garota incrível como você teria alguém na vida... Não quis tocar num assunto delicado.

— Olha quem está falando essas coisas. Você deve ser o melhor partido que eu conheço, mas mesmo assim está num programa para conhecer alguém... — eu poderia ter formulado melhor essa frase pra não dar tanta bandeira assim, mas se ele percebeu as minhas palavras, não se alterou.

— É, quase faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço, ou algo parecido... Eu entendo a confusão, mas os meus horários não são favoráveis para encontrar uma namorada...

— Além de encontrar, não deve ser tão fácil assim manter...

— Com certeza não. Não acho que já foram tantas meninas assim, mas a minha primeira foi um tanto quanto complicada, ela não aguentou quando a banda começou a ficar mais conhecida e as viagens ficaram mais longas... A gente era mais novo, e com certeza mais imaturo, mas ainda sim foi complicado.

— Sinto muito, parece que agora fui eu que peguei num ponto complicado.

— Não precisa se preocupar... Já faz muito tempo, hoje ela já é casada com outra pessoa e feliz. E eu sou feliz por ela. Mas meio que fiquei com um pouco de inveja... Ver pessoas que você gosta sendo felizes te faz ficar com vontade de ter uma felicidade assim também.

— Acho que entendo  que você quer dizer... Muitas vezes me pego desejando coisas que os outros tem — isso saiu um tanto quanto errado, mas o que eu queria dizer mesmo é que eu me pego desejando ele mais do que gostaria de admitir, só que claro que não falaria isso para ele.

Queria dizer que a mão dele, segurando o meu tornozelo, mesmo segurando uma bolsa de gelo, ainda sim pareciam incendiar a minha pele. Acho que não tem gelo no mundo que esfrie o ponto que estou sendo tocada.

Ele volta a ficar concentrado na tarefa de diminuir o meu inchaço e voltamos a compartilhar um bom silêncio. E eu amava esses momentos também. Gostava quase tanto quanto as nossas conversas fáceis.

Deixando a compressa de lado, ele começa a fazer pequenos movimentos no meu pé. Claro que aquilo dói, mas não é nada que eu não consigo suportar. Seus dedos são firmes e a expressão em seu rosto me dá vontade de agarrar ele. Fico olhando para o seu rosto e não consigo desviar o olhar.

— Parece que seu pé está bem melhor... — ao falar isso, me obrigo a olhar para o meu tornozelo. Realmente ele parece bem mais desinchado.

Chuck vai colocando devagar o meu pé pra baixo, mas não o coloca no chão.

— Será que agora você consegue levantar?

— Vamos tentar... Mas acho que sim.

— Vem, deixa eu ajudar... — ele fica de pé e estende a mão, mas antes que eu possa fazer algo, ele enlaça a minha cintura e me coloca de pé. — Vou soltar você...

Eu quis gritar um não, mas sei que ele quer ver se consigo ficar em pé sozinha. Então assinto com a cabeça e tento não descontrolar demais a respiração. E eu consigo até colocar um pouco de peso em cima do pé. 

— Nossa, suas mãos são mágicas Chuck! — as palavras saem da minha boca antes que eu pense demais nelas.

— Escuto isso de magia, por causa dos dedos e do baixo, mas deve ser a primeira vez que eu escuto isso por causa das minhas habilidades como enfermeiro. Quem sabe a minha carreira na saúde não esteja completamente perdida... Acho que ainda consigo alguma coisa...

— Não fala isso nem de brincadeira Chuck! Se algum fã escutar uma coisa dessa, e eu ser a causa que você sair da banda, vou ser perseguida por uma horda enfurecida! Nem quero pensar no que eles fariam comigo...

Digo rindo e ele acompanha a minha gargalhada.

— Acho que você tem razão. Vou então apenas guardar a sua frase com carinho. Mas vamos lá saltadora, tenta dar alguns passos. Se você não conseguir, eu te seguro...

O pensamento de cair apenas para que ele me segurasse, veio, mas percebi que posso parecer um pouco ridícula, afinal, eu sou perfeitamente capaz de andar sem a ajuda de ninguém.

Em vez disso, dou meus pequenos passos, curtos e mancos, mas sem cair.

— Pronta pra outra... Mas pra prevenir, acho que vou cancelar a minha corrida matinal amanhã... — digo um pouco séria, tentando me acostumar com a dor residual.

— E você corre pela manhã?

— Por Deus, não! Estava brincando... Os meus primeiros minutos depois que acordo são bem desastrosos para falar a verdade.

— Tenho que discordar com você... Eu duvido muito que seja desastroso, deve ser no mínimo interessante...

— Nada de interessante olhar para o nada por uns bons segundos. Quando tenho tempo, são minutos olhando pro nada, pensando em nada.

— Sei bem como é, é quase como se a gente estivesse esperando a alma voltar pro corpo... Só queremos silêncio e paz nesses momentos.

— Exatamente!

— Eu e você temos muitas mais coisas em comum do que eu imaginava... Que bom estar conhecendo melhor você.

— Estou surpresa que é tão fácil de conversar com você, e isso com certeza é uma coisa boa — sou sincera, já que eu não consigo frear a minha língua.

— Eu também fico surpreso com isso — ele abre um sorriso e então parece lembrar de algo. — Ah, tenho que falar uma coisa com você...

— Sou toda ouvidos.

— Então... Talvez eu devesse falar primeiro com o Bóris, mas sei que não tem problema. É sobre uma das meninas. Eu falei com ela durante o torneio, e então ela me pediu uma coisa... Ela que ir embora.

— Ela quer ir? — mas o quê? Ela bebeu detergente? Eu não pediria pra sair de uma oportunidade de conquistar esse homem por nada. Quer dizer, no momento eu não sairia, mas vai saber o que se passa na cabeça de cada um...

— Sim. Durante as gravações ela descobriu que está grávida do ex-namorado. Ainda está bem no começo da gravidez, por isso que o corpo nem mudou nada... Ela vai usar a oportunidade para dar uma chance para os dois, ela descobriu que ainda tem sentimentos por ele e não queria ficar aqui para não retribuir possíveis sentimentos que eu possa ter.

— Atencioso da parte dela.

— Então tem jeito de fazermos uma eliminação o mais breve possível para que ela possa sair, e resolver o que ela vai fazer?

— Claro que sim Chuck.

Lembro das gravações quando a Jéssica vomitou e disse que foi por causa do esforço e calor, mas e se...

— É a Jéssica? — pergunto juntando as peças. Tinha uns dias que ela parecia um pouco cansada e enjoada durante as gravações.

— Ela mesma. Acho que não tem muita gente na produção que sabe, já que ela me falou bem discretamente, até esperou para que tirássemos os microfones...

— Tudo bem. Não vou falar para mais ninguém além do Bóris.

— Maravilha... Fico mais aliviado que ela seguir em frente o mais breve possível.

— Amanhã logo pela manhã eu já estou comunicando a sua decisão com o chefe e já devemos conseguir gravar tudo no mesmo dia, dois no máximo.

— Ficarei muito agradecido Cat.

— Sem problemas... Você que é um cara bem compreensivo e cheio de compaixão.

— Eu apenas tento. Mas pensa comigo... Não tem sentido mantê-la aqui. A Jéssica não quer mais ficar. Não tem motivo dela ficar aqui se ela não quer ficar comigo. Se ela está querendo voltar para o ex, sorte para ela.

— Você tem razão.

— Relacionamentos já são complicados o suficiente quando as duas pessoas se gostam... Então se uma não tem certeza dos sentimentos, aquilo está quase fadado ao fracasso. Nem tem sentido em manter o relacionamento.

— Pelo jeito que você falou até parece que foi o que aconteceu com você... — eu e minha boca grande que não sabe a hora de ficar fechada.

— E foi isso mesmo. Eu não fui o suficiente para a minha primeira namorada. Ela começou a ter dúvidas sobre mim, muitas dúvidas sobre nós, e foi só uma questão de tempo para que não tivesse mais jeito.

— Sinto muito. E por te fazer lembrar disso.

— Não precisa se desculpar. Simplesmente é assim que acontece. Eu pensei por um bom tempo que eu a amava, só que eu acabei confundindo muitas coisas na minha cabeça. Tenho um carinho até hoje incondicional por ela, mas é só.

— Olha Chuck, você com certeza vai encontrar alguém. Mesmo se não for aqui no programa, com certeza que ela pode estar em outro lugar...

— Em outros lugares acabamos por encontrar coisas que nem imaginávamos...

— Com certeza... Nem sei o motivo, mas tinha a ideia que todos os astros do rock fossem pessoas mais distantes, até quem sabe um pouco odiosas e arrogantes, mas estou muito feliz em ver como vocês são incríveis, e com um coração iluminado. Bem pé no chão.

— Essa coisa de pé no chão ajudou o fato de nós termos feito um trato. Combinamos que não importaria se alcançássemos as estrelas ou nunca fôssemos conhecidos, nós nunca mudaríamos a nossa essência.

— Muitas pessoas podem até prometer isso, mas são poucas que conseguem cumprir.

— Sim... Disso eu tenho certeza... E você, será que pode me prometer uma coisa?

— Hmmm, eu acho que sim.

— Faça uma promessa para si mesmo, que mesmo que atinja o estrelato com a sua carreira de produtora, que mesmo que você trabalhe nas melhores produções da televisão ou cinema. Você deve prometer pra si mesmo que não vai parar de ficar orgulhosa do seu trabalho. Que não vai mudar o seu sorriso e essência ao produzir algo. Até mesmo se for um comercial de cinco segundos que quase ninguém vai ver...

— Atingir o topo hein? Não sei se um dia eu vou pra lá, vou tentar muito, mas eu consigo me manter firme e pelo menos dar o meu melhor para não mudar.

— Acredite em mim, eu já percebi o modo como os seus olhos brilham quando você está coordenando as coisas. Você tem o jeito! E isso é o primeiro passo. Você também vai precisar de dedicação e talento, mas isso sei que você tem de sobra...

— Você sempre fazendo com que um sorriso brote nos meus lábios.

— Então, vai manter a promessa para si?

— Eu prometo!

— E já que estamos nesse tema, que tal você fazer uma promessa pra mim?

— Diga-me o que propõe e eu penso no seu caso... — digo brincando.

— Quero que você me promete que mesmo depois de terminar tudo isso aqui, mesmo que as coisas fiquem meio nubladas lá pra frente, você tem que me prometer que não vai virar uma estranha. Gostei demais de você pra não te ter na minha vida...

Ah Chuck... Pensei que você fosse pedir uma coisa muito mais difícil. É claro que eu quero te manter na minha vida. Sei que vou ter que ficar do teu lado de uma maneira com bem menos língua do que eu gostaria, mas o fato é que quero estar aqui.

— Isso é fácil Chuck. Eu também ia achar estranho me distanciar de você...

— Então é uma promessa — ele sorri divertido e me estende a mão. Eu pego e apertamos as mãos, selando o acordo mais fácil de toda a minha vida. — Mas sei que já está ficando tarde. Você precisa que eu te deixe no seu alojamento? 

Bem que eu queria.

— Eu já abusei demais da sua bondade hoje Chuck. Dá pra dirigir esses carrinhos apenas com um pé, e tem elevador... Então não vou fazer nenhum esforço desnecessário.

— Entendi... Você não quer que eu fique com o carrinho, acertei? — ele brinca e eu solto uma risada.

— Claro que não é isso! É só que se você ficar com olheiras amanhã, vai dar trabalho para as maquiadoras... E você já se preocupou demais comigo...

— Nem deve chegar perto das preocupações que você tem comigo todos os dias por contas dos problemas que eu trago para as gravações... O que é um pouco desse sentimento de volta...

— E eu já te disse que você não dá trabalho Chuck, você sempre se sai muito bem nas câmeras.

— Sei que você já disse isso... Mas então quem sabe eu passe a dar um pouco mais de trabalho, comece a errar mais e...

— Olha lá! Nem ouse! Pode continuar do jeito que está que assim está bom. Eu já devo estar cheia de cabelo branco por causa do programa! E isso com você facilitando as coisas... Nem quero imaginar o estado do meu cabelo se você desse trabalho...

— Bobagem Catarina... Seu cabelo é lindo e nunca vi nenhum fio de cabelo branco nele. Isso é só exagero da sua parte! Mas pode deixar... Vou continuar a me comportar como o bom moço que eu quase sou.

— Isso é música para os meus ouvidos... Então, vamos, que eu te deixo na porta da fazenda.

— Claro... — ele me ajuda a chegar no carrinho e os pouquíssimos metros são feitos em segundos. — Vai com cuidado Cat. Não quero saber de nenhum carrinho capotado por aí amanhã...

— Eu tenho cuidado!

Ele me dá um beijo na testa e então entra na fazenda. Eu com toda a calma volto para o alojamento. Uso o tempo para acalmar meu coração que sempre ficava mais descontrolado e apaixonado pelo Chuck. Cada encontro por acaso com ele servia para consolidar meus sentimentos que não deveriam existir.

Lembro de colocar o despertador e coloco um lembrete para falar com o Bóris. A partir de amanhã seriam apenas cinco meninas.

Percebi que estávamos na metade do programa.

E fiquei triste ao perceber que sentiria falta de tudo o que eu vivi aqui. Só não é pior, já que o Chuck me fez prometer que não me afastaria dele. 

Mais uma menina fora! Chegamos na metade do livro, e assim como a Catarina, já estou sentindo falta das coisas por aqui. Os próximos capítulos estão muito amor! Mal posso esperar para que vocês coloquem as mãos neles!

Esse foi o famigerado capítulo que eu publiquei e voltei pra rascunho bem rapidinho. Ele é o dono dos erros de gravação desse livro — e eu quase ia publicando ele antes da hora de novo, eu sou uma lesada incorrigível! Mas agora está na hora dele brilhar! hahahahahahah

Muito obrigada pelo apoio de vocês! Até o próximo capítulo — vem coisa boa por aí, aguardem!

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