Episódio 5 - Uma Eliminação Surpresa : Parte 2
Tínhamos dado o dia por encerrado e eu já estava deitada na minha cama, rolando de um lado para o outro, tentando adormecer.
Com certeza ainda é a adrenalina alta por conta dos resultados muito positivos que tínhamos tido. Fomos muito melhores do que o esperado! Abrimos uma garrafa de champanhe para comemorar, e mesmo bebendo um pouco mais do que eu estou acostumada, ainda sim o sono não estava chegando.
Procuro algo dentro da minha bolsa de remédios pra ver se eu tinha algo para me ajudar a dormir, mas fiquei com medo de tomar alguma coisa já que tinha bebido. A noite estava um pouco fria, mas nem isso me impediu de vestir uma roupa mais comprida e confortável e sair do quarto.
Coloquei uma blusa de moletom por cima da camiseta do pijama e passo minhas pernas por uma calça de ginástica colada. Não era bem ideal para o frio, mas eu estava me sentindo quentinha e confortável.
Assim que boto meus pés para fora do dormitório, me recordo do balanço que o Chuck me mostrou perto da quadra de tênis. Agora é uma boa hora pra ir. Ninguém pra perturbar, não está fazendo Sol ou calor, e quem sabe com o movimento ajude a trazer o sono.
Poucas pessoas estão acordadas nesse momento, mas ninguém diz nada enquanto pego uma das chaves dos carrinhos e vou até lá. Estaciono o carrinho e vou caminhando até o balanço.
Quando chego mais próxima, percebo o quanto a copa da árvore é alta. Nem sei como a pessoa que colocou esse balanço conseguiu ficar encontrar esse galho tão alto e grosso. As cordas que desciam eram mais grossas que a minha canela e o assento tinha um palmo. Olhando para o balanço, decidi que era seguro usá-lo.
Procuro ficar confortável na tábua de madeira e então vou pegando impulso aos poucos. Sorrio enquanto vou conseguindo me balançar cada vez mais alto. Sentindo a confiança brotar, vou me inclinando mais sobre o balanço, me deitando e jogando a cabeça para trás, soltando o cabelo e aproveitando o movimento.
A minha criança interna está em polvorosa por poder me balançar na altura que eu quiser, e ainda sem precisar dividir aquilo com ninguém. Naquele momento não tinha as responsabilidades, não tinha a pressão, não tinha nada além do coração acelerado por causa da emoção. E talvez um pouco dessa aceleração se deve ao fato de não conseguir esquecer a pessoa que me mostrou isso.
Aquela pessoa incrível que...
— Bem que eu estava torcendo que fosse você mesmo quando eu vi o carrinho estacionado aqui perto... — a voz da pessoa incrível me faz arregalar os olhos.
Mesmo por meros segundos, ele ainda me assustou. Aperto com mais força a corda e paro de uma vez, fazendo o corpo tremer.
— Chuck! — vou me ajeitando como consigo em cima do balanço, tinha ficado bem torta em cima, e estava quase fora dele.
— Boa madrugada Catarina! Pelo visto você não conseguiu da cabeça esse lugar, não é mesmo?
— Olha, não vou mentir, nem sei se foi por causa disso, mas quando eu vi mais cedo, eu sabia que tinha que dar um jeito de vir. Aproveitei que não estava com sono e vim! E ainda bem que vim, isso daqui é muito divertido! — digo, voltando a pegar impulso.
— Correndo o risco de parecer uma criança de seis anos, você reveza comigo no balanço? Eu vim pra cá exclusivamente por isso...
— Sem problemas... — não deveria ser assim, mas até mesmo a minha criança egoísta interna estava feliz em dividir o balanço com o Chuck. Até ela está caidinha por esse baixista.
Como tinha chegado ali primeiro e já tinha me balançado um bom tempo, não vi problema em dar o lugar pra ele agora. Com o balanço ainda em movimento, nem me pergunte o porquê, mas dou um pulo pra fora do assente e pouso no chão, de uma maneira nada graciosa.
Acabo levantando um monte de areia e me sujo inteira.
— Você consegue ir alto, mas a sua aterrissagem... Acho que eu vou ter que dar uma nota cinco pra ela... — Chuck diz brincando, já se acomodando na tábua de madeira.
— Cinco? Não mesmo... Será que você consegue fazer melhor senhor Keller? — nem sei de onde tinha vindo aquele desafio, mas o sorriso maroto que ele me abriu me fez ganhar a noite.
— Com toda certeza que consigo...
— Só acredito vendo...
— Pois pode se preparar pra apanhar o seu queixo do chão, que vai ser onde ele vai estar depois de ver o meu pulo incrível... — nós estávamos parecendo talvez um casal de crianças? Claro, mas aquilo estava divertido demais para me importar, e ele não parecia incomodado também.
Ele mal dá dois impulsos com a perna para se balançar e eu já sei que vou pagar pela língua. Seu corpo, bem consciente de toda o peso e aerodinâmica, não demora muito para atingir patamares velozes e altos.
Cruzei os braços, tentando não expressar nada em meu rosto. O seu sorriso foi ficando a cada segundo mais convencido, mas nem assim era uma coisa detestável de ver. Ele ainda teve a audácia de piscar um olho pra mim antes de dar o seu pulo.
Ele foi tão alto que eu fiquei preocupada com o impacto com o chão. Mas é claro que ele bem diferente de mim, pousa na areia com muito mais sutileza. Nem sequer tinha levantado muita areia. Se aquilo fosse um esporte, Chuck seria um profissional.
— E então, qual a nota do meu pulo?
— Olha, mesmo não gostando de admitir... Seu pulo foi pelo menos um nove...
— Nove? — ele pergunta espantado.
— Poderia ter sido um dez, mas só pela atitude convencida e pela piscadinha, perdeu pontos de suma importância...
— Entendo... Mas vou considerar isso um elogio... Você quer tentar me mostrar como se ganha um dez?
— Hmmm, não sei se quero ir agora...
— Não se preocupe, sei que pode ser bem intimidante ir logo depois do mestre mostrar como se faz, mas você tem que treinar... — ele diz sem conseguir segurar uma risada que me aquece por dentro.
— Vou te mostrar quem é a mestra... — obrigada minha criança birrenta, por continuar a brincadeira por mim.
Parecendo que recebi uma injeção de confiança, penso que aquele tem que ser o maior pulo que eu já dei em toda a minha vida. Meus pés mal alcançam o chão do primeiro impulso que dou. Vou me jogando para trás e para frente com vontade, pegando o máximo de altura que acho possível.
Meu coração nesse momento está bem acelerado e me sinto incrível no momento em que impulsiono meu corpo para frente, dando início ao salto.
Sem sombra de dúvidas consegui ir bem mais alto que o Chuck. A altura do pulo dele deve estar correndo para um canto escuro nesse momento para chorar em segredo.
O problema foi que o meu pulo teve de alto, a minha aterrissagem teve de desastrosa.
Eu tinha um monte de terreno plano de areia e grama para cair, mas em vez dela, meu corpo é quase atraído para um pequeno desnível na areia. Meu pé é sugado por esse pequeno buraco, torcendo muito dolorosamente e fazendo voar areia pra todo lado.
— Catarina! — em questão de segundos, Chuck está abaixado do meu lado. — Minha nossa, você está bem?
— É, acho que vou concordar com você, eu vou alto, mas tenho mesmo que aprender a cair... — forço um sorriso no rosto, não querendo pensar na dor que está subindo e queimando pela minha perna.
— Não deveria ter te provocado desse modo pra fazer pular desse modo. Sinto muito... Você consegue ficar de pé?
— Não precisa se preocupar com isso Chuck, não foi nada demais. Eu meio que te provoquei e entrei na brincadeira também. Você não tem culpa... E acho que sim, dá pra tentar ficar de pé...
Ele então me estende a mão e me ajuda a levantar. E de pé, não consigo apoiar ele no chão, meu tornozelo grita de dor, mas eu me controlo.
— Não vai dar pra ficar de pé no momento... — digo, voltando a me sentar na areia. Olho pro meu tornozelo e vi que ele já começou a inchar.
— Ele não está com a melhor das aparências... — Chuck sem cerimônia ergue um pouco a minha calça de ginástica e analisa meu machucado. Seu toque, mesmo sendo bastante delicado e cuidadoso, admito, ainda sim me fez fechar os olhos de dor.
— Se você não pegasse muito aí, eu agradeceria... — digo com a voz sofrida, tentando esconder o quanto estava doendo.
— Deixa só eu ter certeza se não foi nada mais sério...
— Por mim tudo bem, mas você sabe muito sobre torções? Teve muitos casos assim durante os shows? — pergunto claramente desconfiada, não querendo que ninguém triscasse ali por enquanto.
— Ah é... Quase ninguém sabe, já que eu não costumo falar isso nas entrevistas e escondo muito bem isso, mas eu sou formado em enfermagem, tenho vários cursos na área também...
— Sério?
— Sim... Acho que um dos motivos pra não falar ninguém sobre a minha formação é que as pessoas tendem a reagir da mesma forma que você... — aquele sorriso meio tristonho quebrou meu coração.
— Desculpa. Não foi a minha intenção... É que pra mim a sua imagem está tão concreta como músico, que fiquei um pouco surpresa de saber que você também tem outros interesses. Mas foi uma surpresa bem positiva, garanto — agora consigo relaxar um pouco mais nas suas mãos.
— Bom saber disso — ele volta ao seu sorriso feliz, me derretendo. — É só que eu sempre quis ter um plano reserva sabe? Caso a música não desse certo. E como sempre gostei muito da área de saúde, resolvi que cursaria enfermagem. Foi um período bem agitado da minha vida, contei com o apoio de muita gente, mas meu diploma não menos válido do que o de ninguém.
Por que a fantasia de enfermeiro sexy tinha que ser uma coisa majoritária do sexo feminino? Nesse momento eu não estava tendo dificuldade em imaginar cenas bem maravilhosas com um certo enfermeiro/baixista.
— Muita gente não sabe — ele continua a falar, e ainda bem que a sua voz é hipnótica e me faz voltar a prestar atenção nele, senão eu iria viajar numa fantasia sensual e com certeza pagaria algum mico. — Mas o Taz é formado também. Ele é engenheiro civil. O Fred também tem formação. Ele faz aqueles cursos técnicos à distância e eu nem sei quantos ele já fez, mas é um monte.
— E o seu irmão?
— Ah, ele não quis fazer nenhum curso superior ou técnico. Ele tem o fundamental completo, mas ele disse que se não fosse cantor de uma banda, ele não seria mais nada na vida.
— Bem decidido ele.
— Mesmo se a banda tivesse estourado mais cedo, talvez eu ainda teria feito enfermagem. Seria muito mais puxado do que já foi, já que eu nunca deixaria o meu irmão sem apoio. E nem os meninos...
— Dá pra perceber que você é um cara que gosta de apoiar as pessoas que gosta...
— Pelo menos eu tento... Olha, mesmo um pouco escuro e inchado, tenho quase certeza que não foi nada demais. Com um pouco de gelo e elevação no pé, você deve ficar nova em folha.
— Acho que devagarinho dá pra ficar de pé e chegar até o carrinho...
— Nada disso. Melhor não forçar nem ficar sacudindo demais o seu pé. Pode deixar que eu te levo até o carrinho.
— Que é isso, não precisa se inc... — ele nem me deixa terminar de falar.
Passando um braço por baixo do meu joelho e o outro pela minha cintura, ele me ergue do chão. Consigo controlar um gritinho afeminado que quis sair da minha garganta. Eu não sabia que ele tinha essa força toda!
— Não é incômodo. Você é bem mais levinha do que as caixas de equipamentos que levávamos no começo da carreira...
Ele tem um sorriso tranquilo e seu semblante não se altera por nem meio segundo enquanto ele me leva até aonde eu tinha estacionado o carrinho. Bem que eu poderia ter estacionado o carrinho mais distante, mas enfim...
Entrego as chaves pra ele e então ele vai dirigindo devagar.
— Tem gelo no freezer perto da piscina?
— Muito provavelmente sim...
— Maravilha, então vamos fazer uma parada lá.
Ele vai me perguntando muitas vezes se está tudo bem, se quer que ele vá mais devagar, mas se formos mais devagar, talvez seja mais vantagem ir andando mesmo.
Chegamos na piscina e ele faz questão de me pegar nos braços mais uma vez. E agora eu nem me dou ao trabalho de negar, ou fazer charme, apenas aproveito o passeio. Ele me coloca sentada num banco alto e pede que eu o espere.
Nem ouso me mover.
Chuck volta uns minutos depois com um guardanapo, e depois de se abaixar, coloca em cima do meu tornozelo que olhando agora está assustadoramente inchado.
— Eu vou ter que fazer um pouquinho de pressão. Você acha que consegue aguentar saltadora?
— Eu consigo. Pode apertar enfermeiro...
— Certo — ele coloca o meu pé em seu colo e segura o gelo em diferentes lugares por diferentes períodos de tempo. Ele parecia tão concentrado naquilo que estava fazendo que não tive a coragem de falar alguma coisa e quebrar aquele semblante dele.
O gelo anemiza muito a minha dor e já estava conseguindo ver o inchaço começar a ir embora.
— Uau. Você realmente leva jeito para isso...
— Obrigado. E pelo jeito que está desinchando tenho mais certeza ainda que não foi nada mais sério. Se você colocar gelo, amanhã você já deve estar andando normalmente por aí...
— Que bom...
— Mas se ainda tiver dificuldade de colocar o pé no chão, você fala comigo, posso ter me enganado.
— Pode deixar doutor... Se eu continuar com essa dor no pé, eu procuro um médico... — digo brincando.
— Ah sim claro. Um médico, bem mais indicado para isso...
— Mas obrigada pela preocupação...
— Claro que eu me preocupo com você! — ele me olha profundamente e não sei mais o que falar agora. — Você é uma mulher especial — ele sorri como se não tivesse falado nada demais.
PARA O MUNDO QUE A CATARINA DESCEU DO PARQUINHO DE COM FORÇA. kkkkkkkkkkkkkkkk — literalmente!
O que estão achando do capítulo, já tem alguma suposição para essa eliminação surpresa? Parece até que estou esquecendo dessa eliminação, mas será que estou mesmo?!
Se gostaram do capítulo, já sabem o que fazer... Beijos e até o próximo capítulo!
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