Episódio 4 - Descobrindo Algumas Coisas... : Parte 2

O cenário escolhido para o encontro de hoje tinha sido a biblioteca da fazenda. Um ambiente lindo, amplo, com janelas altas que permitiam a entrada de luz, além de dar visão ao belo jardim lateral.

A tarde já estava se aproximando do fim e a visão do Sol se pondo pelo vidro transparente era uma cena de tirar o fôlego. Os livros estavam banhados de tons de laranja, vermelho e rosa, e a iluminação seria mantida por luzes especiais.

Todas as câmeras já tinham sido posicionadas e os microfones de áudio também. Eu ajudei a criar um clima de falsa privacidade, não deixando as câmeras muito na cara.

Juliana acaba de chegar no set e está impecável com seu vestido vinho colado no corpo bem curvilíneo, os cabelos soltos cheio de cachos bem ordenados, um salto não muito alto.

Seu rosto estava sendo retocado pela maquiagem, quando Charles chega e cumprimenta a todos. Seus cabelos estavam ainda úmidos e ele trocou de roupa. Evito tentar um contato mais direto com o Chuck, ainda lembrando daquela levantada de sobrancelha do Marcelo de mais cedo, e não queria ter que dar explicações que nem ao certo sabia que tinha.

Tinha ajustado tudo hoje mais cedo e os dois garçons que estavam responsáveis pelo serviço da comida já estavam a postos, tudo já estava pronto e não esfriaria. Eu já tinha feito muito mais cedo, então não estava responsável pela coordenação do encontro, e fui me ocupar com outra coisa.

O encontro dos dois deve estar uma maravilha, pois eu volto para a biblioteca, quase três horas depois, os dois ainda estão lá dentro, conversando, rindo e se divertindo. Os dois formam um belo casal pelos monitores. Pergunto se teve alguma cena boa, tentando não parecer muito óbvia que estava na verdade era interessada nos 'progressos" dos dois.

Quase desabo na cadeira aliviada quando um dos câmeras afirma que não tinha acontecido muita coisa interessante. Mesmo a Juliana dando algumas investidas mais firmes, o Charlie estava se comportando como um bom moço. E bastou olhar um pouco para a conversa para perceber, eles se divertiam, mas me parecia que faltava alguma coisa.

Não demora muito mais para o encontro encerrar. Os dois saem de lá, os sorrisos dos dois confirmam que eles realmente compartilharam um bom tempo. E então não tenho mais tanta certeza se estava faltando algo.

Ao perceber que estou olhando pra ele, Chuck perde um pouco do sorriso e acena com a cabeça discretamente para mim. Dou o meu melhor sorriso e algo se agita dentro de mim.

Um membro da equipe me chama, e então eu tenho outra coisa para ocupar a minha mente. Dou um pequeno aceno me despedindo e vou aonde me chamam. A minha sanidade mental agradece a distração.

Os dias foram passando, encontros foram acontecendo e até o momento, nenhuma outra candidata tinha ido para casa. Estávamos gravando a final de um torneio de xadrez entre as participantes e eu estava me esforçando para não dormir.

Jéssica e Rose estavam concentradas em suas jogadas, analisando a concorrente. Nem sei que milagre os editores vão ter que fazer com essas imagens para ficarem interessantes.

Só sei que depois de minutos que pareciam não ir pra frente, Rose finalmente move uma peça e diz com um sorriso.

— Xeque-mate.

Finalmente acabou e então depois das duas se cumprimentarem, Rose permanece com o rosto impassível e Jéssica parece um pouco abalada, um tanto quanto suada também, o que era estranho, já que estávamos num ambiente condicionado.

Chamo a vencedora do torneio para que possamos informar mais detalhes sobre as opções de locais e horários para o seu encontro. Seria o terceiro encontro dela com o Charles e ela parecia um tanto quanto indiferente. Ela é bem direta nas suas escolhas e ficou combinado de hoje mesmo à noite ela ter o seu jantar à luz de velas.

Peço para um produtor ir avisar Charles sobre os planos para mais tarde e eu vou almoçar. A mesa da nossa equipe é sempre bem movimentada, o pessoal sempre tem um clima descontraído e dá pra perceber até alguns olhares mais sinuosos entre os membros. 

— O que não deve acontecer nas madrugadas depois das gravações aqui... — Marcelo senta ao meu lado, segurando um pote de salada de fruta.

— Oi? — me assusto um pouco com a sua aproximação rápida.

— Você está vendo como alguns aqui se olham. Certeza que já andaram se pegando nos horários livres...

— Ah, mas se estão no horário livre deles, nem tem tanto problema.

— Certamente não tem problema. É comum até. Só acho estranho pois não consigo pensar em outro coisa além de trabalho quando saio numa produção assim.

— Vai ver você ainda não conheceu a pessoa certa.

— É, vai ver é isso mesmo. Se pelo menos eu fosse famoso, eu teria várias meninas interessantes querendo algo comigo. Sou muito bom no que eu faço, mas isso não me dá a fama pra atrair esse tipo de coisas.

— Ficar atrás das câmeras também tem suas vantagens... Essa fama que você tem também.

— Acho que prefiro a minha fama de qualquer jeito... Não sei se gostaria de ter alguém ter disputando uma chance de sair comigo num torneio eletrizante de xadrez — a ironia da sua voz me pega desprevenida.

— Você é terrível Marcelo! — explodo numa gargalhada.

— Tantas formas de mostrar que uma mulher é inteligente e escolhem logo uma das ideias mais entediantes!

— Fazer o quê, a gente tem um poder de voto, mas normalmente o ponto final fica pra algumas pessoas...

— Você tem toda razão. Mas como eu amo meu emprego, a minha resposta final é que eu amo esses pontos finais.

— Somos dois então.

Termino de almoçar na companhia do Marcelo e depois de alguns momentos de descanso, voltamos a trabalhar.

Chega então a hora do encontro e tudo está feito para criar um clima romântico. A iluminação da sala está baixa, as velas tremulam com a brisa da noite, e o Chuck chegou primeiro e lindo como sempre. Para os outros membros da banda e candidatas, faríamos um jantar mais informal, mas ainda sim gravado. Todas as interações são válidas.

O isolamento acústico da casa era uma maravilha, pois mesmo o jantar do pessoal da banda sendo ao lado, ainda sim não conseguíamos escutar nada. Era bom ter grande parte da equipe assim perto, pois caso um dos lados desse errado, já estávamos perto para ajudar.

Quando o horário estipulado para que a Rose chegue começa a passar muito e o atraso começa a ser preocupante, eu peço para que vão checar no quarto dela pra ver se está tudo certo. 

— Oi Catarina... — Charles diz ao se aproximar de mim. — Será que a Rose ainda vai demorar muito? 

— Oi... Ah, na realidade ainda não sei, foram ver onde ela está para enfim podermos dar começo nas gravações.

— Tudo bem então... Estou com fome, e queria saber se vou permanecer assim por mais tempo...

— Assim que eu tiver alguma novidade, aviso.

Mas antes que ele se afaste, recebo a notícia que a Rose já estava a caminho dali e ele sorri aliviado. Agradece e então se afasta de mim.

Sei que eu já deveria estar me acostumando a acompanhar os encontros do Chuck, mas não consigo. Aquele nó no estômago ao ver ele sorrir e se divertir com outra mulher é irracional e incontrolável.

Só que eu percebi, os encontros com a Rose são um tanto quanto diferentes. Parece que é ele quem puxa toda a conversa, é tão unilateral que chega a ser exaustivo.

Durante as entradas, eu vi que ele realmente estava se esforçando. Quando vieram os pratos principais, a conversa era pouca, mas ainda sim deu pra pegar parte da conversa. Na sobremesa vi que os pontos já tinham sido entregues e eles comiam sob um silêncio absoluto.

Chuck resolve acabar o encontro e então vai direto falar com o Boris. Rose vai para o seu quarto. E eu vou dar uma mão no jantar da banda, que ainda estava no prato principal, e olha que eles começaram bem mais cedo. Ali estava bem mais divertido. 

Quando eles estavam terminando a sobremesa, Boris vem falar comigo, informando que vamos ter uma eliminação hoje e já aproveita para avisar aos participantes. Todos então vão se aprontar e eu continuo a trabalhar.

Ajustar os últimos detalhes com as meninas, o Roger, a banda para que tudo saia da melhor maneira possível. Estou encontrando aos poucos a melhor maneira de coordenar tudo, e com a prática, tudo vai sendo feito de maneira mais rápida.

As meninas estão em posição, com seus belos vestidos, quase formando um arco-íris de cores. Roger ajusta o seu penteado enquanto faz um aquecimento em sua voz. Charles parece despreocupado, olhando para o chão e mexendo os pés como uma criança entediada. A banda é só risadas sentados em bancos altos no fundo do palco, mas ainda em foco.

Todos assumem as posições e o Marcelo dá a permissão para que a gravação comece. Escutamos a música de introdução e as câmeras fazem a sua mágica. Roger entra em foco e mais uma vez faz as apresentações e cumprimentos.

Roger sabe bem como levar uma entrevista, e mesmo sendo a mesma pessoa e a mesma experiência, tudo parece algo novo.

Impressionante como ele fala de um jeito que até parece que todos ali estão vivendo um conto de fadas moderno. Pode até ser pros participantes, mas nós da equipe estamos vivendo num momento eterno de gatos e gatas borralheiras. É trabalho que não acaba mais!

Depois de uns bons minutos de um bate-papo entre todos os participantes de uma maneira bem descontraída, Roger então puxa o assunto da gravação de hoje.

— Então Keller, quem vai ser a eliminada de hoje?

— Meninas, vocês sabem que eu não sou de ficar enrolando demais para tomar uma decisão, mas pra essa, eu acho que eu devo falar um pouco mais... Já estamos aqui tem um bom tempo, e com o passar dos dias e dos encontros, eu me vejo aproximando de vocês. Uma mais, e outras menos. O que é bem normal, tem vezes que é bem mais fácil se abrir com uma pessoa em específico... Mas com uma pessoa eu não consegui me aproximar ou conectar de maneira nenhuma... E não foi por falta de tentativas... Acho que você até mesmo já sabe, não é?

— Eu já esperava por isso — Rose diz e as câmeras tiveram que trabalhar rápido para captar as palavras.

— Acredito que apenas não éramos pra ser Rose — ele diz com um sorriso bonito e começa a se aproximar dela.

Mesmo o semblante dela parecendo bem triste, ela estava conformada. Chuck a puxa para um abraço apertado. O restante das meninas se junta ao abraço. Mesmo com as palavras que sentiriam falta da Rose, era fácil ver no rosto das meninas que elas estavam mesmo era felizes por não serem o pescoço da vez.

Depois de conseguir todas as imagens para conseguirmos montar esse episódio de eliminação da Rose, encerramos com a maioria dos participantes e faltava apenas a entrevista final com a Rose.

Aquela sem dúvidas até o momento tinha sido a eliminação mais tranquila que tínhamos feito.

O peso de todo o esforço que fiz durante todo o dia veio pra cima dos ombros com força. Eu sentia músculos do meu braço que nem sabia que tinha. Minhas pernas estavam pesadas, e se pudesse, eu apenas fecharia os meus olhos e dormiria em qualquer lugar, sem o menor conforto até.

Mas eu ainda tinha muitas coisas para fazer antes de poder ir dormir tranquila. Ainda tinha que fazer a entrevista com a Rose e analisar algumas imagens. Sento-me na cadeira mais desconfortável que vejo para poder me manter acordada.

Boris estava a cada dia exigindo um pouco mais de toda a equipe. Sabemos que isso é devido ao fato que o programa iria estrear na televisão oficialmente em questão de dias e tínhamos que ter tudo sob controle. Não queríamos atrasar o nosso cronograma, e quanto mais organizados fôssemos, melhores resultados teríamos.

Eu bem que preferia lançar o programa depois que terminássemos de gravar, mas como o último programa poderia acontecer ao vivo, tínhamos que trabalhar com o conteúdo e nos adiantar no que desse.

É bem mais desgastante do que o imaginado, mas estávamos nos superando.

E quando o Boris disse que ia ver os meus limites, ele não estava brincando, as responsabilidades em minhas costas estavam acumuladas, mas ver as coisas acontecendo do jeito que eu desejo, faz valer o esforço.

Por isso que mesmo acabada, estou com um sorriso enorme ao entrar no carrinho da produção. Mesmo que esse carrinho em questão não tenha o teto, eu ainda sim sorrio. A noite está estrelada, não irá chover, então não há motivo para me preocupar, por isso ainda sorrio.

Mesmo que eu tenha que fazer uma parada no meio do caminho para deixar alguns equipamentos, ainda sim sorrio.

Só que quando estou fechando a porta do armazém e sinto algo cair no meu cabelo, sinto o meu sorriso suspender. Olho pra cima e vejo asas escuras voarem para longe. Por favor não.

É quente e está escorrendo pelos fios.

Por Deus não.

Mesmo tendo quase certeza que sei o que é aquilo na minha cabeça, eu ainda sim ergo a mão para constatar que aquilo realmente é cocô de passarinho na minha cabeça.

Que maravilha!

Já não dá pra sorrir. Tudo o que eu não queria ter que fazer agora é ainda morta de cansada ter que lavar o cabelo antes de dormir... Eu podia ter sido poupada disso.

Xingo na minha cabeça até a décima oitava geração desse pássaro. Merda, lá vou eu ter que tomar um banho demorado antes de dormir, sei lá quantas vezes eu vou ter que lavar minha cabeça pra tirar o cheiro de cocô...

E então mais uma candidata foi embora! O que acham que vai acontecer agora?

kkkkkkkkkkkkkk Gente a sorte não está do lado da Catarina! Tanto lugar pra essa passarinho se aliviar e vai ser logo na cabeça dela? É tanto azar... (pior que isso já aconteceu comigo, e como recordar é viver, coloquei a Catarina passando as mesmas coisas que eu pra ver se passo as mesmas coisas que ela e encontro com um Chuck...)

Obrigada a todos que estão acompanhando o livro, e se estiverem curtindo, não se esqueçam da minha audiência em votos e comentários! kkkkkkkkkkk Mas sério, nos vemos no próximo capítulo!

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