— Ah, meu santo Deus! Você vai mesmo salvar o Eden? — Ayra juntou as mãos em forma de prece e bateu os cílios de forma afetada. Ela se encontrava feliz pela amiga que estava saindo em busca do amor, por mais que esse não fosse o real motivo de Tiara estar partindo. — Você tem ideia do quanto isso soa romântico?

— Pare de falar bobagens, Ayra — Tiara disse montando no cavalo. Ela estava vestindo um vestido razoavelmente simples, mas a saia ainda era volumosa, afinal ela era uma princesa. — Estou indo com o único propósito de dar um chute no traseiro de Érico, e se é Eden quem pode me ajudar, então irei! — Comentou, tomando as rédeas do animal galopante.

 — Pode ir amiga — Ayra falou com um sorriso que tomava quase todo seu rosto. — Eu vou estar aqui para lhe ajudar a preparar tudo quando voltar. — bateu palmas dando três pulinhos. Claro que ela se referia ao futuro casamento.

 — Onde está Louise? — Franziu o cenho impaciente.

 — Estou aqui!  — Louise tomou forma, aparecendo ao seu lado empoleirada em um égua um pouco menor que o cavalo branco de Tiara. — Pronta?

— Eu nasci pronta. — A princesa assentiu e, com um movimento sutil, pôs o cavalo para correr.

★★★

As duas já cavalgavam há horas quando Louise propôs uma pausa. Na frente delas havia um pequeno lago de águas tão claras que possibilitava a vista do fundo. O sol começava a ser engolido pelas colinas enquanto a lua já começava a aparecer na pontinha do céu.

 
— O que pretende fazer quando encontrar Eden? — Louise perguntou enquanto enchia sua garrafa.

— Vou fazê-lo pagar pelo meu desespero. Casar com Érico! Onde já se viu? Eden não tinha nada que ter sumido. — Tiara bufou contraindo a face.

 — Você não o odiava?

 — Odeio — a princesa respondeu de ímpeto. — Mas agora eu quero me casar com ele. — Sorriu um tanto ambiciosa. — Farei dele meu serviçal. Ele irá costurar, cozinhar e passar para mim.

 — Titi, você não está sendo dramática? Já há pessoas no castelo para tais feitos.

 Tiara soltou um riso debochado. Seus planos para Eden eram os piores possíveis. Não conseguia entender a burrice dele de se deixar ser trancafiado no alto de uma torre. Não conseguia entender quão idiotizado o príncipe podia estar por ter dado trela à uma bruxa e ainda por cima tê-la traído. Essa parte ela sabia pelo que Louise lhe contou, mas se Tiara não precisasse dele o deixaria morfar trancado entre quatro paredes.

 — Eu já estou sendo piedosa demais arriscando minha própria vida para poupar a dele — Foi tudo o que ela disse antes de virar-se para colocar água para os animais.

 
★★★

 
Eden estava preso na torre mais alta, da montanha mais alta onde até mesmo o ar era escasso e a neve banhava o chão devido a pouca luz solar que entrava apenas pelas pequenas brechas dos galhos altos das enormes árvores que rodeavam a pequena construção.

 O príncipe já estava limpando o mesmo chão pela quinta vez naquele dia, e precisava ficar atento ao fogão à lenha, pois já havia deixado um bolo queimar devido a sua distração. Ele já desconfiava que não estivesse longe da noite chegar, logo, em um bicho nojento ele se transformaria. Era impossível não ficar deprimido ao imaginar que antes a lua que assinalava seu período de liberdade agora o alertava com antecedência sua hora mais macabra.

 
— Eden — um grito alto e fino fez as paredes estremeceram. — Se você deixar o bolo queimar, cortarei um de seus dedos e comerei no jantar.

 Revirando os olhos, ele soltou a vassoura que segurava e foi olhar o forno. A massa já estava inchando e em breve o bolo ficaria pronto para ser saboreado.

 Um dia Eden teve tudo; mulheres, dinheiro, título e até mesmo uma noiva, mas agora, a única coisa que pode salvá-lo é o amor, sendo esta antes, a coisa que ele mais desprezava na vida.

 Ele estava preso por uma maldição, só poderia sair da torre após ser beijado pelo amor de sua vida, enquanto isso ele teria que aturar a bruxa que transfigura-se em um dragão e só fala à base de palavras rimadas. Nunca odiou tanto sua maldita vida como odiava passar cada um de seus dias naquele lugar mofado e úmido.

 
★★★

 
Agora Tiara sabia o motivo do bosque ser chamado de sombrio. Quando era mais nova tinha curiosidade de conhecer a parte mais temida da floresta, mas agora que ela estava envolvida pelo completo negrume do lugar, quis voltar atrás com seu desejo.

 
— Podemos voltar? Eden pode morrer, não ligo mais — Louise sussurrava ao lado de Tiara.

 
— Cale a boca — ordenou.

 
— Não conseguimos enxergar quase nada, Titi, como vamos achar a saída?

 
Tiara deixou as palavras da amiga se perderem no silêncio. Estava tentando montar uma estratégia para sair do lugar no qual estava presa e encurralada. Tinha a sensação de estar andando em círculos.

 
— Como Eden achou a maldita torre? — Tiara cochichou consigo, descendo do cavalo para tatear os troncos das árvores.

 
Ao fazer tal coisa ela nem sequer cogitou a hipótese de ter alguma planta venenosa ali no meio, mas ficou extremamente contente ao achar uma cortina de galhos folhosos e ao afastá-los, sorriu satisfeita.

Tiara havia encontrado a torre, e esperava do fundo do coração que Eden estivesse vivo.

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