Capítulo 2
–Aonde você pensa que vai? –Perguntou Arkan ao ver o seu irmão mais velho abrindo a porta do quarto a qual foram instalados. Tratava-se de um quarto amplo, contudo os príncipes logo estranharam o fato de não existir camas, na verdade não existiam "camas" como eles conheciam eram denominadas "futons" que era semelhante ao um colchão acolchoado e flexível, sendo possível dobra-lo e guarda-lo em um canto do amplo quarto, contudo Arkan não os achava nada confortável, estava acostumado as suas grandes camas com diversos travesseiros e almofadas. Mas não foi essas diferenças culturais que tinham tirado o sono de Jair, na verdade os eventos na "comemoração" clamada pelo o rei de Harunamie o deixaram transtornado, um pai oferecendo sua própria filha como mercadoria... Negando a masculina do próprio filho abertamente...Isso era tão revoltante! E não podia falar nada!
–Tenho que praticar o arco e flecha...-Sussurrou o primeiro príncipe como resposta.
Arkan suspirou longamente, olhou para o irmão mais velho e sorriu em um sinal de compreensão.
–Está certo... Vejo que está nervoso devido o que aconteceu...E até concordo com você! Aquela comemoração mais pareceu uma tortura!
Jair riu, seu irmão de sangue realmente o entendia.
–Por isso, tenho que sair... Preciso colocar a minha mente no lugar senão vou acabar agindo de forma indevida...
–Podes ir... Mas não vá muito longe! O rei pode desconfiar ou achar sua ação desrespeitosa ...Sei lá...Eu realmente não entendo esse povo! –Se deitou em seu futon meio chateado.
–Se você que é um gênio não entende imagine eu...-Riu Jair saindo do quarto, apertou o arco que segurava em sua mão com força... Realmente precisava dissipar as preocupações de sua mente.
***
O vento acaricia a relva as fazendo se movimentar de acordo com a sua vontade. Era madrugada o sol ainda nem tinha despertado do horizonte por completo, seus raios tênues cortavam a escuridão que ainda dominava a paisagem. Jair desmontou do seu cavalo com certa dificuldade, não era acostumado com aqueles tipos de animal, em seu país eram os camelos e dromedários o transporte oficial, cavalos eram poucos comuns e eram mais usados pela a guarda e exercito.
O palácio de Harunamie era apenas observável as suas grandes torres. Jair finalmente pode respirar com tranquilidade, parecia que ficando longe daquele local sufocante havia lhe retirando um peso de suas calças. Retirou o seu arco e suas flechas e olhu a sua volta na busca por um alvo logo localizou um bosque próximo a si.
"Perfeito!" pensou "Aquelas árvores seriam um alvo perfeito!".
Pegou o seu arco, puxou a corda e posicionou a flecha. Fechou os olhos e respirou devagar...Inspirando e expirando lentamente, o ambiente silencioso a sua volta o deixou ainda mais relaxado. Podia sentir sua mente se esvaindo de pensamentos... Ainda de olhos fechados esperou o momento certo...Era um costume advinha desde a sua infância... Memórias do passado começaram a se reverberar em sua mente...
***
–Mãe... Eu já lhe disse que não tive culpa! –Choramingava uma criança de cabelos azuis longos, o menino fazia biquinho enquanto era arrastado pelos corredores do palácio por uma mulher que compartilhava a mesma coloração dos cabelos do menor. Os dois passavam por diversos servos que faziam reverência e se afastavam nervosos...Sabiam mais do que ninguém que não deviam deixar a rainha irritada.
–Não teve? – Disse a mulher que parara e encarou o filho com um olhar reprovativo –Por acaso as palavras que saíram de sua boca foram devido alguma magia desconhecida? Ou elas tem vontade própria?
O jovem mordeu o lábio inferior e abaixou os olhos evitando o olhar fulminante de sua progenitora.
–Ele era malvado! –Falou por fim depois de um silêncio constrangedor trocado entre ambos –Aquele político estava mentindo! Eu sei! Eu senti! –O menino finalmente levantou os olhos para enfrentar a mãe –Ele que roubou o dinheiro destinado aos pobres, não foi roubado como ele disse! Não entendo por que o meu pai não o condenou! Simplesmente ele...Ele deixou que o político falasse...E inventasse desculpas! Eu tive que falar!
–Seu pai agiu assim porque é um rei! Ele não pode condenar alguém sem provas, baseando unicamente na intuição de uma criança! –O menor mordeu o lábio inferior meio triste com aquela afirmação – Mesmo que tais intuições estejam certas...- Agora a criança olhou para mãe com espanto, ela tinha concordado com ele? – Mas você. Jair, como príncipe herdeiro ao trono também deve servir de exemplo...
–Mas...O que devo fazer então? Ficar quieto mesmo vendo situações erradas? Eu sinto que tem algo de errado! Chega até a doer! –Disse indignado, o seu lábio inferior já estava avermelhado de tanto morde-lo, era um tique nervoso que tinha quando ficava irritado.
A mãe nada diz pegando a mão do filho e voltando a arrasta-lo, novamente o silêncio se fez entre os dois. A dupla logo chega a um descampado, era o centro de treinamento dos guardas reais. Jair olhava para os lados, confuso. Sua mãe finalmente o soltou.
–O que iremos fazer aqui?-Perguntou o menor.
A rainha pegou um arco e flecha que estavam disposto sobre uma grande mesa.
–Vamos fazer o que o meu pai me ensinou...Eu também fiz algo semelhante a você quando era pequena...Um membro do nosso tribo tinha roubado e jurava que não tinha feito, colocou a culpa toda em um pobre servo que não tinha forças e nem inteligência para se defender...Eu também senti que aquilo tudo era uma farsa...Falei e meu pai me puniu...
–Você...Também sente o que eu sinto? – Falou surpreso o pequeno Jair.
–De onde achas que puxou essa habilidade? Com certeza não foi do seu pai...-Riu a mulher – Escute bem Jair, essa intuição que temos é uma habilidade antiga passada de geração e geração nos nômades do deserto...Trata-se do poder de sentir a mentira... Contudo, somente sentir não significa que sabemos a verdade... Sentimos o desconforto em relação a falsidade...Mas para encontrar a verdade temos que buscar com as nossas próprias mãos!
Jair acenou com a cabeça , tentando observar tais informações novas.
–Meu pai me explicou que tal habilidade causa muitos infortúnios... Podemos ser desacreditados e humilhados...Menosprezando o poder e o confundido com uma simples intuição...
O menor ficou cabisbaixo, aquilo não parecia ser algo bom...
–Existem coisas erradas que ocorrem a nossa volta, nem todas temos a capacidade de resolve-las ... Não estou dizendo para aceita-las mas saber conviver com essa realidade...-Ela pegou o arco, puxando a corda e posicionando a flecha – Se quer mudar a realidade deve achar a solução...Um modo de concertar o erro...Contudo, até encontra-la deve controlar seus sentimentos de modo que não faça o que fez hoje!
–Mas como?
–Deve eliminar as suas preocupações e raivas...Elas deturpam seus pensamentos, obscurece a razão...-A mulher mirou em uma alvo que estava a mais de 100 metros de distância deles, ela fechou os olhos – Foque a sua linha de pensamentos para um ponto... –A rainha abriu os olhos, Jair engoliu em seco vendo a concentração de sua mãe, a corda foi solta e a flecha cortou o ar, cruzando o campo de treinamento e acertando o centro do alvo. Alguns guardas bateram palmas com a exibição de talento da soberana.
–Um método de eliminar as preocupações é através do arco e flecha...Dissipe seus pensamentos e foque sua atenção unicamente na flecha e no seu alvo... Do mesmo modo, vai encontrar a solução para os seus problemas...De certa forma, o arco e a flecha representam os instrumentos para alcançar o seu objetivo que no caso seria o alvo...
–Se eu dominar a técnica do arco e flecha...Poderei solucionar os meus problemas? –Perguntou o menor pegando um arco para si e olhando a arma com esperança e determinação.
–Quem sabe...Cabe você descobrir...Pelo menos a mim, me ajudou bastante...-Sorriu a rainha.
Jair correspondeu ao sorriso
Iria se tornar o mestre naquela modalidade...Iria controlar seus sentimentos...Iria se tornar um grande monarca...Usaria seu poder como um instrumento para encontrar a verdade!
Esses eram seus desejos infantis e que se perpetuaram até a maioridade....
***
Jair abriu os olhos, viu o seu alvo...Um tronco de árvore a pelo menos 100 metros de distância a sua frente. Sua mente só pensava em acertar o alvo. As preocupações e os eventos que aconteceram anteriormente já nem eram mais lembrados. A corda foi solta, a flecha foi lançada com perfeição se afundou no tronco da árvore. Jair nem teve muito tempo para comemorar pois outra flecha cruzou o ar e fincou ao lado da sua na mesma árvore.
–Belo tiro! –Falou alguém logo atrás do primeiro príncipe, este se virou rapidamente, já pronto para atacar o desconhecido, contudo para a sua surpresa aquele que atrapalhou seu treino com o arco era o príncipe de Harunamie...Haru, o jovem estava montado em seu corcel negro empunhava um arco longo, um sorriso arrogante jazia em seus lábios. Jair riu baixo, podia sentir a vitalidade e a rebeldia que emanavam do jovem príncipe...
–"Belo tiro" você disse... Seria referente ao meu ou ao seu? –Perguntou o príncipe regente.
–Lógico que o meu!!-Respondeu convencido Haru.
–Será mesmo? –Provocou Jair.
–Ora...-O menor parecia que ia fazer bico, mas se controlou –No máximo o que podes dizer é que empatamos!
–Veremos...-Nisso Jair começou a se encaminhar para o "alvo" para recuperar a sua flecha de relance pode observar que o outro príncipe tinha descido do cavalo e o acompanhava com um olhar ansioso. A dupla chega as bordas do bosque ao lado da árvore que foi flechada.
–Bem...- Jair retira uma flecha com facilidade –Essa deve ser a sua... Tem inscrições em uma língua estranha...
–Er...Sim! É minha! E o que está escrito é o meu nome! Baka...-Resmungou pegando a flecha do outro, mas o príncipe levantou a mesma para o alto, longe das mãos do menor.
–Baka? O que é isso?
–...Significa que você é um idiota! –Resmungou Haru ficando nas pontas dos pés tentando recuperar a sua flecha.
–Espere, nanico...Por que não tenta tirar a minha flecha do tronco? Afinal ainda não avaliamos quem ganhou!
–Nanico? Eu não sou nanico!
–Mas é menor do que eu...
–I-isso por que você é mais velho...Eu ainda vou crescer!
Jair riu alto com aquilo, Haru se irritou ainda mais e foi ao tronco da árvore para retirar a flecha remanescente, entretanto apesar do seu esforço não consegui retira-la. Haru encarou o outro príncipe ainda mais aborrecido, será que aquilo era um truque?
–O que você fez? Por que não consigo tirar? Isso é magia? –Resmungou o menor tentando puxar, com toda a sua força, a flecha da árvore.
Jair sorriu e foi ajuda-lo, colocou suas mãos sobre as do menor, pode sentir o sobressalto do jovem príncipe com aquela ação, além disso o príncipe regente notou que as orelhas do outro tinham ficado vermelhas.
"Fofo..." Pensou sorrindo ainda mais. Com um pouco de força conseguiram retirar a flecha. Os dois quase caíram para trás devido a força empregada.
–Ohh! P-por que? –Haru estava confuso observando a flecha em suas mãos.
–Você pode ter a destreza de acertar o alvo mais isso não é suficiente somente...Precisa ter força para que assim o inimigo seja destruído...-Explicou Jair – Em um campo de batalha a precisão não será o suficiente para salvar a sua vida...
O jovem príncipe suspirou longamente, se sentiu inferior naquele quesito, ainda encarava a flecha de Jair tal como se ela pudesse lhe explicar como ganhar mais força.
–Mas... Você foi muito bem! Seu professor deve estar orgulhoso! –Tentou anima-lo dando um cafuné nos cabelos negros e sedosos do outro.
–Eu...Não tenho professor...-Confessou meio envergonhado.
–Ah?
–Eu...Bem...Eu nem deveria estar aprendendo a lutar...
–Por que? É algo proibido para a realeza?
O menor negou com a cabeça.
–...É algo complicado...-Sussurrou tristonho.
"Talvez tenha algo haver com o fato do pai não reconhece-lo como homem?" Pensou Jair, sentiu um certo pesar ao ver o outro desanimado daquele modo " Talvez...Ele não queira me contar... Bem, realmente deve ser difícil falar sobre esse assunto...".
–Pois então eu devo me curvar a você ...Diante de sua habilidade!
Haru levantou os olhos surpreso com aquela afirmação.
–P-por que?
–Ora...Alguém que aprendeu sozinho o arco e flecha e ainda sendo algo proibido...Realmente deve ser um ótimo guerreiro! –Sorriu Jair ao ver os olhos do mais novo iluminarem.
–Oh! Devo ser mesmo! –Diz já orgulhoso, Jair não conteve a risada –Ei! Não ria! –Falou fazendo biquinho.
–Você é muito fofo...Ops...-Jair tapou a boca, tinha falando aquilo sem pensar.
–Eu não sou fofo!! –Resmungou o menor dando um chute no outro.
–Ai! Desculpe! Não pude evitar! – Haru se virou já se encaminhando para o seu corcel negro que pastava a alguns metros de distância.
–Eu sou homem...Não sou fofo! –Disse, o príncipe regente pode sentir um certo angústia naquela afirmação.
"Será que falei alguma coisa errada?"
–Ei... Você pode ser homem e ser fofo! Digo...Isso não tira a sua masculinidade...Eu mesmo conheço muitos homens valoroso que também são fofos! Theris... Saied...Lauren... Amantes dos meus irmãos...São um bom exemplo disso! Não estou inferiorizando você ...Estou te elogiando!-Jair já o tinha alcançado e segurou o pulso do menor o fazendo parar.
–Elogiando? – Haru vira o rosto corado de relance para o maior.
–Sim... Haru... Peço perdão se te ofendi... Não foi a minha intenção...-Soltou o pulso do outro que massageava o local com um semblante pensativo.
–Tudo bem... Você não teve culpa...Eu...
–Haru... Isso tem algo a ver com o que o seu pai disse no banquete da noite passada?
O príncipe mais jovem se sobressaltou com aquela pergunta, olhou para os lados sem saber ao certo o que falar.
– Não precisa dizer se não quiser... Mas eu...Tenho que lhe falar que não concordo com a opinião do seu pai... Você não é uma mulher... Ao menos que esteja escondendo algo por debaixo de sua vestes... –Falou sorrindo meio provocador e olhando para o corpo esguio do menor, dos pés à cabeça. Sem dúvida aquele rapaz era lindo, pele alvo, tal como porcelana, apesar das várias camadas de roupa impediam de ver além... Contudo, Jair tinha uma imaginação bastante fértil.
–AH?! Não! –Corou Haru – Eu sou homem sim! Eu te garanto que tenho todos os "instrumentos" de um!
–Oh...Então...
–... Você sabe o que é um Tanewamaku?
–Tane...O que?
– Tanewamaku... Trata-se da maldição que tenho...
–Maldição?
Haru suspirou, um vento forte passou por eles fazendo os cabelos de ambos se movimentaram seguindo a direção do vento.
– Tanewamaku...Trata-se de um indivíduo do sexo masculino que tem a capacidade...De ter filhos...
–Ter filhos?-Agora Jair estava confuso, o garoto não podia estar se referindo ao fato de...
–Ou seja, capacidade de engravidar...
Jair estava surpreso, abriu e fechou a boca várias vezes sem saber o que dizer. Um homem com essa habilidade...
–...Agora você vai retirar os elogios anteriores? Vai dizer que eu não devo lutar...Que devo me vestir como mulher! –Lágrimas começaram a rolar de sua face – Que não sirvo para nada...A não ser reprodução...
–Já chega! –Interrompeu Jair abraçando o menor –Eu não vou falar isso... O pouco tempo que te conheci já conclui que você é uma pessoa valorosa... E não vejo como uma fraqueza o fato de você ter a capacidade de ter filhos... Minha mãe, a rainha do meu reino, é uma das mulheres mais inteligentes e suas habilidades no arco flecha nem eu consegui ainda ultrapassar...A mãe de meus meios-irmãos, Al Sherin e Sharien, é uma das guerreiras mais fortes... Que já conheci... Dá até medo...Enfim, isso mostra que o fato de ser mulher, de terem capacidade de terem filhos não a fazem mais fracas... Você sendo homem e tendo essa habilidade não te faz inferior...Na verdade, não vejo como uma maldição...
Haru que ouvia tudo aquilo surpreso, primeiro nunca tinha sido abraçado daquela forma, nem por sua irmã...Aquilo fez o seu coração bater muito rápido o que deixou confuso com aquela estranha e nova sensação que sentia. Além disso, nunca alguém tinha falando algo daquele tipo, para o povo de Harunamie, pelo menos para o seu pai, as mulheres são inferiores e só serviriam para reprodução, por isso sua irmã era tão menosprezada, ela nasceu estéril deste modo era considerada totalmente inútil... Haru não aceitava isso! O fato de seu pai utilizar Ayumi como também o utilizava...
– Você acha mesmo...Que o que tenho não é uma maldição? –Perguntou sem encarar o outro príncipe se afundando nos braços de Jair, adorando o raro momento de afeto que lhe era oferecido.
– Lógico... Engravidar trata-se de uma dádiva...Ter o poder de trazer ao mundo um ser vivo pelo o seu ventre... Trata-se de algo muito lindo...
Jair pode observar as orelhas do menor ficarem vermelhas.
–...Arigato... –Murmurou o jovem príncipe.
–Ari...Gato?
Haru riu da pronúncia do outro e levantou os olhos para encara-lo.
–Significa...Obrigado...Baka! –Riu mais.
–Ei...Eu não sei a sua língua...-Tentou se justificar –Pelo menos Baka eu já sei o que significa...
Haru sorriu, estava se sentindo extremamente relaxado e feliz, não se lembrava de outra época de sua vida que não estivesse se sentindo tão alegre como aquele... Alguém que não o via simplesmente como Tanewamaku.... Alguém que só o via como um rapaz, tal como qualquer outro.
Os dois permaneceram abraçados por um tempo, nenhum deles pareciam querer se separar daquele contato físico que causavam tamanho conforto em ambos.
– Bem... Tem muita coisa que eu não entendo do seu reino...- Começou a falar Jair, quebrando o silêncio confortável trocado entre eles – Não seria questão a cultura, pois o meu reino tem contato com diversos reinos com culturas e costumes diferentes, desta forma estou acostumado a lidar com isso... Mas... Devo dizer que o que me incomoda...É outra coisa, o fato de eu não ver aldeões na estrada que seguimos? Por que o guarda na entrada do reino estava com aspecto doente? Por que o seu reino abriu as portas para o mundo exterior depois de tanto tempo? E toda aquela ostentação no banquete...Aquilo era mentira...Eu posso sentir... Ah! Desculpe...Estou fazendo perguntas demais...
–Hum... Nenhum outro estrangeiro perguntou tanto...
Jair sentiu as suas bochechas ficarem rubras com aquela observação do mais novo, será que novamente tinha falado demais?
–Acho que mais fácil do que dizer...É mostrar... –Falou Haru, relutantemente se afastando de Jair –Ao menos que queira mesmo saber...
–Eu quero...
–Certo! –Sorriu o menor indo para o seu cavalo esperando que o outro o seguisse. Ao chegar em seu corcel Haru percebe que ainda segurava a flecha de Jair, rapidamente a guarda junto com as suas, tal como aquilo fosse uma lembrança, corou e olhou de relance para o príncipe estrangeiro e para a sua surpresa Jair fazia a mesma coisa, guardava a flecha que pertencia a Haru no meio das suas.
–Tem algo de algo errado? –Perguntou o rapaz de cabelos azulados.
–N-não...-Respondeu rapidamente Haru subindo rapidamente em seu cavalo. Com certa dificuldade Jair também subiu em seu cavalo.
O príncipe de Harunamie começou a cavalgar sendo seguido pelo o outro.
–Para onde vamos?
–Você vai ver...-Disse o príncipe mais novo com um tom meio provocador.
Jair suspirou tentando acompanhar o passo do outro, esperava não ter se metido em confusão de novo.
***
Pobreza... Doença... Era o Jair observava naquela aldeia que Haru o havia levado, observavam tudo do alto de uma colina. Tinha pessoas que estavam tão magras e debilitadas que andavam vagarosamente se apoiando nas paredes das casas que estavam aos pedaços. Jair tentava entender o que via, afinal aquele reino parecia próspero! Colinas verdes e bosques por todos os lados. Rios e lagos eram vistos. Ao contrário do seu reino no meio do deserto em tinham pouca água e dependiam do comércio para sobreviver, pois havia poucas áreas cultivadas.
–O que aconteceu? Uma epidemia? –Perguntou preocupado.
–Não...- Haru disse em um tom triste.
–Então o que? Desastre natural?
–...Na verdade a culpa desta situação tem uma causa humana... Meu pai...
Jair parou de encarar a população que definhava na aldeia para voltar a sua atenção para o outro príncipe, esperando uma explicação.
–Meu pai é ganancioso... Ele sempre desejou mais e mais desde que assumiu o trono...Criou diversas taxas e impostos... Tudo isso para acumular mais riquezas para si...Roupas bordadas a ouro, joias, comidas e bebidas da melhor qualidade...O povo começou a ficar pobre... Quando não pagavam ao rei, os guardas vinham e retiravam tudo deles...
–Por que o seu povo deixou? Digo... Isso não é correto...Fui ensinado que o dever de um monarca é o bem estar do seu povo...Protege-lo! Se não cumprirmos nosso dever...O povo tem o total direito de escolher outro rei!
–Queria que a sua realidade pudesse ser aplicada aqui... –Suspirou Haru – Os reis em Harunamie são como divindades... Ir contra a eles seria ir contra aos deuses... Mesmo na situação extrema atual...Meu pai se utilizou desta crença para controla-los, mas como viu que perderia o controle...Que a população estava muito insatisfeita... Ele adicionou outro elemento místico...
–O que seria?
–... Tanewamaku...
–V-você? Mas...
– Tanewamaku , segundo a lenda, só nascem em épocas de grandes mudanças... Podem significar prosperidade ou mesmo calamidade... O último que nasceu trouxe uma grande prosperidade ao reino... Meu pai se utiliza deste mito para controlar o povo...Justificando seus atos como uma forma de trazer melhor qualidade de vida para o Tanewamaku ...-O jovem príncipe apertou as rédeas do seu cavalo com ódio, seu povo estava morrendo...Sendo humilhado e enganado...E por sua causa...
–Às vezes...Eu acho que deveria ser melhor se eu não tivesse nascido...Assim meu pai não teria como controla-los...
–Haru...-Jair colocou sua mão por sobre a do jovem príncipe, confortando-o – Você não é culpado... Se não tivesse nascido acredito que o seu pai iria buscar outra maneira para engana-los...
Haru sorriu, estranhamente as palavras do outro lhe aliviavam a dor que a anos residia em seu peito.
–E quem sabe o seu pai não está certo?
–Ah? –O príncipe mais novo o encarou abismado com a possibilidade.
–Talvez você realmente signifique mudanças...
–Meu servo...Satoshi-san... Falou a mesma coisa...-Diz baixinho –Mas eu não tenho forças para causar mudanças...Eu...Estou só...
–Não está... Eu estou aqui! –O príncipe regente ficou impressionado com a sua própria fala, afinal sua boca foi mais rápido que sua mente.
–Jair...Você não precisa pegar os meus problemas para si...Eu agradeço o seu interesse...Mas... Esse é um problema do meu reino e não do seu...
Antes que Jair pudesse argumentar gritos foram ouvidos. Os dois príncipes olharam para baixo e notaram que a população da aldeia os observava e gritava de alegria.
–Príncipe Haru!
–Ele veio nós conferir sorte na nossas colheitas!
–Teremos fartura e poderemos pagar as taxas!
–Haru-sama!
–Louvado seja...Haru-sama!
Haru sorriu, meio triste para o seu povo... Podia ver esperança em seus olhos cansados e doentes.
–Você... Não está só...Tem eles também...-Sussurrou Jair no ouvido do jovem príncipe que sorriu um pouco mais animado.
–Mas...Mesmo assim...Como posso salva-los? –Murmurou tentando conter as lágrimas.
–Eu irei ajudar...
–Você jura... Isso é uma promessa...- Os olhos castanhos do mais novo já estavam preenchidos de lágrimas, podia ver que seu corpo tremia... Ele parecia tão frágil. Jair queria abraça-lo e protege-lo... Nunca sentiu tanta necessidade de ficar ao lado de alguém como naquele momento.
–Eu juro... –Novamente as palavras saíram de sua boca antes mesmo de raciocinar.
–Arigato...-Sorriu Haru, lágrimas já rolando por sua face, em um impulso Jair acariciou o rosto do outro, limpando tais gotas salgadas...
"Arkan vai me matar...Quando souber no que estamos nós metendo..." Pensou, contudo não se arrependia...Iria ajudar aquele jovem príncipe...Iria ajudar aquele povo... Não por que era um príncipe regente, futuro monarca do seu reino...E sim por que queria salva-los...Era um sentimento pertencente ao seu lado humano e não a sua linhagem real.
"Eu vou salva-los..."Pensou convicto.
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