A resposta

Jungkook sentiu o corpo do outro tremer. Era óbvio que loiro estava com medo.

— Vamos, diga quem é esse cara?! — vociferou autoritariamente.

— N-não é ninguém... É só um cliente insistente. — arrancou suas mãos de Jungkook, se afastando dele. — Estou apenas o mandando ir embora.

O homem se aproximou, dando uma longa tragada antes de jogar o cigarro no chão e o esmagar com os sapatos desgastados.

— Não acho que você esteja. — afirmou soltando a fumaça no rosto de Jungkook, espreitando os olhos para inspecionar o moreno dos pés à cabeça. — Esse "playboy" parece ser amigável demais para o meu gosto... Está tramando algo nas minhas costas, Baby-J?

Jimin baixou o rosto, mas logo encarou o homem com um sorriso forçado.

— Jamais me atreveria a fazer isso, sei as consequências de quem já o desafiou. Além disso... — encolheu os ombros. — Ele é apenas um cara pegajoso que arranquei uma boa grana há algum tempo atrás, não somos amigos. — disse debochado.

— Hum... — sibilou, com uma voz visívelmente descrente. — Mandaria checar isso se meus homens de confiança não estivessem tão ocupados com a mudança. — bufou. — Livre-se dele e venha, temos que ir embora ainda hoje à noite.

— Sim, senhor. — respondeu o loiro obedientemente.

— Mas seu rosto não é muito estranho. — Jungkook engoliu em seco, o coração ficou descompassado só em imaginar ser reconhecido. Jimin também estaria em apuros por ter mentido. O tal gigolô seria capaz de tudo para extorquir até seus últimos centavos. — Cliente vip, heim? Se gosta de garotos, temos "carne" mais nova, se é que me entende.

Jungkook sinalizou apenas um "sim" com a cabeça, a bilis amarga ameaçando sair pela boca ao ver o homem asqueroso lhe dar uma piscadela e apertar os ombros de Jimin, antes de se afastar, sumindo nas sombras.

— Meu Deus... isso foi nojento! — sussurrou o empresário após um longo tempo em silêncio, temendo serem surpreendidos  novamente.

— Você deveria ir. — disse Jimin no mesmo tom.

— Só se você vier comigo, eu não vou desistir! — respondeu rápido. — E o que ele quis dizer com "mudança".

— Estamos seguindo em frente. — suspirou cansado. — Estamos indo para outro território. A polícia está no encalço do Big Mack e eu criei muitos problemas onde estamos agora.

— Você "criou problemas"? — perguntou o empresário cético.

— Sim. — Jimin mudou o peso do corpo para uma das pernas. — O cara de ontem... ele é meio que "influente" na gangue daqui. Olha o tamanho do meu azar...

— Então você foi espancado por um valentão traficante e o jeito do seu cafetão lhe proteger é lhe ameaçando e obrigando a fugirem?

— Sim.

Jungkook se virou, e o loiro não conseguiu ver sua expressão, talvez estava decepcionado ou enojado. Afinal de contas a realidade era dura demais para ser digerida, então aquela seria a deixa para fugir enquanto o moreno estava de costas. Jimin deu um passo vacilante, mas congelou ao ver o rosto do moreno se virar novamente: Jungkook estava com o maxilar trincado, o rosto tomado pela raiva.

— Você vai voltar para as pessoas que sugam sua vida desse jeito?!

Jimin sentiu uma pontada do lado esquerdo do peito, um dor aguda que rasgava com unhas afiadas todas as defesas que construiu ao longo dos anos turbulentos.

— É o que sou... — disse fracamente. — É tudo que sou.

O empresário caminhou até Jimin e segurou seus ombros com firmeza.

— Não, você não é, Jimin. E se não consegue acreditar, acreditarei por você! Por favor... volte pra casa comigo!

As ruas onde Jimin pretendia ficar eram constituídas de incertezas, violência e fome. Jungkook estava prometendo segurança e cordiabilidade.

Por sua vez, Jimin queria desesperadamente aceitar, porém não se achava digno disso. Ele respirou profundamente ao ver os olhos suplicantes do empresário, pensando que talvez não se tratasse de merecimento, e sim de generosidade, porque se ele não acreditava que era alguém, Jungkook acreditaria por ele.

— Tudo bem, eu irei com você.

[...]

Jungkookie acendeu as luzes e deixou Jimin olhar em volta. Ele ainda não conseguia acredita que o loiro havia concordado em voltar com ele. Poderia apostar que o homem armado ao qual teve a infelicidade de conhecer, tinha imposto pânico na vida de Jimin e até o convencido de que sua vida não valia a pena. Mas fosse qualquer uma das suposições, o que importava naquele instante era que Jimin estava longe das pessoas que poderiam machucá-lo.

— Então, o quarto de hóspedes é por ali. Vou lhe emprestar algumas roupas e podemos arranjar algumas coisas para você amanhã. Está com fome? Quer beber algo?

Jimin balançou a cabeça, aparentemente, meio atordoado. Ele estava assim desde que conseguiram entrar em um taxi, se dando conta de que sua vida mudaria totalmente a partir dali.

Vendo o estado emocional do menor, o empresário tomou a iniciativa de segurar seu braço e o levar até a sala para se sentarem no sofá.

— Quer me fazer alguma pergunta?

— Quantos anos você têm? — Jungkook ficou surpreso com a pergunta inusitada.

— Vinte e quatro, por que?

O loiro sorriu, fazendo com que as contusões em seu rosto ainda maquiado, prendessem sua atenção nos olhos de Jimin, que sumiam dentro das bochechas gordinhas. Jungkook estremeceu em simpatia.

— Você é mais jovem, eu tenho 25.

— Então você é meu hyung. — sorriu largamente, fazendo o loiro observar as ruguinnhas que se formavam em seus olhos. — Posso te fazer uma pergunta também?

— Claro.

— Sua roupa de hoje, seu cabelo... Por que ontem você não estava assim também?

— Oh... — Jimin se mexeu desconfortável no estofado, o que fez o moreno morder os lábios já se arrependendo de ter tocado naquele assunto. — Foi uma exigência do cliente. Ontem não estava me sentido bem e voltei para a pensão mais cedo, porém o Big Mack apareceu lá como um louco dizendo que eu tinha o perfil que um cliente novo exigiu, então mandou vestir roupas confortáveis e me deu o endereço de onde nos encontraríamos. Meu Deus... — grunhiu. — foram momentos angustiantes dentro daquele quarto, eu realmente achei que iria morrer.

— Você nunca tentou sair desse estilo de vida?

— Quando fugi do orfanato, passei uns dias perambulando pelas ruas sem rumo, apenas com a roupa do corpo. Ninguém queria me dar algum tipo de serviço pela minha idade, então, foi do jeito ilegal que saciei minha fome. Não é algo de que deva me orgulhar, mas eu fazia pequenos furtos, para ter o quê "forrar" meu estômago. Até que um dia alguém me flagrou e quase fui linchado pelo dono do estabelecimento... se não fosse um homem que se ofereceu para pagar os produtos que roubei.

— Alguém de bom coração, então. — concluiu ao ver Jimin pensativo com um brilho triste nos olhos.

— Este homem não foi meu salvador, e sim meu algoz, Jungkook. Ele se aproveitou da minha vulnerabilidade para pedir "pequenos favores" em troca de comida. No começo eu apenas avisava quando a polícia chegava, era um espécie de "vigia". Depois comecei a levar pequenas quantidades da "mercadoria" de um local para outro. Ficou pior quando me viciei naquelas substâncias... e quando me dei conta, era eu que devia favores demais ao traficante.

— Foi depois disso que começou a usar seu corpo? —  Jimin balançou a cabeça, mordendo os lábios. Parecia algo difícil, torturante em falar em voz alta. Por isso, o moreno esticou seu braço para alcançar as mãos miudas do loiro e cobrir com as suas. — Tudo bem, se não quiser falar.

— Foram tempos sombrios... — sussurrou, deixando os olhos ficarem nebulosos com o choro contido. — Drogas, prostituição... violência. A maioria das vezes, eu não sabia onde estava ou com quem dormia. Era como se estivesse em estado de torpor constante, onde só me sentia em paz quando não estava lúcido. Na época perdi muito peso... O "fundo do poço", foi quando fui largado na porta do pronto socorro por causa de uma overdose.

— Meu Deus, sinto muito... — continuou Jungkook sem saber o que dizer.

— Eu não queria morrer. — disse Jimin com a voz embargada. — Enquanto me entubavam e a equipe médica me conduzia pra sala de emergência, me agarrei a vida. Eu precisava lutar, mesmo sem um motivo real pra isso. — fungou. — Parece que no fundo me agarrava a uma esperança patética de que algo bom me salvaria, um milagre... e olha só, agora estou aqui.

Jungkook também estava emocionado quando limpou as lágrimas que desciam nas bochechas coradas de Jimin.

— "A vida é feita de escolhas". Essa é uma frase clichê que não condiz com a realidade, já que você não teve tantas opções. Mas agora vai ser diferente, okay? — o loiro acentiu. — Qual seu maior desejo, Jimin?

— Agora? — sorriu pequeno em meio as lágrimas. — Um banho quente.

O empresário riu da sua simplicidade, enquanto o loiro soluçava.

— Estou feliz e quero fazer você feliz também. Não está contente por estar aqui?

— Sim, claro... — Jimin olhou em volta com os olhos perdidos em todo aquele luxo. — Só estou um pouco sobrecarregado com tudo.

— Um "sobrecarregado" bom?

— Acho que sim... — sorriu novamente. Isso parecia ser algo fácil ao lado do moreno. — Mas por quê você está tão feliz?

— Não sei exatamente, apenas sinto que vamos nos dar bem. Já me importo com você... talvez possa se importar comigo também.

— É aí que você se engana, porque eu já me importava  com você... Por isso que me afastei, que fui embora daqui. — confessou. — Podia ver que tinha um bom coração e não queria estragar tudo.

— Jimin-hyung... — Jungkook sorriu ao gostar de como soavam bem os dois nomes juntos. — Pare de se preocupar com coisas bobas, apenas sinta-se em casa, fique à vontade. Espero que seja seu lar também, que você seja feliz aqui.

— Tudo bem. — respondeu um pouco hesitante, sempre com um sorriso presente se espalhando com facilmente. — Okay, entendi! É que você é bom demais pra mim, só isso.

Jungkook se inclinou, fazendo os olhos redondos como jabuticaba ganhar o dobro de tamanho.

— O que falei sobre coisas tolas? Não sou bom de mais ou você seja ruim de menos, somos apenas duas pessoas de lugares diferentes que estam se encontrando no meio do caminho.

Jimin também se inclinou, surpreendendo o empresário, ao colar as testas. O loiro fechou os olhos e suspirou, sentindo algo bom esquentar em seu peito.

— Tudo bem, nada de coisas bobas, mas você poderia me ensinar como ser feliz? — ele abriu os olhos novamente e prendeu o ar ao contemplar a constelação nos olhos do outro. — Você poderia?

— Eu vou. — Jungkook não pode deixar de sorrir, fazendo com que o narriz enrugasse. — Nós vamos aprender juntos.

O empresário segurou delicadamente o rosto de Jimin, ao passo que o mesmo fechou os olhos ao sentir o toque que transbordava  carinho. Jungkook viu os lábios volumosos se abrirem, convidativos.

— Eu posso te bei...

A frase foi perdida quando a companhia soou, despertando os dois daquele torpor. O rosto de Jungkook se contorceu sem saber quem poderia ser àquela hora da noite, todavia, teve um pequeno sobressalto ao ouvir o som da porta sendo destrancada e a voz inconfundível do amigo ecoar pelo ambiente.

— Jung-ah, você disse que mudaria a senha... Oh, não sabia que estava acompanhado. — disse Min Yoongi com seus cabelos tingidos de verde, arrastando duas malas enormes pela sala. — Atrapalhei algo?


Continua

Agora o Yoon entrou na parada. Volto já com outro capítulo, meus amores.

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