A realidade

A limusine deslizava com rapidez devido ao pedido do loiro, que estava encolhido no banco de couro olhando com melancolia a movimentação do lado de fora. As ruas nunca pareceram mais triste e sombrias para Jimin, mas era a única saída que tinha ao repensar se de fato deveria voltar para a casa de Jungkook, que aprendeu a chamar  também de lar. Afinal de contas, ele pertencia mesmo a um lugar? O jovem empresário realmente o amava?

Jimin não tinha mais certeza de nada e chorou novamente massageando o peito, tentando arrancar aquele aperto ao lembrar as palavras duras de Jungkook: "Eu nunca te tratei como um prostituto, Jimin. Não aja como um". Aquilo machucou... E pensar que deixou se levar tão fácil pelas promessas, os sorrisos doces, as juras de amor, um corpo quente ao seu lado na cama, braços fortes ao seu redor até o sono se fazer presente.

— Foi tudo ilusão... — negou baixinho soluçando outra vez.

Mas precisava se recompor, chorar nunca resolveu seus problemas. Jimin sempre foi um guerreiro, sentiu na pele a dor da fome, sofreu maus tratos e até escapou várias vezes da morte. Por que não superaria uma desilusão amorosa?

Com esse pensamento, enxugou o rosto erguendo a cabeça. Esperou o motorista estacionar a limusine e dar a volta para abrir a porta. Agradeceu educadamente e respirou fundo antes de entrar pela grande porta de mármore branca. Mas bastou ligar as luzes e as batidas do coração falharam. Emocionado, começou a gravar cada centímetro do lugar, pois aquela seria sua última noite ali. Andou pela sala e pela cozinha, seus lugares favoritos. Queria guardar na memória os bons momentos que passou naquele lugar, dos jantares no balcão, das conversas descontraídas regadas a vinho até tarde da noite, dos olhares apaixonados, dos vários "eu te amo" após rolarem no tapete e se amarem ali mesmo.

Jimin arfou tirando a gravata borboleta e abrindo os primeiros botões da camisa social. Estava exausto, mas sua mente trabalhava para que tomasse uma decisão urgente, talvez fugir para longe de Jungkook, dessa vez se escondendo em um lugar que ele nunca encontrasse.

Se encaminhou até o quarto, onde agora dormiam juntos, abrindo o closet.

— Só preciso fazer as malas, pegar minhas roupas e... — respirou fundo e fechou os olhos se sentindo patético. — Que roupa, se nada aqui me pertence? Esses sapatos não são meus, muito menos essas joias e nem essa roupa idiota de "pinguim".  — disse amargo, tirando tudo com uma certa angústia do seu corpo, indo para o banheiro. — Como sou burro, burro!

Desnorteado se apoiou na pia querendo botar para fora toda raiva, arranhou os braços nus, gritou e esmurrou a parede. Seu peito subia e descia quando encarrou o espelho embaçado não reconhecendo a própria imagem. Chorou mais deixando a banheira encher enquanto pensamentos ruins invadiam sua mente, então trancou a porta e se despiu da única peça que ainda vestia. Entrou na água gelada fazendo o líquido  transbordar pelo piso branquinho. O coração estava acelerado quando prendeu a respiração, mergulhando o corpo inteiro e ficando submersso. Foram só alguns segundos, porém o suficiente para os pulmões queimaram e Jimin se sentir angustiado pela falta de oxigênio, voltando a superficie novamente para puxar o ar com força.

— M-meu Deus, o que estou fazendo?! — perguntou assustado, voltando a chorar alto e abraçando as próprias pernas.

Ele já não sabia o que fazer ou pensar, só não queria que aquele vazio lhe alcançasse de novo, aquela vida sem esperança e sem objetivo antes de Jumgkook.

Foi pensando nele que escutou alguém esmurrar a porta do banheiro, fazendo  ter um sobressalto e segurar a borda da banheira.

— Amor?! — levantou com dificuldade devido ao nervosismo, deslizou no piso escurregadio e foi se segurando aonde pôde até destrancar a porta. — V-você?

— Nossa, que visão! — cantarolou Yoongi debochado, se encostando no portal. — Esperava o babaca do meu priminho?

— Não entendi... ele que te mandou aqui? — continuo o loiro, ainda atordoado cobrindo sua nudez com um roupão.

De repente, Jimin sentiu as mãos de Yoongi lhe puxando. O loiro soltou um grito de horror quando o peito do outro tocou suas costas.

— Ficou maluco?! Me solta, Yoongi!

— Qual é o seu preço, hum? Pelo jeito cobra caro...  — disse apertando mais Jimin enquanto praticamente o levantava no ar com facilitade.

O loiro chutou o ar, se estribuchou como pôde quando foi jogado na cama com força. O laço do roupão se desfez e Yoongi não pensou duas vezes antes de ficar em cima do loiro, prendendo os braços do mesmo e o impossibilitando de reagir.

— Me soltaaa!  — gritava em plenos pulmões inojado pelos beijos que Yoongi deixava em sua pele exposta. O esverdeado, de fato, parecia um animal irracional.

Talvez por estar tão fixado naquilo, não escutou quando passos apressados ecoaram pelo corretor e braços fortes lhe alcansaram.

— Solta ele! — rosnou Jungkook puxando Yoongi para longe.

A postura de Yoongi vacilou por um minuto, mas logo riu soprado abrindo os braços, falando de forma venenosa:

— Ah, qual é, Jung-ah?! É só um prostituto...

O esverdeado não teve tempo de terminar a frase, pois o punho fechado do empresário lhe acertou em cheio no nariz, fazendo um barulho seco pelo quarto.

— Cala essa maldita boca, Yoongi! — ameaçou o empresário.

O outro fungou sentindo um líquido quente escorrer pelo nariz.

— Droga, você quebro meu nariz?! Eu sou seu primo, sangue do seu sangue e você... você está defendendo esse aí? Ele que me seduziu e me chamou até aqui, depois ficou "fazendo tipinho"...

Jungkook olhou para o loiro que estava encolhido no colchão, negando.

— Mentira, Jungkook... ele me atacou.

— Vai embora da minha casa! — um silêncio mortal caiu ali, onde só a respiração irregular do empresário se sobressaia. Jimin sentiu o corpo congelar adiante o olhar frio do moreno. — Sai, Yoongi!

— O quê?! — perguntou surpreso, cambaleando.

— Ficou surdo agora? Sai da minha casa! — continuou o moreno, dessa vez empurrando o primo do quarto, lhe arrastando pelo colarinho até a saída, aos tropeços.

Já na calçada, Yoongi tentou ajeitar os ombros, em um postura desafiadora, apontando o dedo para o mais novo.

— Não vai ficar assim, vou contar tudo pra nossa família! Seus pais nunca vão aceitar...

Jungkook fechou os punhos e o primo saiu correndo para longe covardimente, sumindo no meio da noite. Só então fechou a porta e se escorou, deixando a adrenalina diminuir aos poucos. 

[...]

— Jimin, você está bem? — perguntou preocupado ao voltar para o quarto e ver o loiro massageando os pulsos. Doía pensar que se não tivesse chegado naquela hora, Jimin... "O seu Jimin" teria sido...

— Não me toca! — grunhiu, empurrando as mãos de Jungkook. Suas lágrimas manchando o rosto contorcido pela humilhação.

— Meu bem, eu acredito em você...

— Agora acredita? — questionou lhe encarando.

— Jimin, me perdoa! Eu fiquei cego de ciúmes com o Daku, admito... não vai mais acontecer, juro. E o Yoongi nunca foi boa peça, deveria ter parado ele quando tive chance!

— Qual será o próximo passo, Jungkook? Bater em todo mundo que souber que eu vim das ruas? Ou vai me esconder aqui pra sempre, porque acha que vou me atirar nos braços do primeiro que me oferecer dinheiro?

— Jimin, eu te amo demais. Entenda que...

— Eu ouvi as ameaças do Yoongi. — confessou o loiro apertando o travesseiro entre os braços. — Até quando a gente vai fingir que tudo vai ficar bem, quando não está?

— Meus pais não vão me separar de você, eu prometo que vou dar um jeito ficarmos juntos...

— E esse jeito seria eu ser seu amante quando você casar? — Jungkook abaixou a cabeça. — Que tipo de proposta é essa, Jungkook? Nossa relação vai ser mascarada como algo bizarro, nosso amor não vai passar de uma farsa!

— Não pra mim. — susurrou encarando Jimin. Seus olhos brilhavam pelas lágrimas contidas. — Olha tudo que a gente construiu em tão pouco tempo... Eu posso te dar muito mais, Jimin! Um apartamento, carro, joias, o que você quiser!

— Isso continua sendo errado! Até porquê não se trata só de dinheiro e conforto... Estou falando de nossos sentimentos. Como vou te dividir com sua futura esposa e filhos? — sorriu amargamente. — Eu posso ser um miserável que trocava prazer por dinheiro, mas jamais destruiria uma família.

— Jimin...

— Acabou, Jungkook!

— Não, não... não me deixa, por favor, meu amor! — murmurou alcançando o loiro para afundar o rosto na curvatura do pescoço.

Jungkook chorou copiosamente.

Já o loiro suspirou, conformado com seu destino. Devolveu o abraço desengonçado que recebeu, beijando o topo da cabeça do empresário. Inalou o cheiro característico da colônia alheia, acariciando os cabelos negros com a devoção de quem amava. Jimin precisou morder os lábios trêmulos para se mostrar calmo. Teria que ser forte por eles dois, mesmo já tendo tomado uma decisão: fugiria assim que Jungkook adormecesse, dessa vez, iria embora para sempre.

[...]

— É ele, com certeza, tingiu o cabelo em um tom escuro, mas é ele... — sibilou Jungkook se remexendo no banco ao visualizar a imagem do "seu Jimin" entrando em uma cafeteria. — Eu vou lá!

— Não, Jungkook. — disse Namjoon, segurando a maçaneta. — É melhor eu ir falar com ele primeiro. Jimin se escondeu bem nesses cinco meses, foi difícil encontrá-lo, então precisamos ser cautelosos, pra ele não tentar fugir de novo, tudo bem?

Jungkook travou o maxilar contrariado, todavia concordou abraçando o próprio corpo. Tinha tanta saudade de Jimin, queria ouvir sua voz doce, sentir o cheiro do seu perfume, tê-lo de volta em seus braços. A saudade muitas vezes lhe tirava o sono e uma madrugada quase enlouqueceu jurando ouvir a voz de Jimin pela casa. Ele correu em todos os cômodos com a esperança idiota do loiro estar lá, lhe pregando algum tipo de peça e surgiria a qualquer hora com o sorriso travesso nos lábios. Mas foi tudo ilusão de sua mente, claro, e mais uma vez dormiu sozinho se perguntando onde o loiro estava, se também não conseguia dormir, se estava se alimentando direito, se estava com frio... se ainda o amava. Por isso, quando o assistente chegou no escritório com a notícia de que tinha uma boa pista de onde Jimin estava, Jungkook não pensou duas vezes em largar tudo e ir o mais rápido possível até o local onde o rapaz com as mesmas características estava trabalhando.

— Namjoon, espera! —
gritou o moremo quando o mais alto se afastava do veículo e tirou algo do bolso interno do paletó. — Eu fiz isso na mesma semana que Jimin desapareceu e... sempre carrego comigo. — disse com a voz embargada estendendo o braço pela janela. — Por favor, entrega isso a ele.

Namjoon segurou o envelope branco um pouco amassado e acentiu para Jungkook com um sorriso triste.

— Sinto muito por ter falado a verdade naquela noite para seu primo, ele me pressionou dizendo que já sábia de tudo, então...

— Tudo bem, hyung. De qualquer forma, uma hora ou outra, isso viria a tona. Então... só traz ele de volta pra mim.

— Irei tentar, meu amigo. — disse Namjoon comovido pela dor do chefe, dando batidas nos ombros alheio antes de virar e atravessar a avenida movimentada.

Continua

Agora sim, entramos na reta final! Essa short-fic ficou mais longa do que eu imaginava, a repercussão também me surpreendeu, tanto aqui como no Army-Br.
Beijos de luz da Isa e até sábado! 🥰

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