Traumas

Aviso de gatilho!
Conteúdo sensível sobre pensamentos suicidas e abuso físico e emocional.
Se estiver sensibilidade com o assunto, por favor não leia.
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 Taehyung demorou cerca de uma semana para realmente demonstrar preocupação com o sumiço de Yoongi e Hoseok. Não que eles tivessem muitas regras no contrato que os vinculava de alguma forma, mas ainda assim foi um certo alívio quando Hoseok ligou finalmente numa sexta à noite até então um tanto quanto aleatória.

 " Se você não puder ir, não tem problema" - Hoseok disse pela milésima vez pelo telefone.

 Para ser bem honesto Taehyung já estava com a chave nas mãos e prestes a fechar a porta do apartamento. 

- Hobi, como já disse um milhão de vezes, eu fico com ele.

" Tecnicamente não é pra isso que eu te pago então…"

 Taehyung riu nasalado apertando o botão do elevador umas mil vezes. 

- Não estou reclamando.

 Hoseok suspirou alto do outro lado da linha.

" O carro está te esperando na frente do seu apartamento".

 Taehyung riu de novo e desligou a ligação sem dizer mais nada.

 Se Hoseok sabia que ele diria sim, então por que fez tanta cena insistindo para ele ir?!

 Quando o mais novo chegou ao apartamento que o casal comprou para eles, a primeira impressão que teve é que Hoseok tinha se enganado e não havia ninguém lá.

 Todas as luzes estavam apagadas e o silêncio era mortal.

 Taehyung chamou por Yoongi algumas vezes, sem resposta. Até finalmente encontrá-lo no quarto todo escuro jogado na cama com cobertas cobrindo todo seu corpo.

 Tae tirou os sapatos e as coisas no bolso da calça e entrou por baixo da coberta. Ele poderia chamar o menor ou tentar puxar assunto, mas só ficou ali em silêncio por Deus sabe quanto tempo até finalmente cair num sono leve.

 Seu corpo balançou com pequenos solavancos, até ele entender que Yoongi estava se debatendo e chorando de uma forma desesperadora. 

- Yoongi, Yoon. - Tae tirou todas as cobertas de cima deles e começou a balançar o mais novo para que acordasse do que parecia ser um pesadelo.

 - Suga. 

 Yoongi abriu os olhos que focaram com certo desespero em Taehyung.

 - V?

 Taehyung suspirou aliviado ao ouvir aquela voz rouca e baixinha o chamando. 

- Sou eu. - Tae sorriu largo para o pequeno ser sonolento à sua frente, perdendo o sorriso aos poucos ao notar os olhos vermelhos e a cara inchada de choro do mais velho.

- O que aconteceu?

 Yoongi deu de ombros, seus cotovelos apoiavam seu peso enquanto ele virava o rosto para encarar o travesseiro em que estava deitado antes. 

- Fala comigo. - Taehyung sussurrou.

 Seu coração parecia bater alto na caixa torácica, provavelmente era possível sentir seus batimentos através das suas costelas, no entanto sua mente parecia submersa, seu pensamento era lento, quase adormecido, o que fazia sua língua parecer pesada e maior do que deveria toda vez que ele tentava falar.

 Yoongi suspirou desanimado enquanto engasgava com o próprio ar ao tentar prender as lágrimas que começaram a descer sem sua ordem pelos olhos sensíveis e irritados.

- Você já pensou sobre o quanto dói estar vivo?

 Taehyung que alisava as costas do menor parou os movimentos circulares em choque. 

- O que quer dizer?

 Yoongi deu de ombros, suspirando alto. 

- As pessoas falam sempre como morrer pode ser tortuoso, mas a verdade é que a vontade de viver é o que realmente dói. Como quando você está se afogando, o que dói não é o fato de você estar morrendo, mas sim a luta em querer se manter vivo. Toda aquela água forçando a entrada para o espaço vazio em seus pulmões, prensando seu corpo como se fosse uma parede de concreto tentando te esmagar, isso é porque você está tentando prender a respiração, se esforçando para segurar os últimos segundos de ar que te mantém neste mundo. No entrando, se você apenas desistir de tentar viver e deixar a água entrar, a dor desaparece e você desmaia pela falta de oxigenação no corpo. É como ir dormir, com a diferença que você nunca mais vai  acordar. A dor não está na morte, mas na vontade de viver.

 Taehyung parecia uma estátua viva, ele não fazia ideia do porquê yoongi estava falando aquele bando de merda sinistra, mas não lhe cegou ao fato de que aquilo era assustador. 

- O que…

- Eu sempre escutava histórias no hospital de pessoas em seu leito de morte que pareciam ver o paraíso em seu último suspiro, o sorriso, a felicidade por parecer estar vendo o outro lado. Nunca acreditei nisso, sempre achei que o suspiro de alívio é devido ao fato de finalmente aceitar a morte, a desistência de lutar pela vida que está por um fio. Tenho certeza que a dor só existe enquanto você respira. Você não acha? Você sente isso?

 Yoongi pegou a mão de Tae e colocou em seu peito. Sua camisa estava toda molhada de suor causando arrepios por todo corpo do mais novo. 

- Sente isso? Consegue sentir minha dor?

  Tae engoliu em seco encarando Yoongi sem palavras.

 O mais novo jogou a mão de Tae de lado negando com a cabeça. 

- É claro que não sente, ninguém pode sentir o que sinto.

- Me conta. O que está sentindo? - Tae perguntou num sussurro.

- Se você conhecesse o monstro que sou, jamais falaria comigo de novo.

- Você não sabe disso. 

Yoongi riu sem humor, se jogando no travesseiro amassado e virando o rosto para o lado oposto de Taehyung. 

- Você tem esse olhar que eu não consigo desvendar, como se sua alma fosse assombrada por algo escuro e lodoso. Desde a primeira vez em que te vi, achei que tínhamos isso em comum. Hoje vejo sua inocência e não faço ideia de onde saiu minha primeira impressão de você, eu obviamente estava vendo só o que eu queria ver.

- Suga, eu…

- É melhor você ir, V.

- Não, eu não vou te deixar assim.

- Vai embora. - Yoongi berrou, repetindo a mesma coisa aos berros até Taehyung finalmente se levantar e correr para o corredor respirando alto enquanto lágrimas confusas caíam dos seus olhos atormentados.

 Ele ainda estava passando as mãos no rosto na tentativa de limpar as lágrimas quando notou Hoseok encostado na ponta oposta do corredor, um copo de bebidas numa mão e os olhos tão perdidos quanto os seus. 

- O quanto você ouviu? - Taehyung perguntou quase aos soluços.

- Nada, não preciso ouvir mais das merdas de Yoongi pra saber o que ele diz.

- Ele está depressivo ou…

- Yoongi é bipolar Taehyung.

- O que ?

- Ele para de tomar a merda dos remédios e se descontrola, fica impulsivo, faz um monte de merda, tem seus momentos psicóticos e quando tudo passa ele entra nessa merda de depressão até eu ter que interna-lo para que ele volte a se medicar e tenha um pouco de normalidade por um tempo.

- Impulsividade?

- É, quando ele invadiu a loja de música para tocar piano há 6 meses atrás, ele estava em um dos seus surtos. Não consegui impedir de vazar na mídia, ele sempre faz essas merdas. Como quando ele foi buscar nossa filha na escola para levá-la sabe lá Deus onde e bateu o carro a matando ou como quando ele se desfez da própria herança só pra ter você como seu mais novo brinquedinho. Eu tentei te avisar. O "Suga" que você conheceu, só é uma versão do Yoongi, a versão desequilibrada e não medicada que só quer fazer um monte de merda.

 Taehyung lembrou da coleção inteira da Gucci no seu quarto pouco tempo atrás. Ele sabia que não era um comportamento normal, mas isso?

- E você só fica assistindo enquanto ele sofre?

- Não julgue o que você não sabe. Não se pode forçar ele a tomar a medicação, a última vez que eu tentei ele botou fogo num quarto de hotel e eu mal consegui o tirar de lá com vida, é um milagre que não ficou com cicatrizes daquele dia.

- Mas… - Taehyung mal conseguia piscar.

 Que porra tá acontecendo?! 

- Entende agora? Você é só fruto de um dos surtos psicóticos dele.

 Taehyung concordou distraído. Então era por isso que Hoseok o levou até ali?!

- Foi por isso que eu pedi para você cancelar nosso contrato. É tudo uma piada, Yoongi mal sabe o que está fazendo. - Hoseok insistiu.

- Você sabia que ele estava sem a medicação quando me conheceu? - Taehyung perguntou num sussurro.

- Desconfiava. - Hoseok tomou toda a bebida que tinha no seu copo e fechou os olhos encostando a cabeça na parede.

- Por isso que me disse que é o único que sabe lidar com ele?

- Basicamente. Taehyung estou te mostrando tudo isso pelo seu próprio bem, você precisa deixar pra lá. 

 Taehyung concordou meio perdido, virando para encarar a porta do quarto onde estava um Yoongi, até então desconhecido pra ele. 

- Vou falar com o Namjoon.

 Hoseok abriu os olhos encarando Taehyung de maneira um pouco desconfortável. 

- Vai?

 Taehyung concordou com a cabeça, passando pelo mais velho às pressas enquanto juntava suas coisas pra sair dali o mais rápido possível. 

- Não precisa tomar nenhuma decisão agora, nós podemos sentar e ver uma melhor forma de…

- Não te entendo Hoseok. Você não querer contar sobre a condição de Yoongi eu até entendo, porque você não pode confiar em qualquer um que aparece em suas vidas, ainda mais alguém que é pago para estar com vocês, mas se tivesse me falado um pouco mais claramente sobre a verdadeira situação de vocês, eu nunca teria deixado a gente chegar onde estamos agora.

- Você fez bem à ele, eu pensei…

- Eu não sei muito bem sobre bipolaridade, mas tenho certeza que uma pessoa não é solução. - Taehyung pegou seu chaveiro, tirando a cópia da chave do apartamento em que eles estavam agora.

- Foi um prazer conhecê-los, espero que nem tudo tenha sido uma mentira.

- Taehyung, espera.

- Adeus, Hoseok. 

 Hoseok suspirou e concordou com a cabeça, jogando o copo vazio na porta por onde Taehyung passou, pelo que parecia ser pela última vez.

Droga! Não era bem o que ele imaginava que conseguiria com tudo aquilo, mas talvez fosse melhor assim.

 Jimin queria que aquela aula acabasse logo, queria mais que tudo no universo. Sua cabeça parecia que ia explodir e seus olhos faltavam lacrimejar com toda aquela claridade.

 Ele não dormia muito bem, primeiro porque não conseguia parar de pensar no maldito Sr. Jeon que simplesmente sumiu depois do dia no hospital. Para ser bem sincero, seria estranho se ele não sumisse. 

 Jimin suspirou desanimado.

 Ele odeia o fato de ter desmaiado na frente de um dos seus clientes, mas isso não mudava a situação em que ele se encontrava. Jungkook sumiu depois do seu vexame àquela noite, isso era um mal sinal, sinal de que o Sr. Jeon ficou insatisfeito e nunca ninguém ficou insatisfeito com Jimin antes, normalmente era ele quem dispensava aqueles que não gostava ou não lhe davam tesão o suficiente. Sim, ele se prostituía por dinheiro, mas não significava que ele não gostava da coisa. Jimin simplesmente amava transar sem compromisso, pelo menos era o que ele pensava antes, ultimamente sua libido estava adormecida, senão morta.

 O professor falou mais alguma merda e todos começaram a se preparar para sair da sala de aula, Jimin seguiu as atitudes alheias, juntando o material que nem usou, parando por um segundo para silenciar o celular pela milésima vez. Nos últimos três anos, era a primeira vez que ele recusava tanto programa.

 Seus lábios fizeram um biquinho sem que ele percebesse enquanto saía para a claridade do meio dia no pátio externo. 

- Jimin. - Uma loira esquelética corria na direção do menor, o forçando parar no lugar com aquela cara de poucos amigos nada convencional para ele.

- Julia. - Jimin resmungou olhando a ex noiva com tanta inveja quanto rancor.

 A garota era linda, extremamente magra, toda educada, mimada e simpática ao extremo. Tudo que Jimin queria ser, se sua vida fosse outra. 

- Nossa. Que cara horrível é essa, você parece um morto vivo.

 Jimin bufou e resmungou sabe lá Deus o que. 

- Enfim, queria o telefone do boy que você estava acompanhando na festa de caridade do fim de semana passado.

 O coração de Jimin errou uma batida por causa da menção aquele homem maldito, enquanto ele se esforçava ao máximo para não suspirar surpreso. 

- Sr. Jeon?

 Júlia sorriu de orelha a orelha. 

- Isso querido, do Jungkook.

 Jimin mordeu o lábio inferior, incomodado com a intimidade da garota. Apesar de não ser da sua conta. 

- O Sr. Jeon é extremamente reservado, vou perguntar a ele se posso dar o número para você antes e te respondo. - Jimin falou automático.

 Júlia enrugou a testa confusa. 

- Nós estávamos tendo uma conversa tão boa na festa, mas ele foi para o andar de cima da casa sem dizer nada e então sumiu. Nem tivemos tempo de trocar nossos números.

 Jimin sorriu de leve, lembrando do que Jungkook fez com ele no andar de cima da sua antiga casa, mas tentou se recompor rápido o suficiente.

 Merda. Ele não devia ter esses sentimentos de posse com um cliente, ainda mais um cliente como o Sr. Jeon. 

- Eu vou perguntar da próxima vez que vê-lo. - Jimin resmungou um pouco menos irritado.

 A Júlia não tinha nada a ver com a merda que ele tinha na cabeça no momento. Talvez sua recusa tenha mais haver com sua mente inconsciente de que o Sr. Jeon revele para sua ex noiva o tipo de relação que os dois tem.

- Você sabe que você me deve né?! Pela vergonha que você me fez no ano novo passado.

 Jimin encarou Julia com tanta incredulidade que foi praticamente impossível não abrir a boca em total choque. Ele definitivamente não estava preparado para isso.

 A garota começou a rir da cara de Jimin e bateu no seu ombro de forma brusca. 

- Brincadeira seu bobinho. Você tinha que ver sua cara. Relaxa, não é como se você tivesse culpa por ser gay.

 Jimin enrugou a testa, pensativo e então quase pulou de susto com o gritinho que a garota deu. 

- Esquece tudo que a gente conversou, Jimin. Acabei de encontrar o gostoso do Jungkook. Só pode ser destino, certo?! Deseje-me sorte.

 Jimin viu a loira correndo e sentiu a coluna reta e o coração pulando no mesmo instante.

- Que?

 Ele virou a contragosto, dando de cara com uma cena assustadora da Júlia toda animada conversando com um Jungkook de cara fechada que parecia concordar vez ou outra com a cabeça enquanto procurava algo.

 Jimin negou com a cabeça enquanto sentia suas pernas trêmulas só de ver aquele homem lindo, vestindo um terno Armani e parecendo o dono do mundo.

 Seus olhos se encontraram por um segundo e Jungkook quase fechou os olhos pensativos, dando aquele olhar que mais parecia uma risada sarcástica do que qualquer outra coisa.

 Filha da puta gostoso.

 Jimin resmungou um xingamento baixinho enquanto dava as costas para o cara causador de todos os seus recentes problemas.

 Seu celular voltou a vibrar no seu bolso, mas isso não pareceu incentivo para ele pegá-lo nas mãos, andando cada vez mais rápido em direção ao seu armário no meio do corredor.

 Ele jogou os livros em suas mãos para dentro do compartimento metálico e virou quase que bruscamente pronto para acelerar mais uma vez o passo, como se o fato de respirar o mesmo ar que o Sr. Jeon não fosse bom para sua saúde.

Que porra ele tava fazendo aqui?! 

- Park.

 O som daquela voz provocou tantas sensações no corpo do menor que ele precisou encostar no armário antes que suas pernas mais uma vez trêmulas o fizesse cair feito uma gelatina inútil.

Maldita química.

 Jimin tomou algumas goladas de ar encarando aquelas orbes negras enormes e arredondadas.

 Jungkook sabia exatamente o efeito que causava no corpo de Jimin. Seu sorriso malicioso provava isso. O mais novo queria tanto socar quanto beijar aquela boca insanamente atraente. 

- Fugindo de mim anjinho?

 Jimin tremeu levemente com o apelido.

- Sr. Jeon. - Jimin sussurrou engasgado.

 Jungkook levantou uma sobrancelha, ainda se divertindo extremamente com a situação. 

- Está me perseguindo?

 Jungkook pareceu se recompor um pouco, se afastando do garoto trêmulo na sua frente e arrumando a gravata como se tivesse algum fio de cabelo fora do lugar, coisa que nunca acontecia. 

- Eu marquei um encontro com você e você confirmou, achei que não faria mal te buscar, desculpa se desrespeitei algum limite, te prometi que não faria.

 Jimin demorou um tempo antes de finalmente entender o que aquele homem cheirando maravilhosamente bem estava dizendo. 

- Ham? - Jimin pegou seu celular, pesquisando o app da companhia pra ver que realmente tinha clicado em "sim, aceito os termos" para um programa, provavelmente sem pensar enquanto quase dormia na aula hoje mais cedo.

- Oh! Desculpa Sr. Jeon eu acho que apertei sem querer. - Jimin coçou a cabeça confuso, o que Jungkook achou particularmente fofo.

- Isso significa que você não tá livre?

 Jimin encarou com certa dificuldade aquele homem.

Por que diabos seu corpo reagia daquela maneira toda vez que encarava  Jeon Jungkook?!

- Eu estou totalmente livre. - Jimin respondeu atropelado, arrancando um sorriso de Jungkook.

- Então me desculpe por invadir sua privacidade? Eu pergunto da próxima vez.

 Jimin concordou meio abobalhado até sacudir a cabeça e parar com aquela merda. 

- Sem problemas.

- Então podemos ir?

- Ir? - Jimin virou a cabeça de lado parecendo um filhote curioso.

- Onde estamos indo, Sr. Jeon?

 Jungkook bufou animado com seu sorriso raro no canto dos lábios, fazendo um carinho nos cabelos um pouco encaracolado e armadinho de Jimin. 

- Vamos almoçar, depois vou te mostrar onde trabalho.

 Jimin enrugou a testa, apertando o passo para acompanhar o mais velho. 

- Almoçar? Você sabe que eu sou garoto de programa, né?! Não preciso de nada disso pra você me levar pra cama.

- Aham.

- E também sabe que não precisa me alimentar certo?!

- Sei.

 Jimin tropeçou no paralelepípedo da calçada no jardim externo, mas logo se recompôs. 

- Você quer um acompanhante mais do que uma vadia hoje?

 Jungkook parou de andar virando bruscamente enquanto Jimin quase batia de frente com ele. 

- Não se chame assim fora da cama, é uma ordem.

 Jimin engoliu em seco, antes de pensar sobre aquilo. 

- Sim, Sr. - Jimin resmungou assustado causando arrepios por toda a espinha de Jungkook visivelmente afetado com aquela resposta.

 O mais novo sorriu docemente, pensando em como era prazeroso fazer o Sr. Jeon beber do próprio veneno. Aparentemente aquele era um jogo onde os dois podiam jogar.

- Você tem um restaurante do qual gosta mais? - Jungkook perguntou depois de se recompor.

- Hmmm, tem o novo favorito do Tae. Lá é super legal.

 Jungkook enrugou a testa, tentando não se incomodar com a intimidade na amizade entre o garoto do Namjoon e o seu garoto.

Espera. Seu o que?!

 Jungkook estremeceu com aquele pensamento e concordou em silêncio.

 Jimin sorriu largo ao se sentar no banco da frente de um conversível, já que Jungkook veio dirigindo sozinho e sem segurança. O que de alguma forma o acalmou um pouco e isso não passou despercebido pelo detalhista do Jungkook.

 O restaurante parecia ainda mais incrível por dentro do que por fora, a decoração era incrivelmente simples e espalhafatosa ao mesmo tempo.

 Jimin estava conversando com o atendente sobre um espaço de última hora no ambiente lotado.

 Jungkook estava prestes a se intrometer quando um cara de cabelos rosas e roupa de chef veio correndo na direção do menor com um sorriso extraordinário.

Uau! Ele era lindo.

 Jungkook se mexeu incomodado quando o cara incrivelmente bonito abraçava um Jimin envergonhado pelo escândalo.

- Querido. Como assim você vem no meu restaurante e nem me conta. - Jin riu todo espalhafatoso.

- Foi algo não planejado Jin, desculpa não ter feito uma reserva, nós podemos voltar outro dia, acho que acabei me empolgando para mostrar o lugar.

- Nós?

 Jimin arregalou os olhos, saindo do meio abraço de Jin e olhando para Jungkook. 

- Jin, esse é meu amigo Sr.Jeon.

- Kim Seokjin. - Jin fala se curvando levemente na direção de Jungkook que fez o mesmo.

- Jeon Jungkook.

  Os dois se encararam por alguns segundos antes de Jin voltar a sua atenção para o pequeno ser ao seu lado. 

- Nós realmente estamos lotados hoje, mas estou renovando uma área aberta na sacada, se vocês não se importarem?

 Jimin encarou Jungkook em busca de respostas, o que o agradou muito. 

- Só se não for incomodar. - Foi sua resposta polida.

- Amigos do Taehyung nunca incomodam. - Jin deu uma piscadinha e começou a andar agarrado com o Jimin até uma escada lateral.

 Jungkook teria ficado irritado se aquela bunda enorme e apertada na calça de bailarino do menor não estivesse fazendo milagres no seu humor.

 Eles acabaram numa sacada incrível cheio de flores e mesas branco marfim. Um enorme toldo cobria uma parte do ambiente onde um chafariz de anjos renascentistas pareciam congelados numa brincadeira com a água cristalina. O sol do meio do dia deixava filetes de roxos entre a água e as flores em tons vivos espalhados pelo pequeno espaço.

 Uma pequena construção do que parecia ser um jardim japonês numa das laterais e algumas mesas grudadas no canto do que provavelmente será uma futura área para fumantes eram os únicos indícios de que o lugar ainda não estava completamente funcional.

- Nossa Jin. Aqui é lindo. - Jimin juntou as mãozinhas na boca de um jeito adorável enquanto Jin parecia hipnotizado com a beleza do mais novo.

- Vou para cozinha agora, eu gosto de pensar que ela pode pegar fogo se eu não estiver por perto. Vou mandar alguém atendê-los. Ah! E fala para o Tae Tae que estou com saudades. - Jin fez um biquinho exagerado.

- Jungkook, foi um prazer.

  Jeon concordou com a cabeça, a postura ereta, as mãos no bolso.

 Jimin queria rir da polidez do mais velho, mas não seria educado. 

- Tenho que admitir, você sabe escolher um bom lugar.

 Jimin negou com a cabeça encarando o movimento do centro abaixo deles. 

- Eu fui impulsivo, estava tão empolgado para te mostrar o lugar que esqueci o quão lotado é aqui. Se Jin não tivesse nos achado eu teria feito você passar vergonha.

 Jungkook sorriu, antes de se entreter em escolher o vinho com a sommelier que parecia mais empolgada do que deveria enquanto encarava Jungkook com sua simpatia quase exagerada. Jimin sorriu com a cena dos dois interagindo.

 Ele até podia ser inocente em alguns pontos, mas sabia que era lindo e não era fácil se manter assim. Ele dava duro para ter aquela aparência, então era mais divertido do que intimidante com Jungkook, porque sim, ele chamava atenção e muita e isso parecia querendo ou não um desafio a cada vez que acontecia.

- Jimin?

- Hum?

- Perguntei se você gosta de vinho branco.

- Eu tenho certeza que vou gostar do que escolher pra mim.

  Jungkook parecia ter inflado um balão bem no meio do peito ao ter autoridade sobre as escolhas de Jimin.  

- Já sabe o que vai pedir para comer? Para eu poder combinar sua bebida.

 Jimin sorriu com educação refinada  e compostura excelente,  graças à louca da sua mãe.  

- Você poderia se incomodar com isso também? Me deixaria extremamente satisfeito. - Jimin pediu com educação, apesar de não estar com fome alguma e esse ser o maior fator para aquela atitude, coisa que Jungkook não fazia ideia, mas estava adorando.

 O menor sorriu malicioso ao notar o prazer que Jungkook tinha com o controle. Não só no sexo, mas em tudo.

 O que levantava a questão do porquê o mais velho seria assim, não que era da sua conta.

 Jungkook não tirava os olhos de Jimin, seu sorriso parecia congelado enquanto seu coração acelerava a cada segundo. 

 O moreno tocou na mão livre de Jimin em cima da mesa, sorrindo quando o menor tremeu com aquele simples gesto. 

- Seu corpo responde tão bem ao meu. Nem preciso fazer nada e você fica todo mole e receptivo.

 Jimin gemeu, tossindo meio sem graça ao ver um garçom trazendo seus pratos.

 Jungkook riu ainda mais largo, voltando à sua posição, mas sem tirar os olhos do menor. 

- Eu ia te levar pra conhecer meu escritório hoje, mas depois de te ver tudo em que consigo pensar é você de quatro na minha cama implorando pra ser fodido.

 Jimin sorriu de lado jogando seus cabelos acinzentados pra trás e os alisando com seus dedos cheios de anéis.

- Podemos sair daqui e ir direto pra sua casa por mim.

 Jungkook riu tão largo formando ruguinhas nos cantos dos seus olhos e seus nariz ficou enrugadinho dando um ar infantil para aquele rosto normalmente imponente.

 Seu coração acelerou ainda mais o fazendo quase soluçar com a reação abrupta do próprio corpo, mas ele conseguiu se estabelecer mais rápido do que o normal arrancando um suspiro dos seus pulmões pela aparente displicência do homem irresistível ao seu lado naquela mesa de restaurante. 

- Considere feito. - Jungkook falou com a voz rouca e um olhar feroz e faminto por algo além de toda aquela comida na mesa e então foi a vez de Jimin rir até seus olhos fecharem.

 Jimin estava olhando a porta de um hotel qualquer agora, tentando respirar corretamente apesar do aperto que sentia no peito. Depois do " encontro" com Jungkook no restaurante do Jin, tudo em que ele pensava era naquele homem. Ele comia, dormia e sonhava coisas relacionadas ao Sr. Jeon o tempo inteiro e suas pernas ficavam bambas só de pensar em suas noites juntos naquela cama gigantesca coberta por lençóis de cetim com seu cheiro.

 Agora ele olhava para aquela porta pensando em que diabos tinha se metido, e por que pela primeira vez na vida tinha nojo do que estava prestes a fazer? Esse era o primeiro programa  que ele aceitava sem ser do Sr. Jeon em muito tempo e o cara do outro lado daquela porta era um "hetero" casado que só traía a mulher se fosse com homens de programa, como se de alguma forma isso não fosse traição na sua cabeça. O cara era um total idiota.

 Jimin sorriu forçado e bateu na porta que foi praticamente escancarada no seu primeiro toque.

 Ele entrou e fez a conversa fiada de sempre, sentindo dores no estômago com algum embrulho pior do que o que ele normalmente sentia por causa da falta de alimento, sua pele estava arrepiada e sensível por algum motivo e quando o homem o tocou lhe incomodou como se estivesse com uma espécie de febre de pele. 

- Você está cada vez mais difícil de encontrar Minnie. Não consigo marcar encontro com você há quase um mês, seu cuzinho é feito de ouro ou coisa assim?

 Jimin sorriu sem graça, falando qualquer coisa sem perceber e foi logo tirando a roupa na esperança que aquilo acabasse logo, ele definitivamente não estava no clima.

 O homem à sua frente sorriu e puxou Jimin com força o jogando na cama sem muito cuidado.

 Era bom quando o Sr. Jeon fazia isso, qualquer outra pessoa parecia indelicada fazendo.

 Merda! Que porra ele estava pensando?

 Jimin negou o pedido do homem de fazer sexo sem camisinha e acabou levando um tapa na cara, que seria algo normal pela forma agressiva em que eles normalmente faziam sexo, mas hoje Jimin realmente não estava em condições de levar aquilo na boa. Tinha algo muito errado com ele, tão errado que praticamente se desligou assim que aquele cara nojento e agressivo começou a foder com ele de todas as formas possíveis. Jimin engasgou um choro quando o cara gozou dentro da camisinha e o jogou de lado, fazendo ele quase cair da cama.

 Por algum motivo a risada do idiota pela sua quase queda foi a gota d'água e de alguma forma o homem percebeu isso, pois segurou Jimin antes dele tentar sair às pressas da cama. 

- Eu ainda não acabei com você. Você é uma puta bem cara, tem que valer a pena.

 Jimin retirou seu braço a força do aperto daquele homem e cuspiu alguma resposta curta.

 O cara levantou da cama e pegou Jimin pelos ombros falando coisas grosseiras que não foram devidamente capitadas pelo ouvido de Jimin, até o idiota finalmente se cansar e jogar Jimin na parede lateral o virando de costas e roçando o pau meia bomba na entrada dolorida do menor.

 Jimin sentiu as lágrimas descendo pelos seus olhos, o que levou outra risada do cara que o prensava por trás.

 O  homem parecia realmente se deliciar com o sofrimento de Jimin.

 Ele bateu sua cabeça na parede com um pouco de violência deixando o garoto tonto e sem ar e separou as bandas da sua bunda o fodendo com a mesma agressividade de antes e agora definitivamente sem camisinha.

 Jimin sentiu sua visão ficar escura e sua respiração lenta, sua visão só retornou quando escorregou pela parede e bateu o joelho com violência no chão.

 O homem estava tentando enfiar o seu pau sujo de porra na boca de Jimin que teria vomitado com o cheiro se tivesse realmente comido alguma coisa aquele dia e então ele finalmente se cansou de brincar com o menor, o deixando se arrastar quase sem forças para o banheiro com suas roupas amassadas nas mãos trêmulas.

 Jimin trancou a porta do banheiro, ouvindo uma risada debochada do outro lado, suas mãos tremiam tanto que ele precisou pegar três vezes o celular que teimava em cair no chão.

 Ele não conseguia sair daquele banheiro, merda ele não conseguia nem se vestir. Sua respiração estava entrecortada e suas pernas não tinham forças, não era nenhuma novidade ser tratado feito lixo, mas essa foi a primeira vez que ele se importou.

 Jimin ouvia tantas vezes em casa que ele era um lixo e que deveria se envergonhar de quem era que acabou aceitando aquilo tudo com naturalidade. Por algum motivo aquilo tinha mudado de um tempo pra cá e agora Jimin se sentia estranho, confuso e com tanta dor tanto física quanto emocional.

 Ele deveria ligar para Namjoon quando esse tipo de coisa acontecia, seu cliente passou completamente do limite, mas ele não estava em bons termos com o chefe e honestamente tinha medo do cara, então seus dedos se arrastaram para a única pessoa que confiava no mundo todo principalmente para aquele tipo de situação.

 Taehyung atendeu no primeiro toque extremamente preocupado porque sabia que ele estaria num programa agora e Jimin simplesmente não conseguia falar.

 Ele engasgava e chorava litros enquanto Taehyung tentava acalmá-lo, mesmo que sua voz rouca e grave também parecesse desesperada do outro lado da linha.

 Jimin não sabe quanto tempo ficou nu, caído no chão, com sangue e esperma pelo seu corpo fraco e marcado de vermelho e roxo.

 Ele não lembrava de ter apanhado tanto, mas suas bochechas inchadas e seus lábios cortados lhe diziam que as coisas tinham sido bem piores do que seu cérebro foi capaz de raciocinar.

 O menor ouviu uma gritaria meio abafada do outro lado da porta e o que pareceu ser o barulho de uma arma de choque ser disparada e então sua porta começou fazer um barulho estranho que ele não sabia identificar.

 Jimin sentiu os solavancos nas costas que estavam prensadas na porta do banheiro e finalmente notou a voz rouca e assustada do seu melhor amigo. Ele se arrastou para o lado e destravou a porta com muito esforço de sua parte. A porta foi escancarada e no momento em que Jimin o viu ele começou a chorar copiosamente, como se estivesse finalmente emergindo da bolha estranha em que tinha se metido no momento em que entrou naquele quarto de hotel.

 Jimin puxou o ar com agressividade pra dentro do corpo, engasgando com saliva e sangue, tentando entender o que Taehyung estava dizendo. 

- Respira com calma, isso. É só um ataque de pânico, você vai ficar bem. Vai ficar tudo bem.

 Jimin suspirou aliviado, voltando a chorar em silêncio novamente.

 Taehyung o pegou no colo e o levou até a banheira já cheia de água, ele nem tinha visto quando o maior tinha feito tudo isso, mas agora ao cheiro de shampoo no seu cabelo parecia mais forte que nunca e a dor no seu ânus era extremamente incômoda por causa de todo aquele sabão.

 Tae gritou alguma coisa para o segurança que Namjoon destinava à ele vendo o mesmo sair apressado do quarto e voltar com o que parecia ser suas roupas. 

 Você está sempre preparado pra tudo? Jimin pensou, mas não conseguia dizer nada, mal conseguia pensar.

 Tae tinha uma força impressionante para segurá-lo firme enquanto o vestia rápido e prático. Ele pegou Jimin no colo que adormeceu quase que imediatamente ainda choramingando e fazendo um biquinho perturbado em seus próprios sonhos.

 Finalmente acabou.

 Taehyung suspirou aliviado encarando Félix que parecia sério, profissional e calmo à espera de suas ordens. 

- O idiota tá vivo? - Taehyung olhou para a cama vendo um velho idiota jogado no colchão com os lençóis bagunçados em cima da sua cara desfigurada pela dor.

 Tinha sangue no chão ao lado do banheiro e Tae sabia que era de Jimin, o que fazia sua mente ficar turbulenta num ódio que nunca sentiu antes na vida. 

- Apesar do choque que levou nas bolas, ele vai sobreviver.

 Tae concordou com a cabeça ainda meio perdido em pensamentos. - Você pode pegar as coisas do Jimin no banheiro e avisar a recepção sobre sigilo do que aconteceu aqui hoje?

- A recepção já está ciente e virão acordar o homem amanhã de manhã. Já paguei as horas adicionais pelo quarto.

- Ótimo. - Taehyung rosnou saindo pela porta com um Jimin adormecido nos seus braços.

- Por que ele não chamou o segurança dele? - Félix perguntou confuso no elevador.

 Taehyung negou com a cabeça. 

- Provavelmente porque ele está com medo de chatear Namjoon, desde a última vez que desmaiou durante um programa.

- Não tem como o chefe não descobrir sobre isso.

 Félix olhava com preocupação para Taehyung, com quem dizia " não vamos guardar isso dele, certo?!" só com o olhar. 

- Eu mesmo vou conversar com ele, assim que conseguir falar com Jimin, não se preocupe.

 Félix soltou o ar com tanto alívio que foi quase risível.

 Jimin acordou no quarto de Taehyung. Ele sabia antes mesmo de abrir os olhos porque podia sentir o cheiro do maior impregnado por todo seu corpo, principalmente no travesseiro que apoiava sua cabeça. 

- Tae Tae? - Sua voz saiu tão rouca que ele precisou pigarrear algumas vezes antes de tentar de novo.

 Não que precisasse, pois Taehyung entrou correndo pelo quarto com um copo de água e um sorriso preocupado no rosto. 

- Como se sente? - Tae ajudou o menor a sentar na cama, dando a água na boca ferida do pequeno.

- Estou com dor por todo meu corpo. - ele respondeu honestamente com a voz arranhada e dolorida. 

- Aqui. - Taehyung entregou um analgésico em suas pequenas mãos, o incentivando a tomar o comprimido.

- Jimin, você quer me contar o que aconteceu? Ou pelo menos me diga o que quer que eu faça para ajudar.

 Jimin voltou a chorar sem nenhum pudor agarrando o pescoço do Taehyung como uma criança pedindo colo. 

- Foi culpa minha. Foi tudo culpa minha, eu sou um inútil, com todos aqueles pensamentos exagerados sobre querer algo melhor do que isso, sabe?! Se eu não tivesse desistido tanto de fazer da forma que normalmente faria não teria chegado a esse ponto.

- Jimin você apanhou muito feio, sua cara tá toda inchada e você tem roxo por todo corpo. Aquele verme obviamente chutou sua barriga e suas intimidades. Não tinha como ter lidado com a situação diferente de como você lidou. Você foi tão forte, estou tão orgulhoso de você.

 Jimin arregalou os olhos sem entender onde estava quando tudo isso aconteceu. Ele foi espancado? Como não sentiu? Noite passada pareceu nada mais que um sonho distante em boa parte.

- Só não falo pra gente ir na polícia porque ninguém vai levar a sério um boletim sobre estupro feito por um garoto de programa.

 Jimin tremeu com o nome fazendo Taehyung se mexer desconfortável. 

- Desculpa.

- Você não tem que se desculpar, é o que eu sou.

- Jimin você estava tendo um ataque de pânico quando te encontrei o negócio foi muito sério. Se eu tivesse demorado mais um pouco você teria se afogado com a própria saliva e todo aquele sangue. Você tem noção do quão grave foi? Seu psicológico não está bom, pequeno. Eu sei que você fala que gosta de fazer sexo sem compromisso, mas não sei se é mais o caso.

 Jimin limpou as lágrimas do rosto, finalmente sentindo o quão inchado estava seu rosto, principalmente do lado esquerdo. 

- Eu não tenho outra escolha, simplesmente trancar a faculdade não vai resolver em nada quando tenho o apartamento pra pagar e comida pra comprar e todas as minhas contas. Fora que Namjoon nunca vai me deixar sair assim, simplesmente. Só de pensar em ir pra cama com alguém que eu não conheço...

 Jimin negou com a cabeça agarrando Taehyung ainda mais forte e soluçando de tanto chorar. O que estava acontecendo com ele? De onde tinha vindo todo este medo?

 Ele não sabe quanto tempo ficou ali agarrado ao seu melhor amigo sem saber o que fazer da vida, mas Taehyung esperou até ele finalmente parecer esgotado e até um pouco sonolento pra começar a falar. 

- Vou me encontrar com Namjoon amanhã a noite.

 O corpo de Jimin ficou imediatamente rígido, fazendo Taehyung o apertar em seus braços com ainda mais firmeza. 

- Vou pegar seus clientes por um ano e comprar seu contrato.

 Jimin se afastou com a boca em uma perfeito "O". 

- Tae, não.

- Você já está no terceiro ano, pode conseguir um estágio ou arranjar algum outro emprego, talvez voltar a dar aulas de ballet para crianças na sua antiga escola. Nesse meio tempo eu vou cobrir as contas e pagar suas mensalidades.

- Que? Não Tae, isso não…

- Você me ajudou quando precisei, minha avó quase não me dá mais gastos depois que meu Pai começou a ganhar melhor no restaurante do Jin, não tenho muitas contas e não tenho mais o contrato com Hoseok e Yoongi. Nada me impede de trabalhar um pouco mais.

 Taehyung saiu do contrato com o casal famoso? Quando?

 Jimin se arrepiou com a ideia de dobrar seus programas para ajudar Taehyung se a situação fosse invertida e não conseguiu se livrar da agonia que percorreu por toda sua espinha vertebral. 

 Que porra estava acontecendo com ele?! De onde veio esse nojo e desespero repentino? Não tinha nenhuma semana que ele transou com o Sr. Jeon e adorou cada segundo.

 Não era uma situação diferente da noite passada. Era? 

- Tae, eu não vou deixar você fazer isso. Não posso. - ele sussurrou a última parte.

- Relaxa. Só falta mais um ano para você se formar e então vai arranjar um emprego bacana e vai me sustentar se eu precisar. Fomos unidos pelo acaso, mas estaremos ligados para sempre. Nada me impede de precisar de você um dia e sei que você fará o mesmo por mim, não faltarão oportunidades pra me devolver o favor.

 Jimin não tinha certeza disso. Ele faria quase qualquer coisa pelo Taehyung, mas aquela vida em dobro iria destruir seu amigo, assim como lhe destruiu. Ele estava há mais tempo nisso que Taehyung e nada o impedia de pensar que logo logo, Tae iria descobrir exatamente o porquê dos seus receios quanto a sua proposta. 

- De qualquer forma, que outra opção você tem? Você é quem dá mais dinheiro para o Namjoon, não consigo imaginar outra saída que não seja a que eu te dei. Ele não vai querer perder dinheiro e eu posso fazer isso ser possível com a minha proposta.

- Você fala como se fosse simples. Namjoon não escuta ninguém.

 Taehyung concordou distraído, mas pareceu pensar em algo antes de voltar a negar com a cabeça.

 Ele parecia seriamente em conflito com seus pensamentos. 

- Eu sei fazer ele escutar. Eu posso fazer isso dar certo. Por você, por nós.

 Jimin mordeu os lábios doloridos, fungando suas lágrimas restantes e encarando Taehyung de um jeito que nunca tinha feito antes. 

- Você faria isso por mim?

 Taehyung sorriu largo e inocente, acariciando os cabelos bagunçados do menor. 

- Não há nada no mundo que eu não faria por você Chim Chim.

 Jimin voltou a chorar sem controle mais uma vez e suspirou aliviado por ter alguém como Taehyung ao seu lado. 

- Eu não posso pedir isso pra você. Ė muito.

 Tae deu de ombros. 

- Você está com trauma de programas e eu posso entender, mas eu estou bem, não ligo de continuar com essa merda. Pensa que pra mim não vai ser nada demais. - Tae mentiu, sabendo que seria afetado por aquela vida cedo ou tarde, mas se negando a admitir.

- Tae eu…

- Eu entrei nessa vida para ajudar as pessoas que eu amo e ter uma vida confortável. Eu te amo, faz sentido eu te ajudar também. É simples assim. - Tae disse o interrompendo para garantir que não falariam mais sobre o assunto.

- Seu aplicativo de rastreio estava desativado, tive que ligar para o seu segurança para saber onde estava. Nunca mais esqueça de ligá-lo tá bom?

 Jimin concordou feito uma criancinha obediente e suspirou aliviado quando Taehyung o deitou de volta na cama o fazendo dormir em apenas alguns minutos de cafuné nos seus cabelos sensíveis.

 Namjoon se levantou e foi até a porta do  elevador na sua cobertura assim que Taehyung avisou na portaria que estava subindo. 

 Ele ficou lá vendo os números do elevador aumentarem à medida que ele se aproximava e quase faltou o ar dos seus pulmões quando ele avistou Taehyung parecendo sereno e perfeitamente lindo como sempre. 

- Você está bem? Félix me avisou sobre um incidente no Plaza Hotel ontem  à noite.

 Taehyung sorriu de canto, dando um selinho no mais velho. 

- Temos muito o que conversar.

 Namjoon concordou com a cabeça indicando o sofá.

 Taehyung esperou Nam se sentar e sentou ao seu lado suspirando algumas vezes antes de encarar o homem que lhe dava mais medo do que tudo que já enfrentou neste mundo. 

- Jimin foi violentado e teve um ataque de pânico. Ele me ligou e eu resolvi o problema do jeito que você faria, acho.

- Eu sei de partes do que aconteceu e tudo que posso fazer é pagar pelos danos ao Park, o cliente dele é delegado do 13° distrito e vive livrando a cara dos meus funcionários quando eu preciso. Não posso tocar nele.

 Taehyung riu de um jeito tão sarcástico que até Namjoon levantou uma sobrancelha surpreso. 

- Não somos mais importantes que seus contatos, certo?!

- Não foi o que eu disse.

 Taehyung balançou com a mão no ar, como se dispensasse suas desculpas e puxou o ar tentando criar coragem. 

- Enfim, Jimin não tem mais estômago pra essa vida, ele só vai dar mais trabalho pra você se continuar trabalhando.

 Foi a vez de Namjoon rir, causando arrepios por todo o corpo do mais novo.

 Merda! Aquele cara lhe dava um medo do caralho. 

- Espero que você não tenha vindo até aqui só pra me dizer uma merda dessas.

- Eu quero pegar os clientes do Jimin por um ano e comprar seu contrato.

 Namjoon passou as mãos nos cabelos, levantando para servir um copo de Whisky em um copo de cristal, antes de voltar a sentar ao seu lado. 

- Você mal saiu de um contrato interrompido e já está me propondo outro.

- Eu sou muito bom nesse trabalho, você sabe que não vai perder dinheiro se me deixar assumir os clientes de Jimin. E meu contrato com aquele casal já acabou de qualquer forma, nada te impede de aceitar esse.

- Taehyung você está abusando da sua sorte.

- Monnie, Jimin não tem mais estômago pra essas merdas. Qual a vantagem de segurá-lo até ele cair morto em algum canto?

 Namjoon engoliu o líquido âmbar de uma única vez, estalando a língua no céu da sua boca com agressividade. 

- E você tem? Estômago pra isso quero dizer.

- Só tem um jeito de descobrir.

 Namjoon encarou o mais novo sem nem piscar, pensando com sangue frio nos prós e contras daquela proposta. Pelo que Félix relatou do ocorrido com Park, o garoto provavelmente só lhe daria mais trabalho daqui pra frente. Ele conhecia os sintomas, Jimin não era o primeiro que surtava durante um programa e nem seria o último. Era uma vida de merda, todo mundo cedia no final e virava dispensável.

 Por alguns segundos, alguma parte de sua mente se preocupou com o bem estar de Taehyung, mas passou tão rápido quanto veio e ele sorriu de um jeito cínico que sempre assustava Taehyung.

 Seu sorriso alargou ainda mais ao ver medo nos reflexos daqueles olhos acinzentados e então suspirou como se tivesse fazendo o maior sacrifício de sua vida. 

- Você tem noção de que se eu aceitar suas condições eu estarei lhe fazendo um favor, certo?

 Taehyung concordou um pouco inseguro, perdendo metade da coragem com a qual entrou, o que arrancou um sorriso ainda maior do Kim. 

- Você entende que me deve?

- Então você aceita? - Taehyung perguntou empolgado subindo com tudo no colo do mais velho, que apertou sua bunda com a mão livre e sorriu maliciosamente.

- Aceito se você prometer que não vai negar a próxima coisa que irei te pedir. Não importa o que seja.

 Taehyung encarou um tempo Namjoon, se perguntando se essa sensação de fazer um " pacto com demônio" sempre estivera ali e só agora ele percebeu ou se era algo novo. 

- Feito. - Ele concordou meio incerto.

- Bom garoto. Agora levanta e tira a porra da roupa.

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