Soulmates
Taehyung acordou com o barulho da água do chuveiro na suite do quarto, aproveitando para olhar o celular em busca de horas. No entanto, acabou encontrando várias chamadas perdidas, algumas do Jimin, muitas do Hoseok e umas de um telefone que quase nunca ligava para ele, muito menos há essa hora.
- Appa? - Taehyung abriu a porta da sacada com cuidado, encarando Yoongi que dormia feito um bebê inocente, duas coisas que ele realmente não era.
" Taehyung? Desculpa te atrapalhar, sei que deve estar ocupado…"
- Aconteceu algo com a vovó?
" Não, ela está bem…"
Taehyung juntou as sobrancelhas confuso. Seu pai nunca ligava, a não ser que o assunto fosse a saúde da vovó.
- Appa. O que houve?
Seu pai tossiu um pouco sem graça, pausando um tempo excessivo durante a ligação, mas Taehyung não queria pressioná-lo, o velho já parecia nervoso o suficiente.
"Eu não sei bem o que aconteceu exatamente. Estava saindo do serviço essa manhã pelos fundos do restaurante, uma pessoa me parou e"…
- O senhor está bem? Alguém te machucou?
Taehyung saiu da varanda, juntando às pressas as roupas jogadas pelo caminho para se vestir, já que só estava com uma boxer preta.
" Filho, você sabe que pode sempre contar comigo pra tudo, certo?!"
Taehyung não respondeu, saindo do quarto com os sapatos pendurados na mão livre.
- Me fala onde o senhor está.
" Eu não quero atrap…"
- Appa. O endereço.
" Ainda estou nos fundos do restaurante, não tô muito bem pra andar até em casa e todos do restaurante já foram embora…Eu sinto muito, não queria te incomodar com isso".
- Já tô indo.
- Tae? - Hoseok deixou a toalha que secava os cabelos no ombro, encarando Taehyung com curiosidade, o que acabou se tornando preocupação assim que ele encarou os olhos aflitos do mais novo.
- O que aconteceu?
- Meu pai está com problemas, acho que a culpa é minha. - Taehyung falou com as mãos trêmulas enquanto tentava pegar a carteira na mesa lateral da sala.
- Vou colocar uma roupa e te levo.
- Não, eu vou sozinho.
- Você não tem condições de sair sozinho, está nervoso demais. Senta, eu já volto.
Taehyung passou as mãos nos cabelos, encarando o corredor vazio já que Hoseok não esperou ele responder entrando no quarto para se trocar.
A viagem até o bairro nada amigável onde Taehyung morava foi tão silenciosa e tensa que até as batucadas de Hoseok no volante já não estressavam mais. Tudo o que ele queria era chegar até o maldito restaurante, que agora parecia longe pra inferno.
O sol estava nascendo quando eles chegaram ao beco do restaurante onde o pai do Tae trabalhava. Ele nem deixou Hoseok parar o carro para sair correndo pela rua quase abandonada do centro comercial do bairro .
Seu corpo girava no que parecia ser uma espécie de câmera lenta para o seu cérebro completamente agitado. Todos os seus pesadelos vieram à tona e ele não conseguia pensar direito, o que era irônico, já que sua mente não parava de trabalhar. Ele sofreu alguns tropeços na rua desnivelada e precisou pigarrear algumas vezes antes de algum som sair por sua garganta. Parecia desespero desnecessário, mas seus instintos diziam que algo estava muito, muito errado e seus instintos normalmente estavam certos.
- Appa? - Taehyung correu até as caçambas de lixo, achando seu pai sentado em uma das escadas laterais com a mão no estômago e o rosto todo machucado.
- Meu Deus. O que aconteceu?
Taehyung encostou as mãos no rosto do seu pai, mas ele estava desacordado e respirava com dificuldade.
Merda.
Hoseok falava baixo ao seu lado, mas era difícil prestar atenção por causa do pavor que sentia com aquela cena, então ele só seguiu o mais velho quando Hoseok apoiou seu pai nos ombros. Os dois foram segurando o Sr.Kim até o carro estacionado de qualquer jeito na calçada e isso foi tudo que a mente de Taehyung pôde realmente compreender.
Ele estava sentado agora, ele reconhecia aquele lugar, era o hospital em que sua avó fazia seus tratamentos. Taehyung queria entender o que o médico na sua frente dizia, mas ele conversava com Hoseok ao seu lado, então não importava muito de qualquer forma.
Sua vida estava tão confusa e ele conseguiu envolver um cliente em toda sua bagunça. Se Namjoon visse isso, ia dar muita merda.
Como se os pensamentos de Taehyung pudessem projetar fisicamente, Namjoon virou o corretor e começou a caminhar na direção deles.
Seus cabelos estavam diferentes, meio arroxeados e úmidos nas pontas, provavelmente do banho recente. Era estranho como Taehyung conseguia reparar em tantos detalhes no maior, mas não conseguia decifrar em nada sua expressão neutra.
- O que aconteceu?
- O pai do…
Namjoon fez um movimento com as mãos impedindo Hoseok de continuar falando, mas seus olhos não saíram do mais novo. - Taehyung. O que aconteceu?
Tae levantou os olhos para Namjoon, já que os tinha abaixado quando ele se aproximou e então começou a gaguejar sons confusos.
- Meu pai me ligou de madrugada, disse que alguém se aproximou dele nos fundos do restaurante falando algo sobre mim. Ele não foi muito claro e eu… eu corri até lá, e…
Namjoon encarou Hoseok, mas não disse nada.
- Ele estava no apartamento com Yoongi, eu o vi todo nervoso, então achei melhor dar uma carona. Taehyung estava sem condições de dirigir.
Namjoon concordou com a cabeça, os lábios pressionados em uma linha fina com sua expressão pensativa impressa entre as linhas da testa.
- Obrigado por isso. Vou ver o que está acontecendo lá dentro.
- Eu fico com ele. - Hoseok disse com um pouco mais de firmeza, deixando claro que aquilo não era uma sugestão.
- Obrigado. - Taehyung sussurrou para o mais velho.
Ele não fazia ideia do que realmente agradecia, mas sabia que precisava dizer algo. Seria provavelmente impossível passar por isso sozinho, querendo ou não Hoseok estava sendo essencial para mantê-lo vagamente ativo em tudo aquilo.
- Só, obrigado. - ele repetiu meio aéreo.
- Não fiz nada demais, não vou sair do seu lado até me pedir pra sair. - Hoseok achou melhor deixar claro, antes que Taehyung começasse a falar algo assim.
E foi exatamente isso que aconteceu. Em algum momento Taehyung caiu no sono e quando acordou com dores no corpo e de cabeça, Hoseok estava exatamente do mesmo jeito que ele o viu pela última vez.
Com uma ligeira diferença.
Hoseok entregou um copo gelado nas mãos do mais novo e sorriu pequeno.
- Você não é tão ruim quanto eu pensava. - O mais novo sussurrou um pouco sonolento enquanto tomava o chá com mais vontade do que imaginava possível sentir no momento.
- Achei que tinha dito que eu sou a pior pessoa que você já conheceu. - Hoseok argumentou, levantando uma sobrancelha de um jeito divertido.
Taehyung bufou, mas também acabou rindo.
A tensão voltou como se nunca tivesse partido assim que Namjoon se aproximou, com ar autoritário e o semblante levemente distorcido.
- Quer ver seu pai?
Taehyung sorriu forçado e se levantou, andando pelo corredor de onde Namjoon tinha vindo, até ser alcançado pelo mais velho.
Ele entrou no quarto quase que forçadamente, já que era difícil encarar aquela situação sem sentir culpa por tudo aquilo.
Seus dedos acariciavam de leve a mão do seu pai assim que foi possível se aproximar do leito dele. O velho parecia dormir, um sono tranquilo, livre do peso da realidade.
- Quem fez isso? - Tae perguntou calmo para Namjoon que sentava confortavelmente na poltrona do outro lado da sala.
Namjoon se ajeitou na poltrona, demorando alguns segundos para perceber que Taehyung o havia notado, já que o garoto parecia consideravelmente fora do ar nas últimas horas.
- Byun.
- Dr. Byun? - Taehyung franziu a testa com o nome, encarando seu chefe com preocupação justificada.
Namjoon concordou com a cabeça.
- Mas...como?
- Ele pegou os dados da ficha de documentação da sua avó e viu o endereço de trabalho do seu pai.
Taehyung se emperdigou quase que de imediato, encarando Namjoon demoradamente.
- Minha avó.
- Coloquei alguém para vigiar a casa até encontrarmos ele. Não se preocupe.
Taehyung balançou a cabeça negativamente.
- De certa forma eu sempre soube que essa vida iria acabar encontrando aqueles que eu amo, só nunca pensei que seria algo tão brutal.
Namjoon negou com a cabeça.
- Tae, Byun não era um dos seus clientes. Ele agiu justamente por querer algo que não podia ter, te prometo que ninguém irá machucar sua família de novo, eu…
- Você não pode prometer algo assim, Namjoon.
O mais velho levantou uma das sobrancelhas em desafio, afinal ninguém falava com ele naquele tom, mas Taehyung nem olhou na sua direção, mostrando o quanto o garoto estava abalado. O suficiente para não medir suas palavras pelo visto.
- Pensei que eu fosse a pessoa para quem você liga quando precisa de ajuda. - Namjoon resolveu finalmente dizer o que o havia incomodado desde que descobriu que o pai de um dos seus protegidos foi admitido no seu hospital e ele só descobriu porque tinha uma alerta para esse tipo de coisa.
- Eu não chamei ninguém, nem sei onde está meu celular pra falar a verdade. - Tae resmungou se afastando do pai adormecido para ir até uma das janelas panorâmicas do quarto de hospital mais caro de Seul.
Pagar aquilo seria seu mais novo desafio.
- Desculpa, estou sendo egoísta, como sempre.
- Está sendo ciumento. - Taehyung disse calmo, como se aquilo não o incomodasse nem um pouco e talvez não incomodasse.
Namjoon não tinha resposta para aquilo.
- Eu sinto muito - ele disse depois de um tempo.
- Eu também - Taehyung resmungou pensativo.
…
Taehyung sentia sua mente rodando e suas pernas bambas, eram tantos problemas na sua vida atual que estava difícil equilibrar seus pensamentos.
Ele deu alguns passos preguiçosos na direção do elevador do seu apartamento e mal teve forças para destrancar a porta, sua mente gritava a necessidade de um banho e cama, pelo menos até voltar para o hospital e encarar mais um pouco dos seus maiores medos.
Seus olhos arregalaram quando precisou de certa força para empurrar com a porta algumas caixas empilhadas por todo o quarto.
- Minnie. Você sabe o que é tudo isso?
Jimin veio todo animado da cozinha, encarando sorridente para o número de caixas no pequeno quarto.
- São as roupas da Gucci que seu boy ricaço mandou.
- Roupas?
- Sim. Toda a coleção e eu com certeza vou querer algumas jaquetas emprestadas.
Taehyung passou as mãos no cabelo, suspirando tão alto que até sua visão embaçou um pouco.
- O que foi Tae Tae? - Jimin apertou o ombro do maior, o encarando com preocupação.
Hoseok definitivamente não sabia daquilo. De alguma forma ele tinha certeza disso.
Taehyung empurrou algumas caixas de lado, sentando no pouco espaço que tinha na beirada da cama.
- Tem algo de errado com o Yoongi. Isso não tá certo. Não vou aceitar uma coleção inteira da Gucci assim sem mais nem menos. Eu sinto como se a situação estivesse fora de controle, era tudo tão cheio de regras antes, que me deixava confortável, apesar de não gostar muito do que eu faço pra viver, pelo menos antes eu podia controlar o quanto isso afetava minha vida. Agora, eu só… - Ele suspirou pesado mais uma vez, passando a mão no rosto em completo desespero mal disfarçado.
Jimin se aproximou de Taehyung com um pouco de dificuldade de locomoção e sentou ao seu lado em silêncio.
- O que você vai fazer? - Jimin perguntou depois de um bom tempo em silêncio.
- Vou devolver isso tudo e tentar ganhar um pouco de controle.
Jimin fez um biquinho triste, mas abraçou o maior de lado, deitando sua cabeça no ombro rígido do Tae como uma forma de consolá-lo, mesmo sem entender muito sua reação com o presente.
A ligação foi curta, mas à tarde a transportadora já tinha ido retirar a encomenda exagerada que foi enviada a Taehyung e tudo que ele precisou foi assinar a devolução que o dinheiro seria devolvido ao consumidor, ou seja Yoongi.
Ele não queria muito estar perto pra ver a reação de Yoongi sobre o assunto, mas também não tinha muito tempo pra pensar nisso. Seu pai era sua maior preocupação no momento.
Taehyung tirou o dia para cuidar da avó, comprando algumas coisas que faltavam na casa e indo direto para o hospital para ver seu pai.
Seus pés mal tocaram o piso de dentro do Hospital e ele já deu de cara com Namjoon que parecia plantado ali esperando por ele.
- Meu Appa tá bem? - Taehyung perguntou com a voz rouca e um desespero característico na voz.
- Ele tá bem e eu descobri mais sobre as pessoas que o atacaram.
Taehyung arregalou os olhos em choque enquanto Namjoon o levava na direção de uma cafeteria no térreo do prédio.
Pessoas ?
Ele sabia que Namjoon tinha contatos, mas ainda assim ele não imaginava que as respostas viriam tão rápido.
- Foi mesmo o Byun? Você sabe onde ele está e o que ele quer? - Taehyung perguntou já com a certeza que a resposta seria sim para todas suas perguntas.
- Sim e não.
- Que?
- Quando eu descobri que Byun te chantageou para colocar sua avó na lista de testes para o exame experimental, eu fui pesquisar se você era o único ou se ele estava manipulando os testes e acabei descobrindo que sim, haviam mais outras seis pessoas que ele estava extorquindo com a garantia de colocá-los na parte sem placebo durante a pesquisa, então eu o demiti.
Taehyung enrugou a testa confuso.
- Mas eu o paguei pra entrar na lista, você me deu parte do dinheiro. Por que não fez isso antes então?
- Era a prova que eu precisava para demiti-lo. O pai dele faz parte dos acionistas, não podia fazer isso sem prova.
- Em outras palavras, você me usou.
Namjoon encarou Taehyung por um tempo, nenhum dos dois queriam desviar o olhar um do outro.
Namjoon parecia querer dizer algo, mas toda vez que ele abria a boca não saía nada.
- Sim. Eu usei você como vantagem. - Ele finalmente falou sem parecer nenhum pouco envergado.
Taehyung só queria que Namjoon tivesse mentido pelo menos um pouco dessa vez. Ele se apoiava tanto naquele cara, mas não podia deixar de se sentir um trouxa fazendo isso.
- Ele vai ficar bem. - Namjoon completou, já que Taehyung não diria nada nem se soubesse o que dizer naquele momento. - E não precisa se preocupar com os custos. Já tá tudo pago, já que eu sou parte não intencional do que aconteceu ao seu pai.
Taehyung concordou com a cabeça.
- Eu te devo por algo? - Ele já não sabia mais se era o caso ou não.
- Não, estamos na mesma página aqui.
- Ótimo. - Taehyung resmungou saindo dali o mais rápido possível.
Seus passos não foram mais tão lentos ao ir até o quarto onde seu pai descansava.
O velho realmente parecia melhor, mas ainda assim doía em seu peito saber que ele foi a causa que levou seu pai a chegar naquele estado.
Seu rosto estava inchado, a boca partida num corte assustador e o olho roxo.
Tae engoliu o choro, pensando se não deveria avisar Jimin sobre aquilo, mas era difícil até de pensar quanto mais em falar sobre.
Taehyung esticou a mão para alisar os cabelos úmidos de suor do seu pai, mas se impediu a tempo, guardando ambas as mãos nos bolsos da calça e saindo dali tão rápido quanto entrou.
Seus pés voltaram a caminhar incertos pelas ruas. Seu celular tocava há um tempo, ele mal se lembrava como recuperou o celular perdido e só quando estava perto de casa foi que finalmente atendeu a ligação.
" Onde você tá?" - Yoongi perguntou parecendo descontraído e completamente alienado aos sentimentos do mais novo.
- Chegando em casa. - Taehyung resmungou tentando evitar suspiros entre as frases.
" Ótimo, preciso de você. Vou te mandar o endereço".
Taehyung encarou o celular por um tempo sem saber muito bem o que tinha acabado de acontecer.
O endereço era completamente aleatório e Taehyung não tinha muito tempo para se arrumar se fosse seguir o horário que Yoongi mandou ele estar lá.
Ele tomou banho e se arrumou numa lerdeza impressionante, ainda assim chegou de táxi no endereço quase que em tempo recorde.
Taehyung queria muito dizer não para Yoongi e só descansar um pouco, mas não era o que estava no seu maldito contrato e ele precisava obedecer as regras enquanto quisesse continuar recebendo seu dinheiro todo mês.
O endereço era de uma casa, pra ser mais exato uma mansão e o lugar estava abarrotado de pessoas.
Ele rodou algum tempo pelo lugar até finalmente achar Yoongi no meio de uma multidão bebendo e gritando coisas impossíveis de serem ouvidas.
Tinha um cara em cima de uma mesa de sinuca fazendo striptease e Yoongi jogava dinheiro no cara que parecia muito feliz em agradar o baixinho.
Taehyung levantou uma sobrancelha, se aproximando a contragosto da roda.
Todos pareciam muito bêbados e drogados.
- Suga. - Taehyung sorriu forçado ao se aproximar, ganhando um abraço inesperado do mais novo.
- Você veio. Achei que ia desaparecer de novo, como fez essa manhã.
Taehyung sorriu mais um pouco. Ele estava realmente bom em fingir ultimamente.
- Desculpa ter saído daquela forma, surgiu um imprevisto.
- Hoseok me falou que te deixou no seu pai.
- Algo assim. - Taehyung respondeu.
- Venha. Você precisa de bebida.
Taehyung estava prestes a lembrá-lo de que não bebia, mas foi arrastado muito antes de sequer conseguir abrir a boca.
Ele queria reclamar sobre o aperto no seu punho, mas logo sua atenção virou realmente pra festa, o fazendo perceber que alguns rostos ali eram conhecidos.
Muitas daquelas pessoas estavam na festa da mansão, quando o idiota do amante do Hoseok veio falar merda para o Yoongi e acabou levanto um soco dele.
- Yoongi. - Taehyung enrugou a testa, encarando o menor que pegava bebidas no balcão da cozinha. - O que estamos fazendo aqui?
Yoongi virou um pouco confuso com a pergunta, parecendo bem foda-se pra tudo que ele tinha a dizer, mesmo antes de ser dito.
- Nos divertindo, por que a pergunta?
- Você está se divertindo com essas pessoas?
- O que é que tem elas?
- São as mesmas pessoas da sua festa.
- E?
- Eles te odeiam, por que você tá aqui? - No começo Taehyung pensou que Yoongi estava aturando aquelas pessoas no dia da sua festa por causa de Hoseok, mas agora ele estava completamente confuso.
- Todo mundo se odeia aqui V. Bem vindo a alta sociedade, a falsidade é o que nos mantém vivos.
Taehyung soltou da mão de Yoongi ainda confuso com tudo aquilo.
- Isso é sério? Eles te trataram feito lixo e você vem aqui festejar com eles como se nada tivesse acontecido?
Yoongi pareceu finalmente irritado, bebendo o primeiro copo que apareceu na sua frente enquanto encarava Taehyung com olhos nada amigáveis.
Era a primeira vez que Tae via Yoongi daquele jeito, era como conhecer uma outra pessoa completamente diferente do da noite anterior. Não havia nada além de desgosto naquele rosto delicado e encantador.
- Não quero mais falar disso e você não vai conseguir ir pra casa só porque me chateou. Eu quero você aqui comigo. - Sua voz saiu baixa, porém audível apesar da música alta. E seu olhar era quase acusador.
Taehyung queria muito responder atravessado, mas ele tinha passado dos limites com seu cliente, apesar de ter dificuldades de enxergar Suga daquela forma.
- Eu sou pago pra te agradar, então me fala o que eu tenho que fazer - Taehyung sorriu de um jeito quase ameaçador e sua feição era claramente debochada, mas Yoongi não pareceu perceber isso.
- Ótimo, quero que dance comigo ou melhor deixa eu te apresentar para alguns amigos.
…
Jimin ajeitou o terno nos ombros e jogou os cabelos para trás, encarando a limusine virar a esquina.
Ele respirou fundo sem muita expectativa. Era difícil prever as coisas com o Sr. Jeon.
- Você ainda não disse onde estamos indo. - Jimin argumentou sentado ao lado de Jungkook, que parecia mais interessado no movimento da rua do que nele.
Jungkook estava estranho desde a última vez que se encontraram. É óbvio que ele estava curioso, mas não significava que era da conta dele. Ele era pago para transar afinal.
Jimin repetiu mais algumas vezes a mesma frase em sua mente teimosa.
- Já disse. Vamos a uma festa beneficente.
Jimin deu de ombros. Ele estava sendo incrivelmente bem pago por aquilo, então achou melhor parar com suas reclamações mentais.
Ele gostava de dizer que amava transar por dinheiro e em parte não era mentira, mas Jimin ainda precisava do dinheiro gostando ou não e o Sr. Jeon tem se mostrado uma fonte ótima de recursos. Isso não significava que o cara ainda não lhe provocava arrepios e insegurança por algum motivo, duas coisas nada características dele.
Jimin se distraiu por um segundo, mal notando quando realmente chegaram na festa.
- Você está lindo por sinal. - Jimin encarou Jungkook um pouco desnorteado, depois voltou o olhar para a mansão à sua frente como se não pudesse acreditar no que via.
Seus pés pareciam chumbos fixos no chão e suor começou a descer por suas costas arrepiada.
- Que porra você ta fazendo?
- Eu fui convidado e precisava de um acompanhante.
- Você me contratou para vir na minha própria casa? - Jimin olhou aturdido para a casa onde passou sua infância inteira.
Não! Qualquer lugar menos aqui.
Sua mãe havia lhe falado daquela festa quando se encontraram não muito tempo atrás, mas Jimin não estava realmente prestando atenção, afinal ele nunca imaginaria que entraria por aqueles portões praticamente de livre e espontânea vontade.
- Algum problema? - Jungkook colocou uma mão de leve em suas costas, tentando lhe transmitir confiabilidade, mas Jimin não sentiu nenhum pouco melhor.
Seu estômago estava embrulhado, o lembrando da decepção que ele era para sua família inteira e também que ele não tinha comido o dia todo e seu estômago estava embrulhado e queimando.
Merda.
- Sr. Jeon …
- Antes que você diga alguma coisa, é só uma festa e você é um amigo que está me acompanhando. Não precisa ser complicado se você não quiser que seja.
- Eu ia dizer que não tenho permissão para entrar na casa da família Park. Temo que não vou poder acompanhá-lo.
Jungkook passou a língua na parte interna da bochecha enquanto encarava os portões de cobre fundido, aberto na frente dos dois.
- Ninguém teria coragem de te tratar mal na minha frente. Eu salvei as finanças das empresas Park no ano passado. O Sr. Park não teria essa mansão ainda se não fosse por mim. Acredite, ninguém vai te expulsar da sua própria casa enquanto eu estiver do seu lado.
Jimin ficou olhando Jungkook sem saber o que pensar sobre aquilo.
Seria ridículo pôr em palavras, mas seu coração pareceu levemente aquecido enquanto batia muito mais que o necessário por causa daquilo que ele ainda nem sabia o que era.
Jungkook fazia tudo parecer tão simples, ele teria rido se não estivesse tão tenso.
- Você não sabe do que minha família é capaz - Jimin disse por fim, entrando de vez na mansão antes que se arrependesse.
O lugar estava incrível, isso ele não podia negar. Aquela casa nunca foi seu lar, sempre foi a mansão em que ele morava.
Jimin sempre se viu deslocado ali. Não era quente nem acolhedor. Era só um lugar onde ele dormia, se alimentava e era xingado pela sua família constantemente.
Muito afeminado para ser homem.
Muito baixo para impor respeito.
Muito gordo para vestir as roupas certas.
Sensível o suficiente para ser uma vergonha aos Park.
Jimin bufou irritado enquanto agarrava uma taça de champanhe ao entrarem no salão principal.
- Sr. Jeon, não sabia que viria acompanhado.
A Sra. Park travou num sorriso misturado com desgosto enquanto encarava o próprio filho de cima a baixo.
- O que faz aqui? - A Sra. Park torceu os lábios numa carranca incômoda, na qual ela raramente mostrava em público .
- Oi pra você também, mãe.
A mulher se recuperou rapidamente de seu breve ataque, mas não rápido o suficiente pra fazer as sobrancelhas de Jungkook se juntarem.
- O Sr. Park aceitou gentilmente ser minha companhia esta noite. Confesso que insisti mais que o necessário, espero não ter feito algo errado. - Jungkook tinha uma voz polida e educada, era difícil não sentir poder vindo de cada intenção por trás de toda aquela educação forçada.
- Problema algum. Eu mesmo convidei meu filho a esta festa, visto que sua noiva que ajudou a organizar.
Jungkook levantou uma sobrancelha em questionamento na direção do Park.
Jimin tomou o restante do seu champanhe num único gole e suspirou desanimado.
- Com licença. - Sra. Park saiu de perto deles com um sorriso nada disfarçado no rosto.
- Noiva? - Jungkook repetiu seus pensamentos em voz alta, finalmente pegando a atenção do menor.
- Ex. Casamento arranjado. Não que seja da sua conta.
Jungkook estava prestes a corrigir o atrevimento do pequeno, quando um dos seus associados se aproximou com sua esposa para cumprimenta-los.
Jimin finalmente conseguiu escapar da educação forçada que um evento como aquele exigia, se trancando no banheiro enquanto suspirava audivelmente.
Ele deixou a água correr por suas mãos por um tempo, como se de alguma forma ela pudesse lavar toda sua tensão, então resolveu passar a mão molhada na nuca.
Ele simplesmente odiava toda aquela gente, aquele lugar, aqueles sorrisos.
Seu corpo tremeu de susto com uma batida nada gentil na porta.
- Só um minuto. - Jimin gritou irritado.
- Abre a porta Park. - A voz do Sr. Jeon saiu abafada, mas ainda era reconhecível.
Jimin sentiu novas ondas de arrepio, abrindo a porta quase de imediato.
O lavabo do térreo era pequeno e simples, porém o do andar de cima era um banheiro completo e era onde Jimin estava agora. Ele escolheu subir até ali justamente para não ser encontrado.
- Como…
- Acabei de conhecer sua ex noiva. - Jungkook entrou no banheiro e trancou a porta atrás dele. - Ela parecia bem mais interessada em falar sobre mim do que sobre você. - Jungkook riu de um jeito fofo enrugando o nariz, formando também ruguinhas nos cantos dos olhos.
Jimin simplesmente perdeu a fala. Ele nunca viu o Sr. Jeon rindo, pelo menos não daquela forma. O cara parecia outra pessoa.
Jungkook trocou de peso sobre os pés, enfiando a mão no bolso e tossindo sem graça, até Jimin finalmente perceber que tinha o encarado por tempo demais.
- Por que está trancado aqui em cima?
Jimin negou com a cabeça, tentando livrar sua mente de seus pensamentos confusos.
- Eu…
- Por que você se prostitui exatamente? Você é quase tão rico quanto eu.
- Que?
- E por que não apareceu nada sobre a Srta. Júlia quando pesquisei sobre sua vida? Por que um casamento arranjado seria tão escondido assim pelos Park.
Jimin encarou Jungkook, que a esse ponto estava praticamente conversando sozinho.
- Meu pai me tirou do testamento quando eu me assumi gay e fui expulso de casa. - Jimin disse pela primeira vez aquilo tudo com uma calma surreal. - E meu casamento foi arranjado por causa de uma possível fusão com a empresa do pai da Júlia, mas eu ferrei com tudo e por isso minha família quase faliu.
- Oh. - Jungkook encarou Jimin com um olhar diferente e avaliativo.
- Você tinha 18 quando se assumiu, certo?! O que significa que seu pai já tinha sido diagnosticado quando mudou o testamento. O tornando inválido.
Jimin suspirou desanimado. Ele já tinha pensado sobre aquilo antes.
- Válido ou não. Eu não quero nada dessa família.
- Se você entrar com o pedido de anulação do segundo testamento não vai mais precisar vender o corpo pra viver.
Jimin riu debochado.
- Ninguém te perguntou nada. Então não se mete.
Jungkook olhou irritado e se aproximou do menor, o aprisionado entre seus braços e o balcão da pia.
- Ninguém fala comigo assim, então cuidado com seu tom.
Jimin sentiu os lábios da sua boca formigarem, enquanto seu peito tremia com as batidas exageradas do seu coração, mas mesmo com toda aquela tensão sua coragem ainda não havia ido embora de todo.
- Se não quer ouvir minhas merdas, para de se meter na minha vida.
Jungkook riu seco e encostou os lábios no pescoço de Jimin, mordendo de leve sua pele macia antes de lamber para aliviar a tensão dos seus músculos.
Jimin suspirou sem nem perceber e suas pernas ficaram moles e instáveis.
Jungkook segurou firme a cintura fina do menor, admirando com o quão sensível Jimin ficava nos seus braços. Um pouco mais de força aplicada e ele poderia quebrar entre seus dedos.
O maior se segurou para não gemer com os próprios pensamentos, virando Jimin na direção do balcão e abaixando suas costas para que sua bunda tocasse sua ereção mal disfarçada pelo tecido fino do seu terno italiano.
- Já que você foi uma péssima companhia hoje, vamos ver se consegue ser pelo menos uma boa puta.
Jimin gemeu baixinho encarando o Sr. Jeon através do espelho.
- Sr. Jeon…
- Jungkook. - O maior resmungou distraído.
Jungkook abriu o zíper de Jimin e desceu sua calça até a altura das suas coxas.
Ele cuspiu nos próprios dedos e rodeou a entrada do menor, fazendo Jimin fechar os olhos em apreensão.
Jungkook enfiou um dedo dentro do menor o mais delicado que ele conseguia ser, tentando entender o porquê simplesmente não fodia o garoto como teria feito com qualquer outra puta que ele geralmente contratava para esses eventos.
Ele simplesmente não entendia porque estava fixamente encarando cada detalhe do rosto do garoto pelo espelho. Cada mínimo desconforto transmitido por aquele rosto e ele parava com seus movimentos lentos e depois voltava.
Ele fez isso com um, dois, três dedos. Até que os gemidos de Jimin fossem ouvidos pelo corredor.
- Eu quero te foder. - Jungkook sussurrou distraído, encarando a bunda toda vermelha e com marcas da sua mão pelo quanto ele apertava.
Ele lambeu os lábios em transe.
Jimin deitou ainda mais o peito no balcão e empinou mais a bunda.
- Então fode.
Jungkook sentiu seu corpo responder àquela voz delicada e rouca de tesão do menor e quase gozou com a sensação.
Como ele explicaria para o garoto que não transava casualmente há anos?
Sem oferecer nenhum tipo de punição, ou causar algum tipo de dor no seu parceiro. Ele não entendia o que realmente estava acontecendo ali, mas por algum motivo ele só queria fazer o garoto se sentir bem.
Jungkook desafivelou o cinto da calça, abrindo o zíper com certa pressa e cuspiu na bunda empinada do menor mais uma vez enquanto tirava o pau pra fora e o esfregava na bunda lambuzada e vermelhinha do menor.
Ele mordeu os lábios para não gemer e colocou seu pau aos poucos na entrada piscante e sedenta de Jimin. Seu corpo inteiro vibrava com o esforço dos seus movimentos e sua cabeça foi jogada para trás em êxtase ao perceber que podia sentir cada prega do menor se alargando com seu pau à medida que ele investia ainda mais.
Os movimentos aceleraram conforme Jimin foi relaxando e acolhendo o pau duro dentro da sua bunda. Jungkook estava simplesmente em choque com todos aqueles sentimentos estranhos pra ele.
Gostar de homem sempre foi um conflito para Jungkook e pela primeira vez ele se perguntou se sua agressividade no sexo estava atrelado a isso, ele nunca associou porque também tratava mulheres do mesmo jeito nas raras vezes em que saía com elas, mas isso não o fez menos confuso.
Jimin ficou impaciente com a pausa repentina de Jungkook, então começou a rebolar no pau do maior com tanta vontade, que era impossível se segurar por muito tempo só de assistir aquilo.
Jungkook rosnou alguns palavrões e se afastou do mais novo, o puxando pra baixo e o colocando de joelhos de forma abrupta.
Jimin mal se recompôs quando sentiu seus cabelos sendo puxados pra frente e o pau do Sr. Jeon, todo sujo de pré gozo e saliva entrando na sua boca sem que ele pudesse respirar antes de perder completamente tal capacidade.
Ele sentiu os olhos lacrimejando enquanto Jungkook fodia com sua boca sem nenhum cuidado. O mais velho parecia confuso e agressivo e gozou na garganta de Jimin, que mesmo com muita prática acabou engasgando com toda aquela porra.
Quando Jungkook finalmente soltou os cabelos de Jimin, o menor mal teve chance de pensar muito e já começou a tossir porra pelo chão até só sobrar um filete escorrendo nos cantos dos seus lábios inchados.
Jungkook sorriu com aquela cena, finalmente se recompondo da sua pequena epifania confusa chegando a conclusão que ainda gostava de sexo violento e mandou Jimin levantar do chão com um leve aceno dos seus dedos.
O menor suspirou aliviado, limpando o resquício de porra com as costas da mão e resmungou manhoso.
Sua garganta queimava, o couro cabeludo latejava, assim como sua bunda e ainda assim ele tinha o pau todo duro e babando, dolorido e insatisfeito.
Jungkook riu daquele jeito fofo que já parecia familiar para Jimin e o sentou no balcão gelado.
O mais novo suspirou aliviado com o gelado do mármore aliviando sua bunda quente e inchada, mas quase engasgou com o próprio suspiro ao ver o Sr. Jeon inclinado engolindo todo seu pau com sua boca quente e delicada.
Ele não era grande, mas nunca imaginou Jungkook fazendo algo assim. Parecia tão espontâneo e nada característico do cara que lhe botava tanto medo desde a primeira vez que se viram.
Jimin jogou a cabeça para trás e gozou na garganta de Jungkook. Suas mãos agarraram ainda mais o balcão e seu rosto virou um pimentão ao perceber que tinha adorado aquilo.
Jungkook engoliu toda a sua porra como se aquilo não fosse nada demais e o vestiu com agilidade e em silencio.
Jimin se sentiu bem cuidado, tonto pela quantidade de atividade física sem comida no seu estômago e com uma espécie de ansiedade sem nome.
Jungkook parecia neutro e comedido, mas seu coração também batia à mil e ele se sentia frustrado e inseguro pela primeira vez desde que virou adulto.
Seus olhos cruzaram com os de Jimin e a situação de repente parecia a pior possível, a tensão era ainda maior do que quando eles estavam transando e os dois só queriam sair correndo dali , só pra não ter que lidar com aquela situação confusa.
Jimin nem sabe como teve forças para fingir que nada tinha acontecido no banheiro superior da sua ex casa, ele nem lembra exatamente o que disse para as pessoas enquanto soltava pequenas despedidas educadas, pelo menos a educação exagerada e irritante que sua mãe lhe dera, serviu de alguma coisa naquele momento.
Jungkook fez uma doação aleatória e eles finalmente puderam sair daquele lugar sem precisar desperdiçar muito adeus com sua mãe, já que ela também lhe queria o mais longe possível.
- No que está pensando? - Jungkook perguntou quando os dois já estavam na estrada, sentados numa limusine grande e silenciosa demais só para os dois.
- Jihyun. Queria que ele estivesse no evento, assim o teria visto.
- Não entendo porque aceita essas regras ridículas da sua mãe. Se quer ver seu irmão. Só veja.
Jimin suspirou desanimado.
Por causa dele que seu pai estava no hospital.
Por causa dele sua mãe era infeliz.
Por causa dele Jihyun era tão tímido e antissocial .
Sua mãe tinha razão, ele era um lixo. O mínimo que devia fazer era manter distância.
- Você não entenderia. - Jimin resmungou, mas sua visão ficou endurecida e sua língua formigava. Ele mal teve tempo de se xingar antes de desmaiar no banco traseiro do carro.
Merda.
…
Jungkook disse que Jimin era seu namorado na recepção do hospital. Era prático e necessário, já que chamar algum familiar do menor parecia fora de cogitação. Ainda assim, não o deixaram entrar no quarto até que o garoto tivesse acordado e respondendo algumas perguntas. Provavelmente procedimento padrão em caso de relação abusiva, até porque Jimin tinha o pescoço cheio de marcas roxas e estava desmaiado, ele mesmo estava com dificuldade de aceitar que não tinha sido culpado pelo colapso do garoto. Pelo menos até perceber o quanto aquilo soava ridículo, ele não fez nada demais.
Suas mãos suadas correram pelos seus cabelos, a mandíbula tensa e travada de forma dolorida e os olhos arregalados eram novas expressões para ele. Nada abalava Jungkook, ele nunca chorava ou demonstrava tensão, não importava o problema em que se metia.
- Sr. Jeon, me acompanhe por favor.
Jungkook quase correu ao ouvir isso da enfermeira mal humorada na sua frente, mas talvez isso a irritasse ainda mais, então ele tentou manter a ansiedade fora do seu sistema, tentando agir como se estivesse em só mais uma reunião hostil no escritório.
Lógico que aquele pensamento também se desfez assim que encarou os olhos perdidos e sonolentos de Jimin respondendo mais algumas perguntas ao médico ao lado do leito de hospital.
Ele parecia tão pequeno e frágil naquela cama. Era um sentimento inconcebível para ele, toda aquela preocupação.
Quando foi a última vez que ele se preocupou com alguém além dele mesmo?!
- Eih - Jungkook se aproximou, assim que o médico se retirou.
- Desculpa te preocupar a toa, já pedi para um amigo vir ficar comigo. Você não precisa mais continuar fingindo nem nada.
Jungkook mordeu os lábios antes de dizer algo do qual se arrependeria.
- Como você está se sentindo? - Jungkook perguntou o mais gentil que pôde.
Jimin encarava o Sr.Jeon quase como se uma segunda cabeça tivesse crescido ali. Era óbvio que o cara estava preocupado com o que ele diria aos médicos, mas ele tinha discrição em negrito em seu contrato e não é como se o cara tivesse culpa de alguma coisa de qualquer forma.
No entanto, era uma parte um tanto quanto específica as exigências sobre saúde e bem estar do acompanhante durante as sessões. Jimin desmaiar durante uma das noites em que estava como acompanhante foi um enorme azar, mas dificilmente era um evento isolado e obviamente não era culpa de ninguém além dele mesmo.
- Eu sinto muito por te preocupar.
O Sr.Jeon enrugou a testa confuso. Seus olhos tinham um brilho diferente e os lábios finos pareciam tensos. Jimin realmente não entendia o motivo daquilo tudo, até a porta abrir com violência e um Taehyung descabelado e em pânico entrou por ela quase atropelando Jungkook no processo de chegar até Jimin.
- Minnie, como você está se sentindo? Isso é soro? Que porra, você não comeu? Cadê seu celular. Tô te ligando a manhã inteira.
- Manhã? - Jimin resmungou com a voz rouca, encarando Jungkook em busca de resposta pelo lapso de tempo.
Taehyung olhou na direção em que Jimin encarava, reparando em Jungkook pela primeira vez.
- Quem… Eu conheço você. - Jungkook levantou uma sobrancelha, encarando o garoto com intenções assassinas à sua frente.
- O que faz aqui?
- Tae, ele me trouxe aqui. - Jimin tocou no braço do Taehyung tentando acalmá-lo, afinal ele conhecia muito bem o melhor amigo.
Jungkook se remexeu incomodado enquanto encarava as mãos delicadas de Jimin tocando o garoto que ele reconheceu sendo o mesmo que fez uma cena um tanto quanto apelativa na reunião de assinatura de um empreendimento na casa de Kim Namjoon.
- Eu…
- Você pode ir. Obrigado por trazer Jimin até aqui.
- Tae, como me encontrou? - Jimin perguntou, tentando acabar com a tensão entre aqueles dois que ainda se encaravam em óbvio desafio.
- Eu sou sua ligação de emergência Chim.
Jungkook mordeu o lado interno da bochecha, passando a língua para aliviar a pressão. Ele teve sorte de não ter conseguido um programa com aquele garoto ou teria perdido a paciência com certeza, o garoto o irritava de uma forma quase inacreditável, principalmente com toda aquela marcação de território ao redor de Jimin. Não que Jimin fosse dele, mas ainda assim…
- Taehyung, seja gentil. - Jimin sussurrou por fim. Sua voz saiu rouca, mais por ter sido fodida na noite anterior do que qualquer outra coisa e de alguma forma Tae pareceu perceber isso de imediato.
- Podemos conversar lá fora?
Jimin arregalou os olhos, porque quem perguntou no final das contas foi Jungkook e aquilo não parecia uma ideia nenhum pouco boa, mas Taehyung concordou com a cabeça e ele pareceu perder a voz para argumentar ao sentir os lábios molhados de Tae beijando sua testa e alisando seus cabelos.
Seus olhos automaticamente lacrimejaram por alguma razão e ele se sentiu frágil, quebrado e sozinho. Não precisava dizer que a presença de Jungkook não era mais desejada no quarto.
Taehyung estava realmente estressado, sua noite acabou a pior possível e ele não aguentava mais entrar naquele maldito hospital, mas ainda assim ao encarar Jungkook seu controle pareceu voltar ao lugar e defender aqueles que amava ainda era sua prioridade antes de realmente desmoronar.
- Jimin não é nada seu e você pode muito bem considerá-lo mais uma da mercadoria que você compra quando quer e porquê pode, mas ele é muito importante para mim e eu sou capaz de fazer qualquer coisa para protegê-lo.
- Honestamente, não entendo porque estou sendo ameaçado - Jungkook respondeu na mesma altura, disfarçando tão bem quanto Taehyung sua instabilidade emocional diante da situação.
- Não estou te ameaçando. Só estou dizendo que da próxima vez que você pegar Jimin na porta da casa dele, tenha certeza de que vai devolvê-lo do jeito que encontrou ou nunca mais vai vê-lo.
Jungkook se ajeitou no seu terno totalmente fora de ambiente e encarou o garoto na sua frente com olhos do quais ele só se dignava a dar aos seus inimigos e ele nem sequer balançou como qualquer outro certamente faria. Aquele garoto tinha coragem, ele tinha que admitir. Não se lembrava a última vez que alguém o enfrentou no mesmo nível daquela forma.
- Quem é você para falar comigo assim?
- Uma das únicas pessoas com poder o suficiente para fazer Namjoon repensar sobre suas atividades relacionadas ao Jimin.
Jungkook mordeu o lábio inferior e esfregou o nariz como se estivesse pronto para uma luta ou algo assim, mas havia algo no olhar daquele tal de Taehyung, era como uma espécie de devoção insana. Ele não chegou onde estava sem escolher suas batalhas e de certa forma o garoto estava certo, foi por causa dele que Jimin passou mal. Ele devia ter notado, mas estava tão preocupado com seus próprios pensamentos que não fez seu trabalho direito, ele nunca foi tão desatento em toda sua vida e aquilo era preocupante.
- Eu entendo sua indignação , falhei com o Park. Realmente sinto muito - Jungkook disse o mais honestamente possível.
Taehyung bufou um pouco irritado, mas ficou óbvio que a honestidade do moreno mexeu com ele, deixando suas convicções instáveis .
- Você quer continuar se encontrando com ele? Só tenha certeza que vai devolvê-lo da forma que encontrou, ok?
Jungkook concordou com a cabeça, ainda pensativo.
- Eu realmente não notei nada de errado de início.
Taehyung suspirou quase resoluto sobre o que dizer à seguir.
- Jimin é sensível e precisa ser alimentado, nem sempre ele se alimenta como deveria.
Jungkook encarou Taehyung com o reconhecimento quase imediato de que tinha mais naquilo do que o garoto estava dizendo, mas não tinha espaço para ele abordar a situação e não é como se ele não pudesse descobrir sozinho o que aquelas palavras realmente significavam.
- Vou garantir isso da próxima vez.
Taehyung fechou a cara com as palavras "próxima vez" de Jungkook, mas o moreno facilmente ignorou aquilo também.
- Ótimo, faça isso. Agora se me der licença.
Taehyung estava pouco se fodendo para as preocupações do Jeon. Ele sabia bem que aquele não era o tipo de cara com quem ele devia mexer ou ameaçar e jogar a carta "eu conheço Namjoon" não foi sua ideia mais inteligente, mas era de Jimin que ele estava falando e por ele Taehyung era capaz de fazer absolutamente qualquer coisa.
- Como foi com ele? - Jimin perguntou assim que Taehyung se apertou para deitar ao lado do menor na cama.
- Ele parecia genuinamente assustado, então acho que foi bem.
- Não consigo imaginar o Sr. Jeon assustado. - Jimin resmungou enquanto tomava cuidado para não tirar o acesso da sua veia ao se virar para grudar o nariz no pescoço de Taehyung, sentindo o cheiro de bebê que o mais novo tinha por causa do Shampoo de criança que às vezes usava.
- Você foi pra casa. - Jimin sussurrou uma afirmação um pouco confusa. - Achei que tinha saído com o casal ontem.
Taehyung quase segurou a respiração antes de relaxar nos braços do baixinho.
- Yoongi ligou a noite e pediu para eu ir numa festa com ele.
- Foi ruim assim?
Taehyung riu nasalado.
Jimin o conhecia mais do que ele conhecia a si mesmo. O garoto não precisava nem olhar pra ele pra saber o que realmente estava passando na sua mente.
- Foi um pesadelo, eu sabia que tinha algo errado, mas agora tenho quase certeza.
- Como assim?
- Ele estava completamente fora de controle. Bebeu todas e usou alguma droga que eu não reconheci, mas tinha algo mais. Era como se ele estivesse no limite.
- Você se machucou? Aconteceu alguma coisa? - Jimin levantou a cabeça um pouco lento demais, olhando com atenção pra cada centímetro de Taehyung até ganhar carinho nos seus cabelos e voltar a se agarrar ao maior feito um ursinho carente.
- Eu estou bem Jimin, mas Yoongi não parecia nada bem e acho que nunca mais vai querer me ver.
- Por que diz isso?
Taehyung apertou o loirinho nos seus braços, suspirando desanimado.
- Ele começou a gritar comigo, em um momento eu fui segurá-lo porque ele parecia instável, eu só queria ajudar, mas ele simplesmente surtou, me arranhando todo enquanto as pessoas ao redor começaram a filmar sem nem se preocupar que o cara estava completamente surtado. Eu achei que era a mistura das drogas, ele meio que ficou inconsciente durante a gritaria e eu levei ele até o banheiro mais próximo e enfiei ele no chuveiro com água gelada enquanto ligava para o Hoseok. Eu tentei fazer ele vomitar o que tinha no estômago, mas ele não vomitou nada e voltou a gritar e me arranhar pelo susto de ter acordado com água gelada na cara ou sei lá. Foi tão repentino, eu nem sabia o quê ou porquê ele estava gritando.
- Meu Deus, Tae. - Jimin se afastou para levantar a camiseta de manga longa de Taehyung e notou sua pele toda machucada, com vergões horríveis e marcas roxas no punho como se tivessem apertado a região com muita força .
- Você precisa cuidar desses machucados, vai infeccionar, tem sangue seco pela maioria deles. - Jimin fez com que ia se levantar, mas foi impedido quase que de imediato.
- Eu vou, só não aqui. Se Namjoon descobrir sobre isso ele vai me afastar de Yoongi e eu preciso saber o que está acontecendo antes de qualquer coisa.
- Saber o que? Ele se drogou e te agrediu. O que mais você precisa saber? O contrato diz…
- Que ele devia cuidar de mim, assim como o Sr. Jeon deveria cuidar de você?
- Não mete Jungkook nisso Taehyung, eu e você sabemos muito bem porquê eu estou aqui e ele não tem nada com isso.
- Sabemos Jimin? Então você sabe o mal que você está causando com essa merda de não querer comer sabe lá Deus por que? Eu sei que foi por isso que você desmaiou, eu sei que é por isso que você olha em pânico para a bolsa de soro a cada minuto com medo de engordar com isso ou sei lá e sei que é por isso que você fica apertando o avental contra o corpo como se fosse a pessoa mais enorme do mundo.
- Tae - Jimin arregalou os olhos, encarando Taehyung como se o maior tivesse traído sua confiança de alguma forma.
Eles nunca tinham falado sobre o assunto. Jimin estava tão acostumado a ter Tae o ajudando, que nunca parou para notar que aquele apoio incondicional e silencioso não era tão natural e indolor quanto parecia ser.
- Eu sinto muito, nunca quis preocupá-lo, eu…
- Jimin, você sempre faz isso. Sempre se preocupa com tudo e todos menos com você. Olha! Eu não quero te chatear nem te deixar desconfortável, só saiba que estou disposto a te ajudar quando o momento chegar. Me perdoa por tocar no assunto, ok?
Jimin concordou com a cabeça abaixada.
- Vem cá. - Taehyung puxou o menor nos seus braços e o agarrou como se sua vida dependesse disso e honestamente, tinha dia que realmente dependia.
- Eu te amo. - Tae sussurrou quando a respiração do menor pareceu finalmente estável.
- Também te amo Tae Tae. - Jimin resmungou sonolento se ajeitando ainda mais nos braços do mais novo.
Às vezes, quando as coisas saíam dos eixos isso era tudo o que eles precisavam, principalmente quando o mundo ao redor parecia desmoronar diante seus olhos.
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