Sobrevivente
[ Três meses depois].
Taehyung estava olhando a janela enorme na lateral daquele enorme escritório, o céu estava nublado e o trânsito lá embaixo parecia tão deprimente quanto o clima. A caneca de café na sua mão estava longe de ser a bebida quente que ele precisava para se acalmar.
Park Chanyeol, o psiquiatra que Hoseok arranjou para ele, o encarava em silêncio sem parecer julgar seu silêncio ou o apressar para dizer algo.
- Eu sinto muito por não saber o que dizer. - Taehyung resmungou, tentando tomar um pouco do café meio morno e se arrependendo no segundo que o líquido preto entrou em contato com a sua língua, mas engoliu mesmo assim. Não é como se ele pudesse fazer qualquer outra coisa de qualquer forma. - Taehyung riu ironicamente daquele pensamento aleatório.
Chanyeol levantou o olhar da sua caderneta para encará-lo.
- O que você acabou de pensar agora? - ele colocou os óculos de grau um pouco mais para cima e coçou o nariz parecendo pensativo. - Se quiser dizer, é claro. - Pareceu corrigir um pouco apressado.
- Nada demais. - Taehyung deu de ombros. - Acho que só pensei em como tudo o que eu faço é porque as circunstâncias me empurraram para isso e não porque eu escolhi fazer.
- Você acha que não teve escolha nas suas decisões? - Chanyeol perguntou anotando algo naquela maldita caderneta.
Taehyung deu de ombros, tomando mais do café que tinha esquecido que odiava.
- Acho que não escolher é uma escolha de certa forma. - Ele virou as costas para a janela sentando na poltrona de couro off white de frente para o seu psiquiatra. Aproveitou para colocar a xícara no porta copos da mesa de centro.
- Você se sente forçado ou desconfortável por estar morando com Hoseok e Yoongi por causa de um acordo? - Sr. Park perguntou de maneira natural.
Taehyung travou no lugar sentindo o coração acelerar.
- Esqueci por um momento que Hoseok só me confiou a você porque são amigos de infância.
- Sr. Kim, nada do que conversamos sairá dessa sala. - Sr. Park se ajeitou desconfortável na sua cadeira profissional. - Mesmo que ele me mate, não direi nada do que foi dito aqui, você tem minha palavra.
Taehyung encarou o amigo de Hoseok e teve certeza de que o que ele dizia era real, seu olhar parecia implorar que confiasse nele e mesmo que Tae tivesse suas dúvidas, ele não duvidou do profissionalismo do médico.
- Eu confio em você.
Chanyeol voltou a se recostar na sua cadeira e suspirou aliviado.
- Ótimo. Para falar a verdade eu fiquei bem impressionado com o jeito apreensivo que Hoseok falou sobre você quando pediu para que eu o tratasse. Nunca pensei que ele um dia fosse amar alguém além de Yoongi, aquele dois sempre foram inseparáveis.
- É difícil não amar Yoongi de qualquer forma. - Taehyung resmungou sem perceber se tinha falado em voz alta ou não.
- Não. Realmente não é difícil.
Taehyung suspirou.
Ótimo, ele tinha falado em voz alta.
- Pelo que eu entendi da sua ficha médica. Você sofreu bastante contusões e lacerações pelo corpo. Como se sente fisicamente?
Taehyung endureceu o corpo novamente, sentindo suas costas formigarem de nervoso, mas relaxou logo em seguida ao lembrar que não precisava falar sobre isso se não quisesse.
- Estou bem.
- Só estou perguntando porque se tiver com dor ou dificuldade para dormir, posso te receitar algo para dor.
Taehyung negou com a cabeça.
- Yoon tem recaídas às vezes por causa da medicação para bipolaridade, não quero levar drogas para dentro da casa, ele tem episódios depressivos.
- Taehyung, você precisa pensar em você também. Toda vez que conversamos você fala deles, mas nunca de você.
Tae dá de ombros. Ele não sente que ele é tão importante assim.
- Você acha que não é tão importante quanto eles, acertei?
Taehyung enruga a testa em dúvida.
- Não, você não falou em voz alta. É só que você tem uma personalidade doce e gentil e aqueles dois tem personalidades extremamente fortes, imagino que tenha dificuldade de pensar sobre você dentro daquela mansão.
Taehyung sentiu os olhos lacrimejando e se levantou num impulso que assustou ambos.
- Acho que já deu meu tempo.
- Tem quinze minutos que estamos conversando, Sr. Kim.
Jura? Pareceram dois dias consecutivos.
Taehyung suspirou fundo e saiu às pressas daquela sala como se precisasse de ar para respirar e não encontraria ficando ali.
Ele correu até o estacionamento e entrou na Ferrari vermelha de Hoseok.
A única parte boa de morar naquela casa era poder dirigir aquele maldito carro.
Taehyung entrou no trânsito com as mãos um pouco trêmulas. Acendeu um cigarro na tentativa da nicotina amenizar a adrenalina no seu sangue, sem sucesso.
Ele se perdeu um pouco no semáforo e acabou atravessando o sinal vermelho sem perceber, se assustou quase imediatamente ao ouvir buzinas atrás dele.
Taehyung estava prestes a abrir a janela para pedir desculpas com a mão livre, mas percebeu que as buzinas eram porque outro carro acelerou, seguindo seu exemplo. Uma van marrom, sem placa.
- Merda.
Taehyung apertou alguns botões no volante, parecendo tremer ainda mais agora.
- Tae, baby! Chanyeol acabou de me ligar, se não quiser voltar lá mais, eu…
- Hoseok tem alguém me seguindo.
Um silêncio ensurdecedor atravessou a ligação por mais tempo do que seus nervos estavam dispostos a aguentar.
- Jung Hoseok. - Taehyung quase gritou irritado
- Desculpa. Tem certeza?
- Tô dirigindo feito louco tem um tempo. Acelerei, desacelerei, virei sem dar seta, fiz todo o procedimento para ter certeza. Essa porra de Van de merda não sai da minha cola.
- Como diabos… enfim, não se assusta, mas estou rackeando o GPS do carro.
- Que? - Taehyung viu seu GPS sendo ativado e algumas configurações sendo mexidas.
- Eu devia saber o porquê da sua insistência de usar um dos seus carros. - Taehyung resmungou irritado ao virar uma das entradas sem aviso mais uma vez.
Se ele continuasse com isso sofreria um acidente com certeza.
- Sem ofensas, Tae, mas eu rastrearia qualquer carro que você dirigisse. Meu ou não.
Taehyung revirou os olhos.
- Ok. Coloquei um endereço no GPS, siga nessa direção, estarei esperando você. Tenta não correr.
- Você tá falando sério? - Taehyung gritou quase à 200 Km/h já.
- Ah! Porra. - Hoseok xingou desligando a ligação o que tirou um sorriso a força dos lábios do mais novo.
Taehyung dirigiu feito um louco, pela primeira vez na vida sentiu aquela sensação libertadora.
A Van continuou com certa dificuldade a seguí-lo. Fala sério! Ele tinha uma Ferrari nos pés, não é como se eles conseguissem vencê-lo.
Seus perseguidores devem ter percebido o mesmo que V, porque assim que ele entrou na rodovia principal um carro preto conversível e extremamente veloz entrou em uma das saídas da estrada e começou a seguí-lo de igual para igual.
- Merda. - Taehyung resmungou acelerando o carro tão rápido que as rodas ficaram instáveis por um momento fazendo ele quase sair da estrada por um segundo ou dois.
Taehyung tremia pra valer agora, desviar das tartarugas na estrada estava se tornando um pouco estressante, ele quase bateu em um Fiat velho e quase deu de cara com uma árvore em uma das curvas fechadas da entrada que o GPS mandou ele entrar com um pouco de atraso, ou seu cérebro estava com dificuldade para processar a voz robótica do app, ele não tinha certeza.
Suas mãos se tornaram instáveis ainda mais quando percebeu que estava indo para o meio do mato.
Os prédios e as luzes da civilização se tornaram escassas fazendo Taehyung se preocupar.
- Para onde você tá me mandando filha da puta?! - Taehyung resmungou ao vento.
Ele sentiu o carro sendo empurrado bruscamente para frente enquanto xingava o GPS. Por um segundo achou que a Siri estava se vingando dele, até perceber a porra do carro preto na sua traseira.
- Porra, porra, porra. - ele girou o volante, freando para bater na quina do carro atrás dele, achando que ele giraria 180° e sairia da estrada, mas aparentemente isso era coisa de filme.
Ele parou o carro com a freada, mas o motorista atrás era muito bom e desviou da batida a tempo parando uns dez metros do seu carro.
Taehyung parou o carro ainda ligado, olhando para o retrovisor com seu coração saindo pela boca e a respiração tão alta que parecia que ele estava com um estetoscópio no ouvido.
Dois caras mal encarado e com semiautomáticas nas mãos saíram do carro o fazendo xingar entre os dentes batendo.
Taehyung apertou o volante com tanta força que seus dedos ficaram brancos por falta de circulação sanguínea.
Seus perseguidores se aproximaram de forma tática, um deles sumiu do retrovisor e Taehyung sentiu que devia olhar para trás, mas causar distração era provavelmente o motivo daquele submisso de sua visão. Ele segurou os próprios instintos e acelerou o carro, derrapando de forma alarmante pelo asfalto.
Taehyung ouviu o desparo de uma arma e seu retrovisor lateral foi arrancado do carro enquanto uma das portas traseiras quase foi aberta pelo cara que tinha sumido da sua visão no retrovisor, o vidro traseiro foi o próximo a explodir, fazendo Taehyung fechar os olhos por um segundo.
Sua bochecha e o braço direito foram arranhados por cacos de vidro que voou até ali, mas nada disso importava. Seu perseguidor teve que esperar os atiradores voltarem a entrar no caso para persegui-lo e isso lhe deu vantagem.
Tae suspirou aliviado por não ter mais um carro batendo na sua lateral e desestabilizando sua direção o tempo todo e acelerou o máximo que podia. Esse era o lado bom, o lado ruim é que toda aquela merda deu tanto tempo para ele quanto para seus perseguidores e agora a Van marrom finalmente os alcançaram.
Taehyung olhou o GPS, faltava dez malditos minutos de distância, quase cinco km para chegar sabe lá Deus onde.
Seus olhos lacrimeram de forma alarmante, porque agora ele mal conseguia ver a estrada.
- Se controla, caralho. - Taehyung resmungou tentando piscar até voltar a enxergar direito.
Assim que os dez minutos estavam perto de acabar ele viu um galpão no meio do nada e Hoseok perto de um carro parecido mais com um tanque preto.
Taehyung soluçou chorando sem controle.
Porra! Ele nunca pensou no quão bom seria ver Hoseok tanto quanto agora.
O ruivo apontou para entrar no galpão e ele fez exatamente isso, freando bruscamente, fazendo o cinto quase rasgar seu peitoral.
- Caralho. - Taehyung xingou saindo trêmulo do carro.
- Você tá bem? Porra, por que tá sagrando?
- Eu… - Hoseok tocou seu rosto delicadamente, suas mãos estavam tão trêmulas quanto as suas.
- Sr. Jung. Está quase na hora.- Um cara todo de preto, com máscara e armado até os dentes disse ao se aproximar, fazendo Hoseok concordar sem tirar os olhos de Taehyung.
- Tae, olha pra mim.
Hoseok precisou repetir isso algumas vezes para Taehyung finalmente encará-lo.
- Eu…armas…
- Sim, eu imaginei o suficiente. - Hoseok resmungou recebendo um colete a prova de balas de um dos caras que estavam ali.
Taehyung olhou ao redor enquanto Hoseok o vestia com aquele colete pesado e dizia coisas sem parar.
- Não importa o que você escute, não importa o que você veja. Não saia de dentro do carro, me entendeu?
Taehyung enrugou a testa enquanto era empurrado para frente do galpão e depois para dentro do carro preto com cara de tanque, foi sentado no banco de trás e recebeu um beijo doce e molhado que o acordou um pouco.
- Carro… hobi, onde vamos?
Hoseok suspirou de maneira audível enquanto arrumava os cabelos do mais novo com a ponta dos dedos.
- Eu sinto muito por tudo isso, prometo que vai acabar em breve. - Hoseok sussurrou tocando um lado da sua bochecha que ardia um pouco.
Tae franziu um pouco o nariz com dor.
- Baby, eu…
- Sr. Está na hora. - Um dos caras de pretos disse detrás do Hoseok.
Meu Deus tinha muitos homens armados naquele galpão. Como é que ele só viu isso agora?!
- Estou indo. - Hoseok rosnou irritado. - Você passou por muita coisa, não quero adicionar essa merda na lista, então por favor deita no banco e não levanta por nada nesse mundo ok? A chave vai ficar na ignição, você é o único capaz de destravar esse carro. Não importa o que aconteça ou o que ouça, não saia do carro. Está me ouvindo?
Taehyung concordou com a cabeça distraído.
- Repita comigo, Tae. Não importa…
- Não v…vou sair do carro.
- Não importa…
- Não importa o que aconteça. - Taehyung repetiu mais consciente do que falava dessa vez.
- Ótimo. - Hoseok beijou sua testa. - Ótimo.- ele repetiu mais pra si mesmo dessa vez empurrando o mais novo mais para dentro e fechando a porta.
As quatro portas travaram automaticamente fazendo Tae encarar Hoseok pedindo ajuda por estar trancado sozinho ali.
Hoseok não podia vê-lo por causa do filme anti reflexo nas janelas.
Tae resmungou seu nome baixinho e francamente desesperado e viu que o mais velho se distraiu com algo na estrada.
O mais novo travou com a mão apoiada no vidro resmungando o nome de Hoseok sem saber o que estava fazendo e então finalmente começou. O inferno na terra.
Sons de tiro e balas voando para tudo que é lado, a lataria do carro parecia pipocar e ele suspirou com certo alívio porque o carro inteiro era a prova de balas. Seu rosto estava prensado no banco de couro e seus cortes superficiais com os cacos de vidro ardiam, mas ele não conseguia pensar em nada, nem mesmo naquela pequena dor, na verdade aquela ardência era a única coisa que o mantinha raciocinando. Seu coração parecia acompanhar a velocidade das balas e as lágrimas queimavam seus cortes e tudo que ele podia fazer era balanço corpo sem ritmo e resmungar o nome do Hoseok que não tinha uma porrada de policarbonato, mantas de aramida e aço balístico entre ele e todos aqueles projéteis.
Aí! Meu Deus. Se o Hoseok morrer o Yoongi vai me matar.
Taehyung parou de se mexer, tirou as mãos do ouvido e se levantou alarmado.
Se Hoseok morrer…
- Hobi. - Taehyung resmungou olhando para fora pela primeira vez desde que a chuva de chumbo tinha começado.
Tinha alguns carros como cobertura ao lado deles e os homens de preto eram os responsáveis pela chuva de balas. Hoseok estava no maldito mesmo lugar ao lado da sua porta, atirando por cima do capô do carro e o carro onde ele estava era na verdade sua cobertura. Ele não faz ideia de quanto tempo aquilo realmente durou, mas em um momento Taehyung começou a se desesperar e gritar o nome do Hoseok e bater no vidro, aquilo não ia beneficiar ninguém, mas ele parecia em uma espécie de crise histérica. Hoseok pareceu ouvi-lo porque ele se distraiu um pouco olhando com preocupação para a direção do vidro em que Taehyung batia sem parar, o barulho já tinha parado e havia um silêncio meio duvidoso no ar e foi exatamente aí que aconteceu. Uma bala transversal atingiu Hoseok o empurrando no chão fazendo Taehyung gritar sem saber exatamente o que fazer.
Suas mãos tremiam enquanto ele se machucava todo para alcançar o botão de destravar o carro, ele ia ficar todo roxo com certeza, mas finalmente alcançou o maldito do botão e demorou mais uma porção de tempo para voltar para o lugar e abrir a porta.
- Hobi. - Taehyung gritou se jogando no chão e caindo aos tropeços bem em cima de Hoseok.
- Caralho. - Hoseok xingou com o peso do mais novo e falta de ar. - Minhas costelas. - ele reclamou porque o colete tinha salvado sua vida daquele tiro, mas não antes do impacto quebrar sua costela flutuante.
Hoseok resmungou mais um pouco fazendo Tae finalmente ficar de joelhos entre as pernas do mais novo o cobrindo com seu corpo.
- Taehyung, porra. Eu falei para você não sair do carro não importa o que. - Hoseok xingou tentar falar e respirar ao mesmo tempo, o que não pareceu uma boa ideia.
- Ah! Porra. Volta para o carro. Por que você nunca me escuta? Ai! Porra. Dor desgraçada.
Taehyung travou, ele simplesmente travou ali. Hoseok continuou xingando o mundo e só parou quando sentiu gotas de água caindo no seu rosto.
Ele olhou para cima, vendo um Tae desesperado, chorando em silêncio enquanto resmungava algo ininteligível.
- Baby…shiiiii…- Hoseok suspirou de dor e tocou o lado do rosto sem cortes do menor- Tá tudo bem, vai ficar tudo bem.
Caralho! Deus não dava folga para aquele moleque.
Hoseok tremia feito um condenado agora e ter levado um tiro não tinha nada haver com isso.
- Kim Taehyung, pelo amor de Deus me escuta. - Hoseok tentou gritar, mas tava difícil respirar. - Tae, você precisa entrar no carro.
Taehyung resmungou mais algumas palavras fazendo Hoseok bufar irritado.
- Taehyung, entra na porra do carro, agora.
- Tae, você precisa me ou…
- Não.
Hoseok franziu a testa sem ter certeza se ouviu direito.
- O que ?
- Eu disse, não.
Hoseok encarou o mais novo ainda incrédulo. Ninguém nunca falava não para ele. Aquilo tava sendo bem difícil de engolir e sua paciência parecia quase inexistente no momento.
- Tae… - Hoseok o chamou em forma de súplica, sem forças para empurrar o garoto por causa da costela quebrada e meio sem saber o que fazer.
- Não importa o que diga, não vou sair daqui. Você não pode morrer. Você não pode morrer. Não posso ser o que sobrevive de novo, não mais. Eu não posso fazer isso. Você não pode me deixar. Não, de novo não. Eu não consigo. Não…
- Eu entendi. Baby, vai ficar tudo bem, eu não vou te deixar. Você só precisa, por favor …
Um baque surdo veio primeiro e então Taehyung foi empurrado bruscamente para cima de Hoseok e caiu inconsciente.
Um tiro. Ele levou um …
Hoseok não conseguiu nem raciocinar direito, ele simplesmente tirou forças de onde não tinha e virou Taehyung no chão o encarando em desespero sem saber o que fazer a seguir.
- Não. Porra… - Hoseok comecou a remexer o colete do mais novo sem saber o que fazer, chorando e gritando nada em específico até se controlar por força própria e finalmente tocar na jugular do garoto para ver se ele respirava e sim ele respirava um pouco instável, mas respirava.
- Ah! Graças a Deus.
Hoseok ouviu o garoto sussurrar algo e aproximou o ouvido nos seus lábios.
- O que disse?
- Sem hosp… sem…
- Não quer ir ao hospital?
Tae negou com a cabeça e fechou a expressão com dor, dessa vez apagando pra valer.
- Sr. tá tudo bem por aqui?
Hoseok notou que os tiros haviam parado e encarou um dos seus subordinados que se aproximava.
- Pega os carros sem furos de bala dentro do galpão, coloca todos os outros lá dentro e exploda a porra toda. Tenta ver se um dos atiradores tem documentos ou algo no carro, preciso de informação.
- O garoto tá bem?
- Vai ficar. - Hoseok suspirou com dor.
- Quer uma explosão controlada para se livrar das evidências ou…
- Não. Quero no estilo supernova e não se preocupa com evidências, se for o que eu tô pensando, eu quero que eles saibam que fui eu.
O cara resmungou mais algumas coisas enquanto Hoseok se levantava com dificuldade.
Um dos carros saiu do galpão parando na frente do mais velho e um garoto não muito mais velho que Tae saiu do banco do motorista.
- Quer que eu carregue ele para o Sr.?
Hoseok estava pronto para xingar o coitado e dizer que não encostasse no seu garoto, mas lembrou que mal conseguia se mexer por causa da costela e finalmente concordou meio irritado com o fato de não poder ajudar o Tae quando ele mais precisava mais uma vez.
…
Taehyung acordou entre seda e cetim, estranhando aquele conforto todo. O peso do colete a prova de balas tinha saído de cima dele, seu rosto não ardia mais e a terra que ele respirava quando caiu no chão ao lado do carro não estava mais presente.
Ele abriu os olhos e reconheceu quase de imediato o suporte de madeira e o cheiro de limão e cera de abelha no ar.
O quarto do Hobi. Ele não sabia como sabia disso, mas ele sabia onde estava.
Nunca tinha estado ali antes, mas o cheiro de perfume caro no travesseiro e toda aquela decoração limpa e em tons de cinza e branco era claramente o Hoseok inteiro.
Tae suspirou afundando o rosto no travesseiro para sentir mais daquele cheiro sem saber muito bem porque fazia isso e gemeu ao sentir dor nas costas.
Porra! Ele levou um tiro bem no meio das costas.
Taehyung lembrou se sentindo todo dolorido. Ele abriu a porta do quarto precisando urgentemente de água e foi aí que ele ouviu a gritaria no andar de baixo.
- Não tenho um dia de paz nessa porra. - Taehyung resmungou descendo as escadas com dificuldade.
Assim que terminou o último degrau a gritaria parou automaticamente e Taehyung quase sorriu de lado ao perceber que estava só de roupão e nada por baixo.
Droga!
Taehyung levantou a cabeça se sentindo nu sem realmente estar, com todos aqueles olhares preocupados em sua direção.
- O que foi agora? - Tae perguntou com a voz rouca.
Yoongi, Hoseok, Jin e Namjoon o encararam levemente constrangidos e preocupados.
- Acordamos você? - Yoongi perguntou visivelmente arrependido.
- Se tivéssemos vizinhos os teriam acordado também. Qual o motivo da gritaria. Eu? - Tae perguntou com a voz vazia e sem nenhuma expressão no rosto, preocupando todos ainda mais.
- Vim te levar para casa. - Namjoon disse apressado.
- A porra que veio. - Hoseok gritou de volta irritado.
- Acordo nenhum vai me impedir de levá-lo. Você não sabe protegê-lo e eu não vou ficar parado…
E começou mais uma vez toda a gritaria.
- Namjoon. - Taehyung tentou falar, mas sua garganta estava realmente seca.
Ele queria assobiar e chamar a atenção de todo mundo, mas sabia que não sairia som nenhum da sua garganta.
Tae se virou e foi até a mesa da sala de jantar, pegando uma garrafa de água e um dos copos que sempre ficava ali, tomando com calma cada gole e sentindo sua garganta arder.
Lembranças dele berrando o nome do Hoseok de dentro do carro voltaram à sua mente, dando explicação do porque sua garganta parecia arranhar a cada movimento de deglutição.
Tae voltou com calma até a gritaria, se aproximou sem ser muito notado e tocou no punho de Namjoon.
Um simples toque e toda a sala se silenciou novamente.
- Tae, por favor. Não peça o que está prestes a me pedir agora, eu te imploro. Você não pode ficar desprotegido desse jeito. - Namjoon implorou engasgando no final.
Taehyung viu Jin trocar de peso nos pés com sua visão periférica.
Ah! Sim, aquele relacionamento entre ele e Namjoon era fodido demais para um inocente como o Seokjin entender.
- E pra onde eu iria? - Taehyung perguntou confuso.
Hoseok se remexeu incomodado com a conotação da voz de Taehyung, como se ele só estivesse ali porque não tinha pra onde ir.
- Vem comigo para casa. Eu vou te proteger. Vou te proteger com tudo que eu tenho, você sabe disso. - Namjoon falou quase desesperado, mas se controlando lindamente, como esperado de alguém como ele.
- Nós. - Taehyung corrigiu.
- O que ?
- Você não está sozinho. Quer me levar para sua casa e do Jin?
Namjoon pareceu confuso por um tempo, até perceber a cagada, mas não pareceu se importar, já que não tirou os olhos insistentes dele.
Sua expressão mudou sutilmente.
- Você vai vir comigo nem que eu tenha que derrubar essa casa inteira. Você entende o que isso significa, certo?!
Taehyung sentiu um frio na espinha, se segurando para não soltar o punho de Namjoon que ainda segurava.
Corra. Seus instintos gritavam, mas ele permaneceu no lugar sem fazer nada.
Hoseok travou a mandíbula.
Isso não é bom.
Kim Namjoon nunca fazia ameaças vazias.
- Amor. - Jin começou a falar, mas o olhar assustado de Taehyung o calou e o deixou confuso.
Taehyung ia começar a tremer há qualquer momento e como todo animal peçonhento, Namjoon não era diferente, se ele mostrasse fraqueza, seria devorado. Já passou por isso milhões de vezes para conhecer aquele olhar. Principalmente na cama.
Na cama. Taehyung pensou tendo uma ideia nada boa sobre como resolver aquilo.
Hoseok deu um passo pra frente sentindo a ameaça no ar frio do ambiente, mas foi segurado por Yoongi que negou com a cabeça enquanto notava a sutil mudança de expressão de Taehyung.
Ele sabia lidar com isso.
Ele sabia como sobreviver ao Namjoon.
Yoongi não sabia se sentia aliviado ou realmente bravo com essa realização.
Hoseok estava prestes a reclamar quando uma única palavra gelou o coração de todos naquela sala.
- Mestre. - Taehyung sussurrou com lágrimas presas no olhar. - Por favor.
Taehyung nunca teve uma palavra de segurança que funcionava com Namjoon e o maior nunca lhe pediu uma também. Kim Namjoon fazia o que queria e quando queria com ele, mas tinha uma coisa que fazia o maior parar tudo e deixar o menor em paz. Quando ele implorava dessa forma. No final, a palavra "mestre" se tornou meio que a palavra de segurança dele, porque Taehyung só a dizia quando não aguentava mais.
Namjoon adorava humilhações e punições no sexo e Taehyung sempre foi o único que aguentou suas merdas.
Deus aquele garoto sabia ser forte. Namjoon pensou enquanto encarava aqueles olhos cristalinos e levemente amedrontados.
Namjoon sentiu sua excitação entre as pernas e porra, aquele definitivamente não era o momento. O resto da sala podia não saber o que aquelas palavras significavam vindas do mais novo, mas ele sabia muito bem. Ele as ouviu pouquíssimas vezes durante o tempo em que conhecia Taehyung e nunca foram uma exigência, nunca uma ordem para que ele parasse, sempre foram com conotação de pedido. No começo ele nem sempre parava, ele conhecia o corpo do menor, sabia até quando ele aguentava, sabia melhor que o próprio Taehyung, mas no final ele ficou emocionalmente envolvido, não sabia mais dizer não, não era mais só sexo no final.
Namjoon notou isso pela primeira vez, não era só por sexo que ele sentia tudo que sentia por Taehyung.
Porra! Aquilo era um problema.
Ele nunca teve esse tipo de fraqueza antes.
Namjoon deu um passo para trás assustado.
- Entendo porque veio me buscar. - Taehyung falou, querendo dizer muito mais do que realmente disse.
Ele sabia. Namjoon percebeu.
- Eu te buscaria até no inferno. - Namjoon falou em voz alta.
Como diabos Taehyung percebeu seus sentimentos antes dele mesmo?
Não era amor, não era ternura. Era tóxico, pegajoso e poderia ser a causa de sua morte.
Caralho.
- Eu sei. - Taehyung sussurrou nervoso.
Jin tampou a boca sem saber o que pensar de um Namjoon totalmente fragilizado com algum pensamento que ele não queria adivinhar por instinto.
- Eu iria até… - Namjoon encarava Taehyung como se ele fosse uma espécie de bomba com um temporizador alarmante na sua frente.
- Eu sei e se eu precisar eu vou pedir, mas no momento eu me sinto seguro aqui e por mais estranho que isso possa parecer, não me sinto um intruso entre eles. - Taehyung olhou para Jin, como se dissesse que é exatamente o que sentiria se fosse para a casa com Namjoon.
- Você entende o que somos um para o outro, certo?! - Taehyung se incomodou um pouco ao dizer o que precisava ser dito. - Quando é sobre mim, você não pensa com clareza.
Namjoon juntou as sobrancelhas, parecendo ter recebido uma notícia letal de um médico.
- Eu…
- Você nunca continuou depois que eu implorava, eu sei que você pensa que não ligava para o que eu dizia, mas na verdade eu podia sentir. Você simplesmente entrava em transe contra sua própria vontade e me agradava ou me obedecia. O poder sempre esteve em minhas mãos mesmo quando elas não podiam se mover, não me negue agora. Me escuta pela última vez e vai para casa. - Tae falou calmo causando um choque ainda pior no mais velho.
Todos naquela sala entenderam o que Taehyung disse, mesmo que o mais novo tenha tentado ser educado com as palavras, a visão de Taehyung amarrado numa cama enquanto Namjoon se perdia nele ficou colado na mente de cada um ali.
Era quase como falar com seu ex na frente do seu atual e do atual dele.
Aquilo era fodido, não importa de que forma você olhasse.
Namjoon passou as mãos nos cabelos e saiu andando sem dizer uma palavra, parecendo claramente que tinha visto um fantasma.
- Eu sei que isso foi rude, mas foi antes de você e não significou o que você está pensando. - Tae falou com tristeza para Seokjin. Ele gostava muito do cara.
- Não tenho tanta certeza. - Jin falou com a voz embargada, saindo pela mesma porta que Namjoon tinha ido segundos antes.
Taehyung se virou e suspirou com o olhar de pânico de Yoongi e o ódio derramando dos olhos de Hoseok.
- Vocês não têm o direito de sentir o que estão sentindo agora. Não sou propriedade de ninguém. - Taehyung falou mais para o Hoseok do que qualquer outra pessoa.
- Nós temos controle algum pelo que sentimos? - Yoongi perguntou parecendo confuso.
Taehyung suspirou novamente e desatou a chorar.
A pronto!
Seus ombros estavam pulando ou o que?
Isso é sério?
Taehyung nem notou quando foi arrastado para o quarto. Ele só notou quando as luzes se apagaram e a exaustão o levou para um quarto escuro e vazio.
Seu rosto acalmou e ele dormiu sem saber o quão desesperado os dois do outro lado da porta encaravam a fechadura como se ela pudesse abrir o mundo se eles finalmente sucumbissem aos seus desejos reprimidos.
- Mais um dia na vida do Taehyung, certo?! - Hoseok disse sarcástico, deixando um gosto amargo na língua.
- Eu quero todos mortos. - Yoongi disse encarando a porta em uma espécie de transe.
- Eu já ordenei…
- Não. Eu quero todos mortos, suas famílias, as famílias de suas famílias. Quero suas casas queimadas e todo o dinheiro escondido tomado. - Yoongi parecia arder em febre e o ódio era quase palpável.
- Isso é um pouco cruel até para meus limites, se quer saber.
- Não perguntei sua opinião. Faça ou acabou tudo entre nós. - Yoongi se virou para Hoseok com seus olhos opacos.
- Você normalmente não me ameaça com esse assunto, você nunca…
- Olha para mim e me diz se eu não te deixaria por ele?
Hoseok se calou sem saber o que dizer.
Não tinha certeza.
Talvez tivesse, mas nunca admitiria em voz alta.
- Você o ama tanto assim?
- Eu prefiro morrer antes de perder alguém que eu amo de novo, e vamos combinar que Taehyung nunca ficaria com você sem mim, então você não tem muita opção, porque eu sei o quanto está caído pelo garoto. Não sabe mais viver sem ele. - Yoongi cruzou os braços entre o corpo de maneira defensiva.
Medo! Respeito!
Hoseok notou com quase um sorriso nos lábios.
Por que Taehyung não tinha esse medo, pelo menos o respeito ao dar ordens para ele?
Hoseok bufou meio rindo, meio irritado.
- Vou explodir suas casas e deixar quem tiver dentro morrer. Não vou correr atrás de familiares inocentes a tudo isso. Ok?!
Yoongi mordeu os lábios percebendo o quão irracional estava sendo.
- Ok. Mas tente não estressá-lo com isso. - Yoongi respondeu depois de um tempo.
Hoseok se aproximou aos poucos, adorando o corpo de Yoongi retesar em apreensão e beijou o rosto do menor fazendo ele suspirar numa espécie de tesão e medo misturados.
Aquela relação era muito louca. - Hoseok pensou sabendo que aqueles dois eram sua vida agora, eles querendo ou não.
- Eu te amo, Suga. - Hoseok sussurrou no seu ouvido, se virou e foi embora deixando Yoongi com a boca aberta e pasmo com o que o maior disse para ele.
Que porra foi essa?
Yoongi negou com a cabeça sem saber o que tinha acabado de acontecer e voltou a encarar a fechadura da porta como se aquilo fosse uma espécie de calmante para os seus nervos.
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