O outro lado
Taehyung se livrou da camisa assim que entrou no apartamento que dividia com Jimin, encarando a visão dos vergões e roxos que Yoongi tinha deixado ali quando surtou na festa da qual ele realmente se arrependia de ter ido dessa vez.
Suas mãos tremiam ligeiramente à medida em que se esticava para pegar o kit de primeiros socorros no armário do banheiro, mas foram firmes o suficiente para limpar os arranhões com um pouco de Rifamicina e gaze. Seus suspiros saíam mais pela confusão da situação do que pela ardência do antibiótico na sua pele ferida.
Yoongi surtou naquela festa. Não porque estava louco com o álcool e as drogas, era algo pior, muito pior. Ele parecia completamente fora de controle.
Taehyung sentiu os pelos da nuca arrepiarem à medida que sua mente viajava nas memórias do dia anterior. Foi um dia de merda afinal.
Alguém batia na porta tinha um tempo e Taehyung finalmente notou ao ouvir a voz do Namjoon nada agradável através da madeira fina que bloqueava sua passagem, talvez não por muito tempo.
Ele vestiu a camisa às pressas e praticamente jogou o kit médico na pia do banheiro junto com as gazes usadas antes de correr para sala e atender a porta o mais rápido que podia.
- Meu pai está bem? - Taehyung perguntou em pânico, vendo Namjoon entrar no apartamento com violência e dar alguns passos descontrolados pela pequena sala.
Era estranho vê-lo ali. Namjoon tinha essa áurea de magnitude que o acompanhava e o simples apartamento parecia praticamente aos pedaços quando comparado ao homem vestindo um terno mais caro que todos os móveis do lugar juntos.
Namjoon pareceu levar um tempo antes de se concentrar na pergunta do mais novo, mas foi rápido na recuperação ao respondê-lo.
- Seu pai recebeu alta hoje de manhã, mas o mantive no hospital para garantir mais conforto a ele até que se recupere completamente.
Taehyung concordou com a cabeça.
- Mas não foi por isso que veio.
Os olhos do mais velho brilharam ao notar quão rápido Taehyung era em acompanhar seus pensamentos, mesmo que parecesse fora do ar a maior parte do tempo.
- Sim, eu vim por isso.
Taehyung pegou o celular estendido na sua direção, olhando uma cena embaçada e confusa da festa da noite anterior.
Yoongi parecia ainda mais descontrolado na gravação e a voz serena e grave de Taehyung mal era captada pela câmera que os acompanhou até dar de cara com a porta do banheiro no andar superior.
- Onde conseguiu isso? - Taehyung devolveu o aparelho para o mais velho.
- Estava por toda a internet esta manhã.
- Estava?
- Hoseok é um bom advogado que tem influência, foi tirado do ar em poucas horas.
- Ainda assim, você tem uma cópia da gravação.
- Você tem certeza que quer me enrolar nessa dança de mudança de assunto? Porque posso conseguir minhas respostas em outro lugar, mas te garanto que não serei tão agradável como estou sendo agora.
Agradável é uma forma de ver o que ele estava sendo.
Taehyung puxou o ar para o peito com certa impaciência, mas porque sabia que não tinha escolha, não por estar indignado com a pergunta. Namjoon podia ser o que for, mas sua preocupação tinha fundamento ali.
- O que quer saber?
Namjoon encarou Taehyung por um tempo, curioso com a facilidade em que parecia ter conseguido suas respostas. O garoto defendeu bastante aquele casal num passado nem tão distante assim.
- Como assim o que quero saber? Quero saber que porra aconteceu.
- Aconteceu basicamente o que foi filmado. Yoongi me chamou para ir a essa festa de última hora, quando apareci lá ele já tinha bebido todas e usado drogas, não sei exatamente.
- Você usou alguma coisa?
- Eu não uso drogas.
Namjoon o encarou por um tempo, que Taehyung segurou firme até garantir que não estava mentindo e realmente não estava.
- Ok. E então?
- Fiquei preocupado, o arrastei para o banheiro e coloquei embaixo da água gelada, liguei para Hoseok e fui embora assim que ele chegou.
Namjoon riu debochado.
- Você tá me dizendo que largou os dois lá e saiu andando? Até eu te conheço melhor que isso.
Taehyung suspirou desanimado.
- Na verdade o Hospital me ligou e eu tive que sair correndo.
Namjoon levantou uma de suas sobrancelhas, como se soubesse de tudo no mundo e aquilo claramente não colava.
- Jimin desmaiou e foi levado para o hospital, eu sou sua ligação de emergência.
O maior juntou as sobrancelhas em completo conflito.
- Park? Por que diabos eu só tô sabendo disso agora?
- Porque você anda preocupado demais com a minha vida e esqueceu que você tem outros funcionários para se preocupar.
- Cuidado com o que fala Kim.
Taehyung tremeu levemente. Namjoon era assustador, não importa o quanto de liberdade ele tinha com seu chefe, o cara ainda podia colocá-lo em seu lugar com facilidade.
- Você disse há um tempo atrás que cuidaria de Jimin, para eu não me meter. Aparentemente eu me enganei em confiar em você.
- Se colocar sua mão vai perder Jimin, eu e você sabemos muito bem o pote de ouro que ele é para os seus negócios. Você pode confiar em mim ou estragar tudo, não sou eu quem vai decidir isso por você.
Namjoon riu seco e encarou Taehyung de forma analítica.
- Quem você pensa que é Taehyung? Você tá abusando demais da sua sorte comigo e eu estou seriamente…
- Eu não me importo. - Taehyung praticamente berrou, deixando os dois em choque.
Impressionantemente, foi Taehyung quem se recuperou mais rápido do seu próprio surto.
- Você tinha que ter tudo sob controle, você prometeu que minha família estaria segura e não cumpriu com sua palavra. Faça o que quiser comigo por meu desrespeito, você e eu sabemos que pelo visto sua palavra não vale tanto quanto você acha que vale.
O ar pareceu ser sugado daquela sala e o silêncio era tão absurdo que uma agulha caindo no chão faria barulho naquele momento.
Taehyung nunca pensou que falaria algo assim para o cara mais perigoso de Seul, nem que sentiria seu coração praticamente batendo nas suas costelas, mas em nenhum momento ele se arrependeu. Ele morreria por quem amava e sabia que parte do que aconteceu com seu pai era culpa dele, mas parte era do Namjoon também e ele precisava deixar aquilo bem claro.
Namjoon simplesmente saiu do apartamento em silêncio e com passos calculados, porém Taehyung só pôde soltar a respiração quando ouviu o clique na porta do apartamento indicando que aquele olhar assassino estava longe dele e ele finalmente poderia voltar respirar
Porra! Ele estava morto.
Taehyung deveria ter ficado e esperado Jimin que chegaria do hospital em breve, mas ao invés disso ele foi até o hospital buscar seu pai para levá-lo para casa e aproveitou para passar um tempo com sua avó. No entanto, assim que saiu do prédio velho em que sua família morava, seu corpo ficou rígido e sua respiração falhava de novo.
Hoseok estava encostado no seu conversível chamativo, o que naquele bairro era praticamente um holofote neon para assalto. Seu terno risca de giz parecia desenhar seu corpo perfeito e seus cabelos brilhavam na pouca iluminação da rua, porém seu rosto demonstrava preocupação e seriedade. Taehyung estava cheio de gente poderosa o olhando daquela forma.
O segurança de Namjoon se aproximou e lhe entregou um papel dobrado milimetricamente.
- O chefe mandou te entregar isso. - O cara disse com educação comedida.
- Obrigado.
- Quer que eu mande ele embora? O cara tá parado aí tem umas 4 horas.
Taehyung encarou Hoseok mais uma vez, seriamente avaliando a situação.
- Eu resolvo, mas obrigado pela oferta.
- Sem problemas. - O segurança de Namjoon se afastou, mas não sumiu de vista, como se soubesse que Taehyung talvez precisasse de um pouco de músculos para sair daquela situação.
Talvez ele não estivesse errado.
Taehyung se aproximou com cautela, após ler o recado de Namjoon no papel e colocá-lo no bolso.
Sempre que Namjoon descartava o uso de celular como meio de comunicação significava que a coisa não era boa e só podia piorar.
- Se for uma má hora, posso voltar depois.
Taehyung encarou Hoseok por um tempo, antes de tomar coragem para resolver mais um problema na sua vida que antes parecia simples e agora estava aquela bagunça.
Uma bagunça que não dava para descartar como motivo o casal que ele conheceu recentemente. Era tudo tão simples antes deles.
- Eu entendo que possa estar chateado comigo por ter largado você sozinho com Yoongi na festa, mas eu tive uma emergência e precisei sair, apesar de que nem sei porquê estou me desculpando, não é minha responsabilidade ser babá de ninguém e Yoongi simplesmente…
- Não, não é.
Taehyung parou seu monólogo indignado ao olhar confuso para Hoseok.
- O que disse?
- A culpa não é sua. Eu vim na verdade pedir desculpas.
- Ham? - Taehyung trocou o peso dos pés, encarando o mais velho à sua frente com genuína confusão nos olhos.
- Olha, eu achei que as coisas estavam sob controle e obviamente não estão. Yoongi não pode simplesmente fazer o que quer com você e eu sinto muito pelo que teve que passar com ele nesses últimos dias.
- Do que você tá falando? Yoongi perdeu a cabeça naquela noite, mas não é como se ele tivesse feito algo comigo. Eu tô bem.
- Está?
Taehyung ficou olhando Hoseok por um tempo, sem entender o que estava acontecendo. Aquilo era tudo o que ele menos esperava que aconteceria aquele dia.
- Que? - Ele perguntou por não ter ouvido o que Hoseok estava falando.
- Eu disse para levantar sua blusa.
Taehyung enrugou a testa confuso.
- Não, isso é ridículo. Não vou levantar minha blusa no meio da rua. O que isso tem haver?
- Você disse que Yoongi não fez nada com você, que está tudo bem. Prove então, levanta a blusa.
Taehyung lembrou dos milhões de curativos pelo seu corpo e enrugou a testa mais uma vez.
Como diabos ele sabia?
- Olha! Eu não quero que você pense o pior de nós, mas Yoongi é complicado e sem ofensas, mas eu sou o único que pode lidar com ele no momento.
Taehyung riu em completo escárnio.
- Até porque você fez um ótimo trabalho antes de me conhecer.
- Taehyung eu não quero discutir com você e sei que tem muita coisa na sua cabeça agora, mas eu sei o que é melhor para o meu marido.
- Como o Jackson? Ele era o melhor para o seu marido?
- Eu não preciso me explicar para…
- Alguém como eu? - Taehyung completou irritado, vendo Hoseok arregalar os olhos ligeiramente, mas voltar ao normal mais rápido do que Taehyung consideraria normal.
- Eu me afasto se Yoongi me pedir pessoalmente para fazer isso, até onde eu sei você está adjacente no contrato que os dois tem comigo. Yoongi tem a última palavra, não você.
- Tae, você não sabe no que está se metendo. Eu estou tentando te proteger. Yoongi vai acabar com a sua vida, assim como ele faz com tudo em que toca.
- De todas as coisas que eu imaginei vindo de você, um bom samaritano nunca entrou na minha lista.
- Eu não quero que nada aconteça com você. - Hoseok resmungou com certo pesar que não foi notado pelo mais novo.
- Isso foi uma ameaça?
- Não Tae, não foi.
- Não me chama assim. - Taehyung faltou bater os pés no chão, emburrado. O que o deixou ainda mais irritado, ele não era uma criança, mas Hoseok conseguia entrar nos seus nervos e bagunçar completamente sua mente a ponto de lhe causar sérias enxaquecas, como a que estava prestes a começar agora.
Taehyung suspirou pesadamente.
- Eu não sei o que quer comigo Hoseok. Sinceramente não cabe a mim terminar um contrato, pelo menos não quando não é o que eu quero fazer.
- Você e eu sabemos que isso não é verdade. Se você for até Namjoon e mostrar para ele seus machucados…
- Yoongi está morto.
Hoseok encarou Taehyung por um tempo, parecendo quase apavorado só com a intenção daquela frase.
- O que? - Sua voz saiu rouca e quase falha.
Hoseok podia ser muita coisa, mas era óbvio o quanto ele amava Yoongi. Parecia quase uma obsessão doentia algumas vezes, mas era amor. Taehyung podia sentir cada vez que passava mais tempo com eles.
- Você não conhece Namjoon tão bem quanto eu. Pode até parecer um acidente, uma desventura da vida ou até mesmo um simples suicídio, mas vai ser ele. Ninguém toca no que é dele, não importa o quão poderoso você acha que é. Namjoon veio do esgoto e da podridão que cerca esse lugar, você não pode lutar contra isso com seu dinheiro e advogados luxuosos. O único motivo de nada ter acontecido com você quando machucou meu punho naquela festa foi porque Namjoon estava de bom humor e eu tinha uma carta na manga para intervir a seu favor, nada além de pura sorte. Não vai acontecer de novo.
- Ele é um homem de negócios, tenho certeza que…
- Ele não é. Esse homem de negócios que você vê, é só uma fachada. Se Namjoon descobrir o que Yoongi fez comigo, mesmo que sem querer…
Taehyung sentiu seus olhos lacrimejando e seu corpo tremer ligeiramente.
- Confia em mim, Hobi. Não mete Namjoon nisso, se você o ama tanto quanto eu acho que ama, não tome nenhuma atitude sobre isso. Eu sei me cuidar e posso lidar com o que quer que seja que você está pensando que não sou capaz. Só não faça nada que possa se arrepender mais tarde.
Hoseok tocou nas mãos geladas de Taehyung tentando acalmá-lo.
O que aquele garoto já viu de tão terrível que o deixou assim?
- Confiar em você. - Hoseok sussurrou vendo Taehyung concordar de cabeça baixa.
- Eu posso fazer Yoongi desistir deste contrato se for o caso. Sei ser manipulador quando preciso, só me dá um tempo para lidar com isso. Não posso fazer isso agora.
Hoseok concordou com a cabeça, pensativo.
- Desculpa aparecer assim do nada, eu sei que as coisas pra você não estão tão boas.
- É, tem muita coisa acontecendo. Aliás, eu preciso ir, mas conversamos sobre isso mais tarde. Pode ser?
- Diga ao seu pai que lhe desejo melhoras. - Hoseok concordou distraído, se desencostando do carro e partindo num instante, como se nunca tivesse estado ali.
- Posso pedir um carro para o Sr.?
Taehyung deu um pulo, lembrando vagamente do segurança que se aproximava enquanto falava.
- O que ?
O segurança apontou para o bolso de Taehyung, o que o fez lembrar do bilhete de Namjoon com certo pesar.
- Sim. Vou subir um pouco, me avisa quando o carro chegar.
…
O lugar para onde o motorista do Namjoon o levou era nada mais, nada menos que um hangar de voo particular no aeroporto central. A área era isolada e com pouca iluminação. Um bom lugar para cometer um assassinato silencioso.
Se Taehyung não soubesse o quanto valia mais vivo do que morto para Kim Namjoon não teria tanta firmeza em suas pernas para acompanhar o segurança enorme que o levou até um galpão alto e escuro na lateral da pista particular de voo.
Seus passos faziam eco no lugar e seus olhos nublavam com a pouca iluminação, mas voltaram ao normal pouco depois de ver um jato numa lateral do galpão, que Tae reconheceu como o avião particular do Namjoon por já ter viajado nele algumas vezes, e no canto oposto estava uma mesa de escritório mal encaixada onde Namjoon estava sentado numa pose relaxada e elegante.
Os dois foram deixados a sós e o silêncio reinou entre eles mais uma vez.
Namjoon não parecia nada contente e seus dedos eram delicados demais ao revirar algumas páginas de papéis aleatórios na mesa.
- Tem algo para me contar?
Taehyung sentiu os pelos dos braços arrepiando pelo tom seco e grave daquela voz, mas fez o seu melhor para não se desestabilizar. Se tinha uma coisa que Namjoon odiava era fraqueza e isso ele aprendeu bem cedo na relação deles.
- Foi você quem me chamou aqui e não ao contrário.
Os papéis pararam de ser remexidos em instantes e a mandíbula do mais velho travou, antes dele finalmente levantar a cabeça e encarar Taehyung que fez o seu melhor para não sair correndo e aos berros dali.
- O que estou fazendo aqui afinal? - Taehyung olhou ao redor com certa curiosidade.
Namjoon sorriu do seu jeito perverso e negou com a cabeça.
- Não sei se você é incrivelmente estúpido ou fatalmente desrespeitoso, mas vou jogar seu jogo por enquanto.
- Meu jogo?
Namjoon concordou com a cabeça, chamando Tae com a ponta dos seus dedos para uma sala minúscula na lateral do hangar que ele não tinha reparado. Parecia um lugar improvisado feito com um container de armazenagem.
Taehyung sentiu um gelo descer por sua espinha, como se tivesse entrado num frigorífico e Namjoon acendeu uma luz pendurada no meio do lugar.
O mais novo engoliu em seco, vendo o Dr. Byun de joelhos no canto do container. Os braços amarrados por correntes pesadas, vestindo só uma calça desgastada.
- O que você fez? - Taehyung perguntou num sussurro.
O homem estava todo machucado, com cortes profundos no peito, um olho roxo, o nariz torto com certeza quebrado e os cabelos bagunçados e molhados com algo denso, como sangue coagulado.
Taehyung tremeu por todo seu corpo enquanto tentava não chorar ou cair de joelhos em pânico.
- Você disse que minha palavra não tem valor. Quero que tenha certeza de que não é verdade. - Namjoon disse baixo e calmo, como se falasse com uma criança.
- Eu não…o que…
Namjoon caminhou até Byun e puxou sua cabeça para cima pelos cabelos oleosos, fazendo a luz escassa iluminar os olhos apavorados do pobre coitado.
A falta de pelo menos um resmungo do Byun era preocupante. O cara parecia já quase morto.
- O que está fazendo? Por que estou aqui?
Taehyung sentiu sua voz tremer, mas honestamente sua atuação não era tão boa assim, ele estava apavorado e agora parecia como tal.
Namjoon sorriu, se sentindo satisfeito por estar de volta no controle da situação e bateu a mão livre na lateral do container, causando um estrondo maior que o esperado, o que fez Taehyung quase pular no próprio lugar. Seus pés deram alguns passos para trás espontaneamente, até ele encostar na lateral oposta da parede de metal.
- O que quer de mim? - Taehyung murmurou praticamente sem voz, engolindo seco.
Um dos seguranças de Namjoon entrou com uma espécie de espada nas mãos e Taehyung praticamente deu um gritinho, mas milagrosamente ele conseguiu se manter travado no lugar e em silêncio.
Namjoon suspirou desanimado, pegando a espada das mãos do segurança.
- Os pais do nosso querido Dr. aqui, são pessoas poderosas nas quais infelizmente meus negócios dependem, então quero que saiba que minha palavra à você é tão importante quanto a minha palavra para qualquer outra pessoa. Isso vai causar um bom estrago se descoberto. Entende o que estou dizendo?
Namjoon virou na direção de Taehyung que concordou sem saber muito bem o que fazer.
- FALA. - Namjoon berrou e dessa vez Taehyung realmente pulou de susto. - Quero ouvir você dizer.
- S..sim, eu entendo - Taehyung gaguejou com os olhos brilhando pelas lágrimas que nunca desciam.
Namjoon sorriu e virou na direção do Byun enquanto entortava o punho num movimento singelo com a espada, até descer numa velocidade assustadora na direção da cabeça do seu prisioneiro.
Taehyung não viu particularmente nada, porque Namjoon estava na sua frente, mas o barulho que a espada fez ao cortar o vento e a cabeça rolando nos sapatos caros do mais velho vai ficar colado na sua mente para o resto da sua vida.
Taehyung gritou quando finalmente entendeu que aquilo parado aos pés de Namjoon era uma cabeça, mas ele não ouviu o próprio som saindo da sua garganta.
Seus braços enrolaram como proteção por seu corpo que escorregou para o canto do container frio. Seus olhos não desgrudaram daquela cabeça inanimada, nem mesmo quando a porta foi aberta e Namjoon entregou a espada para o segurança que a tinha trazido.
- Nunca mais me ponha à prova criança. Você talvez não goste do que pode desencadear com suas palavras. - Namjoon praticamente sussurrou nos ouvidos de Taehyung antes de sair calmamente do lugar ou pelo menos foi o que pareceu para o menor.
- Sr. Kim?
Tae levantou a cabeça com dificuldade. Ele não fazia ideia de quanto tempo ficou agachado naquele lugar, mas seu corpo inteiro doía e parecia tão gelado e travado quanto sua mente. O segurança que o levou ali ajudou o garoto a ficar de pé e praticamente o carregou de volta até o carro que foi buscá-lo mais cedo.
Não havia mais ninguém à vista além deles dois e Tae sinceramente queria deitar em sua cama e nunca mais levantar.
- Desculpa, não sei o que está acontecendo. - Taehyung falou trêmulo quando o segurança perguntou algo à ele pela terceira vez.
Ele por algum motivo já estava no banco de trás do carro e o segurança estava sentado na abertura da porta traseira o encarando com certa pena ou preocupação, ele não sabia dizer.
- Está tudo bem. O Sr. está em choque, é normal depois do que passou.
Taehyung engoliu em seco.
- Ele é tão cruel. Eu já até imaginava, mas como ele pôde me fazer assistir aquilo? Como ele pôde matar alguém?
O segurança pareceu pensar sinceramente no que dizer.
- Ele na verdade nunca fez isso antes.
- Matar alguém? - Taehyung perguntou com os dentes praticamente batendo um no outro pelo frio, já que a adrenalina no seu sangue estava finalmente abaixando.
O segurança se levantou e foi até o porta malas, voltando com uma manta desgastada, mas um tanto quanto quentinha.
- O que quis dizer? Antes. - Taehyung perguntou depois de agradecer pela manta.
- O que o chefe fez o deixou vulnerável à você. Agora você sabe do que ele é capaz, mas também é uma testemunha. Você pode derrubá-lo, isso mostra o quanto ele confia em você.
- Ninguém pode derrubar Kim Namjoon, ele me mataria bem antes de algo assim acontecer. Ele não confia em ninguém.
O segurança sorriu negando com a cabeça.
- Sei que pode parecer assim, mas eu conheço o Namjoon desde criança. Nós crescemos juntos e confesso que ele não é nenhum santo e já tem sua cota de crimes cruéis durante sua vida, mas ele nunca matou por ninguém além dele mesmo. Bom, pelo menos não até agora.
- Eu não pedi isso. Eu não quis isso. - Taehyung suspirou quase engasgando com seu próprio descontrole.
- Eu não quero me intrometer, nem vou, mas você não devia desafiá-lo se não quiser que ele vá ao extremo por você.
Taehyung encarou o homem à sua frente em completa indignação.
- Qual seu nome?
O cara pareceu finalmente desconcertado por estar tão próximo assim de Taehyung.
- Felix, Sr.
- Não devíamos falar do seu chefe quando ele não está presente, Felix.
O cara se imperdigou todo, levantando às pressas.
- Tem razão. Minhas sinceras desculpas, Sr. Kim.
Taehyung concordou com a cabeça, voltando ao seu estado vegetativo, que provavelmente ainda levaria um tempo para realmente passar e suspirou aliviado ao finalmente se ver distante daquele lugar aparentemente esquecido por Deus.
…
Taehyung revirou na própria cama por uns três dias e quando finalmente levantou Jimin parecia quase saber o que estava acontecendo, apesar dele ter certeza que o menor não tinha ideia.
- Não somos mais amigos? - O garoto vestido de pijama de unicórnio perguntou quando Taehyung sentou na mesa da cozinha encarando seu cereal sem nenhuma vontade de colocá-lo na boca.
- Ham?
- Perguntei se não somos mais amigos.
- Claro que somos. Por que isso agora?
- Você não me falou sobre seu pai, sumiu a semana toda, não falou mais nada sobre seus daddy's.
- Não queria te preocupar, você estava no hospital também, lembra?
- Tae Tae, você sabe que eu só vou ficar preocupado se começar a esconder as coisas de mim.
Taehyung concordou com um sorriso meio desanimado no rosto.
- Então sobre o seu casal particular, eles estão de bem com você?
Taehyung deu de ombros.
- Sim, por que ?
- Porque eu queria fazer um churrasco no terraço da sua avó e hoje é dia de você ficar com eles. - Jimin fez um bico super fofo.
- Churrasco?
- Eh. Faz tempo que não ficamos com eles, mas se você tiver que sair eu posso pensar em outro dia.
Taehyung encarou Jimin por um tempo.
Se o baixinho queria comida, então era melhor não dizer não.
- Hoseok não me ligou e o Yoongi sumiu da face da Terra, então acho que tudo bem. Só preciso ligar para o meu pai.
- Já liguei.
- Já? - Taehyung tentou segurar uma risada.
- E já tô indo pra lá, porque aparentemente o terraço tá uma zona e a grelha tá suja, então você compra as carnes e missô e enquanto eu e sua família fazemos o restante.
- Aquele terraço tá caindo aos pedaços. - Taehyung resmungou distraído.
- Vai ser divertido, te vejo na sua casa. - Jimin deu um selinho no Tae e saiu praticamente correndo dali, como se o maior pudesse mudar de ideia há qualquer momento, o que era bem o caso.
…
Taehyung estava há pelo menos meia hora encarando uma prateleira de descartáveis no mercado quando alguém cutucou seu ombro de maneira nada delicada.
- Eih. - Ele estava prestes a xingar o idiota quando notou que conhecia o sem noção sorridente a sua frente.
- Seokjin?
- Já falei pra me chamar de Jin. O que faz por aqui? - Jin perguntou sorridente, enquanto encarava o carrinho de compras de Taehyung com curiosidade.
- Eu moro aqui, mais ou menos.
Jin encarou Taehyung à espera de mais explicações, que obviamente não chegaram.
- Você por outro lado está bem longe de casa. - Taehyung resmungou com certo interesse.
Encontrar Jin parecia mais karma do que coincidência, depois do último episódio com Namjoon.
Taehyung sentiu um calafrio nas costas, mas não teve muito tempo para analisar o porquê, antes de Jin voltar a falar feito uma matraquinha.
- Você pensa que eu só pesquiso culinária fora do país? Eu adoro a comida de rua daqui, venho sempre que posso.
Taehyung encarou Jin com descrença, olhando ao redor pra se certificar que não estava na rua.
- Vim comprar alguns ingredientes que eu só encontro aqui. - Jin se justificou balançando as mãos em negação com certo exagero.
Taehyung concordou com a cabeça, distraído.
- E você?
- Churrasco. - Taehyung falou olhando para o próprio carrinho.
- Jura? É um evento especial? - Jin balançou o corpo com ansiedade, as mãos juntas nas costas e os olhos ansiosos.
Era difícil ficar bravo com o cara. Ele era obviamente mais velho que Taehyung, mas parecia uma criança pedindo doce no momento.
- Meu pai acabou de sair do hospital.
- Oh! Ele está bem? O que houve?
Tae negou com a cabeça, odiando lembrar daquilo.
- Foi assaltado atrás do restaurante em que trabalhava.
- Seu pai cozinha?
Tae concordou com a cabeça.
- Em algum restaurante que eu conheço?
Taehyung quase riu da ansiedade do mais velho.
- Não tenho certeza, você deve ter passado por ele. Fica ali na esquina. - Taehyung apontou para o que ele pensava ser o lugar que seu pai trabalhava, até ser mandado embora por causa transtorno na viela do lugar, já que alguém tinha chamado a polícia ao ouvir a briga na noite em que Byun encurralou seu pai, mas ele e Hoseok chegaram antes deles. O que não era nada impressionante. A polícia mal ia naquela parte da cidade. O que não significa que o dono sovina do restaurante não descobriu o ocorrido e mandou o Sr.Kim embora sem direito ao pagamento da semana pelo incômodo e mal agouro que seu pai causou ao ter a polícia no local rodeando os vizinhos e causando problemas desnecessários para sua clientela.
- Você tá brincando, eu adoro aquele restaurante. Eles fazem uma barraca incrível de frutos do mar no festival das flores.
Taehyung concordou com a cabeça, já que já ajudou o pai em um desses eventos quando era pequeno.
- Agora você vai ter que me convidar para esse churrasco, quero muito provar da comida do seu pai.
O mais novo ficou um tempo olhando o cara com o cabelo rosa na sua frente sem saber muito bem o que fazer.
- Quando vai ser esse churrasco?
- Agora, eu acho.
Jin riu exageradamente.
- Melhor ainda, tô morrendo de fome. Eu levo a cerveja. - Ele berrou enquanto saía correndo pelos corredores.
…
Taehyung puxou uma cadeira ao lado da viga que separava o terraço do resto de telhados do bairro e se inclinou para afofar a coberta da avó sentada numa cadeira de balanço improvisada que seu pai havia feito no seu aniversário de 70 anos.
- Quem é o garoto maluco com o caderno nas mãos, criança?
Taehyung encarou a avó, depois olhou para Jin que anotava algo que seu pai falava pra ele enquanto arrumava a lâmpada da rede de luzes improvisada acima da mesa de plástico em que eles iam jantar.
- Ele é um amigo, halmeoni. - Tae explicou sem ter muita certeza disso.
Ele gostava de Jin, mas nunca pensou em se aproximar do cara. Até porque Namjoon mataria qualquer um que se aproximasse dele.
Taehyung suspirou, já desanimado com o quão a vida tinha mania de morder sua bunda.
- Ele parece bem interessado no seu pai. - A mulher falou desconfiada.
- Ele é dono de um restaurante, está provavelmente arrancando receitas do Appa.
A velha senhora concordou com a cabeça e sorriu para o Jimin que se aproximava com um pedaço enorme de carne na boca.
Pelo menos ele tava comendo.
- O que vocês estão fofocando aí no canto?
- Estamos falando do quanto você é lindo meu menino. - A velha paparicou o menor que sorriu sem graça.
Taehyung revirou os olhos, segurando Jimin pela cintura quando ele resolveu sentar no seu colo.
- Esse Jin é o Jin que eu estou pensando? - Jimin sussurrou no ouvido do maior com suas mãozinhas tampando o som, como se mais alguém estivesse interessado no que ele tinha para dizer.
- Você o conhece?
- Namjoon me levou no restaurante dele ontem.
Taehyung enrijeceu o corpo de imediato.
- Por que ?
- Por que o que?
- Por que ele te levou lá? - Taehyung parecia ainda mais desesperado e curioso.
Ele era o único que Namjoon levava lá, se Jimin esteve perto de Jin, era por algum motivo que ele não sabia se queria realmente saber.
Será que Namjoon queria substituí-lo? Não que fosse má ideia.
- Ele queria saber sobre você, na verdade.
- Sobre mim? - Taehyung teria pulado no banco se não fosse por Jimin no seu colo. - Saber o que exatamente?
- Como você estava e essas coisas. Ele se preocupa muito com você.
Taehyung concordou distraído. Jimin dificilmente via o mal nas pessoas, não seria agora que ia ser diferente.
- E o que você disse?
- A verdade. Que você está estranho essa semana, mas que logo logo ficaria bem.
Taehyung sorriu forçado para o pequeno fofoqueiro em seu colo e o abraçou forte.
Jimin precisava ser guardado num pote e protegido. Ele era inocente e puro demais para o mundo. Pelo menos a parte do mundo que não envolvia sexo, nessa parte ele era uma putinha safada.
- Vamos comer? - O Sr. Kim perguntou animado enquanto entregava para Jin alguns pedaços de carne já fatiados.
Pra ser sincero, até que a noite foi agradável. E pra calar a boca de Taehyung, Jin foi incrível, educado e praticamente a alma da pequena festinha deles.
No entanto, só pra lembrar que ainda estava ali, o karma de Taehyung se manifestou quando Jin ofereceu um emprego para o seu pai, lembrando o menor que seria impossível esconder aquele pequeno encontro do Namjoon.
Jin saiu praticamente saltitante do terraço, com uma marmitinha na mão e seu caderninho de receitas enrolado em forma de cone no bolso traseiro da calça Jeans. Taehyung o acompanhou até a entrada do prédio quando o motorista virou a esquina e colocou o bêbado falante no banco de trás do carro do segurança particular do Seokjin, mas não antes dele ganhar vários beijos e abraços desajeitados do mais velho.
A esse ponto, Taehyung só não queria ver como Félix olharia para ele do outro lado da rua depois daquela cena toda.
- Essa foi uma jogada perigosa. - O segurança do Namjoon disse saindo das sombras ao seu lado como a porra de um fantasma.
Taehyung suspirou desanimado.
- Acredite, não foi uma jogada. Pelo menos não minha. - Taehyung resmungou voltando para o apartamento, desanimado e confuso.
...
Uma semana se passou desde o encontro estranho que Taehyung teve com Seokjin e nada de Namjoon.
Era até meio bizarro, mas o mais novo podia jurar que Namjoon bateria em sua porta com os olhos assassinos e uma espada em sua mão. Pra falar a verdade era no que ele andava sonhando por uma semana inteira sem interrupções, como a porra de um disco arranhado rodando e rodando a mesma coisa sem parar ou mudar o que fazia por nada no mundo.
Seu rosto andava um trapo e seu telefone tocou um milhão de vezes, o único problema é que ele não queria falar com ninguém, então ele ignorou todas as ligações que pôde, até o Namjoon ressurgir das cinzas, mandando Félix em sua porta lhe entregar mais um bilhete em mãos.
Taehyung estava quase caindo no chão pelas pernas bambas sem nem mesmo abrir o papel, no entanto sua surpresa ao realmente ler o que tinha escrito no maldito papel foi quase cômica.
Jin, às 20h. Esteja lá!
Ótimo.
Taehyung encarou o relógio velho na parede da cozinha.
Eram quase 18h, talvez Namjoon tenha feito de propósito, lhe dando pouco tempo para pensar numa saída.
Não demorou muito tempo para que ele entendesse que sua única saída seria estar na porra do Restaurante do Seokjin na hora marcada e foi exatamente o que ele fez.
Seus olhos quase lacrimejaram quando a porta do carro abriu e ele se viu na frente do restaurante um tanto quanto lotado para uma quinta feira à noite.
Pelo menos ele achava que era quinta, ele já não sabia mais dizer. Sua mente estava um caos.
A visão de Namjoon sentado na mesa de sempre, com alguns seguranças em pé atrás dele foi o suficiente para desestabilizá-lo quase por completo, mas seu instinto de sobrevivência e a facilidade que tinha em se manter quieto e analítico em momentos de crise o fez caminhar com elegância até a mesa do seu chefe e sentar na sua frente assim que um movimento de mãos o fez garantir que era isso que o mais velho queria.
Namjoon continuou comendo em silêncio, o fazendo quase se balançar em completo desespero de um lado para o outro na cadeira.
Suas mãos pressionaram a madeira em que estava sentado enquanto sua feição parecia relaxada e inocente como só ele era capaz de fazer.
- Eu faço isso há muito tempo. Meu pai me criou para os negócios da família, eu sabia dizer o nome da família antes mesmo da palavra mãe. - Namjoon colocou um pedaço de carne mal passada na boca e encostou os talheres de forma audível em seu prato de porcelana, encarando Taehyung com seus olhos cruéis dedicados a poucos de seus inimigos que tinham o privilégio de sentar com ele antes de terem suas cabeças cortadas, o que ironicamente nem era mais só figura de linguagem na mente do mais novo.
Taehyung sentiu um bolo de desespero grudar em sua garganta, mas seu olhar permaneceu estatelado, quase alheio às claras ameaças de intimidação do outro.
- Por que me trouxe aqui? - Taehyung perguntou curioso, olhando ao redor sem relaxar muito com a multidão ao seu redor.
Nada impediria Namjoon de lhe causar mal, se este assim quisesse. Mas por que ali?
Namjoon passou um tempo considerável encarando Taehyung, até finalmente dar de ombros.
- Eu sempre te trago aqui. Por que a surpresa agora?
- Não achei que quisesse me ver tão cedo, aparentemente minha boca grande interferiu nos seus negócios, quando eu te obriguei a tomar medidas drásticas contra o agressor do meu pai, por assim dizer.
Namjoon sorriu suave, voltando a comer sua carne pingando sangue.
- Você leva jeito com as palavras Kim. - Namjoon riu mais uma vez, negando com a cabeça para algo que ele parecia achar extremamente engraçado.
- Eu te trouxe aqui porque me sinto confortável neste lugar. Te mostrei um lado meu no qual ninguém nunca viu antes, pelo menos ninguém que realmente viveu pra contar. - Namjoon pareceu viajar em algum pensamento profundo antes de continuar seus argumentos com suavidade. - No entanto, eu me tornei uma ameaça à sua segurança quando questionou minha lealdade e de repente, este lugar já não me parece mais tão confortável e você se transformou na porra de uma incógnita. - Namjoon limpou a boca com o guardanapo de seda, indicando com os dedos para um garçom próximo, que ele podia retirar o prato da mesa.
- Uma incógnita, ameaçado, lealdade. - Taehyung nomeou tranquilamente encarando aquele homem com calma.
Namjoon era um animal ferido aos seus olhos e só de pensar que ele provavelmente encarava Taehyung como se ele o tivesse encurralando, lhe dizia que sua vida naquele momento era o menor dos seus problemas.
Ele analisou suas opções em alguns segundos, então não sabia se conseguiria sair dessa, mas que outra alternativa ele tinha além de pelo menos tentar?
- Você matou um homem na minha frente, me deixando traumatizado por provavelmente toda minha vida. Me chamou aqui com algum intuito completamente enigmático e ainda por cima olha pra mim como se eu fosse um de seus inimigos ou pelo menos uma pedra incômoda no seu caminho. - Taehyung coçou o nariz irritado, olhando ao redor enquanto tentava se acalmar. - Que porra você tá fazendo Monnie? De repente eu sou alguém que você não pode confiar? Meu pai foi atacado por causa da merda que eu trouxe para a vida dele, eu peço pra você consertar esse erro e você me encara como se eu fosse alguma espécie de inimigo jurado ou algo assim. Que merda você pensa que está fazendo com a minha cabeça? Eu sou só a droga de um garoto de programa que você gosta de foder quando tem tempo livre. Por que está gastando tempo comigo? Não confia em mim? Me mata. Não me quer por perto? Me manda ficar longe. Você manda na porra da cidade inteira. Por que está falando comigo como se eu importasse? - Taehyung suspirou quase aliviado por soltar tudo que tinha trancado na garganta. - Eu não sou ninguém. - ele resmungou por fim, encarando um Namjoon um tanto quanto imóvel à sua frente.
O mais velho pareceu quase que em choque com o desabafo de Taehyung. Ele estava genuinamente surpreso, mas não durou muito tempo.
- Jin é minha única fraqueza e você é o único, além da minha segurança particular, que sabe disso . Eu o ameacei um dia e no outro Kim Seokjin apareceu na casa dos seus pais com você. O que quer que eu tire disso Taehyung? Eu estou te tratando de igual para igual, porque pela primeira vez em muito tempo, alguém está a altura de se tornar uma considerável ameaça para mim e para meus mais sensíveis objetivos pessoais.
Tae negou com a cabeça rindo abertamente daquela merda toda.
Como se ele precisasse de mais problemas na sua vida.
- Com todo respeito, você não é descuidado, Namjoon. Tenho certeza que mandou alguém me seguir para "minha proteção" quando meu pai foi ameaçado por Byun. Pergunte pra quem quer que seja que me seguiu na semana passada e você vai descobrir que eu encontrei Jin por pura coincidência e que foi ele quem se empurrou para minha casa quando eu comentei que Jimin estava fazendo um churrasco para comemorar a saída do meu pai do hospital. Coincidência? Sim. Plano maligno? Eu seria muito burro em te ameaçar abertamente dessa forma pra chamar isso de plano. E além do mais, o que você acha que eu faria? Eu fodo, não sei matar pessoas ou planejar a derrota de gente poderosa. Eu tô sinceramente pouco me fodendo pra tudo isso, só quero que você me deixe em paz.
Namjoon sorriu quase se admirado com o quanto Taehyung era louco em falar tudo aquilo ou muito corajoso, vai saber.
- Olha! Eu não sei se você está sofrendo alguma instabilidade nos seus negócios ou se eu fiz algo pra merecer sua desconfiança, mas honestamente eu estou cansado dessa merda toda, não quero mais ficar tremendo de medo do que você pode ou não fazer comigo. Honestamente não me importo mais, aquela merda que você fez comigo no hangar me fez ver o quanto eu estava enganado em considerar você algo além do meu empregador. Não quero que me trate diferente, não quero sua atenção, nem sua confiança. Eu sei que forcei alguns privilégios no passado, porque sabia que você meio que gostava de mim e me favorecia, mas não quero mais nada disso. Eu vou trabalhar pra você pelo tempo que minha avó precisar de tratamento e é só. Não pedi pela sua confiança e o mais importante, eu não a quero. Só deixa eu fazer meu trabalho e me mantenha longe da sua vida se possível, por favor.
Namjoon sorriu quase que de um jeito paterno, concordando com a cabeça de maneira distraída.
O mais velho balançou a mão como se espantasse um mosquito ou era um sinal de que ele estava deixando o assunto de lado, Taehyung já nem sabia mais o que pensar.
- Só mais uma coisa. Por que seu pai está trabalhando aqui?
Taehyung se sentiu perdido por um tempo, mas seu suspiro de alívio falou bem mais alto que qualquer outra coisa.
- Jin vai ao bairro do meu pai experimentar culinária local nas barracas de rua. Ele descobriu que meu pai cozinha coisas do tipo e ofereceu um emprego a ele. Como eu disse antes, o encontro com Seokjin foi uma absurda coincidência.
- Já disse para me chamar de Jin. - O chef apareceu de trás de Taehyung com uma bandeja de sobremesas em uma das mãos e sorriu largo beijando Taehyung na bochecha e bagunçando seus cabelos com a mão livre.
Taehyung queria muito cair morto ali mesmo.
Como é que um simples gesto, como um inocente beijo no rosto, poderia simplesmente foder com a paz mais curta da história entre Taehyung e Namjoon?
Seokjin obviamente sentou na mesa sem ser convidado e pediu sobremesas estranhas para eles comerem, o que Taehyung se manteve resoluto em admitir que estava uma delícia.
Namjoon passou todo o tempo encarando Jin como se ele fosse uma divindade ou algo assim, então Tae não viu nada demais em levantar e ir visitar seu pai na cozinha assim que o restaurante fechou para o público.
Ele estava terminando de ajudar a lavar os pratos quando Seokjin o abraçou por trás e deitou a cabeça nos seu ombro.
- Você e o Namjoon são namorados?
Taehyung tirou as luvas das mãos e virou para encarar um Jin com olhos apaixonados e um sorriso bobo nos lábios.
- Quem disse que eu sou gay? - Taehyung falou com seu famoso sorriso inocente e estranhamente retangular.
- Eu...ham…
Taehyung soltou uma risada exagerada batendo no ombro de Jin com o pano de prato que estava em seu ombro.
- Relaxa. Eu estou só brincando com você, não é como se eu escondesse algo de qualquer forma. Ah! A propósito desculpe me infiltrar assim na sua cozinha. Eu vim conversar com meu pai e acabei dizendo que terminava a limpeza para ele ir para casa liberar a cuidadora que fica com a minha avó quando as coisas não estão muito boas.
Jin passou de tímido à extremamente preocupado, agarrando Taehyung pelos braços e arregalando seus olhos sinceros.
- Ela está bem? Vocês precisam de algo? Por que seu pai não falou nada antes?
- Eih! Calma, minha avó tem altos e baixos, mas está tudo bem, estamos acostumados.
A porta lateral que dava para o salão do restaurante foi aberta abruptamente, fazendo Seokjin pular alguns sentimentos do chão e praticamente se esconder ao lado de Taehyung.
Tae tentou fortemente não rir daquilo, mas foi impossível resistir.
- Eih! Não tira sarro dos meus sustos. - enquanto o mais novo era praticamente espancado por um irritado e francamente envergonhado Seokjin, o que mais chamou a atenção de Taehyung foram os olhos assassinos de Namjoon nas mãos de Jin. Como se o fato de ser tocado pelo cara de cabelos rosas fosse quase que uma dádiva.
Depois de delicadas despedidas entre o chef atrapalhado, agora chefe do pai de Taehyung. Os dois foram caminhando lentamente até o carro de Namjoon e o silêncio não parecia desconfortável dessa vez, era quase como se Taehyung tivesse entrado no mundo que Namjoon via e simplesmente não pudesse compreendê-lo de certa forma.
- Desculpa meu ciúmes exagerado antes, mas a ideia de perdê-lo me deixa doente. - Namjoon resmungou parecendo verdadeiramente honesto pela primeira vez.
- Por que você tem tanto medo de perdê-lo e ainda assim não se aproxima dele ou pelo menos diz o que sente? - Ele resolveu perguntar enquanto encarava o céu através do vidro filmado do carro em que estavam.
- Estar na presença de Jin é como viver num paradoxo. Como uma estrela que já morreu, mas ainda existe. É como nascer tudo de novo, mas no lugar de uma alma limpa e inocente sobre a vida eu tenho essa coisa lodosa e negra no lugar, na qual não se vê mais brilho e nunca mais será a mesma, mas então eu coloco meus olhos na sua direção e é como se pudesse ver através dos olhos dele. Eu não posso voltar no passado e pegar os pedaços de alma que eu joguei pelo caminho, mas eu consigo ver o brilho em Jin e por uma fração de segundo é quase como se eu sentisse o que ele sente, uma alma espelhada que se esvai como se nunca estivesse estado ali. Esses fragmentados segundos de um sentimento puro cuja alma jamais será capaz de sentir igual nesta vida ou em qualquer outra, valem o preço do mundo pra mim. Entende agora meu desespero só de pensar no que eu tenho a perder agora?
- Eu não sei como responder a isso.
Namjoon riu de forma relaxada e um tanto que anormal para os ouvidos de Taehyung.
- Talvez não haja uma resposta.
- Pra ser sincero, acho que você deveria falar com ele, afinal ele não teria me perguntado se você tem namorado, se não estivesse interessado.
- Ele perguntou isso a você?
Quase isso.
- Perguntou.
Namjoon parecia um tomate de tão vermelho e Taehyung quase achou fofo.
Talvez não fosse uma ideia tão maluca ver aqueles dois juntos afinal.
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