Capítulo 5

A festa estava linda, como esperado da esposa de Yakov. Ela não havia deixado de pensar nos mínimos detalhes como cores vibrantes e quentes, a comida que era de origem japonesa, logicamente para agradar nossos convidados, e também na transformação de nossas prostitutas em belas damas da sociedade para desestressar os ânimos dos homens. Eu ainda me surpreendia com a maneira que conseguia organizar um evento tão rápido e mesmo assim perfeito. Havia diversos garçons e fotógrafos, mesmo que estivesse completamente sem nenhuma vontade de festejar, era impossível não admirar o trabalho feito. Compareci ao local como devia me vestir, extremamente elegante. O vestido longo preto realçava além dos olhos azuis, os meus longos cabelos castanhos claros que cresceram rápido, estavam até a cintura, soltos e levemente cacheados. O scarpin rotineiramente usado era vermelho, mostrando nitidamente a combinação das cores que mais gostava.

Não demorou muito para que eu tivesse sido recebida por Mikhail que colocou meu braço em apoio ao seu.

— Não me lembro de ter contratado um homem de meia idade para me receber na entrada — Provoquei, caminhando em direção à mesa onde estava Yakov e sua esposa.

Mikhail permaneceu calado, olhou-me de forma penetrante e sorriu sem jeito quando nossos íris de encontraram, antes de sentarmos a mesa, sendo cumprimentados por quem já estava.

Haviam sido contratadas muitas pessoas para o evento, para não causar tanto alarme das autoridades locais. Mesmo que comprássemos um ou outro, sempre haveria um intrometido que daria uma de suicida conosco. Autoridades como juízes e políticos não poderiam ser vistos conosco em um evento tão aberto, por isso, não era comum que fossem.

Quando fui servida com uma taça de champanhe, olhei para a minha acompanhante de mesa incrédula. Ela ergueu a sobrancelha, como se já soubesse o que estava pensando.

Lara tinha a plena consciência que eu odiava aquela bebida e não aceitaria qualquer uma a não ser um bom vinho de qualidade.

— Com licença, irei me servir de uma bebida de boa qualidade — Avisei, apontando para o bar antes de deixar a taça sob a mesa.

Lara riu junto com seu esposo, assentindo com a cabeça, sendo rodeada pelo braço de Yakov sob seus ombros. Mikhail foi chamado por um homem desconhecido e levantou-se, antes que pudesse ouvir o que dizia.

Levantei-me sob olhares dos soldados ao redor da festa, dos capos e dos meus companheiros de mesa. Todos pareciam estar bem atentos aos meus movimentos, o que era completamente desconfortável. Ao dar alguns passos longos, esbarrei com uma mulher alta de cabelos cacheados e castanhos escuros com o sorriso contagiante. Impressionei-me por sua beleza. Estava fotografando todo o local, com certeza, era uma civil e não tinha ideia do que estava fazendo ali. Ela olhou para mim, com desespero por ter cometido aquele ato e pediu desculpas por ser desastrada.

— Qual seu nome? — Perguntei sem expressão, apenas observando o desespero da mulher em tentar redimir sua falta de cuidado.

— Zaíne de Godoy, me pagaram para fotografar o evento e... Está tudo tão bonito! Desculpe por tamanho incômodo.

— Zaíne... — Pronunciei seu nome novamente e abaixei a câmera de suas mãos. — Não registre mais nada — Chamei o garçom com uma das mãos — Ao invés disso, se divirta. — Peguei a taça de champanhe e dei em sua mão para que bebesse.

— Mas...

— Não se preocupe, você mesma disse que a festa estava bonita, sinta-se à vontade. — Liberei a garota de seu trabalho, não por querer que realmente se divertisse, mas porque não queria que àquelas fotos fossem vazadas, principalmente fotografias minhas. — Divirta-se! — Desejei simpática ao ver as luzes claras do ambiente dando lugar ao jogo de uma boate, assim como a música que ficava em um ritmo mais rápido, mais dançante.

A garota sorriu de forma contagiante, mostrando os dentes. Não sabia explicar o porquê, mas havia passado uma sinceridade que não via há algum tempo, foi boa a sensação que ela me trouxe em seu sorriso. Era como nos conhecêssemos de algum lugar antes.

Dei as costas para a menina, dirigindo-me até o bar do outro lado do salão, peguei a primeira garrafa de vinho que vi pela frente e encostei-me no balcão, para olhar para pessoas que estavam ao redor. Algumas dançavam loucamente como se suas vidas dependessem disso e outras, mais distantes, conversavam ao escuro, provavelmente sobre negócios.

Eu precisava beber para aguentar aquela noite.

Algumas mulheres conversavam coisas fúteis e olhavam-me como se eu fosse um ser de outro mundo. Porém, mantinham respeito e tremiam somente se cruzasse com seus olhares. Os japoneses não tinham chegado e por isso, eu já estava começando a duvidar que viessem. Até que, na porta, apareceu ele e sua acompanhante, somente com dois soldados, sozinho. Era inacreditável a tamanha confiança do homem de vir ao um território inimigo sozinho. Por isso, era questionável se ele estava fazendo isso apenas por confiança ou estava zombando de nós. Ao vê-lo, Mikhail e Yakov largaram tudo o que estavam fazendo, seguindo a direção que estava tomando para ir ao encontro dele.

— Mochizuki Kazuki. — Cumprimentei-o em tom grave. Ele olhou fixamente com os olhos semicerrados para os meus, em uma tentativa de intimidar.

Falha.

Mas válida.

— Senhorita Volkov. — Sua voz era grave e sexy ao mesmo tempo.

O homem aparentava ter cinquenta anos e mesmo assim, estava em forma e daria qualquer surra de beleza em alguns garotos de 20 anos. Os olhos puxados demonstravam sua descendência assim como a da sua acompanhante, o terno preto caro dele junto com o vestido decotado de sua acompanhante, luxuria.

Por que o perigo parecia ser mais atraente?

Ele se inclinou para beijar a palma da minha mão direta em um gesto educado e depois retornou os olhares de ameaça, iguais o da chamada.

— Está tudo muito bonito — Sua acompanhante elogiou, com o seu tom de voz infantil.

— Você não fala. — Ele repreendeu, apertando o braço dela.

— É que...

— Não conteste! — Rosnou, apertando fortemente.

Após a cena, ela abaixou a cabeça, contemplando o chão. Yakov apertou um de meus ombros, sinalizando que não deveria me meter entre os dois. Suspirei fundo para não matá-lo depois de tratar a garota como se fosse o seu dono.

— Volkov, eu me senti grato pelo convite. — Assentiu, dando uma piscadela. — Por isso, atendi ao pedido, vim pessoalmente para que possamos tratar de negócios — Estendeu a mão para Yakov que a apertou e para Mikhail que deixou sua palma no ar, não correspondendo ao seu aperto. Percebendo isso, ergueu-a e deu tapas leves sob seu rosto, como uma forma de cumprimento. — Mikhail, quanto tempo. — Falou, sarcasticamente. — Sumiu, não deu mais notícias, pensei que havia sido assassinado! — Sorriu, ainda no mesmo tom.

— Hahaha... — Riu de forma forçada. — Ainda não, é mais fácil ser o assassino. — Declarou, também batendo uma de suas mãos contra o rosto do japonês.

Todos que sabiam a real situação nos olhavam com preocupação, afinal, poderíamos facilmente nos matar ali mesmo.

— Yakov, como está sua esposa? Há muito tempo não a vejo e...

— Perfeitamente bem, em minha proteção, obviamente. — Falou Yakov em tom rude, perdendo a paciência com o convidado. — Vamos nos sentar e conversar, um favor feito é sempre de bom agrado.

— Claro. — Concordou o asiático, dirigindo-se para mesa no centro junto conosco.

Os olhares de luxuria não deixaram de me encarar, Mikhail percebeu sua intenção maldosa e rodeou o braço em minha cadeira.

— Atena, quem diria que uma mulher assumiria a organização, em? — Começou após nos sentarmos. Chamei o garçom, ainda em silêncio para nos servir. — Não que tenha algo contra — Sorriu, levantando as sobrancelhas rapidamente.

— Você não tem que ter algo contra, não te diz respeito — Interrompi, retribuindo o mesmo sorriso falso.

— E eu dou graças que em meu negócio seja diferente! — Expressou seu machismo de forma explícita, referindo ao patriarcado. Eu virei os olhos, tentando-me manter calma para discutir o que interessava.

— Quero que pare de roubar minha carga. — Anunciei, interrompendo a conversa fiada do asiático.

— Eu quero tantas coisas, Atena... O que me faria parar?

— Negócios, dinheiro. — Yakov mencionou.

— Ou poder, poder move o mundo, não é Mochizuki? — Questionou Mikhail, semicerrando os olhos. — Mas ao invés disso, você vai parar. Porque se não for por bem, será por mal. Nós iremos fazer o mesmo, repetidas vezes, portanto, os dois lados sairão em prejuízo.

— Está me ameaçando, garoto? — Levantou-se Mochizuki, ajeitando o terno.

— Apenas alertando, o mundo dos negócios é realmente difícil. Uma hora, estamos no poder e outra... — Levantou-se também, não querendo perder a postura.

— Se atacar, atacaremos também. Não seria mais fácil resolver essa merda de forma amigável? — Dei apoio a Mikhail, levantando-me e erguendo o torso juntamente com o rosto.

Yakov balançou a cabeça em negação, provavelmente sem saber o que fazer com companheiros tão teimosos como nós. Começamos a chamar atenção das pessoas que olhavam com desconfiança, por isso, sentamos-nos novamente.

— Mochizuki, é claro que os dois lados estão tendo prejuízos, mesmo sem a nossa atuação. Você por colocar soldados que deveriam estar cumprindo outra função para fazer e nós por perdemos a carga. — Falou Yakov, com o olhar fixo.

O japonês passou a mão pelo queixo, analisando a situação.

— Atena, você cresceu mais de 80% o tráfico de drogas desde que ocupou a cadeira de seu pai. Para selar o pacto, desejo apenas 20% dos lucros das cargas.

— Mochizuki, não me leve a mal — Sorri e desviei o olhar novamente antes de encará-lo. — Não vou lhe dar nenhum centavo. Não nas minhas costas. Você deve ser grato por estar aqui, ainda vivo. Não tenha dúvidas, se levar isso adiante, eu mesma atirarei na porra da sua cabeça. — Completei, sendo acompanhada de sorrisos sarcásticos dos homens da mesa.

— Que mulher brava! — Expressou em tom de humor. — Não irei atacá-la mais por não ter tempo para isso — Pausou antes de continuar. — Além disso, você foi uma mulher forte, suicida, mas forte. — Riu, recebendo o revirar de olhos. — Por isso, está feito. Eu não a ataco e vocês correspondem com o mesmo para o bem das populações de ambos os países. — Concluiu seriamente. — Porém, qualquer ato em falso, será a sua morte. Não duvide do quanto posso ser um bom assassino.

Assenti com a cabeça e continuei sem expressão, posteriormente, apertamos a mão como forma de selar o trato.

— Divirta-se, essa porra aqui é para você. — Falei antes de me levantar da mesa com os meus companheiros. — Gastei o meu uísque mais caro, espero que não me arrependa! — Disse em tom sarcástico o que consequentemente, fez dar um sorriso de canto de boca, concordando com a minha frase.

Lógico, desde que a paz fosse selada aquele desgraçado poderia usufruir das minhas bebidas mais caras.

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A festa ocorria perfeitamente bem para todos os efeitos, o japonês já não expressava nenhuma ameaça e parecia estar se divertindo assim como o resto dos convidados. Tirando a mim, que estava doida para aquele tormento acabar, para deitar no meu sofá com cheiro de uísque barato. Após a negociação com o japonês, sentamos mais uma vez na companhia de Lara, quando eu decidi me levantar para ir até o banheiro.

— Quer companhia? — A mulher perguntou de forma educada.

— Para quê? Vai me ajudar a limpar? — Respondi, fazendo-os rir antes de tomar meu caminho.

Era um alívio que ninguém havia me seguido simplesmente para ver se estava segura. Chegando a porta do banheiro, percebi que deveria realmente ter tido companhia, pois presenciei uma cena que me arrependeria pelo resto da vida de ter visto. O meu mais novo capo, Ivo, estava inclinado sob a pia, movimentando seu quadril para frente e para trás, com sua boca trocando salivas com a acompanhante de Mochizuki e, além disso, o sexo explícito era uma real condenação dos meus planos.

Era um inconsequente.

Antes de adentrar ao banheiro para dar um corretivo no filho da puta que poderia estragar todo o pacto por pura excitação, algo pior aconteceu. A imagem do japonês surgiu na porta assim como seu olhar de fúria para o ambiente que continha a cena.

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