Capítulo 70
DOR
Delegado Machado
— Ana! Pelo amor de Deus! O que há de errado com você? O que está acontecendo? Não
vê que Raquel vai matar esse garoto? Faça alguma coisa!
Como delegado, ele já havia visto praticamente de tudo. Mas a verdade é que todo aprendizado
e qualquer experiência que alguém pode ter, vai para o lixo quando a vida de alguém que nós
amamos corre perigo.
Ele ainda não compreendia o que seus olhos presenciavam. Parecia se tratar de um ritual.
Eu acabei de ver dois homens desaparecerem na minha frente, e não estou louco!
O pior foi assistir Liza morrer. Parado como um fraco, um velho impotente. Isso nunca lhe
aconteceu antes, mas ele não poderia ter arriscado a vida da sua filha. Ana descobriu a melhor arma
para ameaçar o delegado: Ela mesma. Ele perdeu todo o ar ao vê-la uma faca no próprio pescoço,
quando fez menção de se aproximar. Ele precisava remover o pobre garoto desmaiado dentro daquele
círculo de fogo. Raquel ainda espalhava sangue a sua volta e falava palavras desconexas.
O Delegado Machado lutava para encontrar uma solução, mas Ana apertava tanto a faca
contra si mesma que qualquer movimento dele poderia ser fatal. Estava desesperado.
Não sabia sequer com o que lidava para tentar persuadi-la a seu favor.
— Não se mexa senão eu me corto! — Ela enterrou mais a lâmina em si quando o viu colocar
a mão dentro do bolso. Precisava conseguir reforço com o rádio, pegá-la de surpresa.
Levantou as mãos em rendimento à sua ameaça e as manteve paradas próximas ao meu corpo
mais uma vez.
Ele se obrigou a observar a cena como um delegado, ao invés de um pai desesperado. Algo
naquela situação se assemelhava demais a um dos casos que voltou a investigar. Duas jovens menores
de idade, o terror no olhar do garoto, como se sua alma tivesse abandonado seu corpo por puro medo.
Ele reconhecia aquele horror, não era uma coisa fácil de esquecer. A semelhança com os três últimos
casos de semanas atrás. Jovens encontradas mortas no banheiro do Outlet, próximo a Winterhill.
Ambas com morte causada por infarto fulminante, ambas nascidas em 06 de junho. Ele se negou
a ver, já que o suposto assassino estava morto.
Até que olhou para o jazigo e observou o desenho em relevo. A mesma orquídea negra, maldita,
encontrada junto do corpo de todas as vítimas. E tudo fez sentido. Acusaram a pessoa errada.
Não foi Gilbert que acabou com a vida daquelas meninas em Los Angeles há quinze anos. O monstro
procurava a garota certa. E ele colocou sua filha nas mãos dele.
Parece que vai conseguir, enfim, a sua promoção, seu idiota.
***
Liza
— Raquel! Porque isso está demorando tanto? Faltam três minutos para a meia-noite!
Escutei a voz de Ethan. Em seguida, um barulho de tapa com um grito abafado. Alguém caiu
no chão.
Meus braços e pernas permaneciam desobedientes às minhas tentativas de movê-los. Era desesperador.
— Venha aqui, Ana! Agora! — Ethan soava muito nervoso.
Minha cabeça latejou quando fiz força para abrir meus olhos.
— Atire! — ele ordenou. Ouvi um gatilho em seguida.
Deus, o que está acontecendo?
— A Liza deveria estar acordada e ele deveria estar morto! O que vocês fizeram? Garotas estúpidas!
Atire, Ana! Obedeça a seu mestre!
Mestre? Do que ele está falando? Ele quer que ela atire em alguém? Devo estar ouvindo errado.
Deus, eu preciso me levantar daqui!
Após muito esforço, finalmente consegui me mover. Quase desmaiei ao me sentar. Meu corpo
parecia doente. Forcei a memória, mas toda a vida que eu conhecia, era esta de horas atrás.
Raquel estava sentada no chão e cobria a boca, onde um filete de sangue descia. O sangue escorria
das suas mãos para seu braço. Ana tremia ao lado dela e apontava a arma para o garoto desmaiado
no centro do círculo.
O delegado foi o primeiro a perceber que eu havia me sentado. Encarou-me com os olhos arregalados.
Deveria ter acreditado que eu estava morta, o que me levou a pergunta: "Por que diabos eu
estava deitada em um caixão?"
Ethan olhou para o delegado e, após ver sua expressão, virou a cabeça para mim.
— NÃO!!! O que aconteceu de errado???
O restante, registrei em segundos no tempo. Segundos que eu preferia esquecer. Ethan puxou
a arma da mão de Ana que chorava ao lado de fora do círculo e o delegado correu na direção
dele.
Ouvi o disparo.
Não tive forças para manter o meu olhar na direção do delegado e o desviei para baixo. Não
encontrei coragem para descobrir quem recebeu o tiro. Vi o círculo de fogo se apertar cada vez mais,
em volta daquele garoto inerte no chão. Alguém precisava tirá-lo dali!
Por que Ana e Raquel não fazem alguma coisa?!
Minhas pernas pesavam como filhotes de elefante. Tentei movê-las para tirar o garoto do
círculo, mas estavam duras como metal.
Ana desmaiou ao lado do meu caixão, e Raquel chorava convulsivamente escondendo o rosto
entre as mãos.
Ethan apareceu de repente a um palmo do meu rosto. Ele me encarou profundamente. Recuei
o tronco com medo, quase me deitando novamente no caixão. Os olhos dele estavam negros.
Um arrepio doloroso subiu por minha coluna.
— Ethan? Por que você fez isso?
— Shhhhh. Agora é hora de dormir, Liza. — Ele passou as mãos na minha testa. — Você só
vai acordar quando eu ordenar.
No momento em que ele concluiu a frase, meu corpo obedeceu.
A última coisa que ouvi foi outro tiro ecoar no vazio do cemitério.
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Quase acabando gente =;( alguém aí vai ficar com ressaca literária? Levanta a mão! o/
Conseguiram ler os capítulos 67,68 e 69 direitinho? Muitos me disseram que não abriu mas já postei de novo.
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Desculpem por não estar conseguindo responder todos os comentários, ainda estou sem pc postando de uma lan house =/
Beijosssssss
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