Capítulo 66
MALES PARA O BEM
Delegado Machado
Ele correu para dentro do cemitério ao ouvir o tiro.No que essa garota se meteu para ser ameaçada dessa forma?Era impressionante como algumas histórias tendiam a se repetir. Mentira. Era impressionantecomo as pessoas agiam de forma imprudentemente parecidas, e ele de algum jeito, acabava nomeio de uma confusão, problema, investigação...Não que estivesse reclamando do seu trabalho, era um delegado...
É o que eu faço.
Mas, justo na noite em que ele criou coragem para rever sua filha, precisavaencontrar a garota relacionada a um dos casos que foi forçado a arquivar como "não solucionado"?E ela, é claro, tinha que ser mais teimosa do que todo o resto. Não poderia ter esperado dentrodo carro como ele pediu. Ela tinha que correr para o meio do cemitério no meio da noite, atrás daameaça de um bilhete anônimo. Muito inteligente.
Talvez não seja a hora certa de rever Ana. Quem sabe? Há males que vem para o bem.
O Delegado Machado se embrenhou no cemitério, praticamente cego pela neblina, até esbarrarcom um corpo no chão. Reconheceu o sujeito. O único suspeito do dia do desaparecimentodos pais de Liza.
O cara cometeu suicídio?Que raio está acontecendo aqui?
Pegou o rádio no bolso para pedir reforço. Sem sinal.Uma das principais características que ele adquiriu com sua experiência foi saber e se recordarconstantemente que sempre havia um motivo por trás das estranhas coincidências, não importavao quê. Não importava o quão escondido. Ele existia. E ele passou a aplicar isso em sua vida.Pensou ter ouvido uma risada atrás dele e se virou apontando a arma. Não havia nada.
— Quem está aí?
"Tem certeza que quer descobrir?"
A resposta, sibilou nos ouvidos dele feito uma serpente.
***
Nathaniel
Cheguei ao cemitério e me deparei com brumas brancas cercando todo o lugar. Visto de cima,era como se as nuvens servissem para cobrir o mal que ali se instalou. Precisava desesperadamenteencontrar Liza. Eu jamais deveria tê-la deixado sozinha. Jurei naquele momento jamais repetiro erro, não importava o motivo.Segui o caminho pelo rastro da morte. Consegui sentir tudo o que aconteceu. Senti o medode Liza. Sabia que Ethan estava ali, em algum lugar oculto, como o Delegado Machado. Mas aindahavia mais alguma coisa. Algo que eu nunca senti antes. Algo muito poderoso e tão perverso quanto.
Parei ao ver o corpo de Emmanuel. Pobre homem. Afogado em seu próprio desespero. Sempreme entristecia ver a maneira com que os homens levavam sua vida. Mas agora eu compreendia,pois não sei o que seria de mim sem Liza.
Emmanuel estava deitado sob a lápide de Isadora."Querida e amada esposa, estaremos juntos em breve.", dizia o epitáfio dela.
Ajoelhei-me diante dele e fiz a cruz em sua testa.
— Que você vá em paz. In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti. Amém.
Infelizmente minha única certeza era o fato de estarmos lidando com algo desconhecido,poderoso e sem respeito à vida.Continuei a andar entre as brumas, agora guiado pelas marcas de patas entre as folhas, o queme tranquilizou um pouco, caso significasse mesmo o que eu pensava.Nunca vi uma Virtude, passar muito tempo na Terra.
***
Quase meia-noite
Liza
O caminho que segui, o único que consegui enxergar através das brumas, me levou a umaclareira que mais parecia o centro de um labirinto, cercado de árvores se fechando ao fundo, comoum beco sem saída. Ao menos o Husky Siberiano estava comigo.Eu olhava por trás dos meus ombros a cada som que ouvia. Temia que a mulher horripilantereaparecesse.Ao longe, podia ouvir os barulhos dos fogos de artifício. Nunca vi graça nessa festa. É apenasum dia que anoitece e trás o Ano Novo ao amanhecer. Só que, dessa vez, seria o novo milênio.Pelo alvoroço, deveria ser quase meia-noite.Deus! Há quanto tempo estou vagando por aqui?
Eu me virei para sair da clareira e procurar outro caminho.
— O delegado tinha razão, Liza. Esse lugar é perigoso — afirmou Ethan surgindo das sombras.
Soltei um grito pelo sobressalto.
— Ethan! Você sumiu lá atrás! Onde está o Delegado Machado?
"E como você o ouviu dizer isso, se ele falou no carro, a caminho daqui?", pensei em perguntar,mas permaneci em silêncio. Já havia coisas estranhas demais, não queria somar mais uma à lista.Ethan deu um passo em minha direção, o Husky Siberiano parado ao meu lado rosnou. Sem pararpara pensar, afaguei a cabeça dele. Ethan me olhou confuso, como se eu acariciasse o ar.Ele não via o cachorro? Será que eu deveria vê-lo?
— Vamos, Ethan! Precisamos encontrar Raquel e dar o fora daqui! — Eu quis prosseguirpelo caminho, mas ele se posicionou de forma a impedir minha passagem.
— Ainda não, Liza. Só um instante.
— Ethan? Você não está preocupado com Raquel?
— Ela vai ficar bem, Liza.
— Como você sabe? Onde ela está?
— Relaxe — pediu suavemente, me irritando com sua calma.Acariciando meu rosto, ele amaciou a voz e se inclinou para me olhar de perto. Seus olhosestavam na cor púrpura com pontos brancos, como uma constelação.Eu estava esquecendo algo que não deveria. Algo muito importante. Estava esquecendo e, derepente, não me importei.Meu rosto esquentou. Os lábios de Ethan pararam a centímetros do meu. O hálito dele cheiravaa orquídeas.
Senti brevemente a leveza do seu toque macio sobre minha boca. Mas fomos interrompidos.
Ouvi o barulho de osso se chocando contra pele. Um soco.
Ethan gemeu de dor, caiu no chão e xingou todos os palavrões que conseguiu.Não compreendi o que aconteceu. Estava sonolenta. Precisava me deitar.
O homem que deu o golpe me puxou pelo braço. Ainda ouvia Ethan gritando quando deixamoso beco:— Corpo maldito! E você, delegado! Você vai pagar por isso, seu imundo!
Fui praticamente arrastada, minhas pernas ficaram moles. Eu só pensava em deitar e dormir.O homem me encostou contra uma árvore e começou a checar meus sinais vitais. Com o dedão e oindicador ele arregalou meus olhos, checou minhas pupilas:
— Por que você fez isso? — perguntei com a voz embolada.
— Preciso ter certeza de que você está bem, Liza. Eu já pedi uma ambulância.
— Não. — Quase escorreguei do tronco onde estava encostada. O homem me amparou. —Eu perguntei, por que você deu um chute no saco do Ethan?
— Ele estava agarrando você, Liza! — Ele sacudiu meu ombro, o que fez o mundo girar àminha volta.— Estava? — respondi, sem vestígio de memória. Eu olhei ao redor.
O que estou fazendo em um cemitério?
— Ele drogou você, Liza? Você lembra se ele te deu alguma coisa?Balancei lentamente a cabeça de um lado para o outro.
— Vamos! Precisamos encontrar sua irmã! — O homem me puxou pela mão.
— Isso. — Foi o que respondi. Porque eu não queria contar ao homem que eu não tinha irmã,muito menos sabia quem ele era. E ele parecia nervoso.
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Olaaa! Gente, mil desculpas pela demora. Estou com o pc quebrado e vim postar de uma Lan House. Pra compensar, postei 3 seguidos e domingo postarei mais dois!
Expliquei também como vai funcionar o sorteio no final do capítulo 68! Participem! =D
Ah, nao esqueçam de votar e comentar!
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