Capítulo 64
O FIM
Emmanuel
Após ouvir Isadora no telefone, ele queria matar o safado. Não. Ele queria matar os dois. Ele mataria os dois. A meretriz grávida e o desgraçado. Pelo menos esse era o seu plano no dia em que a seguiu.
De acordo com a conversa no telefone do dia seguinte, o safado queria um último encontro, e ela, a meretriz, concordou.
Ele não podia acreditar no caminho que fazia. Não ali. Não ao lado de sua casa. Debaixo do seu nariz. Seria melhor que eles se deitassem em sua cama de uma vez.
Isadora estava indo para a pedra do lago Nayuko. A pedra da beira, onde passaram várias tardes de s verões, recostados sob a sombra de uma árvore.
Emmanuel pôde ver a silhueta do miserável ao longe. Silhueta prestes a virar presunto.
Ele estava armado, abaixou-se onde estava e mirou. O arbusto lhe protegia.
O presunto acendeu um cigarro e se virou ao ouvir os passos de Isadora.
Emmanuel precisou sentar. Foi tomado por uma tremenda falta de ar. Perdeu a mira e largou a arma no chão. Esforçou-se ao máximo para não se dedurar com sua respiração ofegante.
O presunto era Ethan. Seu enteado. Para todos os efeitos, seu filho.
O filho que ele abandonou junto de sua mãe em Londres.
Não soube ao certo quanto tempo se passou. Ficou ali, inerte, observando seu filho com sua esposa. Isadora ria, como há tempos não o fazia para Emmanuel. Ethan estava diferente. Tinha o porte de um homem, não parecia mais inocente, ingênuo. Seu olhar era quase felino.
Então, Emmanuel olhou sem a lente do ciúme e viu o que realmente acontecia.
Isadora não sorria de alegria. Sustentava os lábios esticados e os olhos congelados, e murmurava algo entredentes. Ele levantou-se rapidamente dos arbustos e viu que o carinho de Ethan na barriga dela, que antes lhe provocou ciúmes, escondia a ponta de uma faca pressionada sobre o seu ventre.
Ethan não ouviu Emmanuel chegando:
— Saia de perto dela. — Ele apontou a arma para a cabeça dele.
Ethan sorriu, sequer se virou.
— Então você resolveu aparecer. Como o velho covarde que sempre foi, achei que não viria.
— Saia de perto dela! — repetiu destravando o revólver.
— Atira. Eu pago para ver.
— Como pode dizer que eu sou um covarde? Ela é uma mulher. Solte-a e resolva seus problemas comigo!
— Só tem um jeito de me fazer soltá-la. Atirando.
— Desgraçado!
Ele sabia que Emmanuel não o faria. Não poderia matar seu próprio filho. O suor escorreu pelo seu rosto angustiado, pensou que fosse enfartar.
Isadora ofegava, os olhava confusa. Emmanuel nunca contou a ela sobre Ethan. Nunca contou a ninguém. Porque Ethan era, em carne e osso, a prova da sua vergonha. Emmanuel viu uma listra de sangue descer pela blusa dela. A faca cortou sua barriga. A imagem lhe desconcertou, e antes que ele percebesse o que fazia, acertou uma coronhada na cabeça de Ethan.
Não poderia prever o que aconteceria um segundo depois.
O peso dele, ao cair sobre Isadora, enterrou a faca em sua barriga e derrubou-a inerte no lago. A água cristalina se avermelhou ao redor dela. Em um minuto lá estava, sua Isadora, sem vida. E o que veio depois, bem, ele mesmo duvidaria se não tivesse visto com seus próprios olhos.
O corpo dela desapareceu, sugado pelo lago como água pelo ralo.
Emmanuel vasculhou até que a noite caísse, mas nunca mais viu sua Isadora.
Quanto a Ethan, o desgraçado acordou e fugiu. Emmanuel torceu, naquele momento, para que aquele fosse o último encontro dos dois. Porque se ele tivesse mais uma chance, não hesitaria em apertar o gatilho.
Agora, ele caminhava ao seu destino final.
Finalmente criou coragem e resolveu fazer o que já deveria ter feito há muito tempo.
Hoje seria o último dia em que seu corpo viveria na terra. Afinal, ele morreu aquela tarde, no lago.
Esta noite repousarei no Jardim dos Anjos. Onde jaz Isadora, em memória.
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Tem mais um a seguir! \o/
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