Capítulo 61
O BAILE
Liza
Eu carregava a sensação de levar chutes no estômago. Ameaçava suar frio. O motivo do desconforto estava além da falta de notícias de Nate. Meu corpo parecia me alertar de que algo muito ruim se aproximava.
Chegamos ao colégio. Na entrada, foi montado um arco branco, coberto por flores e luzes pisca-pisca.
O caminho até o auditório, além de indicado pelo tapete vermelho em meio ao gramado, estava iluminado por lâmpadas flutuando entre as árvores. Nas portas do auditório havia uma faixa suspensa com dizeres em vermelho:
"Parabéns aos formandos da turma de 1999".
Um arrepio subiu pela minha espinha ao ler aquilo. Uma repentina brisa fria serpenteou à minha volta. Alguém tocou em minhas costas. Quase gritei.
— Liza! Que bom que chegaram! Separei o nosso lugar em uma das fileiras à frente — Ethan anunciou, elegante, vestindo uma camisa de linho preta e calça da mesma cor.
Descemos os degraus do auditório e sentamos na primeira fileira, de frente para o palco. Ethan parecia ansioso ao meu lado.
Meus pensamentos vagavam o tempo todo. Não absorviam nada da cerimônia. Aplausos ensurdecedores de familiares orgulhosos eram tudo o que eu ouvia. Ethan apertou levemente o meu braço e olhou em direção ao palco. Era a vez de Raquel.
Ele se levantou da cadeira e soltou um daqueles assovios altos, de colocar o dedo na boca. Mantinha um sorriso enorme no rosto. Raquel o olhou por um instante e sorriu de volta. Seu rosto inteiro se iluminou, cheguei a invejá-los por um segundo, por estarem ambos no mesmo lugar, sem ameaças de vida, sem nada no caminho.
Imaginei o que meus pais diriam naquele momento, que a filha mais nova terminava uma etapa importante de sua vida. E a outra filha... "monstro... doença", repetiu a voz macabra e insistente em meu ouvido. O maldito diário.
A colação chegou ao fim e fomos todos convidados a nos dirigir ao ginásio, onde aconteceria o baile. O local estava decorado com candelabros, mesas redondas foram dispostas ao fundo do salão, deixando um espaço a frente para a pista de dança. Lírios e rosas vermelhas enfeitavam o ambiente iluminado por luz de velas.
Coloquei minha máscara e escolhi uma mesa no canto, isolada. Ben e Amanda conversavam animados, enchendo os copos de ponche na mesa que estava do outro lado do salão.
Ethan nos encontraria mais tarde, pois foi ao encontro de Raquel para a sessão de fotos dos formandos .
Era impossível não imaginar o que teria acontecido a Nate. Ele simplesmente não desapareceria dessa forma, muito menos levando-se em conta os últimos acontecimentos.
Já me preparava para uma longa noite.
Contanto que eu saia viva. Contanto que Nate esteja bem.
Fui até a mesa me servir de vinho. Uma mão repousou suavemente em minha cintura, uma ligeira sensação morna se concentrou onde a mão tocou. Eu me virei. Ele emanava um brilho rosado, parecia vindo direto dos céus em seu terno creme com a blusa de botões vinho por baixo.
— Nate — suspirei ao abraçá-lo e encostei minha cabeça em seu peito.
— Liza, que homem ousaria deixar tamanha mulher sozinha? — Ele me segurou pelo queixo e se inclinou para me beijar.
Algo parecia errado. Ele usava a máscara que Amanda me entregou, mas eu a havia deixado dentro da minha bolsa. E olhos dele... Não eram o habitual verde se derretendo em cinza. Não havia nenhum vestígio esmeralda. Estavam negros. Pela primeira vez, quis me afastar de Nate.
Dei um passo atrás e o observei, paralisada. Ele deu um passo à frente e colocou a mão no meu rosto. Minha pele esquentou gradativamente até me queimar. Meu sangue ferveu. Tentei gritar, mas minha voz entalou. Os olhos negros me aprisionavam e tentavam extrair algo de mim. Minha essência. Então ele baixou a mão, agarrou com força o braço que eu havia queimado dias antes e desapareceu. Ninguém em volta pareceu notar. Minha pele ardeu como se o fogo de seu toque tivesse trazido as queimaduras de dias atrás. Alisei meu braço em uma tentativa inútil de aliviar a dor e me perguntei se estaria alucinando.
Andei até Ben e Amanda para confirmar minha loucura.
— Vocês viram para onde o Nate foi? — tentei parecer indiferente.
— Eu não sabia que ele tinha chegado — respondeu Amanda.
— Ele estava ao meu lado quando me servi de vinho.
Amanda e Ben se entreolharam. Ele falou:
— Nós vimos, sim. Você sozinha, bebendo da sua taça que já está vazia. — Ben deu um toque de leve no meu copo para afirmar o que dizia.
Olhei a taça vazia e me assustei. Eu não havia bebido sequer um gole.
— Como vocês são desatentos. — Eu me virei para me afastar dos dois antes que levantasse mais suspeitas.
Sentia os olhares de Amanda e Ben queimando minhas costas. Eles deveriam estar se perguntando o que havia de errado comigo.
Definitivamente, aquele não era Nate.
Depois de perambular nervosa pelo ginásio, enchi a minha taça de vinho e sentei em uma mesa vazia para tentar normalizar a respiração. O tema do baile começava a me incomodar. Meus braços se arrepiavam a cada dez segundos. Os garçons usavam smoking branco e máscaras pretas que cobriam metade do rosto, como em O Fantasma da Ópera.
Notei que um deles me fitava com um olhar obstinado. Virei de costas, quis me convencer de que era paranoia. Mas ele veio atrás de mim.
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Oláá, e aí? O que estão achando? Estamos chegando aos últimos capítulos :,(
Amanhã tem mais um!
Beijosss e deixem estrelinhas e comentários que eu adoro! <3
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