Capítulo 47 e 48
DONS
Liza
Contei a Nate sobre a previsão da cartomante. Pensei que ele fosse gritar comigo, me censurar, mas simplesmente me abraçou, ligeiramente assustado. Como se minha revelação apenas confirmasse um fato já conhecido por ele.
Aninhei-me no peito dele, e as lágrimas desciam pelo meu rosto contra a minha vontade. Encharcavam a sua blusa, mas seu perfume e o calor de sua pele contra a minha, me mantinham inteira.
Eu relaxava à medida que deixava o morno me invadir, já cansada de tanto chorar.
Ele falou entusiasmado:
— Tenho uma ideia. Acho que mesmo que não a faça se sentir melhor, vai te distrair.
— O quê? — Perguntei já interessada. Qualquer coisa que o animasse daquele jeito, poderia fazer o mesmo por mim.
— Vou te mostrar algumas coisas que sou capaz de fazer. Você quer ver?
— Claro que eu quero!
A simples ideia mencionada me distraiu. Confesso que morria de curiosidade, mas temia magoá-lo pedindo que me mostrasse. Ele mesmo, ainda sabia pouco sobre seus dons.
Ele riu, parecendo satisfeito com a minha reação. Pegou as minhas mãos, entrelaçando-as nas suas.
— Feche os olhos e respire fundo, Liz.
Obedeci e senti o Penhasco girar à minha volta. Ao abri-los, estávamos na praia mais linda que já vi.
Nate me observava com expectativa. Suas esmeraldas reluziam com o magnífico por do sol. Nuances rosadas se espalhavam entre as pequenas ondas no mar. Onde o sol ainda batia, vislumbrei o azul turquesa da água cristalina. Já a visão no horizonte, essa eu gravaria na memória. Havia dois montes, altos e formados por pedras, que pareciam se abraçar como dois amantes fariam em uma despedida. Com os braços esticados um em direção ao outro, lutando para diminuir a distância entre si.
Eu me virei para olhar Nate. A reação que tive aos montes de pedra era a mesma que ele tinha a mim. Parei de respirar. Seus olhos, estavam cinza. Ele aproximou seu rosto do meu. Inclinei-me para beijá-lo, mas ele sussurrou em meu ouvido com ar divertido:
— Está pronta?
Eu tinha me esquecido completamente do motivo que nos trouxe ali. Assenti.
— Então, sente-se por favor. — Ele fez uma mesura, indicando a árvore atrás de mim.
Algo que eu jamais esperaria aconteceu: O galho mais alto da árvore se curvou perfeitamente até onde eu estava e me serviu de banco.
Perdi as palavras. Sentei-me sem muita confiança. Nate segurou minhas mãos e riu de minha reação assustada. Depois ele as soltou e andou em direção ao mar. Embora eu visse, ainda não conseguia acreditar no que estava bem diante de meus olhos.
Nate manipulou a água do oceano. Centenas de pequenas ondas surgiam de forma irregular no horizonte. Antes de me dar conta, eu me vi de pé ao seu lado, andei até ele atraída por seu magnetismo.
As ondas se uniram e se elevaram uns dez metros acima da superfície. Achei por um instante, que fossem cair voltando até o mar, mas permaneceram estáticas, flutuando acima da água. Abri a boca, estupefata. Pareceram-me vários segundos, até uma onda menor surgir na margem e a água subir como um braço até a altura do meu rosto. A água tocou minha bochecha em uma carícia e voltou ao mar, onde a onda gigante agora descia lentamente.
Congelei. Tive medo de me mexer e acordar, mesmo ciente de não estar sonhando.
— Você está bem, Liza? Acho que por hoje chega.
— Hum? Quer dizer que você pode fazer mais coisas? O quê?
— Eu sabia. Assustei você.
— Não! Isso foi... maravilhoso.
Nate riu, mas ainda não parecia aliviado.
— Acredito em você, mas agora vamos para casa.
— Não podemos ficar mais um pouco? — choraminguei.
— Sabe que não resisto quando fala assim, Liz. Mas você precisa descansar. Nós podemos voltar aqui depois. Essa praia é o fim daquela trilha que faríamos. Lembra?
— Me desculpe, Nate. Eu adoraria ter vindo naquele dia.
— Não peça desculpas, você não fez nada.
Eu tirei os sapatos e caminhamos em silêncio pela beira do mar. A água estava morna, a sensação era boa em meus pés. Quando criança, minha mãe me deixava abrir as latas de refrigerante só para escutar o barulho do gás. Lembrava-me o som das bolhas embaixo d'água. Percebi que estava mesmo cansada, e as lembranças me cortavam.
Nate também sentiu, era inevitável.
Ele parou subitamente de andar e esticou o braço acima de sua cabeça. De início, não compreendi o que fazia. Passados alguns instantes, pude ouvir o bater de asas se aproximarem. Não acreditei quando vi uma águia pousar em seu antebraço. Ele acariciou o bico dela e esticou o braço para mim. A águia me olhou e baixou a cabeça para que eu tocasse sua nuca. Em qualquer outra ocasião, eu teria me assustado. Em vez disso, estiquei a mão e meus dedos alisaram suas penas macias. A águia piou em um som de agradecimento, e voou rápido em direção ao sol que terminava de se recolher no horizonte.
— Agora, podemos voltar para que eu veja você dormindo em paz? Você está cambaleando, Liza.
— Podemos. Mas você fala como se você mesmo não precisasse dormir. Espera um pouco...
Eu nunca havia pensado nisso, mas ele dorme porque precisa, ou somente por estar comigo?
— Você dorme? Quer dizer, você precisa dormir?
— Digamos que sim. Eu durmo, não porque de fato preciso. Algumas horas por mês são suficientes.
Fiquei com raiva de mim por não ter pensado nisso antes. Todas as noites que passamos juntos, ele se forçou a dormir ao meu lado. Porque sabia que eu, em meu egoísmo, não passaria a noite em paz se ele não estivesse comigo.
— Liza, pare de se culpar. Eu durmo quando estou com você. Não há problema nenhum nisso. — Nate concluiu a frase passando os lábios em meu pescoço.
Em dois segundos, eu já não pensava em mais nada. Só percebi o quarto a minha volta, quando notei ter sujado o edredom de areia.
— Ei, isso não vale! Você não pode usar seus poderes comigo. — Tentei soar rígida, mas não consegui. Ele riu e continuou o trajeto com seus lábios quentes em minha pele. — Estou falando sério, precisamos terminar a conversa. — Consegui me desvencilhar, minha serenidade voltou.
— Se é assim que você quer, tudo bem. Vamos conversar, mas devo dizer que acabo de ter outra ideia. Acho que você vai gostar.
— Notei que você está cheio delas hoje. Ótima forma de desviar minha atenção.
— Apenas acho desperdício de tempo. Amanhã tenho um trabalho que não consegui cancelar e vai levar o dia inteiro. Então quero ter você ao máximo esta noite.
Fiquei muda. Meu coração deu cambalhotas da garganta ao estômago. Quando ele dizia ter você ao máximo... será que eu estava pronta?
— Liza. Não é disso que estou falando! — Ele se divertiu com minha confusão. — Pode ficar quieta e ouvir a minha ideia?
Envergonhada, apoiei a minha cabeça em seu ombro e esperei. O morno já fazia seu efeito.
— Eu nunca fiz isto, mas, como a minha mente está tão ligada à sua, acredito que além de dormir, poderíamos dividir o mesmo sonho. O seu sonho, na verdade. Eu espero você dormir e tento participar.
— Acho que não preciso dizer, qualquer ideia que lhe inclua me faz feliz.
Nate me beijou suavemente, o que deixou os meus lábios pegando fogo.
— Sonhe com o anjo, Liza.
Depois do banho, me deitei esperançosa com o sonho que prometia ser mágico.
Mas não foi isso o que aconteceu.
ARTEFATOS
Liza
O sonho se tornou rapidamente um pesadelo. No início, andamos a cavalo até um lago. O lugar era lindo, cercado por flores e altas montanhas. Soltamos os animais e mergulhamos juntos. A sensação da água morna, unida aos braços de Nate, me trazia uma paz profunda.
De repente, ele mergulhou a cabeça e demorou a reaparecer na superfície. Tateei desesperada pela água e não o encontrei. Nadei debaixo d'água com os olhos abertos, mas não vi nada.
Comecei a me sentir angustiada.
E se ele se afogou?
Quando ergui a cabeça, vi uma mulher. Bela e ao mesmo tempo, assustadora.
Seus cabelos negros desciam até seus pés. Seu manto azul de seda esvoaçava no ar, enquanto ela vinha em minha direção.
Despertei com os lábios quentes de Nate em meu ombro. Seu olhar transbordava preocupação.
— Que diabo foi isso? — Ofeguei.
— Só um pesadelo, Liz. Não fique pensando nisso. Desculpe. Acho que a minha ideia não deu muito certo. — Nate acariciou meu rosto parecendo culpado.
— Não foi culpa sua — acrescentei sem deixar de notar o brilho estranho em suas esmeraldas. Ele parecia saber algo a mais sobre aquilo.
— Eu preciso ir, Miosótis. Vou fazer de tudo para voltar mais cedo. Agora, por favor me escuta, Liza. Se o mero vislumbre de uma sombra aparecer, você?
— Vou direto ao Penhasco. Pode ir, Nate, eu vou ficar bem.
Ele saiu apressado após tomarmos café juntos, pois deveria chegar horas antes da cerimônia para fotografar o local.Ele passaria o dia todo fora por conta de um casamento. Nate tentou cancelar devido aos últimos acontecimentos, mas não houve tempo de conseguir um substituto. E como era, não deixaria o casal na mão, logo nesse dia.
Para aumentar minha tormenta, a Sra. Bárbara me ligou e ganhei uma folga porque o restaurante estava vazio.
Resolvi sair da mesa antes que perdesse o dia todo ali. A cozinha de repente ficou impregnada do cheiro de sal, de terra e de orquídeas. Meu nariz ardeu.
Abri a porta da sala, decidida a fazer um passeio. Dei de cara com Ethan, prestes a tocar a campainha.
— Olá, Liza! — disse sorridente. — Vejo que você está de saída, volto outra hora.
— Não, Ethan, entre. Eu ia apenas caminhar um pouco. Posso ir mais tarde.
— Obrigado.
— Sente-se. Bebe alguma coisa? Vou fazer um chocolate para me esquentar.
— Aceito o chocolate. Você ia caminhar com essa neve? — perguntou já sentado no sofá, ao tempo em que eu andava até a cozinha.
Percebi que deveria estar parecendo um pouco perturbada. Caminhar na neve era muito mais atraente para mim do que ficar em casa sozinha, sem nada para distrair-me de meus pensamentos.
— Pois é. Posso lhe confessar uma coisa estranha? Detesto dias de folga! — falei e ouvi sua risada. Nós conversávamos descontraidamente, eu da cozinha, ele da sala.
— Eu compreendo, Liza. Confesso que também prefiro manter a cabeça ocupada.
Ainda não sabia explicar o motivo, mas ao mesmo tempo em que Ethan me passava confiança, eu não me sentia confortável ao lado dele. Às vezes eu tinha a impressão de que ele me olhava com outra intenção. Logo em seguida, eu me arrependia de pensar essas coisas. Ele era sempre tão gentil e queria se casar com a minha irmã. Chegava a ser quase um insulto imaginá-lo dessa forma.
Pousei a bandeja na mesa de centro e sentei-me ao lado dele.
— Liza, eu vou direto ao assunto. Prometo não tomar muito o seu tempo.
— Você é bem-vindo, Ethan.
— Estou aqui para lhe pedir um favor. Gostaria de sua ajuda para escolher a aliança de noivado de Raquel.
Fui pega de surpresa. Não via Raquel há dias, mas parei de me preocupar, porque Ethan me mantinha informada por telefone. Mas não achei que fosse fazer tudo tão depressa.
— É... Claro, Ethan...
Ajudar a escolher o anel do casamento que eu ainda não aprovava não fazia parte dos meus planos. Eu poderia imaginar o que Raquel sentia em relação a isso, mas ainda não havíamos conversado.
— Vou entendê-la se achar que devo esperar mais algum tempo. — Ele olhou timidamente para o chão, tinha as feições ligeiramente magoadas.
— Eu vou com você, Ethan.
— Ótimo. — Ele voltou a sorrir — Posso buscá-la pela manhã?
— Amanhã? — Engasguei com o chocolate. — Pode sim, combinado. — Eu me vi obrigada a aceitar a derrota.
Não adiantar lutar contra isso. Não posso vencer Raquel.
Desisti de caminhar depois que ele saiu. Passei o resto do dia deitada no sofá. Precisava me acostumar com a ideia de ver a minha irmã caçula casada com um homem que conhecia há poucas semanas. Não tinha saída. Tentar impedi-la só a faria desejar mais o casamento. Fim da linha, ela iria dizer "sim", eu tinha certeza. Minha irmã queria se ver livre de mim, e a oportunidade se apresentou da forma mais conveniente possível. Ethan, além de tudo, era rico, algo que Raquel sempre enxergou como uma qualidade.
Fui acordada de meus devaneios quando Amanda passou correndo pela sala e subiu as escadas dizendo estar atrasada. Levei um susto. Talvez eu tivesse dormido, porque fitei a janela e vi que já anoitecia. Meu estômago roncou. Percebi que não havia comido nada desde o café e fui cozinhar alguma coisa. Ben chegou algum tempo depois. Ele lia o jornal na mesa atrás de mim, enquanto eu terminava de preparar o jantar.
Meia hora mais tarde, Amanda desceu as escadas usando um vestido preto, muito decotado, com o rosto coberto de maquiagem. Eu a olhei dos pés à cabeça, sorri para ela e movi os lábios:
— Outro encontro? Já é o terceiro?
Gesticulei para que Ben, que fingia ler o jornal, pois ele sequer piscava, não me ouvisse. Amanda balançou a mão sinalizando para que eu me calasse e se sentou de frente para Ben.
— Boa noite, Amandita. Você está linda! Mas... — Ben se levantou e com a mão no queixo andou à sua volta para olhá-la de todos os ângulos. — Onde é o Halloween?
— Não estou com paciência para as suas piadas hoje, ok? E você, Liza? Quais seus planos para hoje? — Ela tentou ignorá-lo, mas ele continuou falando.
— É apenas um conselho de amigo, calma. Acho que exagerou na maquiagem e o decote faz você parecer oferecida.
A campainha interrompeu a guerra prestes a se iniciar na cozinha. Amanda foi até a porta sem responder. Fiquei aliviada pela interrupção. Com ela saindo, os dois não teriam como se provocar. Mas ela voltou de repente, e trazia o seu acompanhante para nos apresentar.
— Liza, este é o Herbert!
— Prazer em conhecê-lo. — eu o cumprimentei e me virei para encarar o fogão. Pelo tom de vermelho na bochecha de Ben, eu sabia que ele não deixaria barato.
— Herbert? — ele perguntou com tom de riso. — Tive um amigo na faculdade com este nome e devo acrescentar, que belíssimo nome. Em honra de meu amigo, deixa eu te dar uma dica. — Vi de soslaio Ben passar o braço pelos ombros de Herbert e cochichar. — Não a leve para sua casa, ela ronca, ataca a geladeira de madrugada e sempre usa a desculpa de ser sonâmbula. E está vendo esse vestido preto? Tem esta cor para esconder as marcas da cinta que ela está usando por baixo.
— Me desculpe, Herbert. Esqueci de dizer que meu amigo é alcoólatra e vive se contaminando com DSTs, porque precisa pagar a alguém para dormir com ele.
— Amanda, eu acho melhor esperar você no carro, tudo bem?
Herbert seguiu em direção à porta e foi ignorado por Amanda, porque naquele momento, ela encarava Ben, parecendo tão furioso quanto ela. Eu nem fingia mais mexer na panela. Só os observava. Ela rosnou e se virou como se fosse subir para seu quarto. Eu a lembrei:
— Seu encontro foi te esperar lá fora.
Amanda voltou e bateu a porta com força quando saiu pela sala.
Ben riu e abriu novamente o jornal à sua frente.
— Hummmm, Ben? — perguntei um pouco constrangida. — Você gosta dela, não gosta?
— Claro que gosto, Liza. Do mesmo jeito que gosto de você.
— Não é desse gostar que estou falando, você sabe.
— Sei sim, querida. Quem não reconhece isso é ela. Eu disse a Amanda que poderíamos ficar juntos, se ela não quisesse nada muito sério.
— Foi isso o que disse a ela? E ainda não entendeu por que ela está agindo assim?
— Liza, eu não vou fazer juras de amor só porque nos beijamos uma vez e estou a fim dela. Ainda acho que isso estragaria a nossa amizade. É até melhor deixar as coisas assim.
— Tudo bem, então. Não se fala mais nisso.
Achei melhor não opinar mais antes que acabasse sendo culpada por alguma coisa.
Voltei ao meu quarto aceitando o fato de que teria uma longa noite sem Nate comigo. Para a minha surpresa, ele me esperava com um sorriso de orelha a orelha. Era a perfeição. Vestia um terno preto, uma blusa social vinho e gravata da mesma cor em alguns tons mais escuros. Perdi o ar. Meu anjo fotógrafo perfeito.
Antes que eu entrasse pela porta, ele me levantou do chão em um abraço de urso.
— O dia hoje foi longo demais — ele sussurrou e me apertou em seus braços.
Eu suspirei e enterrei meu rosto em seu pescoço. Esperei que seu cheiro me causasse o efeito esperado.
— Posso apenas concordar. — Sorri ainda suspensa no seu colo.
— Hmmm... Que saudade deste cookie de baunilha com chocolate. — Nate mordeu de leve o meu pescoço. Eu ri enquanto sentia um arrepio percorrer todos os meus poros.
— Eu amo você, Nate.
— E eu você, Ágape.
— Ágape? — perguntei.
Ele meneou um sim, aproximou os lábios de meus ouvidos e sussurrou:
— É uma palavra grega para o amor, possui diversos significados. Eu a reconheço como: Amor da alma. Como um dos Apóstolos o descreveu: "O amor é paciente, o amor é amável. Sem inveja, ele não tem ostentação, ele não é orgulhoso. Não é rude, ele não é interessado, ele não se irrita facilmente, ele não mantém nenhum registro dos erros. O amor não se deleita com o mal, mas rejubila com a verdade. Protege sempre, confia sempre, sempre tem esperança, sempre persevera. O amor nunca falha."
Perdi as palavras e o beijei. Senti uma lágrima escorrer pelo canto de meus olhos.
— Eu queria marcar para sempre esses momentos — suspirei.
— Seu pedido é uma ordem. — Nate me colocou de volta no chão e abriu a bolsa, que eu não havia reparado, na cômoda ao lado de minha cama. Ele montou um tripé e posicionou uma câmera no topo. Sentei-me na cama e o observei trabalhar. Escutei algo que me lembrou o som de dar cordas em um relógio.
— O que você está fazendo?
— Ajustando o obturador, o ISO e o diafragma da câmera para fotografar a modelo mais linda que já posou para mim. — Ele tirou os olhos de trás da lente e me deu um sorriso arrebatador.
— Não entendi nada dessa linguagem fotográfica — sorri pela empolgação dele. — Mas quero você na foto comigo. — Bati a mão no espaço vazio na cama.
Ele programou o timer e sentou-se comigo.
— Serão cinco fotos seguidas em dez segundos. Se bem que se ficar perto de mim assim, não vou conseguir olhar para a câmera uma só vez. — Sua boca roçou a minha quando falou, perdi o fôlego. Ouvi o primeiro clique.
Totalmente embriagada, olhei de relance para a máquina. Nate se aproveitou do movimento e enterrou a boca no meu pescoço. Foi beijando minha pele devagar, roçando os lábios até meu ombro. Ouvi mais dois cliques no tempo que me perdi totalmente em sensações devastadoras.
— Nate, eu quero uma foto do seu sorriso — ofeguei.
Ele olhou para mim e sorriu largamente, espontâneo, quando ouvi o clique final.
As fotos seriam meus artefatos de felicidade, a prova de que tudo foi real.
Quanto mais próximos ficávamos, mais eu sentia a distância que enfrentaríamos. A sombra a nossa espreita que crescia a cada segundo, pronta para nos deixar na escuridão.
Um toque oposto ao de Nate, de repente gelou minha pele. Dessa vez, ouvi a voz nitidamente. Sibilou em meus tímpanos:
"Aproveite enquanto ainda pode."
Olhei o calendário pregado na parede. Quatro noites para o ano novo.
Estremeci. Sacudi a cabeça para me libertar daquilo.
Havia ainda o convite de Ethan para a manhã seguinte. Eu precisava encontrar um jeito de convencer Nate. Definitivamente, ele seria contra.
— O que foi, Liza? o que você está aprontando?
— Nada.
Torci minhas mãos no colo.
— Liza, fale.
Nate ergueu meu queixo com a ponta do dedo. Suas esmeraldas devastaram todo o meu resquício de força.
— Ethan esteve aqui, hoje.
Ele uniu as sobrancelhas e trincou o maxilar.
— O que quer que seja, a resposta é não.
— Eu nem falei ainda, Nate.
— Por favor, Miosótis. Não me obrigue a ser duro com você.
Deitei-me desanimada na cama. Pelo visto, a noite seria mesmo longa.
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