Capítulo 45

PEDRAS

Liza


Eu me sentia péssima quando Nate me segurou no colo e deixamos a delegacia. Não que o Delegado Machado tivesse me dado alguma notícia ruim, afinal, ele falou apenas sobre o carro encontrado. Talvez, meu estado emocional fosse um reflexo da esperança estilhaçada mais uma vez pela verdade: Ainda não havia nenhuma notícia sobre os meus pais. Chegamos ao Penhasco e Nate sentou-se silencioso ao meu lado. O farfalhar do vento, o som das cachoeiras junto das ondas, dessa vez, não exerciam seu efeito calmante. Nate provavelmente já sentia a dor que me afligia, mas se esforçava para me dar espaço para pensar. Eu sentia o morno familiar se espalhando e se esvaindo. Como ter o sangue voltando a circular em um membro antes dormente, e que ficava dormente de novo.

Senti a grama em minhas costas ao deitar. Fechei os olhos e deixei o som das cachoeiras me invadir.

Eu queria encontrar alguma saída daquela prisão, mas não havia saída que me levasse a escapar de minha mente.

Os sentimentos que mantive aprisionados, lutavam para vir à tona. Eu não tinha mais forças para segurá-los. Quatro meses após buscar incessantemente por meus pais em Los Angeles, o Delegado Machado me convidou para um café. Óbvio que suspeitei, imaginei o pior.

Imaginei que havia chegado a hora de ouvir a temida notícia:

"Eles foram encontrados, Liza. Mortos." Mas não foi isso que aconteceu. Sentamos frente a frente. Eu o bombardeei durante o café com minhas habituais suposições, ele sustentava uma emoção diferente no olhar, me pareceu pena.

"Liza, está na hora de seguir em frente. Imagino o quanto isso é difícil para você e sua irmã, mas são quase quatro meses. Vocês são novas, têm a vida inteira pela frente. O conselho que lhe dou é: Saiam de Los Angeles. Enquanto permanecerem aqui, vocês não dormirão em paz." - Ele pousou sua mão sob a minha em um gesto de apoio. - "Estão me pressionando para arquivar o caso, Liza, mas juro a você que nunca deixarei de investigar. Eu não deveria fazer nada disso como delegado, mas prometi a mim mesmo que não deixaria esse caso se perder. Consegue confiar em mim?"

Naquele momento o mundo desmoronou aos meus pés. Como eu seguiria em frente? Eu não estava pronta para isso, para nada do que aconteceu. E Raquel havia se transformado em outra pessoa, como se me culpasse pelo ocorrido, ela não iria concordar, como na época não o fez. Ao refletir depois daquilo, tive a certeza de que jamais seguiria em frente. Eu simplesmente não poderia. O máximo que eu consegui foi adormecer a tormenta e voltei a viver ignorando o buraco em meu peito. Segurei as lágrimas e saí da lanchonete, estava perto do meu turno no trabalho. E como se o universo conspirasse a favor das palavras do Delegado Machado, fui demitida naquela tarde.

Então eu decidi aceitar a tristeza de continuar a viver sem meus pais. Coloquei uma pedra por cima de todo o meu passado, sem saber por quanto tempo isso seria o suficiente para calar a dor dentro de mim, e me mudei com Raquel para Winterhill. Tudo o que fiz nos dois meses seguintes, foi me esconder da saudade, das minhas dúvidas e do meu desespero.

Mas agora, eu sentia essa pedra me puxando para o abismo, amarrada emmeu tornozelo, ameaçando desequilibrar toda a minha estrutura.

Nate fez menção de se aproximar, quando notou que eu não respirava mais. Levantei a minha mão sinalizando que ele esperasse. Foi um soluço que me tirou o ar e com um espasmo, puxei o ar de volta.

Se Nate não tivesse aparecido naquela mesma noite e eu não tivesse mantido por seis meses a esperança de reencontrá-lo, talvez eu não tivesse conseguido. Mas ele me salvou de mim mesma. Ao descobrir que ele me amava, encontrei um novo motivo para viver, até então, eu estive apenas existindo.

O Penhasco era silêncio agora, exceto por meu choro e pelas cachoeiras. Nate se mantinha imóvel ao meu lado. Meu pranto saiu libertando a dor que eu guardara durante seis meses por meus pais. Liberei também outro sentimento. Uma dor dilacerante. Pelo medo do fim, pelo medo de ter que me despedir de Nate.

Algo além de meu entendimento me provocava essa angústia. Um calafrio gélido circulava em meu sangue. O mesmo que me arrepiou desde que eu podia me lembrar, noite após noite, substituído pela calma, que agora eu sabia vir de Nathaniel desde pequena.

Mas de onde vinham aquelas sombras? Será que Nate sabia disso? Daquele vento gelado de minha infância, que aparecia minutos antes que algo muito ruim acontecesse?

Essas mesmas sombras me faziam pressentir a nossa separação. Mas eu não me permitia acreditar.

Isso não pode estar acontecendo.

Infelizmente não pude deixar de associar o medo de agora, à mesma sensação da noite em que perdi meus pais.

Eu queria congelar o tempo. Queria desligar o cronômetro na minha cabeça, mas havia um sinal de alerta, piscando feito um letreiro luminoso. Cinco dias para o Réveillon.

Criei coragem e fiz o que deveria ter feito há muito tempo:

- Nate, eu preciso te contar uma coisa.

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Oláá, e aí?

O Reveillon se aproxima... O que acham que vai acontecer?

Não esqueçam de votar e comentar!

Beijoss e bom feriado amanhã!

Próx. capítulo - sábado

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