Capítulo 4

DESEJOS

Dois meses depois...

Liza

Hoje eu completava um mês no meu novo emprego. Trabalhava como garçonete em um pequeno restaurante no centro da cidade, o Horse Feathers. Nunca entendi o porquê do nome "Cavalo Alado", mas não cogitei perguntar à minha chefe. O lugar era semelhante a uma lanchonete de filme antigo, com decoração estilo jukebox. Aventais cor de rosa para as mulheres, verde, para os homens.

Decidi sair mais cedo de casa a fim de espairecer antes do trabalho. Sentei sob minha árvore favorita, perto do chafariz na praça, e comecei a ler Cem Anos de Solidão. O livro que ganhei de aniversário, dias antes da viagem a Los Angeles.

O som da água era tranquilizador. Fazia um dia de sol, e apesar da sensação de vazio entranhado em meu ser, consegui esboçar um sorriso sincero ao fechar os olhos e deixar o ar morno, que julguei ser do sol, me invadir e se espalhar por minha pele.

***

Eu não me lembrava de ter fechado os olhos. Quando os abri, quase pulei de alegria. Havia passado os últimos seis meses forçando minha mente a ter esse sonho.

Eu estou no Penhasco!

Sentei-me debaixo da árvore e esperei pelo que me pareceram horas em minha ansiedade. Até o ambiente começar a reagir, ao acontecimento esperado, da forma que já me era familiar.

Deliciei-me com o zumbido do vento e com o som das ondas abraçando as rochas lá embaixo. Fechei os olhos enquanto respirava com força. Não reprimi minha felicidade, foi impossível parar de sorrir. Se fosse como da outra vez, a qualquer momento, eu o veria. E fitaria seus olhos, verdes como esmeraldas. Mesmo sem saber o porquê daqueles sentimentos, bastou imaginá-lo para reacender os volts passando por minha pele. Meu estômago reagiu como se estivesse em uma montanha russa. Meu coração parecia ter pulado fora do peito.

***

O homem do Penhasco

Eu a vi à distância, do topo da colina onde me encontrava. Hesitei. Iria ou não ao encontro dela? Para ambos, seria melhor se nos mantivéssemos como antes. Alheios à existência um do outro. Quer dizer, ela estaria alheia a mim, mas eu saberia dela, como já o fazia há muito tempo.

Precisava me controlar. Mas seria rude da minha parte não me apresentar, isso faria de mim, um péssimo anfitrião.

***

Liza

De repente, ele estava lá. Encurtava a nossa distância. Caminhava em minha direção.

Parada como estátua, ofeguei enquanto o observava se aproximar. Seu rosto e seu corpo eram perfeitos. Aquilo só podia ser um sonho.

Mas por que parece tão real?

Senti uma vontade incontrolável de correr para seus braços e me encaixar em seu pescoço reluzente. Imaginei-me tocando em seus cabelos negros e inalando o aroma da sua pele.

***

O homem do Penhasco

Observei as bochechas rosadas dela, e o mel doce de seus olhos. Ela possuía um ar tão inocente. O rosto dela era um misto de menina e mulher. As ondas dos cabelos castanho-escuro dela, reluziam com o sol e desciam até sua cintura. Cogitei um milhão de palavras a dizer, e mais dois milhões de desejos, mas me contive com um.

***

Liza

Ele parou a centímetros de mim, respirei fundo. Ele me fitou durante alguns segundos, parecia analisar o próximo passo, até que sem rodeios, falou:

— Meu nome é Nathaniel — disse estendendo a mão.

 — Liza — murmurei com a voz fraca, aceitando a mão dele.

 Fui novamente atingida por aquele calafrio eletrizante, provocado pelo contato com sua pele. Eu não conseguia raciocinar direito e como não desejava perder um minuto da chance de olhar naqueles olhos novamente, soltei:

— Onde você esteve? Estou esperando há seis meses.

Arrependi-me assim que terminei de falar. O que estava acontecendo?! Estou ficando louca? Para a minha surpresa, ele exibiu um sorriso, que amoleceu meus joelhos. Depois, ele se inclinou em minha direção, roçou o seu rosto no meu e me abraçou, enquanto sussurrava no meu ouvido:

— Eu esperei você a minha vida inteira.

Mesmo certa de ser um sonho, estar nos braços dele, por aquele breve momento, me pareceu o fim da vida que eu conhecia. Proporcionou-me paz, me trouxe satisfação. O mundo pareceu estar certo de novo. Segurando uma de minhas mãos, ele acariciou o meu rosto entrelaçando seus dedos nos meus, com um meio sorriso estampado na face perfeita. Perdi alguns segundos admirando seus lábios rosados e carnudos, que contrastavam com sua pele branca de aparência macia. Evidenciavam ainda mais toda aquela perfeição de olhos, boca e nariz, adornados no rosto quadrado, responsável por testar toda a minha lucidez.

— Respondendo a sua pergunta — ele falou –, você ainda não estava pronta para me conhecer. Tudo aconteceu muito rápido, estava dando um tempo para você digerir. Aquele não foi o dia certo para nos conhecermos. Eu sinto muito.

Eu não o respondi de imediato. Só poderia ser coisa da minha cabeça. Além de parecer um anjo caído dos céus e ter tanto interesse em mim quanto tinha nele, ele falou como se soubesse algo sobre o dia em que meus pais desapareceram. O mais estranho foi quando disse "sinto muito". Soou como se ele tivesse algo a ver com tudo aquilo. Ele parecia realmente sentir muito, não estava apenas sendo educado. Será que ele teria algo a ver com o acontecido? Afinal, ele apareceu na minha vida naquela mesma noite.

O medo voltou a queimar em minha garganta, pois seus olhos me ocultavam coisas, que talvez ficassem melhores se permanecessem em seu devido lugar, desconhecidas.

— Obrigada — gaguejei. 


Nathaniel segurou meu rosto com as duas mãos e me fitou com as feições carregadas:

— Eu preciso ir agora.

— Não! Espere! — pedi como uma criança.

— Na verdade, é você quem precisa ir. — Sorriu enigmático.

Como assim eu que preciso ir?

Franzi a testa, muito confusa. Não queria deixá-lo partir.

— Você vai voltar? — apesar de todas as minhas dúvidas, eu queria ficar ali, com ele.

— Como se me fosse possível fazer o contrário.

Ele balançou a cabeça com descrença. Parecia pensar: "Como ela pode achar que eu não voltaria?" E sumiu.

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