Capítulo 27

CHAMADO

Liza

Eu não sabia mais se o Penhasco me atraía ou meu desespero me fazia acordar lá. Talvez fosse um ímpeto de esperança, motivado pelo desejo sufocante de matar a saudade de Nathaniel. Olhei para as colinas cercando o Penhasco. Senti a brisa da noite, ritmando com as ondas batendo nas rochas. E ao ver o céu repleto de estrelas, como se banhado por fogos de artifício, caí de joelhos na grama. Solucei seu nome o mais alto que podia. Sequei meu pescoço encharcado de lágrimas. Elas caíam silenciosamente.

***

Nathaniel

Ouvi sua voz soluçar meu nome. Senti o tamanho de seu desejo, era do mesmo que o meu. O elo entre nós era ainda maior do que eu pensava. Olhei ao redor e me vi no alto de uma das colinas que cercava o Penhasco. Não sei como o fizemos, mas Liza me puxou para longe do Coemeterium.

O céu estava iluminado pelas estrelas, como se nos presenteasse por estarmos ali. Vislumbrei-a a distância, debaixo da árvore, o alívio me preencheu. Liza não sabia ainda que seu chamado me libertou.

Fui até ela. Eu precisava desesperadamente acabar com sua dor. Apesar do medo me fatigando, resolvi lhe contar tudo. Por mais errada que fosse, essa era a minha escolha. Liza saberia, e eu, teria que aceitar sua decisão.

***

Liza

Senti um farfalhar ao meu lado e não acreditei. Nathaniel me olhava de cima. Chegou mais silencioso que o vento. Ele se ajoelhou e secou o canto dos meus olhos com o polegar. Eu não pude descrever quão absurda foi a paz que me invadiu ao olhar suas esmeraldas. Pensei que estivesse condenada a passar o resto da vida sonhando com elas.

- Odeio ver você chorar, Liz. Mas pelo menos você está bem. Eu estava agoniado, morto de preocupação.

Nathaniel segurou o meu rosto com ambas as mãos. Vi o pesar em seu olhar. Cerrei as pálpebras e lágrimas grossas escorreram por seus dedos. Eu tinha um milhão de perguntas a fazer, mas no momento só queria me certificar de que suas mãos quentes sobre meu rosto, não eram uma alucinação. Ele me puxou pela cintura e cruzou as mãos nas minhas costas. Ficamos de pé debaixo da árvore. Ele me observava com o cenho franzido, as esmeraldas aflitas.

- Você desapareceu, Nathaniel. Sumiu. Eu só imaginava o pior. Naquela manhã, a cozinha quase pegou fogo. E.. e... depois... Eu estive aqui várias vezes. Mas você não estava.

- Shhh... Minha pequena... - Ele me abraçou e aninhou minha cabeça debaixo de seu queixo. - Eu vou te contar tudo. Nunca mais vou sair do seu lado, eu prometo.

- E o que eu vou fazer se você sumir novamente? Prometa que me levará com você.

- Liza, você só diz isso porque desconhece a verdade.

Descansei a cabeça no ombro dele. O aroma de seu pescoço quase me cegou em meu êxtase, finalmente eu estava em casa.

- Então me conte. Porque não existe nada que possa dizer que me fará sair do seu lado.

- Eu o farei, mas só porque não sou forte o suficiente para ficar longe. O que seria melhor para você. - Ele suspirou pesadamente

- Esta noite, só deixarei o Penhasco se você vier comigo e trouxer a promessa de que ficaremos juntos. E nem adianta tentar me mandar de volta. Eu já aprendi a me manter aqui.

Sorri surpresa com a minha presunção. Nathaniel riu por cima da minha cabeça.

- Isso eu percebi. Já notou que está realmente aqui?

- O que quer dizer? Eu não estava das outras vezes? - Ergui o rosto que mantive encostado em seu peito.

- Olhe bem à sua volta, Liza. - Ele riu da minha expressão surpresa.

Naquele momento, me senti tola por estar tão desatenta. Mas como eu conseguiria reparar em algum detalhe com ele colado em mim daquele jeito?

- Então? Observou bem? - perguntou zombeteiro, porque eu ainda o encarava.

- Eu nunca vi tantas estrelas no céu.

- Nem eu - ele concordou, mas não parecia falar do céu. Nathaniel passou uma mecha que caia em meu rosto por trás da orelha. Vi os fogos de artifício refletidos em seus olhos. - E você é a mais brilhante de todas.

Ele me beijou suavemente nos lábios, nos olhos, nas bochechas, na testa, no pescoço e acariciou o meu rosto com o seu. Minha respiração ficou vergonhosamente arquejante.

- Nathaniel? - chamei com a voz fraca. - Assim fica impossível lembrar o que estávamos falando. - Ele continuou a alternar beijos suaves, com carícias em meu rosto.

- Eu direi em um instante - sussurrou em meu ouvido e seus lábios encontraram os meus com fúria.

O beijo foi intenso. A urgência da saudade estava latente na forma que sua boca se moveu com a minha. Enterrei a minha mão na sua nuca e segurei os seus cabelos. Puxei-o para mais perto. Suas mãos se tornaram mais firmes à minha volta e me apertaram.

Seu beijo me derrubava e ao mesmo tempo me elevava. Gritava-me verdades que eu ainda não compreendia. Havia fogo, paixão, seu corpo quente transbordava para mim, eu o desejava tanto, que sentia dor. Ele terminou o beijo, mas não me soltou, me abraçou com força cochichando em meu pescoço.

- Senti falta disso - disse com a voz doce. - Se soubesse como é difícil para mim ficar assim com você... A qualquer hora, eu perco o controle.

Suspirei fundo, atordoada pela massa de sensações que fazia o meu corpo girar.

- Eu também senti. - Ergui minha mão e tirei uma mecha do cabelo que caía em seu rosto. Ele fechou os olhos com meu toque.

Nathaniel acariciou meu braço suspenso e desceu lentamente sua mão até o meu ombro. Suas mãos continuaram o trajeto até minha cintura, onde me segurou:

- Nós precisamos conversar.

- Sim - concordei e continuei encarando-o, perdida naquele verde esmeralda, que agora me fitava meio acinzentado.

- Liza? - insistiu com um meio sorriso irresistível.

- Eu não consigo raciocinar quando ficamos assim.

- Isso é bom, eu temia ser o único a perder a razão.

Como ele poderia dizer isso, quando parecia sempre manter o controle?

- O que quis dizer com: estou realmente aqui? Podemos começar por esta parte?

- Perfeito. Eu acho que vai gostar. Das outras vezes que você veio aqui, viajou apenas com a sua mente. Por isso pensou que era um sonho. Você vinha ao Penhasco, semiconsciente. Aquela sensação de quando estamos prestes a dormir. Você percebeu que, mesmo tendo teoricamente dormido, se sentia cansada depois?

Eu acenei com a cabeça. Porém não compreendi aonde ele queria chegar.

- Porque não estava de fato dormindo. Você viajava porque eu a chamava. Até que, não sei como conseguiu, veio aqui sozinha. Mas hoje foi diferente. Seu corpo está presente aqui, Liz. É por isso que não estou te apressando para voltar. Com você aqui por inteira, as horas passam normalmente. Quando está apenas em sua mente, horas no Penhasco, podem significar dias em seu mundo.

Minha cabeça rodou. Penhasco, sonho, mente, horas, meu mundo. Calculei que não seria simples compreender no primeiro momento, mas nenhuma explicação me faria desistir. Nada me faria desejar outra vida onde ele não existisse.

Mantive-me presa a esse pensamento e fiz o que ele me pediu. Olhei à minha volta.

As colinas que formavam um círculo em volta do Penhasco não eram apenas colinas. Fitei três enormes cachoeiras que jorravam água com uma abundância furiosa. Pela primeira vez, ouvi o som calmante das águas que batiam e se uniam às ondas do mar lá embaixo. Tudo se tornou, se fosse possível, ainda mais vivo e mais colorido. Antes eu via o Penhasco através de uma lente embaçada, hoje meus olhos estavam abertos.

Acho que fiquei minutos em silêncio, maravilhada com a paisagem ao meu redor. Olhos esmeralda aqueceram meu rosto. Olhei para Nathaniel me encarando em expectativa.

- Liza? Quer voltar? Nós podemos ir conversando aos poucos até você poder assimilar tudo.

- Não. Não mesmo. - Balancei a cabeça e inspirei aquele ar mágico. Ele riu baixo e me puxou para que eu recostasse em seu peito. - Por que você decidiu me contar tudo, Nathaniel?

- Não posso viver sem seus olhos, Liz. Sem eles não sou ninguém, sem eles está nevando. Mas quando os vejo cravados em mim, meus dias são ensolarados. Foi sempre você. Desde o início.

- Então me conte. Porque certas catástrofes são inevitáveis. E você é o melhor desastre que poderia ter me acontecido.

E ele o fez. Não mencionei a ele sobre a cartomante. Estremeci ao constatar que ela acertou: "Aquele por quem anseia, retorna esta noite."

E se uma parte da sua previsão estava correta, havia alguma chance do restante estar errado? Existia alguma possibilidade, de selarmos nossa união sem o julgamento?

Eu precisava desesperadamente, acreditar que sim.

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