Capítulo 15
PAZ
Liza
Li as primeiras páginas do livro, até ser interrompida novamente por uma voz terrível me chamando. Procurei à minha volta, mas não encontrei nada.
Eu estou no Penhasco? Em que momento eu dormi?
Mal senti meus pés tocarem o chão. Nem tive tempo de abrir os olhos. Quando pisquei, Nathaniel me puxou pela cintura e me atacou com seu beijo possessivo, dominador.
Completamente zonza, retribui o beijo. Inspirei com força e meu corpo formigou com aquele cheiro, com aquele gosto, que só os lábios dele possuíam. Sentia-me como se pudesse explodir a qualquer momento. Meus batimentos, fortes e acelerados, vibravam em cada extremidade do meu corpo.
Nathaniel encostou-me na árvore, entrelaçou nossos dedos e elevou meus braços acima da minha cabeça. Através de sua pele percebi sua pulsação acelerada, no mesmo ritmo da minha. Dois corações que batiam e existiam um pelo outro. Se um parasse de bater, o outro também cessaria. Eu queria muito intensificar o abraço. Mas gentilmente, como da primeira vez, ele começou a se afastar quando me entreguei demais. Quando eu estava com ele, perdia todo o meu autocontrole, fazia tudo sem pensar.
Eu precisava deitar. Minha cabeça girou. Percebendo isso, Nathaniel passou um braço por trás dos meus joelhos e o outro por trás da minha cabeça. Pegou-me no colo como se eu fosse uma pena e sentou-se debaixo de nossa árvore. Ainda me segurando, se recostou no tronco e me manteve ali, aninhada em seu corpo.
Eu não conseguia falar, nem queria. Com ele não era necessário. Ficamos em um silêncio confortável durante certo tempo. Apenas nos encarávamos, em uma devoção mútua. Os olhos dele pareciam ter o brilho de quem via o mar pela primeira vez.
Era engraçado como o fato de saber tão pouco sobre ele não me influenciava em absolutamente nada. "Temos todo o tempo para isso", disse a mim mesma. E não iria a algum lugar sem ele. Nossos momentos eram tão curtos, eu não desejava desperdiçá-los com minhas milhares de perguntas. Sua mão entrelaçada na minha, só reafirmava o que eu já sabia: era por isso que eu existia.
Passando um dedo no meu rosto, ele falou com sua voz marcante:
— Você me olha, como se visse o sol pela primeira vez.
— Não. — Sorri. Minha voz saiu meio rouca, pois estava há algum tempo sem usá-la. — A sensação de ver o sol pela primeira vez não se compararia ao que eu sinto agora. E você me olha como se presenciasse algo majestoso — acrescentei.
— Não — disse da mesma forma que eu. — Eu estou vendo algo maior... Maior que a criação do Universo, Terra, Céu, Mar. — Beijou um dedo da minha mão a cada elemento que citava. Divertiu-se, ao ver meu braço arrepiar a cada vez que o fazia.
Eu não imaginava que ele me mantivesse em um padrão tão elevado, quanto eu o mantinha.
Mas quando sonhamos, não é tudo perfeito e possível?
Minha única certeza era a de não querer acordar.
— Posso fazer uma pergunta? — falei. Eu o sentia tão intensamente que perdia todas as minhas forças.
— Qualquer coisa. — Ergueu a sobrancelha, me pareceu curioso.
— Por que me bloqueou e de repente me trouxe aqui?
— Achei que fosse me perguntar isso. Eu fiz para o seu bem. Você não deveria vir aqui todos os dias, mas sou um fraco. Não resisti e a trouxe.
— Ficar longe de você não é algo que me faria bem... — Meio emburrada, me perguntei por que ele insistia com aquilo se sabia como eu me sentia.
Será que ele precisa partir e me esconde isso para poupar meus sentimentos?
Ele pegou a minha mão que, sem perceber, eu havia fechado como punho.
— Liza, não precisa se preocupar, eu não vou a lugar nenhum. É com você que quero ficar, para sempre. — Segurou minha mão e a levou até seu peito, pousando-a na altura de seu coração.
— Ele é seu.
— Mas... por que... não me deixa... vir aqui... todas as vezes que eu quero? — Ofeguei e nem me importei em esconder.
— Você já percebeu como fica cansada após nossos encontros? É essa a razão. Mas em breve, não precisarei mais me preocupar. Eu tenho uma ideia que vai mudar tudo. Acho que você está pronta. — Sorriu satisfeito com algo que passava em sua cabeça.
Suspeitei da existência de um motivo maior, mas ele era um expert em me distrair. Agora, eu só pensava na ideia mencionada por ele.
O suspense me deixou aflita. Mordi os lábios esperando que ele terminasse de falar e fingi ser paciente. Não queria que visse logo de início, quão paranoica eu poderia ser.
Ele continuou:
— O que você me diz de um encontro amanhã? Um de verdade, fora do Penhasco. Eu quero fazer tudo direito e devo isso a você, você merece um início real. — Ele hesitou para ler minha reação e continuou... — E pare de morder os lábios, eles são muito importantes para mim. — Ele os mordiscou de leve e se afastou para olhar o meu rosto. Aguardava minha resposta.
Eu devo estar alucinando, o anjo de meus sonhos acaba de me convidar para um encontro e eu estou prestes a concordar. Posso até me ver sentada em uma mesa de restaurante, esperando por alguém que não existe, enquanto meu medo se confirma.
Teria eu, finalmente, enlouquecido?
— Acho perfeito — respondi, sonhadora, para aquela ideia irresistível. — Amanhã saio do trabalho às seis horas, você pode me buscar?
Bem, o fato de ele ir me buscar já anulava a possibilidade de que eu acabasse sozinha, esperando um sonho se tornar real.
Nathaniel assentiu e anunciou sedutoramente:
— Prometo que nossa noite será inesquecível.
Extasiado, ele me abraçou e me deu um beijo rápido.
O horizonte tinha manchas rosadas do sol se pondo. Quando ergui a cabeça, estava de volta ao parque.
Cheguei rápido em casa, estava ansiosa demais para me distrair com qualquer coisa no caminho.
Às sete horas da noite, concluí que já tinha me comportado suficientemente como um ser humano normal. Depois de tomar banho, vesti o pijama e fui até a sala pegar meu notebook.
— Vai dormir agora?! — Ben me encarou incrédulo do sofá e olhou o relógio em seu pulso.
— É... — Balancei a cabeça positivamente e bocejei, para fingir cansaço.
— Cruzes! Vai logo, antes que descubra que isso é contagioso! — Ele riu, mas pude ver que me recriminava, por me comportar como uma senhora de idade nos últimos meses.
Na verdade, eu nunca fui muito de festas, ou de ter milhares de amigos. Não que eu fosse estranha ou antipática, apenas gostava de me considerar diferente. A maioria das garotas se afastava ao descobrir que minhas prioridades jamais seriam: roupas novas, popularidade, ou ficar com o cara mais lindo da escola. Sempre me preocupei com boas notas, em conhecer pessoas interessantes com quem tivesse alguma afinidade. Aliás, isso me assustava agora. Depois de conhecer Nathaniel, nada tinha o mesmo valor, pois ele se tornou o centro do meu universo. Vivia esquecendo compromissos, quase perdi o emprego, quebrei coisas...
Passei a noite toda me revirando na cama sem conseguir pegar no sono. Fantasiei em minha cabeça, cenas de como seria o jantar na noite seguinte. As imagens passavam nitidamente, como em um filme. Nós dois de mãos dadas, entraríamos no restaurante. Ele, perfeito como sempre, usaria um terno preto. Eu, mais bonita do que o normal, pareceria alguém feita exclusivamente para ele. Sentaríamos à mesa, conversaríamos e riríamos por horas e horas, satisfeitos apenas pela presença do outro.
Foi com alívio que fui interrompida dos meus devaneios ao escutar batidas na porta. Eu me surpreendi com o meu romantismo copiado de velhas histórias.
— Estava dormindo?
— Não, parece que hoje não vou conseguir. — Me virei rápido na cama e olhei para a porta. Percebi que a voz não era de Amanda, nem de Ben, e me assustei.
As únicas vezes que minha irmã entrou no meu quarto foram para pedir dinheiro ou pegá-lo de minha carteira.
— Posso perguntar uma coisa? — ela continuou. — É sobre garotos... Por ser mais velha, talvez possa me ajudar.
Minha irmã, a pessoa mais confiante que eu já conheci na face da Terra, me pedindo conselhos? Pior! Sobre algo que eu não tenha quase nenhuma experiência!
Sentei-me na cama e acendi o abajur na cabeceira.
— Claro, Raquel, pode falar.
— Eu tenho saído com um garoto, que é tipo um amigo de um amigo da escola, sabe? Ele é um pouco mais velho, acho que deve ter uns 20 ou 23 anos. Nós saímos quatro ou cinco vezes, e ele demonstra gostar de mim. Porém, todas às vezes que eu tento falar sobre sentimento, ele muda de assunto e fala que está na hora de me trazer em casa. E, sempre que chegamos aqui, pergunta se tem alguém e quase insiste em entrar.
Respirei fundo e refleti um pouco. Eu não poderia expressar a minha opinião do jeito que gostaria. Aquele era um momento raro, e uma chance de me reaproximar de Raquel. Eu consegui me ver dando uma resposta qualquer à minha irmã, para ela não se irritar, mas no mesmo segundo, percebi que não poderia fazê-lo. Teria que manter o papel de protetora, até que ela fosse madura o suficiente para entender.
— Acho que esse cara não presta, Raquel. Você merece coisa melhor.
— Óbvio! E você diz isso baseada em sua vasta experiência, não é? Sabia! É inútil tentar conversar com você! — Ela aumentou o tom de voz e bateu a porta ao sair do quarto.
Raquel, sequer esperou por uma reação minha. Revirei os olhos e me deitei novamente. Por mais previsível que fosse esse comportamento dela, ao menos eu tentei. Pela descrição do garoto, ele não parecia gostar dela. Já Raquel, deveria estar muito envolvida para chegar ao ponto de pedir os meus conselhos. Se não fosse o meu encontro marcado com o homem dos meus sonhos para o dia seguinte, talvez eu tivesse me entregue à paranoia. Mas agora e nas próximas horas, somente duas questões martelariam na minha cabeça:
Será que Nathaniel me buscaria mesmo no dia seguinte? Ou eu ficaria esperando por alguém que só existe nos meus sonhos?
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Oláá, e aí gente? Será que ele a busca mesmo, ou Liza sofrerá uma grande decepção?
O jeito é esperar para descobrir =p
Beijosss
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