Capítulo 2: Na pista da FPA
Capítulo 2
Na pista da FPA.
O despertador ao lado da cama começou a emitir uma série de incômodos apitos, marcando seis horas da manhã. Uma mão desligou-o rapidamente, enquanto um homem se levantava, sentando-se sobre o colchão. Era Leon S. Kennedy.
Após um demorado bocejo, o agente do governo olhou para Claire, que ainda dormia de forma tranqüila e graciosa. Por sorte todo aquele barulho não a acordara. Sorrindo, Leon se pôs de pé, beijou delicadamente o rosto da esposa e caminhou para fora do quarto.
Sonolento e cansado, o ex-membro da força policial de Raccoon City seguiu até a cozinha da espaçosa casa, onde sem demora tomou uma caneca de café para despertar. Sobre a mesa havia um jornal velho cuja manchete falava do atentado à promotora Sherry Birkin dias antes. Era incrível como o tempo passava tão rápido... Leon lembrava-se nitidamente da terrível noite que vivera em Raccoon, quando Sherry, então uma frágil e assustada garotinha vestindo roupa de marinheiro, vagava desesperada pelos soturnos corredores da delegacia de polícia. A filha dos Birkin era agora uma mulher madura, por sinal bela e astuta, mas de certa forma ainda vulnerável...
Perdido em seus pensamentos, Kennedy logo se lembrou que precisava checar sua secretária-eletrônica. Ainda segurando a caneca de café, o marido de Claire Redfield seguiu até a sala da residência, onde o aparelho se encontrava sobre uma mesinha. Depois de mais um bocejo, Leon pressionou um pequeno botão para verificar se possuía recados. A secretária-eletrônica informou:
– Você tem uma nova mensagem!
O agente do governo pressionou um outro botão, e uma voz masculina começou a falar:
– Leon, aqui é o Mike. Venha até o escritório esta manhã, parece que temos trabalho. Ah, mande um abraço para a Claire. Até mais!
Kennedy suspirou. Seu serviço o chamava. Após mais um gole de café, o ex-policial voltou ao quarto para trocar de roupa. Mais uma vez o governo lhe incumbiria do trabalho sujo...
Rebecca chegou cedo ao hospital. Como de costume, foi visitar cada um de seus pacientes nos respectivos leitos em que se encontravam. Após distribuir grandes doses de carisma e empatia entre os enfermos, a médica seguiu até a sala de sua amiga, doutora Jane Weston.
– Bom dia! – saudou Chambers, sempre com um sorriso no rosto.
– E o que tem de bom? – replicou a outra jovem em tom grosseiro.
– Puxa, o que houve? Para que tanto mau humor?
– Aquele idiota do Mike rompeu comigo! – exclamou Jane, dando um soco na mesa atrás da qual estava sentada. – Ai, como eu o odeio!
– Acalme-se! – disse Rebecca, caminhando até uma mesinha num dos cantos do recinto. – O Mike não é o único homem do mundo!
– Você está certa... – murmurou Weston, alongando-se na cadeira. – Aliás, a que horas chegará aquele novo membro da equipe?
– O tal britânico? – indagou Chambers, apanhando uma garrafa-térmica e um copo descartável para servir-se de café.
– Sim, ele mesmo. Estava lendo a ficha do sujeito e vi uma foto dele. Meu Deus, que gato!
– Sério? – perguntou a ex-integrante do S.T.A.R.S., demonstrando pouco interesse.
– Pode acreditar! Parece que finalmente encontrei o homem perfeito para mim! Agora as coisas vão mudar na vida de Jane Weston!
– Você disse a mesma coisa quando conheceu o Mike...
Depois de breve silêncio, as duas doutoras começaram a rir.
Após ter descido por dois elevadores, Leon chegou ao terceiro subsolo do prédio situado no centro de Washington. Ao sair do transporte, o ex-policial de Raccoon City ganhou um corredor cinza bem iluminado onde havia, numa das paredes, uma placa com a inscrição “Subsolo Nº 3: Serviço Secreto, Operações Confidenciais”.
Kennedy seguiu em frente, assoviando a música “Not Listening”, do Papa Roach, que ele ouvira por acaso no rádio do carro enquanto dirigia até ali e agora não conseguia mais tirar da cabeça. Após mais alguns passos, o agente parou diante de uma porta de tranca eletrônica, na qual inseriu um cartão magnético azul. Depois de exatamente três segundos, o caminho foi liberado com um som mecânico, ao mesmo tempo em que uma voz robótica feminina saudava o recém-chegado:
– Bom dia, senhor Kennedy!
– Já disse para você não me chamar de senhor, Pink Princess! – riu o marido de Claire Redfield.
– Minha programação não permite tal informalidade!
“Pink Princess” era o nome do computador que comandava todo o subsolo do prédio. Possuindo software programado a partir da “Red Queen”, sistema responsável pela segurança e funcionamento dos antigos laboratórios secretos da Umbrella, era dotado conseqüentemente de avançada inteligência artificial, que lhe permitia inclusive tomar decisões das quais dependiam vidas.
Cruzando a porta, Leon adentrou um pequeno saguão onde, sobre o piso incrivelmente limpo e brilhante, havia o símbolo do Serviço Secreto dos Estados Unidos. Kennedy se dirigiu até um balcão de mármore numa das extremidades do local, atrás do qual se encontrava uma bela jovem de óculos e cabelo preso.
– Olá, Leon! – sorriu ela. – Vejo que desta vez o tiramos da cama cedo!
– Há tempos eu não durmo até as nove... – murmurou Leon num bocejo. – Aliás, você precisa re-programar a Pink Princess! Ela me trata como se eu fosse o próprio presidente!
– E como você gostaria que ela o tratasse? “E aí, cara? Como vai indo?”, ou então “Chegou atrasado para a reunião, mané!”?
– Já seria um começo...
– Ora, não me faça rir!
– Pois saiba que é você quem sempre deixa meu dia mais engraçado, Hunnigan!
Dizendo isso, Kennedy se dirigiu até uma porta de vidro, que cruzou após usar novamente seu cartão. Entrou então num corredor repleto de portas, dirigindo-se diretamente até uma quase no final, sobre a qual havia um letreiro aceso onde se lia “Em Reunião”. Passando por ela, o ex-policial ganhou finalmente a sala de reuniões.
Todos os agentes da equipe de Leon já se encontravam no recinto, exceto o líder, Gregory Brennan. Aliviado por ter chegado antes do início das instruções, Kennedy sentou-se ao lado de seu amigo e parceiro, Mike Graven.
– Chegou a tempo, que milagre! – riu ele brevemente.
– Como se você fosse o “senhor pontualidade”! – replicou Leon em tom irônico. – E então, cadê o Brennan?
– Dessa vez é ele quem está atrasado... – afirmou Mike olhando para o relógio digital em seu pulso. – Estou louco para saber qual será nossa próxima missão! O que sugere? Traficantes colombianos ou terroristas iranianos?
– Só sei que tenho um mau pressentimento quanto a isso...
– Cara, você me assusta! Falou isso pela última vez quando estava a caminho de Raccoon City para seu primeiro dia de trabalho, não?
– Como sabe?
– Ark Thompson. Trabalhamos juntos em Dallas há dois anos. Ele sabe tudo sobre você, meu amigo!
Nesse instante, Brennan, trazendo várias pastas embaixo do braço, entrou na sala fumando um charuto. Todos os agentes ajeitaram-se em suas cadeiras, enquanto o líder e instrutor da equipe caminhava até a sua, numa das extremidades da mesa oval, onde se sentou. Fitando seus comandados, Gregory saudou-os:
– Bom dia, senhores!
– É bom vê-lo, senhor! – Mike foi o único a responder, calando-se logo em seguida.
Seguiram-se alguns segundos de silêncio. Brennan separou as pastas sobre a mesa, empurrando uma na direção de cada um dos dez agentes. Em seguida explicou:
– Os senhores estão aqui hoje porque uma crise nacional de nível três teve início há aproximadamente quarenta e oito horas!
– Nível três? – surpreendeu-se um dos agentes, de nome Reed Collins. – O Bin Laden voltou, é?
– Pior que isso, agente Collins! – afirmou Brennan em tom tenso e preocupado. – Se nós não agirmos rápido, uma catástrofe de proporções inimagináveis poderá ocorrer em poucos dias!
– Mas do que se trata? – perguntou Mike. – Quem está causando tudo isso, em primeiro lugar?
– Um grupo terrorista já conhecido por parte de vocês, senhor Graven. De dentro do nosso país, muito bem armado e organizado.
– FPA... – disse Leon, folheando os papéis presentes em sua pasta. – Frente Patriótica da América!
– Exato – respondeu Brennan, assentindo com a cabeça. – Uma milícia de extrema direita responsável pelo atentado a bomba no Madison Square Garden um ano atrás!
– Aqueles idiotas que querem implantar uma ditadura no país? – indagou outro agente, chamado Dennis Zarek. – Eles ameaçam, mas quase nunca cumprem! Não compreendo o que possam estar planejando de tão perigoso!
– T-Virus... – replicou Gregory num murmúrio.
Todos se sobressaltaram. Antes que os agentes pudessem trocar palavras de espanto entre si, Brennan golpeou a mesa para chamar-lhes a atenção, dizendo em seguida:
– Aqueles malditos obtiveram aquela praga criada pela Umbrella... Poderão contaminar milhões se quiserem...
– Mas como eles conseguiram o vírus? – indagou Kennedy, inconformado. – Pensei que todas as amostras remanescentes estivessem sob controle do governo!
– Alguém de dentro os forneceu o pacote... Uma pessoa que possui as mesmas idéias daqueles malucos e quer ver o governo em maus lençóis... Ou então compraram no mercado negro... Atualmente é possível até encontrar um daqueles “Metal Gears” a um preço bem amistoso... A questão é que se eles contaminarem o sistema de abastecimento de água de uma grande cidade com o T-Virus, o caos ocorrido em Raccoon City há dez anos poderá se repetir!
Silêncio sepulcral. Todos os agentes abaixaram a cabeça, suspirando ou praguejando em voz baixa. Só o nome “Raccoon City” já lhes dava calafrios, principalmente a Leon. Tinham que impedir a FPA de iniciar uma nova epidemia. Segundos depois, Brennan tomou novamente a palavra:
– Os senhores serão divididos em dois times. O primeiro, comandado pelo agente Collins, ficará encarregado de investigar o provável esconderijo da FPA nas Montanhas Rochosas. O FBI enviou um homem para lá algumas semanas atrás e ele já não estabelece contato há dias. Provavelmente foi descoberto e morto pelos desgraçados!
– E quanto ao outro time? – quis saber o agente Rodolfo Gómez.
– O segundo grupo será comandado pelo senhor Kennedy e partirá imediatamente para São Francisco, onde David Dennan, um dos comandantes da FPA, foi visto recentemente. Lembrem-se: os senhores não podem falhar! As eleições presidenciais serão no próximo mês e estou recebendo enorme pressão por parte da Casa Branca para liquidar essa ameaça o mais rápido possível! Conto com o apoio e a compreensão de todos! Alguma pergunta?
– E se por algum motivo a operação fracassar, senhor? – perguntou Mike.
– Que Deus nos ajude, senhor Graven! – respondeu Brennan enquanto se levantava de sua cadeira. – Estão dispensados!
Laboratório Vinnewood, São Francisco, Califórnia.
Numa sala do prédio própria para confraternizações entre os integrantes da equipe de pesquisas, todos os envolvidos no projeto conduzido por James Murray se encontravam preparados para recepcionar o novo membro do grupo, tomados por um misto de euforia e curiosidade. Próximas a uma mesa repleta de petiscos e garrafas de refrigerante, Rebecca e Jane conversavam de forma descontraída, sendo que esta última mal podia esperar para finalmente conhecer o novo pesquisador pessoalmente.
– Ai, o tempo não passa! – reclamou ela.
– Fique calma, Jane! – disse Rebecca num sorriso. – E se ele já tiver namorada?
– Não consta nada a esse respeito na ficha dele!
– Puxa, às vezes essa sua mania de coletar informações sobre as pessoas me assusta, sabia? Tenho até medo que você descubra meus podres e conte tudo ao Murray!
– Isso inclui você ter deixado um criminoso condenado fugir durante o incidente nas montanhas Arklay, em 1998?
Chambers estremeceu. Como Jane Weston podia saber disso? Era impossível! Seria ela uma espiã do governo ou algo parecido? Teria já compartilhado aquela informação com outras pessoas? Rebecca sentiu seu coração disparar, enquanto, confusa, olhava para as faixas com dizeres de boas-vindas espalhadas pelo recinto...
Até que a porta da sala se abriu, atraindo a atenção de todos os presentes.
Primeiramente surgiu James Murray, sorridente, que, depois de fitar brevemente seus comandados, convidou o novo pesquisador a entrar com um gesto.
E ele finalmente apareceu. Assim como todos os demais, trajava impecável jaleco de laboratório, calçando caros sapatos italianos. Ao olhar para o rosto do rapaz, Rebecca lembrou-se imediatamente de William Birkin, antigo funcionário da Umbrella, cuja foto a jovem vira diversas vezes em relatórios durante o período no qual fizera parte de uma organização clandestina que combatia a empresa. O britânico também sorria, contemplando seus novos colegas de trabalho. Murray apresentou-o sem demora:
– Senhoras e senhores, este é Lott Klein, que de agora em diante nos auxiliará na busca pela cura do câncer!
Lott Klein... Rebecca já ouvira aquele nome antes... Enquanto os pesquisadores iam cumprimentar o jovem, Chambers permaneceu imóvel, tomada novamente pelo mau pressentimento da noite anterior. Paranóia? Só o tempo seria capaz de responder...
Departamento de Polícia de Denver, Colorado.
Em sua sala, o comissário Peterson escrevia rapidamente num papel com sua caneta-tinteiro. Tratava-se de uma autorização ou algo parecido. Assim que concluiu a tarefa, Ark Thompson abriu a porta do recinto.
– O senhor me chamou? – perguntou ele.
– Sim, pode entrar, Thompson!
O ex-detetive caminhou até a mesa do superior, um tanto receoso, sentando-se numa cadeira. Depois de acender um charuto, Peterson empurrou o papel na direção de Ark, dizendo num leve sorriso:
– Sei que você está cansado de ficar sentado atrás de uma mesa preenchendo relatórios, Thompson. Conheço muito bem seu passado. Você fez parte de uma daquelas organizações que combatiam a Umbrella na clandestinidade. Obteve sucesso em inúmeras operações de infiltração e sabotagem. É o homem certo para isso!
– Para isso o quê? – indagou Ark, apanhando a folha, surpreso com aquela atitude por parte do comissário.
– Recebi um telefonema do Serviço Secreto esta manhã. Eles estão enviando alguns homens para cá, com o intuito de investigar um provável reduto da FPA nas montanhas!
– FPA? Aquele grupo terrorista de extrema direita?
– Exatamente. Eles pediram que eu lhes fornecesse um homem de confiança para guiá-los pela região. Você conhece bem as Rochosas e com certeza tem experiência nesse tipo de coisa. Além disso, um dos agentes o recomendou...
– E eu poderia saber o nome dele?
– Leon S. Kennedy.
Ark sorriu.
– Tenho certeza que aceitará, Thompson! – afirmou o comissário. – Homens como você não conseguem ficar muito tempo longe do perigo! Precisam viver com os nervos à flor da pele! Por isso será capaz de fazer um bom trabalho!
– Chefe, eu não sei o que dizer...
– Guarde suas palavras para quando for instruir os agentes do Serviço Secreto nas montanhas!
Era difícil de acreditar. Finalmente um pouco de ação. Mas, com certeza, não seria um trabalho nada fácil, ainda mais se tratando da Frente Patriótica da América. Ark suspirou, levantando-se da cadeira. Valia a pena tentar...
Base Naval de Long Beach, Califórnia.
Na sala do major Jack Krauser*, este, através de uma janela, observava o movimento dos fuzileiros navais pelas instalações, mãos cruzadas atrás da cintura. Súbito, a porta do local se abriu.
O militar voltou-se para a entrada, onde havia um tenente que segurava algo na mão direita. Era um envelope, o qual foi entregue ao major, enquanto seu comandado dizia, fitando a cicatriz que lhe cortava verticalmente a face:
– Isto acabou de chegar para o senhor!
– Obrigado, tenente! – agradeceu Krauser, dispensando o soldado com um gesto.
Novamente sozinho na sala, Jack seguiu até sua mesa e abriu o envelope. Dentro, uma carta. O major já a aguardava há algum tempo. Após retirar sua boina vermelha e colocá-la sobre o móvel, Krauser leu o que lhe haviam enviado:
Prezado Major Jack Krauser,
Nosso plano está em andamento. Já desviamos a atenção do Serviço Secreto em relação aos nossos verdadeiros objetivos. Assim que o momento chegar, aja conforme o combinado para proteger nossos interesses. Sem suas ações, nossa revolução não será possível. Continue trabalhando a favor do verdadeiro Espírito Americano.
Seu amigo e mentor,
Ronald Freewell.
Em seguida, o major guardou a carta novamente no envelope, o qual, por sua vez, foi trancado dentro de uma das gavetas da mesa. O grande dia estava próximo...
(*) – Como, em relação à trama oficial, esta história se passa numa realidade alternativa, na qual os eventos de Resident Evil 4 devem ser desconsiderados, Jack Krauser ainda está vivo e é um major da Marinha dos EUA. Mais detalhes nos próximos capítulos.
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