Capítulo Vinte e Três
Vicente Johnson:
Na quinta-feira de manhã, meu pai escovou seus cabelos e fez um sinal com a mão para os gêmeos que entraram animados na escolinha. As crianças acenaram e entraram.
Voltei meu olhar para meu pai, que até estava assoviando uma canção que ele ouviu recentemente.
Desde domingo, ele parece mais feliz do que nunca, algo que jamais havia visto antes. Desde o almoço com todo mundo, vejo ele e Luciano conversando quando se encontram, e meu pai ainda dá dicas de presentes que gostaria de receber, sem serem muito extravagantes.
Em relação aos meus meio-irmãos, ainda é estranho pensar nisso, mas acaba sendo divertido ser o irmão mais velho de alguém tão extrovertido como o Stefano e ainda ter uma pessoa doce como o Luigi.
— Então, como estão suas conversas com o Pedro? — meu pai perguntou, virando-se na minha direção. — Devia se concentrar na sua vida amorosa ao invés da minha.
Olhei chocado em sua direção.
— Pai, não estou pensando em nada da sua vida amorosa — Falei. — E nem da minha!
Ele tampou os ouvidos e sorriu cético para mim.
— Então me diga o porque da sua voz ficar aguda, sabe muito bem que faz isso quando está querendo mentir — Meu pai disse calmamente, notei o sorriso vencedor surgindo em sua face. — Pense nisso já se declararam um para o outro, ele vem conversando com você todas as noites e ainda fica brincando com os gêmeos.
Mordi o lábio visivelmente vendo que suas palavras são sinceras demais até para mim, fiquei calado o restante do caminho até o mercado mais próximo.
— Só estamos nos conhecendo aos poucos, ele sabe que não quero pular em uma relação de imediato — Falei de olho no volante. — Também tem o assunto do Ângelo e depois de conversar fazer o Pedro ir em uma psicóloga para ver sobre os traumas dele.
Depois de conversar muito com Pedro após saber dos seus ataques por causa dos traumas que Ângelo causou, como também presenciei ele tendo um dos seus ataques quando estava no meio da minha cozinha. Abracei ele e esperei se acalmar, depois de muito tempo se acalmou, então me contou sobre os pesadelos e os ataques que está tendo e fiz ele prometer que iria na psicóloga.
Ele estava indo todos os dias, durante uma hora e meia.
— Eu sei, apenas resolva a situação para viverem — Meu pai disse. — Seu tio está de olho em cada passo dele e ainda tem os seguranças que Ava contratou.
Mesmo que meu pai disse isso de um jeito calmo, algo me deixava ainda mais atento a toda a situação.
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No mercado, meu pai desapareceu do meu campo de visão e, resmungando, fui atrás dele.
— Vicente, veio fazer suas compras? — Milena falou, vindo do corredor dos laticínios.
— Sim, tenho muito o que fazer. — Falei, reparando em suas novas roupas. — Como está sendo cuidar da empresa da sua família? Faz três dias que não te vejo.
Seu sorriso se tornou maior do que jamais havia visto em todo o tempo que a conheci. É agradável de se ver, traz uma calma ao coração.
— Está sendo fantástico, quero dizer, menos por ver o Jonas Azevedo. — Ela disse, e eu olhei confuso na direção dela.
— Quem seria esse tal Jonas Azevedo? — perguntei.
— Ele foi um antigo amigo meu, antes de se mudar para estudar em outro país. — Ela disse. — Já falei dele, aquele garoto que gostava de criar histórias e se fantasiava para dar vida à própria imaginação em peças escolares ou em qualquer teatro que ele se inscrevesse.
Busquei na memória e me lembrei de uma foto que ela me mostrou quando éramos mais novos, onde ela estava ao lado de um rapaz fantasiado como um camaleão enorme.
— Aquele que é filho dos melhores amigos dos seus pais? — Falei, e ela confirmou. — Qual é o problema, vocês não se davam bem?
— Essa é a questão, ele sabe de tudo que aconteceu comigo e me trata como cristal quando estamos sozinhos, parece me tratar como a Milena que eu era na infância. — Minha amiga falou, fazendo beicinho. — Sabe como chega a ser frustrante ainda ser tratada desse jeito, ainda mais perguntando como foi minha consulta com a médica.
— Vocês ficaram muito tempo sem se ver, então deve ser normal isso acontecer. — Falei calmamente.
— Mesmo assim, eu não sou feita de vidro. — Milena falou. O celular dela vibrou e ela o pegou. — Tenho que ir, muitas coisas a fazer. — Ela se virou para partir, mas parou e voltou-se na minha direção. — Tem alguma notícia do Donald?
— Só sei que ele está trabalhando em algo com o Rafael. — Falei. — Ele não me contou o que seria.
Milena pensou por alguns segundos, mas abandonou o pensamento e seguiu seu caminho. Eu sabia o que passava pela mente dela apenas pelo olhar. Possivelmente, era o mesmo que passava pela minha.
Possivelmente, Donald estava querendo obter informações sobre o paradeiro de sua mãe.
Mandei esses pensamentos para longe. Donald disse que nunca iria fazer uma coisa dessas, mas existe uma pequena possibilidade de ter mudado de ideia.
Voltei a procurar meu pai e acabei o encontrando no corredor dos cereais. Minha maior surpresa foi vê-lo ajudando um garotinho a pegar uma caixa de cereais, ao lado de um homem numa cadeira de rodas.
— Obrigado, moço. — O garotinho disse e colocou o cereal na cesta do pai.
— Muito obrigado, senhor Bill. — O pai do garotinho falou. — Às vezes é complicado por causa da cadeira de rodas.
— Sem problemas. — Meu pai disse.
— Papai, vamos, temos mais algumas coisas para pegar. — O garotinho falou e saiu correndo, e o pai dele soltou uma risada e foi atrás.
Me aproximei e meu pai olhou para mim com um sorriso de cumplicidade.
— Sabe quem eram aqueles dois? — Ele perguntou e me deixou confuso. — Aquele homem é o ex do Luigi, o tal Erick e o menino é o Júlio.
— Como sabe disso? — Perguntei.
— Simples, Luigi me mostrou uma foto. — Meu pai falou. — Ele está na cidade desde segunda-feira com o filho e está tentando reconquistar o Luigi desde então.
— Como ele te contou isso e não contou para mim? — Falei.
— Ele me contou porque sabe que não tenho medo de dizer o que penso tão facilmente — meu pai disse e apontou para mim. — Ele não gosta de incomodar os outros com seus assuntos, algo que notei desde que o conhecemos. Diferente do Luciano ou do Stefano, sou menos explosivo com as decisões, assim como você.
Olhei em descrença para ele, enquanto ele apenas piscava docemente.
Fiz uma careta e ele soltou uma risada. Desde o domingo em que convidamos a família Greco para um almoço, temos conversado quase todos os dias. A ideia de ter meios-irmãos já entrou na minha mente, mas ainda é complicado ver o Luciano como pai, mesmo que ele esteja querendo ajudar com tudo em casa.
As crianças adoram o vovô Luciano e até disseram que ele lembra um grande ursinho de pelúcia. Meu pai está passando muito tempo com Luciano, sendo incrivelmente delicado e gentil. Houve até uma vez em que quase os peguei ambos se beijando, mas Mario interrompeu o momento quando tossiu. Meu pai saltou do lugar e quase caiu no chão.
Mario sorriu envergonhado, enquanto Luciano e meu pai trocaram olhares surpresos, enquanto eu tentava conter o riso. Meu pai recuperou a compostura rapidamente e lançou um olhar cúmplice para Luciano, que assentiu com um sorriso dizendo que estavam apenas conversando, tentando disfarçar o constrangimento.
Enquanto meu pai voltou para a cozinha, Luciano se aproximou de mim e sussurrou com um sorriso divertido: Acho que não conseguiremos mais nos beijar em segredo, hein?
Eu ri, balançando a cabeça e divertido.
Luciano deu um beijo rápido em minha testa e saiu atrás de meu pai para ajudar na cozinha. Era bom ver como nossa família estava se unindo e se adaptando a essa nova dinâmica. Eu mal podia esperar para ver o que o futuro nos reservava.
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Meu pai estalou os dedos, trazendo-me de volta à realidade. Finalmente, voltamos para a nossa lista de compras.
Enquanto eu caminhava pelo estacionamento, recebi uma mensagem de Pedro contando como foi na psicóloga. Abri o porta-malas do carro quando, de repente, ouvi uma comoção a poucos metros de distância.
Olhei para cima e vi mais de dez guarda-costas vestidos de preto ao lado de um carro, como se algum importante figurão tivesse acabado de chegar. A porta do carro luxuoso se abriu, revelando uma senhora de idade. Ela estava deslumbrante, usando roupas que pareciam brilhar.
Meu pai parou no lugar, olhando para a mulher com uma expressão confusa.
— Pai? — chamei, puxando sua mão delicadamente. Senti seu corpo se enrijecer. Ele então me olhou como se sua visão tivesse voltado ao foco novamente. — Está tudo bem?
Ele esfregou a cabeça, como se tivesse sentido dor ao forçá-la a fazer alguma coisa.
— Sim, estou bem — ele disse e sorriu fracamente. — O Pedro vai almoçar em casa hoje?
Enquanto eu respondia à pergunta do meu pai, observei-o com curiosidade. Alguma coisa naquela mulher parecia tê-lo perturbado profundamente. Resolvi deixar o assunto de lado por enquanto, mas prometi a mim mesmo investigar mais tarde o motivo daquela reação tão estranha. Afinal, meu pai não costumava se abalar facilmente.
Continuamos a caminhar em direção a minha, mas a imagem da senhora elegante e da reação de meu pai continuavam a ecoar em minha mente. O que teria desencadeado aquela perturbação? Será que era algo sobre o passado dele?
Decidi que, mais cedo ou mais tarde, encontraria as respostas que procurava e para isso vou pedir ajuda ao Rafael e o Antônio.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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