Capítulo Trinta e Nove
Vicente Johnson:
Encontrei o pessoal na recepção do hospital, esperando por nós. Meu pai, Luciano, me deu um forte abraço de urso, que fez com que eu perdesse o ar. Ele bateu no ombro do meu pai, apontando para mim.
— Desculpe — disse Luciano, enquanto me olhava de cima a baixo. — Sabe, foi uma loucura fazer tudo isso sem contar para ninguém. Deixou todos preocupados, até a Eleonora, que ficou com os cabelos em pé.
— Ela disse que vai ter uma conversa com você sobre fazer loucuras — acrescentou meu pai. — Ela só não veio, pois está acalmando os meninos, o Donald, a Milena e todo mundo para que não venham fazer uma loucura de vir até o hospital.
— Não precisa se preocupar com os gêmeos, eles estão perfeitamente bem na escolinha — disse minha tia, parecendo ansiosa por alguma razão. — Também estou querendo dizer que aquela moça misteriosa quis entrar em contato com você e seu pai.
Meu tio estava atrás dela, e minha surpresa parecia ter sido destruída, até virar pó. Imagino como minha tia e prima o destruíram espiritualmente.
Após o momento de surpresa e perplexidade, todos na recepção do hospital aguardavam ansiosamente pelas próximas palavras do tio, posso dizer que meu pai Bill era quem estava mais ansioso entre todos. Ele parecia visivelmente abalado com a notícia sobre a moça misteriosa que estava ligada ao seu passado.
— Ela quis entrar em contato e convidou vocês para irem à casa dela hoje, se quiserem. Foi uma mensagem que veio através de um bilhete entregue por um mensageiro na nossa casa. Ele disse que era urgente e pediu para que você e o Bill pudessem vir até ela. — Meu tio disse calmamente. — Se quiserem, podemos remarcar. Imagino que já tenha tido muita coisa por hoje.
Olhei para meu pai, e ele estava com uma expressão perdida. Meu pai Luciano apertou a mão dele antes de dizer alguma coisa.
— Eu quero vê-la — Falei. — Estou perfeitamente bem.
Todos me olharam em silêncio.
— Eu vou junto — disseram Luciano e Pedro.
— Eu e a Jéssica vamos avisar o pessoal para onde vocês irão — Rafael falou calmamente. — Dizendo onde estarão em alguns instantes.
— Eu vou estar torcendo por vocês — Jéssica disse e beijou minha bochecha e depois a do meu pai. — Também vou ver como estão as coisas com aquele asno do Ângelo.
Sorri na direção dela.
*************************
Olhei na direção da casa onde estava aquela mulher misteriosa que tinha uma ligação com o passado do meu pai. Meu tio estava no carro da frente com minha tia, ambos conversando e gesticulando um na direção do outro.
Pedro estava no assento do passageiro, apertando minha mão com força. Meus pais estavam no banco traseiro, apertando as mãos uns dos outros. A mulher saiu para fora com seus seguranças e acenou para que saíssemos do veículo.
Ela morava em uma mansão, super luxuosa, cercada por um exuberante jardim meticulosamente projetado. Ao nos aproximarmos, era possível admirar sua majestosa fachada, com colunas imponentes que sustentavam um varandão decorado com detalhes em ouro e mármore. As grandes portas de entrada eram feitas de madeira nobre, esculpidas com intrincados padrões.
— Sinto muito nos conhecermos nessas circunstâncias — Ela disse com um sorriso tímido. — Podem me chamar de Donatella Marino.
— Então, que tal irmos direto ao assunto principal? — Falei.
— Claro, podemos entrar para conversar um pouco — Ela disse, e a seguimos, ficando surpresos.
Ao atravessarmos a entrada, fomos recebidos por um amplo hall de entrada, com um suntuoso lustre de cristal pendendo do teto alto e abobadado. O piso reluzente era revestido com um raro mármore italiano, onde se podiam ver reflexos das esculturas e pinturas que adornavam as paredes.
À direita, uma grandiosa escadaria curva levava ao andar superior, onde mais salões luxuosos se estendiam, cada um decorado com um tema diferente.
A sala de estar era um convite ao relaxamento e ao entretenimento. Sofás e poltronas estofados com tecidos finos e macios cercavam uma imensa lareira de mármore, onde uma suave chama crepitava, aquecendo o ambiente e criando uma atmosfera acolhedora. Uma parede inteira era preenchida por uma estante repleta de livros raros e valiosos, exibindo a paixão dos moradores pela cultura e pela arte.
Nós nos sentamos em silêncio, esperando que ela falasse enquanto pediu uma xícara de chá para cada um.
— Você lembra muito o seu pai — Donatella falou, olhando para meu pai Bill que estava em silêncio mortal. — Eu quero poder dizer o que aconteceu antes, mas fui covarde demais para impedir o que seu irmão iria fazer.
— Meu irmão? — meu pai disse lentamente.
Donatella sorriu e do bolso tirou uma foto e estendeu em nossa direção. Ali mostrava duas pessoas, um homem e uma mulher sorrindo, com duas crianças, uma um pouco mais velha, e a mulher carregando um bebê.
Olhei para o homem ao lado da mulher e, no momento em que o vi, fiquei chocado.
Porque meu pai parecia uma cópia do homem da foto!
No entanto, suas auras eram muito diferentes. Meu pai era uma pessoa de bom coração que sempre parecia amigável e sensato. Seu olhar era sempre firme e calmo, enquanto o homem da foto parecia um empresário astuto. Sua aura era mais nítida e seus olhos revelavam uma sensação de escrutínio e distância.
Meu pai havia sido separado de seus pais desde jovem e não conseguia se lembrar do rosto deles com clareza, então imagino que sua reação tenha sido tão intensa quanto a minha.
— O meu irmão mais velho era amigo do pai bastardo do Ângelo, aquele cretino do Phil Jackson — Donatella falou com uma expressão de nojo. — Eles planejaram se livrar de você e do pai para ficarem com todo o dinheiro da família. Infelizmente, eu ouvi e tentei avisar sobre tudo para seus pais, mas eles não acreditaram em nada que eu disse e sem as provas do que poderia ocorrer. Tentei ao máximo impedir que o pior acontecesse. Tudo começou quando o carro em que vocês estavam foi modificado para acontecer um acidente provocado por Phil Benson. No acidente, o senhor Beni faleceu, por sorte encontrei você desacordado e o levei para um lugar onde estaria salvo dos que queriam a herança dos Jackson e estariam dispostos a fazer tudo para conseguir. — Suspirou. — Tentei avisar sua mãe que ainda estava vivo, mas sabia que meu irmão ou Phil iriam interceder sobre a mensagem.
— Como você conseguiu essa foto? — Minha tia perguntou.
— Está querendo dizer que eu sou irmão de Phil Jackson, que acabou de ser preso — Meu pai disse a contragosto.
Olhei para ela atentamente, recusando-me a acreditar que Ângelo poderia ser meu parente. Quem gostaria de ser parente de alguém como ele? Embora fosse um maníaco e eu o odiasse profundamente, em termos sanguíneos, éramos de fato primos. Houve um conflito tão grande entre a gente. Seria muito estranho se de repente nós nos tornássemos primos.
Pedro entrelaçou nossos dedos.
— Não precisa ficar com nada em relação ao Ângelo na sua cabeça, finalmente acabou — Pedro sussurrou para que só eu pudesse ouvir.
— O que a fez contar tudo isso agora? — meu pai Luciano falou, puxando meu pai para seus braços.
— Eu quis tomar coragem e depois de saber que Phil foi preso por todos os crimes que ele cometeu, isso me dá um alívio no peito — Donatella falou. — Anos atrás acabei sendo uma grande covarde, mas quero que saibam que tudo isso é a mais pura verdade.
— Então sabe o que aconteceu com a minha mãe? — Meu pai disse.
— Infelizmente soube que ela faleceu, mas pelo que me lembro daquela mulher que conheci anos atrás, ela era uma batalhadora de garra de ferro — Donatella disse com um sorriso. — Ela estaria orgulhosa de você pelo homem que se tornou e ainda mais da família que você construiu.
Donatella olhou para todos nós com uma expressão de profunda sinceridade e remorso. O ambiente daquela sala parecia estar carregado de emoções, à medida que as histórias do passado se misturavam com o presente.
Meu pai, Bill, apertou a mão de Luciano e respirou fundo antes de falar:
— É difícil acreditar em tudo isso... em todas as mentiras e traições que aconteceram. Mas, ao mesmo tempo, sinto que uma parte de mim finalmente encaixou as peças do quebra-cabeça. Você fez o que pôde para me proteger, Donatella, e aprecio muito isso. — Meu pai disse.
Luciano assentiu, demonstrando apoio a meu pai. Pedro, ao meu lado, continuava segurando minha mão firmemente, transmitindo uma sensação de segurança que eu precisava naquele momento.
— Quanto ao meu irmão... — Meu pai prosseguiu, parecendo refletir sobre aquela revelação. — Eu agradeço por nunca ter o conhecido e só ver pelo que me contaram, mas, por enquanto, o mais importante é o presente. Temos uma família aqui, e isso é o que realmente importa.
Donatella assentiu compreensivamente.
— Entendo perfeitamente, e soube o que passaram e desejo tudo de bom para toda sua família. Sei que é muito para processar de uma só vez. Mas estou aqui para ajudar no que for preciso, e se quiserem saber mais sobre o passado, estou disposta a compartilhar com as coisas que sei sobre os membros da sua família — Donatella disse.
Luciano interveio com gentileza:
— Por ora, acho melhor absorvermos tudo isso e darmos um tempo para assimilar todas essas informações. Mas agradeço sua oferta, Donatella. — Ele disse.
Enquanto conversávamos, percebi que o ambiente tenso da sala parecia ter se dissipado, dando lugar a um sentimento de união. Aquela mulher misteriosa, ligada ao passado sombrio da família do meu oau, estava ali abrindo seu coração, e, de certa forma, isso nos unia ainda mais.
Depois de algumas horas de conversa, decidimos retornar para casa. Donatella nos acompanhou até a saída e, antes de partirmos, meu pai se aproximou dela com um leve sorriso.
— Agradeço por ter nos procurado e por ter nos ajudado a entender mais sobre meu passado. Seja o que for que aconteça daqui para frente, pelo menos agora tenho um pouco mais de clareza sobre quem eu era — Meu pai disse.
Donatella assentiu, com um brilho de esperança nos olhos.
— Obrigada por me ouvirem e por terem sido compreensivos. Sejam felizes, todos vocês. É o que desejo de coração. — Ela disse docemente.
Ao nos despedirmos, entramos no carro, e Pedro assumiu o volante. Enquanto nos afastávamos daquela mansão luxuosa, meu coração estava repleto de sentimentos conflitantes. Tantas revelações em um único dia eram difíceis de assimilar.
Luciano pôs a mão no ombro de meu pai, confortando-o silenciosamente. Todos permanecemos em silêncio por um tempo, processando o que acabáramos de descobrir.
Ao chegarmos em casa, nos reunimos na sala, como uma família unida que éramos. Naquele momento, não importava o passado sombrio ou as traições, o que realmente importava era o amor que compartilhávamos. Juntos, éramos capazes de superar qualquer obstáculo.
Pedro segurou minha mão e olhou em meus olhos com ternura.
— Estamos juntos nessa, sempre. Nada vai nos separar.
Eu sorri, me sentindo grato por tê-lo ao meu lado.
— Eu sei disso. E também sei que temos uma família incrível. — Falei e beijei sua bochecha.
Meu pai, Luciano, olhou para todos nós com um brilho nos olhos.
— Somos uma família de verdade, com todos os altos e baixos que isso possa trazer. Vamos enfrentar tudo juntos, e tenho certeza de que podemos construir um futuro melhor. — Luciano disse com delicadeza e todos ao redor concordaram com suas palavras.
Assim, abraçados, encerramos aquele capítulo em nossas vidas. O passado não podia ser apagado, mas o futuro estava em nossas mãos, e juntos, enfrentaríamos o que viesse pela frente.
______________________________________
Gostaram?
Até a próxima 😘
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top