A paz que todos merecem


Há muito tempo atrás, época que os livros não registravam fatos, ele já andava sobre a terra. Escolheu viver aqui com seus dons e zombando da humanidade que desejava ser como ele, um ser imortal.

Quando do céu veio, trazendo a vontade de ser superior àquelas criaturas, não pensou que elas lhe ensinaram a ter paciência e com o passar de tempos. Então, Bill as amou e quis ser igual a elas.

Tivera muitos nomes, pois vivera em muitas sociedades. Seu espírito precisou evoluir dentro do mesmo corpo nas eras pelas quais ele vagou, diferente do ser humano que pode nascer e renascer.

Ele sempre teve sentimentos e seu corpo físico tinha desejos, isso o levou a casar-se e oferecer seu dom à mulher escolhida, viver para sempre junto aos dois filhos que tiveram. Mas ela escolheu viver apenas uma vida e Serafim a odiou por isso, pois sentiu como se sua mãe não os amasse o suficiente para permanecer com eles.

Bill se tornou um homem solitário por tanto tempo, que seus filhos acreditaram que ele definharia. Realmente ele envelheceu fisicamente, a quem o olhasse, veria um simpático homem de meia idade ainda muito vigoroso, de modos simples, gentileza e calma.

Por muito tempo ele escolhera acompanhar o caminhar das pessoas sem interferir em suas vidas, então um garoto resolveu roubar sua paz há incontáveis anos. Atrevido, selvagem, capaz de comer tudo o que Bill tinha na despensa, falava tanto que desconcentrava o urso em sua pescaria, fazia tantas perguntas quando descobriu que Bill era um ser poderoso. Aquela praguinha não se assustou, mas quis saber se Bill fazia truques e observou o primeiro milagre:

"— Veja, Diamantino... — Bill fizera o parto de uma cadela, que pariu Touro e separou a cria "defeituosa" que a própria fêmea mataria por instinto. Enfiava leite de vaca goela abaixou do pequeno animal e ele sobreviveu, cresceu e ficou tão grande que parecia um novilho."

"— O quê? — O jovem Tino olhou a volta. — Ei, não acredito que está falando que o Touro é um milagre, seu urso travesso. Como que um animal igual ele é milagre?"

"— Diga-me porque não é..."

"— Mas eu achei que você fazia mágica, tipo aquele cara que andou sobre as águas, que ressuscitava gente morta e mais uma porção de coisas incríveis. É muito estranho mesmo, afinal quando pedi ao senhor que transformasse meu ex patrão numa barata para eu esmagar com minha bota nova, o senhor foi lá e entupiu ele de comida, queijos, carne seca e vinhos. Tá certo que ele morreu, mas isso lá é castigo? Morrer de tanto comer. Ele morreu feliz, aposto!"

"— Seu peste. — Bill gargalhava o dia inteiro quando se acostumou com Tino. E o tempo passou, passou muito tempo e Marvin veio para eles."

Marvin chegou destruído como pessoa, infeliz ele aguardava seu fim ou se prosseguisse, se tornaria vazio. Ele foi acolhido pela bondade e depois levado para o "inferno" novamente. Bill cansou da soberba humana quando resgatou seu jovem Marvin à beira da porteira. Tomou um tiro de rifle que arrebentou seu ombro e pela primeira vez se transfigurou na forma poderosa de um urso. Um imenso urso selvagem capaz de matar e devorar a carne.

...

Na primeira manhã de janeiro de 1987, um homem tinha a chance de optar por um caminho, dos dois que tinham à sua frente. Vida ou morte.

Fernão tinha certeza de estar na presença de uma fera quando abriu os olhos. O imenso urso tinha humanidade nos olhos, mas ainda assim assustava. Quando voltou a ser Bill, tudo o que Fernão fez foi rir e chorar.

— Você é um demônio! Eu sei disso e para afastar um demônio a gente reza: Padre Nosso que está no céu, santificado seja o Vosso nome...

— Palavras decoradas por quem não crê nelas, não afastariam nem um espírito imundo, que são os tais demônios que vocês tanto temem. Me diga, porque seu coração é tão duro, homem? O que há dentro de si além dessas coisas ruins que te destroem?

— O que é você?

— É isso que lhe preocupa de verdade. Não lamenta por seu filho que está sob a terra ainda vivo? Sua mulher a quem jurou amar e proteger, essa hora está vivendo com Cesar, um de nós que adora se divertir com pessoas. Não é uma diversão nada saudável, confesso.

— Quero morrer logo, vá para o inferno de onde nunca devia ter saído.

— Pois bem, não sou Aquele que habita no alto para ter paciência com você. — Bill se levantou completamente nu, pelo fato de ter perdido as roupas na transfiguração, Touro surgiu com o rolo de corda na boca e Urso sentou observou a cena com interesse, inclinando o pescoço numa atitude canina que expressa curiosidade.

Fernão foi amarrado e suspenso no galho de uma árvore. O pé pelo qual fora arrastado sangrava um pouco e o fedor de uma infeção iminente, logo chamaria a atenção de aves carniceiras que o devorariam devagar.

— Se você tiver uma boa comunhão com Aquele que habita no alto, talvez ele te liberte. Urso, meu amigo e Touro, só voltem para casa quando Fernão for "libertado" de alguma maneira.

Os braços erguidos no alto da cabeça suportavam o peso do corpo, logo cansaram e doeram, era desconfortável e se ele se mexesse doeria muito mais. No chão, ele viu um grande cão com duas cabeças que lhe causava pânico ao encarar seus olhos. Segurava a urina a ponto de doer muito, mas precisou começar a liberar suas necessidades. Gritar irritava o grande cão que parecia faminto e tentava subir na árvore para alcança-lo. A noite trouxe sons de corujas tão temidas por supersticiosos, corvos e a inquietação do animal de duas cabeças aumentou. Touro queria devorar sua carne.

Fernão percebeu que ia morrer e chorou desesperado. Seus pensamentos não alcançavam o arrependimento, mas o desejo de sair dali e se vingar daquele odioso e estranho caipira.

......

— Então você não é mais delegado daquela cidade? Mas como que eu vou voltar a viver lá?

— Viva comigo. Sabe que eu quero muito...

— Calado! — Lola se exasperou com ele. — Eu economizei para comprar aquela casa, tem minha mobília, lembranças de minha filha, até uns brinquedos e fotos.

— Volte lá e busque. Só devo advertir que Orlando está voltando com tudo e você será presa, pois vão querer interroga-la. Não vai ter paz e quem sabe, vão dar um sumiço em você.

— Acha que tenho medo? Não tenho medo e você, seu abusado, porque está me levando tão longe? Se colocar essa mãozona em mim, eu juro que te chuto.

Lúcifer deu uma risada alta e continuou a seguir por aquela estrada onde pessoas comuns não transitavam. Lola ficou receosa como seria muito normal para uma mulher sozinha e frágil na presença daquele poderoso ser.

— Vou lhe mostrar algo que é muito importante para mim. Pedir-te algo e seguir a minha existência. De preferência com você ao meu lado.

Lola baixou os olhos e corou.

— Pensa que esqueci que me cantou na delegacia, quando eu estava aflita por notícias da minha filha.

— Se soubesse há quantos anos que uma fêmea não me despertava, me perdoaria por aquele gracejo.

— Se eu não quiser isso, isso que quer me pedir, não vai me obrigar?

— Jamais. Não busco satisfazer apenas o instinto primitivo que me leva a ter uma ereção em sua presença.

Lola corou, agora com violência. Que vontade de socar ele. O problema é que se ele lhe beijasse mais uma vez, ela não resitiria.

— Chegamos. Essa casa foi construída por mim e pelo meu pai. Vivi sozinho nela por tanto tempo que me cansei da solidão, Lola. Quando tive esposa e dois filhos, fomos perseguidos e tudo porque recebi esse nome. A ignorância humana levou pessoas a atearem fogo onde vivi com eles. Só eu sobrevivi, deve imaginar o porquê.

— É um fato terrivelmente triste, Lúcifer. Mas esse seu nome... porque seu pai...

— Lola, não o culpe. Eu mesmo não o culpei. Nem me vinguei de quem me tirou aqueles a quem amei. Isso revoltou meu irmão e ficamos muito mais afastados que já havíamos sido. Meu pai quando soube, pediu para eu o punisse e disse que a culpa era dele, pobre urso. Depois construímos essa casa para que eu entendesse que a vida pode ser reconstruída.

Lúcifer acariciou a madeira e abriu a porta.

Estava escuro e naturalmente fedia a mofo, por estar muito tempo fechada. Havia energia elétrica e isso foi uma surpresa para ela. A mobília era simples e continha poeira, teias em volta de lâmpadas e nos cantos. Quem a visse pensaria ser um lar mal assombrado, mas com paciência logo Lola e Lúcifer transformariam em um lugar habitável.

Não tinha medo dele. Se aquele era um pedido de casamento...

— Aceito!

— Eu também a aceito! Minha Lola.

......

Betânia permitiu que seu coração ficasse conectado com aquele lugar, seus novos irmão e seu novo papai. Tino e ela conversavam e discutiam o dia inteiro, Marvin a paparicava com seus mimos e ela o protegia sabendo que ele era bem sapeca quando queria. Pareciam com três filhotes de urso, gatinhos ou cachorros que brincam e "mordem-se" dolorosamente às vezes. Porém a pureza da alma de um animalzinho não guarda rancor por essas pequenas "dentadas".

Quase uma semana se passou desde que Bill saíra e os três filhos estavam aflitos. Betânia percebeu que quando o urso saia por mais tempo, Tino não se afastava da casa e entendeu o quanto ele zelava por eles como um irmão mais velho.

— Marvin, estou preocupado. Será que? Não! Não aconteceu isso. Seu, seu... ai que diabinho ruim. — Tino se exaltou com o irmão. — Ahhhh, Betânia olha isso, abóbora com esse recheio de abobrinha. Parece que é de propósito que ele faz isso.

Marvin sorriu de canto e piscou para Betânia que segurou a risada.

— Tino, Tino há tantas pessoas passando fome nesse mundo. Você mesmo disse que comia grama, então não reclame tanto para comer. — Marvin disse a frase, deixando os dois irmãos de olhos arregalados.

— Seu abusado insensível. — Tino reclamou outra vez, se serviu e repetiu pelo menos mais duas vezes.

— Pelo jeito estava muito bom. — Betânia comentou provocando Tino.

— Olha aqui, garota abusada. Já não chega o Marvin que pega no meu pé o tempo todo desde que chegou aqui, esse tagarela... agora você também!

Mais tarde como se fossem crianças pequenas, os três se pelaram das roupas e afundaram-se na grande tina de madeira, lavando uns aos outros, fofocando e cantando algumas músicas até os bocejos começarem. Logo, cada qual, dormia em seus respectivos e pequenos quartos. 

Betânia teve certeza que ouvira um grunhir animalesco e que pareceu mexer nas tábuas da casa com as unhas. Não acendeu a luz, mas se levantou e pela primeira vez sem ajuda de muletas e apoiando-se nas paredes, ela foi investigar. Os dois cães tinham saído e não voltaram ainda, talvez fosse Touro e Urso.

Abriu a porta e viu que os dois cães estavam do lado de fora da porteira de madeira aguardando que alguém abrisse. A noite era escura demais para ela se aventurar, mesmo com a lanterna para iluminar, sozinha não tinha como se defender dos perigos. Touro lhe assustava, ele parecia muito mais com uma força da natureza do que com um animal. Mas eles a viram e balançaram o rabo, fizeram dengo e até um latido pedinchão, emitiram.

O problema é que ela ouviu algo em torno da casa e ao mesmo tempo não poderia ignorar os dois animais. Enfrentaria o que fosse e abriria o portão para eles. Abandou a segurança do lar e caminhou vagarosamente pelo gramado úmido, parando ao som de um novo grunhido. Seguiu, com uma expressão de pavor no rosto e pôs sua mão no portão. Estaria desobedecendo Bill pela segunda vez. Mal abriu a porteira, os dois animais pularam sobre ela, que caiu sentada e foi vítima de lambidas carinhosas e saudosas dos dois enormes cães.

— Vocês dois me assustaram, seus bobos. Onde está o Bill? — Touro se afastou e Urso lhe serviu de apoio para que levantasse. Fechou a porteira e notou uma luz acesa dentro de casa. Tinha certeza que não havia sido ela. Urso a acompanhou até que ela entrasse, ainda temerosa, e se surpreendeu com a imagem que se desfazia a sua vista. — Bill?

O urso, agora homem outra vez, estava de pé e completamente nu em frente aos olhos dela. Estava sujo e fedido de suor, mesmo assim ela se atirou nos braços deles. Beijou o peito que exalava o cheiro viril e aceitou que ele a tomasse ali mesmo, desejava o corpo dele, o cheiro, o corpo peludo no seu, as mãos poderosas lhe acariciando e o pênis imenso em ereção lhe desbravando.

— Bill... — Ela sussurrou como um miado dengoso de gato sonolento. Dormiu no peito dele, depois que ele pacientemente banhou ambos e a levou nos braços à sua cama. Na manhã, o Sol era um convidado de honra. Entrou pelas frestas da casa de madeira e beijou calorosamente os corpos nus e preguiçosos.

Bill dormia pesadamente, pois passou horas cutucando sua princesa que roncava alto. Betânia acordou rindo, beijou seu homem e depois o sacudiu.

— Bill, nossa como você ronca.

Ele nada respondeu e riu também, pensou só para si: "Mulheres... sábio é o homem que não confronta uma mulher que sorri".

— Está mais aliviada?

— Muito, foi tão gostoso... você quando fez...

— Ah... — Bill falava sobre ela estar mais calma, mas deixou o assunto por aquilo mesmo. — Você que é uma deusa perfeita. Não tem nada nesse corpo que não deseje o seu.

— Eu amo tanto você.

— Boba, se ama, porque chora? — Bill deu uma gargalhada e apertou-a nos braços outra vez. — Te amo, princesa. O coração do Bill agora é seu também.

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Oiii Pessoal♥ Tá quase acabando... poderia ser o último capítulo, mas haverá um bônus com momento mais íntimos, porque a gente gosta dumas safadezas.  (eu não, kkk)

Tomara que não tenha decepcionado vocês com esse conto cheio de reviravoltas, torturas, dores, tristezas, saudades, mistérios e um cadinho de fantasia. Me diverti e fiquei grisalho de vez escrevendo kkkk. Mas adorei escrever. Quando retornar com a escrita, pretendo trazer a minha tentativa de drama chamada: Em um Bunker... Mas sem prazos...  só deixo abaixo a capinha dele que fiz e exclui dos meus rascunhos daqui, para não cair em tentação de postar, kkk

Beijos e até loguinho... essa semana já posto o capítulo final 😿🙀😿🙀😿😽😽😽😽😽😽

Ótimo domingo e uma semana MARA a todos♥ 👼👼😻😻👶😽😽







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