Último Capítulo - Sã e...


A véspera do natal chegou em Harrison, assim como em (quase) todo o mundo. Em contraste a religiosidade que o dia trazia, o livro O Papai Noel do Gorro Preto estava em seu auge de vendas, superando a sua semana de estreia, e a série, de mesmo nome, acabava de ser lançada em uma popular plataforma de streaming.

A neve rapidamente tomava conta da cidade, nem tão forte, nem tão fraca, mas primorosamente notável, o que completava o cenário.

Apesar de cedo, algumas pessoas já andavam pela cidade expressando seu amor pelo Papai Noel antagonista com um gorro preto na cabeça, assim como aconteceu no Halloween, mas não na mesma intensidade, já que alguns pais proibiam os seus filhos de usarem aquele traje — apesar deles mesmos curtirem a ideia.

Janette conversava com alguém pelo celular, estava na sala da casa de Ryan.

— Eu tô muito feliz também — disse ela, e as palavras não condiziam com a sua expressão facial —, vai ser o meu melhor natal.

O outro lado da linha disse algo, e ela finalizou:

— Te vejo a noite! — A campainha da casa tocou. — Beijos.

Janette guardou o celular no bolso de sua calça e foi até a porta, a abriu, se deparando com Carolina, suas sobrancelhas levemente se arquearam.

— Carolina?! Oi — disse ela.

— Oi, Ryan tá em casa?

— Não.

— E você sabe onde ele tá? — disse Carolina, e quando Janette abriria a boca para respondê-la ela continuou. — Eu liguei pra ele algumas vezes, mas só cai na caixa postal.

— Antes de sair ele me disse que ia ficar fora o dia inteiro cuidando das pessoas, aquelas coisas de caridade que ele faz. Só volta bem mais tarde.

— Mas e o natal? Ele não vai comemorar? — disse Carolina, intrigada.

— Pelo que eu percebi ele não tá ligando pra isso.

Carolina demonstrou um semblante levemente chocado com os olhos regalados, e disse:

— Nossa... Então tá. E você?

— O Ryan pediu pra eu tomar conta de tudo por aqui... E mais tarde eu vou pra casa.

Ah sim — disse Carolina, pensativa. — Vou indo. Feliz natal.

— Feliz natal Carolina — disse Janette, e fechou a porta ao Carolina se retirar.

Que estranho..., pensou Carolina enquanto se afastava da casa de Ryan, rumo a sua própria casa.

Santa's coming to town — cantarolou um homem, que passou ao lado dela em direção oposta.

Ela continuou andando, até que parou e tirou o seu celular do bolso, digitou um número e estava aguardando a ligação.

— Alô, Simon?

Fala Carolina, feliz natal — respondeu ele, no outro lado da linha.

— Você sabe do Ryan? Eu acabei de sair da casa dele e Janette me disse que ele ficaria fora o dia todo fazendo caridade, e nem ia comemorar o natal. Você tá sabendo disso?

Olha, Ryan não me falou nada. Mas se a Janette tá falando então é verdade, por que não seria?

— Não sei... É estranho ele sumir do nada, sei que faz tempo que ele anda um pouco esquisito, mas sumir? Estranho.

Você sabe que ele pode surpreender quando ele quer... Essa não é a primeira vez.

— Não sei, realmente não sei — disse Carolina com o semblante desconfiado. — Vou te deixar em paz. Feliz natal.

Hoje vai ser um grande dia, vocês vão conhecer alguém muito especial pra mim que há tempos quero apresentar.

Carolina franziu levemente a testa e disse:

— Ah é? Quem?

Em breve não vou precisar esconder mais de ninguém, aí você saberá.

— Tá bom — disse Carolina, sem entender muito o porquê de ele ter dito isso.

Ela se despediu, e a ligação foi encerrada. Deu de ombros e seguiu caminho.

Ryan abriu os olhos lentamente com certa dificuldade, seus olhos pareciam girar, ele estava zonzo e enjoado, sem nenhum controle. Suas mãos e pernas estavam muito bem amarradas com cordas, e ele estava preso á uma cadeira de madeira, mas ainda não havia percebido isso.

Tentava se reestabelecer abrindo e fechando os olhos, e com alguns poucos segundos a tontura foi se dissipando naturalmente. Conseguiu abrir os seus olhos por completo e manter a sua estabilidade, foi quando pôde entender onde estava.

Olhava ao redor e não via muita coisa — para não dizer nada —, á esquerda e á sua frente havia uma mesa de madeira simples, e no meio do teto uma luz fraca amarela. O ambiente era pouco iluminado, e tinha paredes cinza mal pintadas.

Ryan não conseguia entender o porquê de estar ali, e nem raciocinar o que era o certo a se fazer, tentava insistente se soltar das cordas e não tinha sucesso.

— Tem alguém aí? — disse ele em tom de voz alto, mas fraco. — Tem alguém aí? — Apenas o eco presente naquela sala o respondia.

Uma forte dor de cabeça repentinamente o atingiu, isso fez com que, de forma inconsciente, ele começasse a relembrar uma memória do passado, e a razão para isso é que sua situação atual se assemelhava a aquela memória, além de medo e estranheza serem as mesmas sensações presentes.

— Não vai doer nadinha — disse o homem, agachado, encostando uma de suas mãos no rosto de um pequeno garoto, que estava sentado no chão. Os dois estavam em um quarto pouco iluminado.

O garoto chorava sem parar e, além de tristeza, sua expressão indicava raiva.

— Eu quero ir embora! — disse o garoto.

— Você vai... — Ryan se despertou daquela visão por um curto momento e balançou a cabeça. — Mas antes...

A visão se apagou totalmente, e junto dela a dor foi embora, deixando Ryan mais confuso do que com a dúvida do porquê de estar ali. Ele começou a chorar timidamente, enquanto continuava tentando se soltar daquela cadeira se mexendo, sem mais o mesmo empenho.

Carolina olhava para o relógio, ele marcava 21h em ponto, ela parecia esperar por aquele horário. Estava com o celular em mãos sentada em uma poltrona na sala, mas em um local mais reservado, já que, agora, sua casa estava cheia para a ceia de natal que iria a acontecer mais tarde.

Cadê você???, digitou ela e enviou a mensagem para Ryan, mas não chegou.

Fez o mesmo para Simon, e também não chegou. Ela se levantou e caminhou até onde os convidados estavam, foi até o seu pai, que conversava com alguém, e disse baixinho:

— Pai, eu vou precisar sair rapidinho, já volto...

— O que? Agora? — disse ele em tom repreensivo.

— É urgente.

— Um momento — disse ele para quem conversava e se distanciou dos convidados levando Carolina.

— Que urgência é essa em plena véspera do natal, Carolina?

— É pessoal... Não da pra explicar.

Seu pai iria dizer algo, quando a mãe dela se aproximou.

— Posso saber qual é o assunto? — disse ela em tom descontraído.

— Carolina tá querendo sair no meio da festa.

— Eu preciso...

— De jeito nenhum — interrompeu a mãe. — Assunto encerrado.

Ela voltou para onde a festa estava mais movimentada, e seu pai disse:

— Assunto encerrado.

— Tudo bem... — Carolina se distanciou dele e também foi á parte mais movimentada da festa.

Ela ficou ali por algum tempo, falava com alguns parentes de forma rasa apenas com a intenção de disfarçar. Assim que observou os seus pais bem distraídos em uma conversa — que poderia durar eternamente — com alguns convidados, ela saiu dali, subiu as escadas da casa, foi ao seu quarto e pegou uma pequena e simples bolsa que estava jogada em sua cama, colocou seu celular dentro. Desceu as escadas com a bolsa em mãos, foi para a cozinha, e saiu pela porta dos fundos.

Carolina chegou em frente á casa de Ryan a pé, já estava um pouco cansada pelo caminho que fez, não era tanto, mas o suficiente para tira-la de sua zona de conforto — usar um vestido relativamente curto num frio congelante não era pra qualquer um. Ela se aproximou e tocou a campainha, esperou algum tempo, e não foi respondida, tentou bisbilhotar pela janela ao lado, mas era incapaz de ver qualquer coisa com as cortinas as tampando e as luzes apagadas. Tocou a campainha mais duas vezes e nada, desistiu.

A preocupação já estava ficando nítida no semblante de Carolina, e só tendia a aumentar, decidiu, então, voltar para casa. A rua totalmente vazia não a assustava como deveria, a movimentação em algumas casas próximas e as luzes decorativas de natal justificavam isso, além de estar totalmente focada em "onde está Ryan".

Ela chegou em sua casa mas não entrou, apenas se sentou em um banco próximo na calçada, ficou olhando para o céu pouco estrelado, refletindo. Até que seu nível de ansiedade se estabilizou quando uma convicção pousou em sua mente. Se ele nem se preocupou em me dar satisfações, por que eu deveria me preocupar?, pensou ela, Se ele não tá nem aí pra mim..., Ela se levantou e foi em direção á casa, Que se dane.

De volta à festa, Carolina viu seus pais ainda conversando com as mesmas pessoas, ela tirou o seu celular da bolsa e fez uma ligação.

— Já tá tudo pronto aí? — disse ela.

Sim, só falta você.

— Assim que a festa acabar aqui eu vou e gravamos, só preciso fingir que vou dormir antes — disse e riu.

Pelo amor de Deus, ninguém pode estragar nosso challenge, vê se engana direitinho aí ein.

— Ai ai, parece que não me conhece — as duas dão risadas e encerram a ligação.

O natal oficialmente deu as caras ao bater meia noite, mas Ryan jamais poderia saber disso, ele continuava intacto e na mesma posição desde quando se deu conta de que estava ali.

Um barulho o chamou a atenção, ele não conseguiu decifrar da onde estava vindo, mas parecia algo como o movimento de uma maçaneta. Uma porta se abriu no que parecia apenas parede á frente de Ryan, aquela porta não parecia porta, apenas parte da parede. Ryan observou atentamente a abertura — enquanto escondia o medo dentro de si —, a fresta que se formava lentamente estava parcialmente escura, com uma fraca luz amarela também ganhando alguma atenção.

A silhueta de, aparentemente, um homem apareceu na porta e Ryan disse em voz alta:

— Quem é você?... O que você quer?

A silhueta se tornou visível ao homem sair da porta e ir em direção a Ryan, usava terno e gravata, calça social e sapatos, todos pretos, seu rosto era coberto por uma máscara preta fina que ia do pescoço á cabeça, e em sua cabeça havia um gorro de Papai Noel preto. Segurava um envelope em sua mão esquerda, enquanto a mão direita se mantinha escondida em suas costas.

Ryan arregalou os olhos e seus batimentos cardíacos começaram a acelerar, se manteve mudo, sem saber o que dizer, enquanto o homem se aproximava andando devagar.

— O-o-o... — gaguejou Ryan quase inaudível. — O homem parou na frente dele e agachou, ficando na mesma altura. O deu um abraço apertado, e o soltou.

— Feliz natal... — disse uma voz feminina, se aproximou ao rosto dele e o deu um beijo rápido, sem o toque dos lábios presentes por conta da máscara, nesse momento Ryan recuou a cabeça e franziu a testa, ele conhecia aquela voz.

— Ja-ja... — gaguejou ele e antes que pudesse terminar de falar qualquer coisa a mulher tirou a mão de suas costas revelando uma seringa e a aplicou no pescoço de Ryan.

— NÃO! — gritou ele as suas últimas palavras ali, e rapidamente foi amolecendo e apagando.

O natal desse ano é marcado por uma tragédia em Harrison — Na televisão, uma jornalista estava em uma rua enquanto falava, algumas pessoas também estavam espalhadas por ali, chorando e falando alto. — Um enorme número de pessoas, em sua maioria crianças, estão desaparecidas devido a um desafio conhecido como "Gorro Preto Challenge", que consistia em seguir cada passo do livro fenômeno lançado esse ano, "Papai Noel do Gorro Preto", um dos passos a se seguir era a preparação de biscoitos e leite envenenados. Além disso, os duendes, como os participantes do desafio eram chamados, deveriam pintar o rosto de preto e registrar tudo pronto em vídeo na madrugada do dia de hoje.

Coincidentemente as pessoas que fizeram o desafio desapareceram do mapa. O desafio ocorreu globalmente, mas apenas aqui em Arkansas, na pequena cidade de Harrison são registrados desaparecimentos a todo o momento.

Ainda assim os detalhes dessa tragédia são incertos, pois também há pessoas que fizeram o desafio e nada aconteceu — A jornalista de aproximou de um adolescente.

Você foi uma dessas pessoas, certo?

Sim...

Você pode contar como foi que aconteceu com você?

Eu... eu fiz o desafio, gravei, e tava falando com meu primo, que passou o natal na casa dele, ele mora em um bairro mais distante...

E ele também fez o desafio?

Sim... Acontece que depois eu postei o desafio e depois fui dormir, hoje tô aqui. Ele não, já tentei me comunicar com ele e não consigo de jeito nenhum... — Os olhos do adolescente levemente se tornaram molhados.

O que você acha que poderia ter acontecido com ele?

Eu não sei... Não sei... — A mulher se distanciou e fitou a câmera.

As pessoas querem respostas... Estão atrás de respostas, mas nenhuma autoridade se pronunciou sobre o ocorrido até o momento, o que a gente espera que aconteça em breve.

Ryan despertava lentamente no chão, abriu os olhos, mas não tinha força suficiente para se levantar, tudo girava, como na última vez. Ele aguardou aquela sensação passar, e quando passou conseguiu ficar de pé, estava em casa, no seu quarto. Ouvia uma gritaria vinda do lado de fora.

Ele saiu e foi para a sala, a televisão estava ligada e chamou sua atenção.

NÚMERO OFICIAL DE DESAPARECIDOS AINDA NÃO DIVULGADO — Passava o letreiro de "Breaking News", enquanto fotos das pessoas desaparecidas apareciam na tela.

As mãos e testa de Ryan começaram a suar rapidamente quando ele leu e entendeu um pouco do que estava acontecendo ao jornalista falar. Quando ele saiu dali, uma foto de Carolina passou na televisão entre os desaparecidos. Foi até a porta e tentou abrir, mas estava trancada, procurou as chaves olhando rapidamente na sala e não a encontrou, foi até o seu quarto e a avistou, estava em cima de sua escrivaninha. Ele pegou as chaves e reparou que embaixo delas havia um envelope, um envelope que já tinha visto antes, ele o pegou, largou as chaves ali mesmo e abriu. A carta dobrada que ele retirou dali o deixou intrigado, ele começou a ler imediatamente.

Para o meu único amor: Ryan.

Hoje é dia 25 de dezembro para você, mas saiba que essa carta começa a ser escrita dia 31 de outubro, data na qual eu tive essa ideia, inspirada em sua mãe, você saberá mais sobre isso mais para frente. Não sei quando vou termina-la, tenho pouco tempo disponível e muito o que contar.

Enfim, está na hora de você começar a conhecer a verdade.

Ryan se sentou em sua cama e continuar a ler.

Você sabe que eu fui inicialmente contratada para trabalhar na sua casa como empregada, okay, a sua mãe me contratou, você tinha 15 anos nessa época, e eu 18.

O meu propósito em sua casa nunca foi de ser empregada, mas sim uma, digamos, observadora, é para isso que eu fui ordenada. Eu precisava criar relatórios do que faziam, o que falavam, memórias... O máximo de informações que eu podia coletar, e eu fiz. O primeiro relatório saiu depois de um ano convivendo com vocês.

Você deve está se perguntando "por quê?", é uma longa história, eu vou te explica-la, e espero do fundo do meu coração que você consiga processa-la.

Marelyn não é a sua mãe verdadeira, nunca foi, ela, assim como eu, faz parte de uma organização, você sabe, a que veio ao conhecimento de todos esse ano, Papai Noel do Gorro Preto.

Você foi uma vítima da nossa organização em 2005, você é um dos irmãos do caso divulgado, o seu nome verdadeiro é Álvaro, e o seu irmão, Henrique, está morto.

Eu não posso me aprofundar muito em como essa merda funciona e, na verdade, eu não sei os detalhes da sua história pré nem pós Marelyn, o que eu sei é o que eles precisaram me contar.

Existe um processo de... Bem, eu não posso dizer exatamente o que é, mas muita gente passa por isso. Para Marelyn sair da nossa organização e adotar você como filho houve uma certa dificuldade, e ela passou pelo processo, não só ela, como você também, pois antes de ser adotado você viu e passou por coisas, você "trabalhou". Mas o processo começou a dar problemas, algumas pessoas morreram por conta disso. É por isso que eu recebi a missão de vigia-los, pois em caso de alguma lembrança, fim de jogo.

Eis que com alguns anos Marelyn contraiu Alzheimer, e assim eu passei a ser a cuidadora dela, com conhecimentos totalmente falsos. A partir disso eu tinha esperança de que nada aconteceria com vocês, eu torcia para isso, mas, esse ano, eu descobri que Marelyn estava escrevendo todas as informações possíveis sobre você, ela e a organização em um caderno, TUDO, ela deixaria para você quando morresse. Quando eu descobri ela estava terminando. Então eu apenas cumpri as minhas ordens.

Foi quando o chefe decretou: "Após o natal desse ano, iremos matar todos os (palavra rabiscada). TODOS.". Eu não o conheço.

A Marelyn precisou ser morta antes, pois já era tarde demais, ela iria entregar tudo. Planejaram a morte dela, e eu apenas segui ordens, eu sigo ordens, eu fui criada para isso. Eu espero que você me entenda.

Então foi armado um falso assalto em sua casa, onde puderam mata-la.

E por fim, eu peço para ficar tranquilo quanto ao seu destino, eu cuidei disso. Durante todo esse tempo eles acharam que o Simon era você, e vice e versa, e eu sou a responsável por isso. Eu estive com ele desde algum tempo, mas não era amor, acredite em mim, NÃO era amor, era manipulação, eu precisava ter ele por perto, para no fim, fazer o que tinha que ser feito.

Eu quero que você saiba que eu fiz isso por você!

Desde quando eu te conheci a minha vida pareceu ter algum outro propósito, e desde o primeiro relatório eu te poupei. No começo de tudo eu achei que estava sendo vigiada, que eles não iriam me deixar cuidar disso sozinha, mas não... E quando eu tive a certeza que não, eu decidi te poupar, e eu não me arrependo, eu fiz isso por você, por nós.

Você foi a primeira, a única coisa que eu amei nessa vida, com você eu pude conhecer o amor, e eu sempre achei que isso não existisse, eu não fui criada para isso. E, assim como você, eu pouco sei da minha história.

Eu queria que tudo fosse diferente, que a nossa vida realmente existisse, mas está fora do meu alcance. O sistema não vai mudar, e eu também não posso mudar.

Eu fiz, li, reli e refiz essa carta, chorei e ao mesmo tempo sorri ao escrever. Eu quero que ela sirva como uma prova de amor. E eu tenho certeza de que não existe prova maior do que isso.

Quem sabe algum dia nós podemos nos encontrar de novo e escrever uma nova história? Se um dia tudo isso acabar, eu estarei disposta.

Eu jamais deixaria que qualquer coisa acontecesse com você. E agora, você está livre!

Adeus, Ryan.

Eu te amo.

Feliz Natal.

Os olhos de Ryan se encheram ao terminar de ler a carta, mas nenhuma gota de lágrima caía. Ele jogou a carta para o ar e apoiou as duas mãos na cama, deu um longo suspiro, como se a solidão tivesse tomado conta de seu corpo. Sua vida era uma mentira, afinal ele não sabia — e ainda não conhece — sobre si mesmo.

Ele se levantou da cama, pegou as chaves e saiu de casa sem rumo aparente. Algumas pessoas estavam aglomeradas nas ruas, o que não era comum, umas choravam, outras gritavam, outras sequer tinham alguma expressão, Ryan era um desses.

A MINHA FILHA! — gritava uma mulher desesperada, chorando, sentada na calçada um pouco distante de Ryan, enquanto duas pessoas á sua volta tentavam acalma-la. — É claro que nada de bom poderia vir desse desafio satânico. Pintar o rosto de PRETO!? PINTAR O ROSTO DE PRETO!? A MINHA FILHA!

Ryan continuava a andar sem parar, um turbilhão de pensamentos invadiam a sua mente á todo o momento, enquanto suas emoções eram bem definidas, ódio e tristeza, que ainda poderiam ser traduzidas como rancor e angústia. Quem sou eu?, pensava ele, Quem sou eu?...

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