Capítulo 1 - papainoeldogorropreto.mp4


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Livro para crianças adultas, continue se você for uma delas.

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Curioso? Continue...

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Se você quer que o Papai Noel Do Gorro Preto lhe faça uma visita, continue e siga o passo a passo a seguir:

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Prepare biscoitos envenenados (receita na última página) e encha um copo com leite e veneno, deixe ambos em cima da lareira de sua casa antes da manhã do dia 25/12.

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Após isso entre no site papainoeldogorropreto.com e feche-o.

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Durma, aguarde e espere a manhã do dia 25 chegar, o Papai Noel Do Gorro Preto virá buscá-lo, e seu cor (parte rasgada)

Feliz Natal... Ha-Ha-Ha.

— Então esse é o livro?! — disse Ryan e deu uma risada fraca de desdém, fechou o livro. — Não vou nem dormir essa noite...

Era dia 31 de outubro e já não se falava outra coisa a não ser do "Papai Noel Do Gorro Preto", uma rápida passagem pelas ruas de Harrison (AR) provaria isso facilmente, várias pessoas perambulavam pela cidade fantasiadas com o famoso gorro em cima da cabeça.

— Eu acho toda essa história demais, Ry — disse Carolina, namorada dele, enquanto procurava algum livro na prateleira da livraria. — Até o rasgado eles colocaram.

— Mas você não acredita nisso não, né?

— Se eu acho demais, claro que não acredito — disse e riu. — É só uma lenda, alguma coisa assim, sei lá.

— Tem que ser — disse Ryan e colocou o livro de volta na prateleira. — Eu não vou levar essa merda.

— Vai ser o único da cidade... do país sem ele.

— Não exagera.

Carolina riu e o puxou pelo braço.

— Dizem que a página rasgada completa vai ser mostrada no filme, e você vai me levar pra ver quando estrear, ouviu? — disse ela, se insinuando.

— Por você eu faço esse sacrifício — disse Ryan e a deu um selinho. — Você vai comigo no orfanato amanhã?

— Infelizmente não. Depois da faculdade eu tenho que fazer uns trabalhos.

— Tudo bem — disse e olhou o seu relógio, que marcava 17h23.

Ryan passou no caixa e saiu da loja com Carolina e duas sacolas de livros infantis na mão.

Os dois andavam em direção ao carro, quando foram parados inesperadamente por um pequeno menino fantasiado de anjo.

Tlavessulas ou gostosulas? — disse o menino e ergueu sua a máscara que já tinha alguns doces dentro, Carolina sorriu.

— Michael, eu já falei pra você não parar as pessoas na rua sem eu mandar — disse a mãe do garoto.

— Tá tudo bem senhora — disse Ryan e se agachou para falar com o menino. — Não tenho nenhum doce agora, mas posso te dar isso.

Ele retirou um livro de uma das sacolas e deu para o pequeno.

— Ryan... — disse Carolina, mas foi interrompida.

— SOLTA ESSA PORCARIA, MICHAEL! — gritou a mãe dando um tapa no livro, que caiu no chão, Ryan se levantou dando um passo para trás. — Eu devia chamar a polícia, seu louco.

— O que eu fiz? — disse Ryan entristecido.

— Vai oferecer essas coisas do capeta pra sua mãe — disse a mulher e saiu apressada puxando o seu filho pelo braço, Ryan olhou para o chão e viu que havia dado ao garoto o livro "Papai Noel Do Gorro Preto".

— Amor, desculpa... Eu ia avisar, mas não deu tempo — disse Carolina.

— Por que você pegou essa porcaria? — disse Ryan em um tom de voz mais alto. — Eu falei que não ia levar.

— Eu sei, eu só quis brincar e fazer você entrar no clima. Como eu ia adivinhar que ia acontecer uma situação dessas?

Ryan suspirou e disse:

— Tudo bem...

Carolina pegou o livro do chão e o colocou de volta na sacola.

Alguém, sentado em uma cadeira, escrevia uma carta concentradamente, apoiada em uma escrivaninha de madeira cor marrom escuro. Estava no início, com poucas palavras já escritas.

Hoje é dia 25 de dezembro, mas

Apagou o que escrevia com uma borracha e reescreveu.

Hoje é dia 25 de dezembro para você, mas essa carta começa a ser

Apagou novamente parte do que escrevia e continuou.

Hoje é dia 25 de dezembro para você, mas saiba que essa carta começa a ser escrita dia 31 de outubro

A noite chegou e com ela a festa de Halloween anual de Simon, grande amigo de Ryan, essa data não passaria despercebida por ele nem se ele quisesse — na verdade, nenhuma data festiva passaria.

— Vocês acham que o Ryan vai se fantasiar de que? — disse Simon, já esperando por ele, e bebeu um pouco de Pumpkin Ale em seu copo, ele estava vestido de Mago, usando uma túnica com capuz totalmente preta e uma grande barba branca falsa.

— Eu chuto um gorro preto na cabeça com as roupas que ele sempre veste... e olhe lá.

O grupo de cinco pessoas ali riu.

O ambiente estava aconchegante, o frio que fazia lá fora se recusava a entrar no apartamento mantendo o clima agradável — e digamos que até caloroso —, e apesar da música alta não haviam reclamações dos vizinhos, o que era uma novidade. Enquanto Simon conversava, outros dançavam ou fingiam curtir a música. A campainha do apartamento tocou e ele foi atender a porta.

— Ryan! — disse e o abraçou. — A cada ano você se supera.

— Você sabe que eu não curto me fantasiar — disse Ryan, vestindo tênis, calça jeans e uma camisa simples com uma jaqueta de tecido.

— Eu insisti, mas não funcionou — disse Carol, vestindo uma roupa preta com estampa de esqueleto do pescoço aos pés aliada á uma maquiagem preta pesada, e recebeu além de um abraço, dois beijos na bochecha.

— Entrem, a festa é de vocês — disse Simon e abriu espaço.

A música alta desagradava Ryan, mas não era suficiente para fazê-lo deixar de aproveitar o momento, e muito menos de dançar — mesmo desajeitadamente — junto de Carolina.

Passaram-se 30 minutos de farra e conversas jogadas fora e tudo tendia a continuar assim por mais um bom tempo, mas no meio da música "Psycho Killer" Simon desligou o som e disse:

— Atenção, atenção pessoal!

Os convidados murmuraram e voltaram a atenção á ele.

— Como toda festa de Halloween minha que se preze temos a hora da história...

— Não sabia que você tinha cinco anos de idade — disse um convidado e a maioria riu.

Ha ha, muito engraçado Ben — disse Simon em tom de ironia. — Como eu tava dizendo, temos a hora da história de terror, onde eu seleciono um documentário sobre uma história bizarra... grotesca... arrepiante...

— A gente já entendeu — disse um outro convidado. — Qual vai ser esse ano?

— Calma... Nada menos do que um documentário sobre o Papai Noel do Gorro Preto — disse ele e os convidados ovacionaram com gritos.

— Esse ano temos que concordar, você acertou!

— Eu sempre acerto... — disse Simon, ligou a televisão e pegou o celular. — Se acomodem no sofá, no chão, em qualquer lugar, e se preparem para o terror.

Simon transmitiu o vídeo do celular para a televisão e o documentário não oficial começou.

O que você verá agora é uma simulação teórica do caso "Papai Noel do Gorro Preto", ocorrido nos dias 24 e 25 de dezembro de 2005, vindo à tona somente 13 anos e alguns meses depois... Não há localização, nem o nome das vítimas nas informações divulgadas... O ocorrido mudou a vida de um pai, uma mãe e dois irmão... Pra sempre... — Enquanto a voz de um homem dublava o vídeo passavam-se cenas sensacionalistas de crianças correndo gritando e papais noéis bizarros.

...em 2007 o caso foi relativamente encerrado, sem ter sido exposto na mídia, foi relatado que os irmãos, duas crianças, eram os principais suspeitos de terem matado os próprios pais, deixando biscoitos e leite envenenados em cima da lareira da casa e um bilhete dizendo que prepararam a comida com muito amor. Quando a polícia chegou ao local, no dia 29 de dezembro, os pais foram encontrados sem vida no chão da sala, também foi encontrado um gorro preto em cima da cama de cada um dos irmãos, que haviam desaparecido... — Fotos dos arquivos vazados do caso eram mostradas como comprovações ao som de um instrumental de suspense.

...o caso tomou outro rumo, não para a polícia, mas sim para nós espectadores e teoristas. Como já dito, o caso foi exposto esse ano, mas junto dele um livro que nos permite ter uma outra versão do que realmente aconteceu naqueles dias... Podemos afirmar que um dos integrantes da família tinha acesso ao livro e o seguiu estritamente para receber a visita do chamado Papai Noel do Gorro Preto. O mais lógico a se pensar é que um dos irmãos, ou ambos, foi o responsável por isso... — Ao mesmo tempo em que eram explicados os detalhes do crime era mostrada uma simulação em 3D com os personagens do caso.

...então chegamos a seguinte conclusão Os irmãos seguiram o livro movidos pela curiosidade e deixaram os biscoitos e leite envenenados com o bilhete para os pais a noite, sendo impossível decifrar o motivo de tal ato com as informações divulgadas, talvez eles apenas odiassem os pais ou possuíssem tendências psicopatas, então o Papai Noel do Gorro Preto, um criminoso que se esconde nesse personagem como forma de instigação, foi até a casa de madrugada possivelmente por meio da localização hackeada ao entrar no site papainoeldogorropreto.com, e assim buscou os irmãos, deixando sua marca, o gorro preto, na cama deles. Na manhã do mesmo dia os seus pais acordaram, viram os biscoitos e o leite na lareira, leram o bilhete deixado pelos irmãos, comeram e em seguida morreram.... — Todos os convidados se mantinham com a atenção fixa na tela, prestando atenção em cada detalhe da história sem ao menos tocar no celular, o contrário do que faziam em outros documentários de Simon.

Ryan estava junto de Carolina no chão, ele era o único a estar visivelmente desconfortável com o que via.

...o que contêm na página rasgada do livro? Quem são as vítimas? Onde estão os irmãos? Quem divulgou o caso na mídia? Quem é o autor do livro Papai Noel do Gorro Preto? São muitas as perguntas não respondidas... E talvez... nunca serão...

A tela se apagou indicando o final do documentário, uma das convidadas disse empolgada:

— Meu Deus... Isso merece o Oscar!

— Achei bem fraco, tudo suposição — disse outro convidado. — Pra mim o crime foi real, mas essa parte do Papai Noel do Gorro Preto e o seu livro é fake news...

— Mas é claro que tudo é suposição, não tem como saber o que exatamente aconteceu — disse Simon.

— Tudo não se passava de uma lenda? Por que esse documentário trata como um crime real? — perguntou Ryan.

— Porque esse é o foco dele, existe esse lado da história, de tudo poder ser um crime real — respondeu Simon. — Eu, particularmente, acredito no documentário.

— Como assim? — disse Ryan com um olhar de estranheza.

— Como assim o que?

Ryan se levantou e disse:

— Você acha o caso real e tá financiando isso? Como você pode gostar e consumir isso como entretenimento?

Os convidados voltaram toda a sua atenção para a discussão que estava por iniciar.

— O quê? Não tô financiando nenhum crime.

— Calma Ry — disse Carolina, e também se levantou.

Ryan foi ao armário do lado da televisão, pegou o livro "Papai Noel do Gorro Preto" que estava ali e disse:

— Comprar isso aqui é financiar.

Simon revirou levemente os olhos e um convidado disse:

— Cara... Relaxa...

— Relaxar? Duas crianças tão sumidas e provavelmente mortas hoje, a mídia tá usando essa história pra ganhar dinheiro e vocês tão ajudando.

— É uma história antiga, sendo real ou não já foi — disse Simon.

— Não acredito que eu ouvi isso... Você é ridículo — disse Ryan. — Eu vou embora.

— Espera, calma... acho que podemos resolver isso aqui e agora — disse Carolina.

— Também não precisa ir embora — disse Simon.

— Você vem comigo ou não? — disse Ryan, dando atenção apenas á Carolina.

— Tudo bem... — respondeu ela e foi até o sofá pegar a sua bolsa. — Desculpa Simon.

Os dois foram embora e a festa que antes era agitada foi silenciada, Simon, transparecendo infelicidade, disse:

— A festa acabou!

Ryan levava Carolina de carro para casa, o trajeto estava pouco movimentado, deixando os enfeites de natal de algumas casas se destacarem solitariamente.

— Agora vocês vão ficar brigados por algo tão sem valor? Vocês são amigos há tanto tempo...

— Não é sem valor, não posso ficar sendo amigo de alguém que se diverte com um crime envolvendo crianças. Crianças.

— Mas você mesmo disse que não acredita na história.

— Sim... — disse Ryan e pensou por curtos segundos. — O problema é ele acreditar e mesmo assim consumir.

— Entendo, mas tenho certeza de que não é com o crime que ele e as pessoas estão se divertindo, e sim com o Papai Noel do Gorro Preto apenas, esse personagem...

— Que é o autor do crime — interrompeu Ryan. — Se você pensa assim, você não entende.

Ryan estacionou o carro na frente da casa de Carolina, ela o deu um beijo simples e rápido e foi para casa. Ele voltou a dirigir, dessa vez á caminho de sua própria casa.

A poucos quilômetros de casa, parado no sinal vermelho, ele começou a chorar, a resposta para isso vinha de dentro, um vazio interior que nem ele sabia explicar por completo — apesar de conhecer uma boa parte dele —, aquela forte tristeza o consumia naquele momento.

Chegando em casa ele estacionou o carro na garagem e entrou. Sua mãe, Marelyn, estava sentada no sofá assistindo televisão, com o livro do Papai Noel do Gorro Preto (que Ryan trouxera mais cedo) em seu colo.

— Cheguei! — disse ele e Marelyn se levantou depressa.

— Filho! — disse ela com lágrimas nos olhos, e o abraçou. — Eu já tava preocupada, você demorou tanto no supermercado.

— Aconteceu alguma coisa? — disse Ryan, reparando na feição triste de Marelyn.

— Não, eu só tava... — disse Marelyn, antes que pudesse terminar a sua cuidadora, Janette, apareceu na sala e disse:

— Boa noite Ryan, não sabia que já tinha chegado.

— Acabei de chegar... — disse Ryan. — O que queria me dizer, mãe?

— Que eu tava... tava... Eu não me lembro...

— O que aconteceu? — disse Janette.

— Acho que eu deveria perguntar o que aconteceu, não? — disse Ryan, com um leve tom de raiva em sua voz. — Ela tava chorando?

— Desculpa, Ryan... — disse Janette. — Não sei porquê, eu tava na cozinha lavando a louça do jantar e retornei agora.

— Você não pode culpar ela por algo que eu não me lembro — disse Marelyn. — A Janette sempre foi uma boa moça, sempre cuidou bem de mim.

— Não, eu não tô culpando ninguém, só queria saber o motivo do seu choro — disse Ryan. — Me desculpa se soou agressivo, Janette.

— Não precisa me pedir desculpas, tá certo em se preocupar com a sua mãe.

Marelyn voltou ao sofá para assistir televisão.

— Bom... Então amanhã acertamos a sua hora extra, okay? — disse Ryan.

— Sem problemas... — respondeu ela, e em seguida cochichou: — Você pode me levar até a porta? Preciso te falar uma coisa.

Ryan assentiu e os dois saíram para a frente da casa.

— O que aconteceu? — disse Ryan, seus batimentos cardíacos começaram a acelerar.

— A sua mãe não tá nada bem... Eu sei que não devia me intrometer na sua vida pessoal, mas posso te dar um conselho?

— Pode sim, claro... Você é quase da família, pode ser totalmente transparente comigo.

— Interna a Marelyn em uma clínica, uma boa clínica específica pra pessoas com Alzheimer, ela vai ser muito mais bem cuidada do que em casa, e terá um tratamento até mais eficiente.

— Mas... Por que acha isso? Você cuida muito bem dela aqui, e com ela por perto eu me sinto mais seguro. Aqui eu sei como ela é tratada, agora em uma clínica... Pera, você tá querendo pedir demissão?

— Não, não é isso. E eu te entendo... Mãe é mãe, mas eu digo que ela não tá bem por conviver aqui diariamente e reparar nas coisas que ela anda fazendo.

— Que coisas? — disse ele um pouco assustado e cruzou os braços por conta de um vento gelado que somente ele sentiu.

— Chorando, falando sozinha... com medo. Acredito que a doença dela pode tá piorando, ou até mesmo surgindo outras.

— Não fala isso nem de brincadeira... Antes de tudo preciso levar ela no médico e falar sobre isso. Mas eu não acho que ela esteja piorando.

— Eu só precisava te alertar — disse Janette, e pegou nas mãos de Ryan. — Apenas pense nisso, tudo bem?

— Tá bem — respondeu ele, e ela retirou suas mãos logo em seguida.

Ah, eu já ia me esquecendo, sabe aquele livro que você trouxe, o do Papai Noel do Gorro Preto?

— Sim...

— Acho melhor você guardar, o conteúdo dele não faria bem pra cabeça dela se ela lesse. Não acha?

— Vou jogar aquilo fora, eu nem ia comprar, foi meio que um acidente.

Janette assentiu e disse:

— Bom, agora eu preciso ir.

— Obrigado por se importar.

— Nada, é o meu trabalho. Boa noite, até amanhã — disse ela e se virou para ir embora.

— Boa noite.

Ryan entrou para dentro de casa pensativo, pegou o livro "Papai Noel do Gorro Preto" que estava jogado na mesa de canto e foi para o quarto. Sentou em sua cama com o livro na mão e refletiu por alguns segundos, levantou e guardou o livro na primeira gaveta de sua cômoda.

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