Capítulo Vinte e Três

• • •

Eu tinha acabado de sair de um jantar um tanto conturbado na casa dos Lance. Spencer não só havia contado que planejava ir para a Universidade Columbia, com ou sem a aprovação deles, como também confessou estar apaixonada por Chloe.

— Eu conto a história toda depois. — falou Spencer, me levando até a porta. — Agora eu preciso enfrentar uma briga com os meus pais e ouvi-los dizer como eu sou um fracasso e como eles estão desapontados.

— Não dê ouvidos à eles. Estou orgulhosa de você. — disse eu. — Mas estou muito confusa, minhas duas melhores amigas, juntas? Quando isso aconteceu? Como?

— Eu sou uma das suas melhores amigas? — inferiu Spencer, surpresa.

— Uma vez que eu aprendi a ignorar sua obsessão por fofoca, seu lado mandão e o seu ego inflado... É, você é sim.

Spencer riu e me abraçou. Enquanto eu dirigia para a casa de Jason, meu celular não parava de apitar. Provavelmente minha mãe já tinha divulgado para toda a família que eu ia para uma Ivy League e parentes que eu nem conhecia deviam estar me mandando mensagens para me parabenizar, exatamente como aconteceu quando Tommy nasceu.

Assim que estacionei, reparei numa figura autoritária e arrepiante saindo da casa. Era Joseph Martell. Pai do Jason.

Uma sensação ruim me ocorreu. Mas eu estava alegre demais, então ignorei.

Bati na porta inúmeras vezes e ninguém atendeu. Resolvi usar a chave extra que ficava escondida debaixo do capacho.

— Olá... Tem alguém aí? — falei, pois a casa estava escura e silenciosa. Caminhei até o andar de cima, onde encontrei Tommy no quarto da mãe de Jason, em pé no berço, assistindo à televisão. — Oi, Tommy. — o peguei no colo e o beijei. — Onde está o papai?

Tommy estava muito concentrado no programa de cavalinhos para me responder. O coloquei de volta no berço e fui na direção do quarto de Jason, imaginando que era o local que ele deveria estar.

— Oi, Jason, eu toquei a campainha, você não ouviu? — perguntei, me aproximando. Ele estava sentado na beira da cama, pensativo. Porém, além disso, havia algo a mais. Algo estranho nele. Seu olhar, que costumava ser um azul brilhante e cheio de vida, parecia vazio.

— Desculpa, Ariana, só acho que não é uma bora hora. — ele murmurou. Franzi a testa, confusa.

— Como assim? Temos muito o que planejar. Você tem que vir com a gente para Nova York quando formos fazer a entrevista. Quer dizer, se você aceitar, certo? — soltei uma risada, porque já sabia que ele diria "sim". — Você pensou, não é?

— Sim, eu pensei.

— Então...

Eu estava esperando uma resposta entusiasmada, uma comemoração, um abraço, um beijo, algo do tipo que mostrasse que ele estava tão feliz quanto eu. Em vez disso, Jason se levantou e se afastou, ficando de costas para mim.

— Eu falei que não é um bom momento. — rosnou ele, me lançando um olhar severo sobre o ombro.

— Você está me preocupando, diga algo.

— Você tem que ir para Nova York, Ariana. Tem que ir para Columbia. — ele suspirou. — Mas sem mim.

Suas palavras me atingiram como um tapa. E, de repente, toda a felicidade que eu achava que havia conquistado desapareceu num estalar de dedos.

— O que?! — exclamei, abismada. Não fazia sentido algum. Ele queria que eu fosse sem ele? — Pensei que estivesse animado. Não entendo. Você vai ficar aqui?

— Não. — ele me cortou, se virando para me olhar. Parecia chateado, triste. — Mas o que você esperava? Hein?! — a cada segundo seu tom de voz ficava mais agressivo. — Que eu fosse para uma faculdade comunitária?! De artes?!

— Não sei qual é o problema! Esse é o seu sonho! Artes é o seu sonho! Sempre foi! — não houve resposta. — Jason?! — continuei gritando. Eu estava boquiaberta, confusa e procurava explicações para sua repentina mudança de humor. — Isso é por causa do seu pai?! É algo que ele disse para você?! Eu vi ele saindo daqui! O que aconteceu?

— Ele me conseguiu uma vaga em Yale.

Parei alguns segundos para analisar o que Jason me dissera. Eu precisava organizar meus pensamentos, tudo parecia tão confuso e repentino que me dava dor de cabeça.

— Yale... E você está considerando ir? Mesmo sabendo que é exatamente o que seu pai quer?! Ele está mexendo com a sua cabeça! Não deixe ele fazer isso! Não desista da arte, é o seu sonho!

— Já passou pela sua cabeça que talvez eu queria ir para Yale e ser bem sucedido? Não, não passou! Você estava focada demais em se convencer de que artes é o que eu quero, para que pudéssemos ir para Nova York e ser uma linda família feliz juntos enquanto você cursa uma das melhores faculdades do país. Você tem que estar no controle de toda a sua vida. Talvez você esteja tentando me controlar também!

— Você consegue se ouvir agora?! Isso não faz absolutamente nenhum sentindo! — berrei, assustada com o que o loiro dizia. — Me acusando dessa forma... Você está sendo um verdadeiro idiota agora.

— Tanto faz. — ele deu de ombros e foi até a janela.

— Então vai fugir dessa conversa?! Do mesmo jeito como quer fugir de Nova York?! Você realmente tem tanto medo de se comprometer?!

— Eu estou tentando fazer o que é certo para nós dois! — ele vociferou.

— Em que mundo você vive que isso é o certo?!

— Olha, eu só estou tentando pensar, você me mandou pensar! E eu acho que nós não daríamos certo depois de muito tempo e isso certamente afetaria Tommy! Nós estamos juntos a, o que, três dias? E já estamos brigando!

— Você começou essa briga! Eu não entendo o que fiz para te irritar! — suspirei. — Jason... — me aproximei, tentando colocar as mãos no seu rosto. Naquele momento, ambos já estávamos com lágrimas nos olhos.

— Não, Ariana! — ele se afastou.

— Eu sei que podemos dar um jeito de funcionar. Porque eu te amo. — aquelas palavras escaparam da minha boca sem que eu pudesse evitar. Aquele era o pior momento possível, mas eu não estava chocada. Eu o amava. Eu sentia no mais íntimo do meu ser, toda vez que olhava em seus olhos. Cada segundo que passávamos juntos eu sentia a certeza crescer no meu peito.

Eu amava Jason Martell. Há muito tempo. Eu o amava quando éramos somente melhores amigos. Eu o amava como pai do meu filho. E eu o amava como a pessoa por quem havia me apaixonado tão lentamente, com cada risada, com cada conversa, com cada toque.

E, quando Jason não esboçou nenhuma reação, eu soube que aquilo que tínhamos estava se desfazendo diante dos meus olhos, se perdendo em minhas mãos.

— Bem, eu não. — vociferou ele. Tive que parar por alguns segundos para processar suas palavras. Jason...

Jason não me amava.

Como uma facada no meio do meu peito, a declaração sua declaração de que não me amava pareceu cravar fundo em minhas entranhas, corroer seu caminho até chegar em meu coração e despedaçá-lo por completo. Agora, qualquer resquício de sonho de nós dois juntos se encontrava afogado em minhas lágrimas.

Eu havia entendido a mensagem. Jason não queria Nova York, faculdade comunitária ou arte. Jason não queria a mim. Ele queria Yale. Ele havia escolhido Yale. E eu respeitaria sua decisão.

Eu só não entendia o motivo.

— Ótimo! — bradei, enxugando as lágrimas.

— Ótimo!

Saí pisando firme do quarto e fechei a porta atrás de mim. Me vendo sozinha, finalmente me permitir desabar. Escorreguei até o chão, com as costas apoiadas na porta do quarto. Deixei as lágrimas rolarem. Elas eram um mero reflexo do meu coração partido em milhões de pedacinhos.

Levara anos para que Jason e eu percebêssemos o que sentíamos um pelo outro, e dias para que nos perdêssemos.

• • •

os próximos capítulos serão o penúltimo e o último!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top