Capítulo Vinte

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Eu estava perplexa demais para esboçar qualquer reação. Boquiaberta, virei a cabeça para Jason, que descia as escadas. Ele escutara. Sabia que seu pai estava na porta. Não consegui decifrar o que seu rosto exprimia. Era uma mistura de choque, raiva e tristeza.

— Pai. — disse Jason, se colocando na minha frente para poder visualizá-lo. Ele tentou soar confiante, mas sua voz saiu trêmula. Eu observava os dois, atônita. — O que... o que está fazendo aqui?

— Não vai me convidar para entrar? — questionou seu pai. Jason soltou uma risada irônica.

— Não.

— É assim que recebe visitas, Jason? — repreendeu o senhor Martell, cruzando os braços. — Não as convida para entrar, e ainda aparece sem camisa. E, por Deus, sua namorada está usando usas roupas.

Envergonhada, me escondi ainda mais atrás de Jason, que fervia em ódio. Depois de tudo que ele me contara sobre o pai, eu também não era fã daquele homem. Costumava chegar tarde e bêbado em casa, era violento com a mãe de Jason e com Jason, vivia sendo demitido dos empregos e há dez anos os abandonou e agora vivia em New Haven com a nova família, a esposa rica e o filho de treze anos. Pelo que sabíamos ele usara o dinheiro e a reputação da família da esposa para se tornar um "novo homem" que até cursara a faculdade de Yale.

Nada disso anulava o que ele fizera com Jason e sua mãe.

— Se você tivesse ligado, eu poderia ter me organizado melhor. Ah é, eu me lembrei, você não entra em contato com a gente desde que eu tinha oito anos. — proferiu Jason, dando um passo a frente. Eu sabia que por mais forte que ele tentasse se mostrar, seu pai o intimidava.

— Eu mandei cartões em todos os seus aniversários e no natal. — o homem protestou.

— Isso não é bem ser considerado um pai presente, é?

— Por isso você nomeou seu filho em homenagem ao seu falecido padrasto? — disse Joseph, parecendo nos encurralar. Eu e Jason nos entreolhamos. Se ele viera para conhecer o neto, devia ir embora pois nenhum de nós dois deixaria ele chegar perto de Tommy. — Eu recebi o seu cartãozinho de natal. — ele tirou do bolso o cartão que havíamos mandado aos nossos parentes com a foto de Tommy. No meio de tantos nomes e endereços, devíamos tê-lo enviado um por engano. — Thomas Baker Martell, estou certo? — completou ele, num tom rancoroso.

— Sim, nomeamos ele em homenagem ao meu padrasto porque ele foi um melhor pai em poucos anos do que você foi a minha vida toda. — retrucou Jason, vermelho de raiva.

— Por favor, ele era um professor de artes.

— E você era um bêbado que batia na sua mulher e no seu filho. — o loiro cuspiu as palavras. Apertei com força o seu braço, pois sabia que havia sido difícil dizer aquilo, ainda mais com o pai diante dele. — Ele merece respeito, não você.

Joseph soltou um longo suspiro.

— Não vamos brigar, eu acabei de chegar. Você terá todo o final de semana para dizer o quão terrível eu sou. Eu preciso ir para o hotel agora.

— Vai ficar o final de semana todo? — resmungou Jason, cabisbaixo.

— Sim, eu vou. — respondeu ele. — Gostaria de ficar a semana toda, mas meu filho tem um jogo de futebol importante na quarta. — meu filho. Aquilo definitivamente devia ter magoado Jason. Seu meio-irmão tinha o pai presente e responsável, enquanto ele tivera absolutamente nada. — Tem algo muito importante que eu quero discutir com você. — dito isso, ele se virou e saiu.

Jason se sentou no sofá, com a cabeça entre as mãos. Eu nem imaginava o que passava pela sua mente agora. Ver o pai daquela forma, tão de repente, depois de tantos anos, devia ter trazido à tona tantas lembranças ruins da sua infância que ele lutara para esquecer.

— Jason... — murmurei, o abraçando e fazendo carinho em seu cabelo. Percebi que ele estava com os olhos cheios de lágrimas, mas escondia de mim. Não queria parecer fraco.

— Você deveria ir. Vou ligar para minha mãe e...

— Não vou deixar você sozinho aqui. — reclamei. Ele permaneceu em silêncio. — Jason, fale comigo. Me deixe ajudar. Me diga como está se sentindo...

— Não, Ariana! — ele me cortou, elevando o tom de voz. A raiva expressa em seu olhar me assustou. — Você realmente tem que ir.

— Está bem. — resmunguei, me levantando para ir me vestir e pegar minhas coisas em seu quarto. Estava prestes a sair sem dizer nada, quando o loiro me parou.

— Desculpe. Eu ligo para você depois, tudo bem?

Assenti com a cabeça e me aproximei para beijá-lo rapidamente. Antes que eu saísse, Jason me abraçou por longos segundos e depositou um beijo na minha testa.

— Não acredito! — exclamou Ben, ao telefone. Eu havia ligado para eles para contar as novidades, menos a parte do pai de Jason, enquanto preparava o jantar de Tommy.

— Vocês devem ter molhado a casa toda! Vocês nem consideraram se enxugar antes de entrar? — riu Chloe.

— Nós não estávamos pensando direito!

— Eu daria tudo para estar aí e ver o sorriso apaixonado na sua cara! — comentou Chloe. — Eu sempre fui a favor de vocês dois. Vocês foram feitos um para o outro. É quase como destino.

— E quem vocês acham que é a paixão misteriosa de Spencer?

Chloe ficou estranhamente quieta diante da pergunta de Ben.

— Não sei. — respondi. — Mas ela parecia bem certa de que não funcionaria.

No dia seguinte, meus pais insistiram em ficar com Tommy para que Jason e eu fossemos num verdadeiro primeiro encontro, já que nunca tivemos um. Também o ajudaria a se distrair da presença do pai na cidade.

— Eu disse para você que ele é completamente apaixonado por você. Sempre foi. Estava estampado na cara dele. — dizia April, vendo eu me arrumar.

— Você nunca me disse isso. — franzi a testa.

— Não, mas ela me falou. — replicou minha mãe. — E eu concordo.

— Então aqui que você leva as garotas no primeiro encontro? — inferi, quando chegamos ao restaurante.

— Somente quando estou tentando impressionar uma garota. — disse Jason, estendendo a cadeira para que eu me sentasse. Nossa mesa era perto da janela, sob a iluminação meia-luz. Parecia ser um restaurante bem chique, considerando a decoração, as velas e a música tocada ao vivo por um pianista.

— Está tentando me impressionar, Jason Lane Martell? — semicerrei os olhos. Jason bufou ao ouvir o nome do meio.

— Nós pulamos algumas fases, como o primeiro encontro, mudar junto, casamento, e fomos direto à ter um filho juntos, então não eu deveria. — ele fez uma pausa. — Mas estou.

Soltei uma risada.

— Ótimo, porque você é um homem extremamente privilegiado. Não é com todo mundo que eu pulo direto para a fase "ter filhos". — brinquei.

Era simplesmente tão fácil conversar com Jason. Se pudéssemos ficaríamos ali a noite inteira, e nem perceberíamos o mundo ao nosso redor. Era assim quando estávamos juntos. Nos perdíamos um no outro.

Depois do jantar, Jason sugeriu um lugar na brincadeira, contudo, eu acabei adorando a ideia.

— Tem certeza? — indagou Jason, na porta do estúdio de tatuagem. — Podemos ir embora agora mesmo, fazer uma coisa mais romântica, tomar um sorvete...

O interrompi, o beijando.

— Vamos, vai ser legal.

— Seus pais vão pensar que eu sou má influência. — ele cruzou os braços.

— Acho que eles superaram isso depois que você me engravidou.

Jason me indicou a melhor tatuadora do local. Fora ela quem fizera as únicas duas tatuagens dele. Uma delas era a data de nascimento de Tommy em sua barriga. Eu decidi tatuar a letra "T" em meu pulso, em homenagem ao nosso filho. Jason adorou tanto a ideia que decidiu fazer uma igual.

— Você acha que daqui há vários anos, quando tatuagens forem substituídas por alguma coisa tecnológica, como uma tatuagem holograma e Tommy for um adolescente que odeia os pais, vamos nos arrepender disso? — falou o loiro, assim que voltamos ao carro.

— Ele não vai odiar a gente. Nós vamos ser os pais legais.

— Pobre Ariana, tão ingênua... — zombou ele. — Nós só somos pais legais se entregarmos a chave da casa para ele fazer o que quiser, incluindo festas barulhentas, e comprarmos bebidas alcoólicas para essas festas enquanto ele for menor de idade.

Revirei os olhos. Fomos conversando até a minha casa, quando Jason parou o carro e se voltou para me encarar. Delicadamente, ele passou a fazer carinho na minha face, me admirando com seus profundos olhos azuis. No segundo em que seu olhar desceu para a minha boca, eu o beijei.

— Já é o beijo de boa noite? — Jason lamentou.

— Pode ser só o começo dos beijos de boa noite. — dei de ombros. Ele riu e mordeu o lábio.

— Vamos para a minha casa?

— Por que demorou tanto para perguntar?

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me perdoem pelo capítulo atrasado e sem revisão!!

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