Capítulo Treze
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— Mai uma vez, papai! — pediu Tommy. Como era a vez de Jason de colocá-lo para dormir, eu apenas os observava da porta.
— Eu já te contei milhões de vezes. Você mesmo estava lá. — refutou Jason. Contudo, Tommy insistiu, usando uma arma imbatível: a carinha de anjinho. — Está bem! Está bem! Os Lobos da Montanha...
— Au! — uivou Tommy, pulando na cama.
— Nós estávamos perdendo e o tio Bailey fez a jogada da vitória. Pronto. — disse Jason, encurtando a história de como eles tinham vencido naquela manhã. Ele estava pronto para cobrir o nosso filho, quando recebeu mais uma objeção.
— Pera aí! Mamãe. — ele me chamou. Com um sorriso bobo no rosto, me aproximei. — Olha. — ele tirou uma folha de papel debaixo do travesseiro e nos entregou.
Eu e Jason nos entreolhamos, surpresos. Era um desenho de nós três e Pesadelo dentro de um grande coração. Do lado de fora, haviam duas pessoas, um homem e uma mulher. Não fazia ideia do que aquilo poderia significar. Será que ele estava preocupado que Spencer e Luke pudessem "invadir" nosso coração?
— É um desenho muito lindo, Tommy. Você é talentoso assim como seu pai. — comecei. — Mas você não quer manter seu coração aberto? Quanto mais gente melhor, certo?
Tommy balançou a cabeça em negação.
— Tudo bem. — Jason o tranquilizou ao beijar sua testa. Eu saí do quarto e deixei que ele ficasse lá até Tommy adormecer. — Devemos nos preocupar? — perguntou Jason, saindo e fechando a porta atrás de si. Eu o esperava no corredor.
— Acho que não, ele é muito pequeno. — dei de ombros. — O importante é que ele saiba que vem em primeiro lugar sempre.
— É, você está certa. — respondeu. Descemos as escadas e demos de cara com a minha irmã brincando com Pesadelo, que rosnou ao ver Jason. — Ele ainda não gosta de mim?
— Puxou à mim. — brincou April, nos fazendo rir.
— Então... você e Spencer. Uma cena e tanto hoje. — comentei, enquanto o acompanhava até a porta. Quando os danos causados pela árvore caída na casa de Jason foram reparados e Tommy não precisava mais de uma atenção redobrada durante a noite, Jason passou a dormir apenas de vez em quando na nossa casa, mais ou menos umas duas ou três vezes por semana. Foi a única forma que encontramos para que Jason não ficasse ausente no dia a dia de Tommy. Inclusive, por esse motivo ele tinha uma gaveta própria no meu armário.
— Eu definitivamente não estava esperando. — o loiro soltou uma risada envergonhada. — Mas nós conversamos. Decidimos nos dar mais uma chance. Marcamos um encontro amanhã.
Pouco tempo depois do nascimento de Tommy, Jason e Spencer tiveram uma briga séria, que ocasionou no término do relacionamento deles. Por causa disso, o nosso blog ficou estagnado por meses, porque era doloroso para Spencer me ver, porque eu lembrava ela de Jason. Agora, nosso blog estava indo muito bem e estávamos ficando cada vez mais famosas.
Talvez tenha sido por isso que eu ficara tão chocada ao ouvir que eles iam tentar novamente. Não queria afetar que nada afetasse o blog.
— Ah, vocês tem um encontro? — minha voz soou falha e meu sorriso era falso. Por que eu não posso simplesmente ficar feliz por Jason?!
— Sim, amanhã. — respondeu ele, fitando o chão.
— Por que não hoje? Quero dizer, vocês não querem apressar as coisas ou...
— Na verdade, é porque da festa na casa do Bailey, mas eu nem vou ficar muito tempo. — ele riu. — Aliás, tem certeza de que não quer ir? Tommy está dormindo, a April pode olhá-lo.
— Não, eu já combinei com Luke de jantar com ele.
— Ah, sim eu esqueci. Olha se tivermos algo planejado para amanhã, eu cancelo o encontro. Eu...
— Não, você tem que ir. — o incentivei, sentindo um aperto no coração. Eu estava sentindo esse aperto, essa sensação ruim, desde aquela noite quando invadimos o colégio. Algo não parecia certo dentro de mim. — Mande um beijo para os meninos. E parabéns novamente pelo jogo de hoje.
— Obrigado, Ariana. Cuide do nosso pequeno. Qualquer coisa me liga. — ele começou a caminhar até o carro, mas se virou para mim. — Não sei se eu venho dormir na terça, depois de amanhã. Eu sei que temos adiado isso porque é bem chato, mas um dia nós não vamos mais poder fazer isso. Sei que somos... — ele mordeu o lábio, parecendo triste em dizer aquilo. — melhores amigos, mas... Não podemos morar juntos, não é? Temos que começar planejar como isso vai funcionar.
— Você diz... divisão da guarda? — falei, sentindo aquelas palavras se engasgarem na minha garganta.
— Não vamos falar sobre isso agora. As coisas vão se resolver.
— Claro. — murmurei.
— Tchau. Bom encontro com... com o Cooper. — Jason se despediu, cabisbaixo. E, de repente, eu tinha perdido totalmente a vontade de ver meu namorado. Meus pais tinham saído para jantar, ao passo que eu tinha chamado Luke para vir jantar em casa e April tinha ido para o seu quarto, para conversar pelo telefone com o namorado que estava viajando.
Eu mal tinha terminado de me arrumar ou tentar preparar um jantar decente, quando ouvi a campainha tocar.
— Oi, Luke! — falei, ao abrir a porta. Eu tinha decidido que ia deixar aquelas sensações esquisitas e a conversa com Jason de lado e ia me divertir.
— Oi! — ele entrou e me deu um selinho. — Trouxe isso para você. — ele me entregou um buquê de tulipas de cor rosa. Eu agradeci e verdadeiramente apreciei o seu gesto carinhoso, mas na realidade eu não gostava de tulipas. Entretanto, ele parecia tão feliz que eu achei melhor não falar. — Eu tenho algo incrível para te contar. — anunciou, quando já estávamos no meio do jantar.
— Espero que seja sobre o quanto você ama pizza congelada. — brinquei, apontando para a nossa comida. Uma vez que a minha tentativa de cozinha havia falhado catastroficamente, já que eu era uma péssima cozinheira, decidimos comer as sobras da geladeira.
Luke pareceu não entender que era brincadeira e franziu a testa.
— Hum... não. Na verdade, é sobre a faculdade. Eu passei! Entrei na faculdade mais próxima da cidade!
— Meu Deus, Luke, isso é incrível! — o abracei. — Estou muito feliz e orgulhosa de você.
— Sabe qual a melhor parte? O curso de jornalismo deles não é nada mal. Nós podemos alugar um dormitório juntos e...
— Eu sempre quis ir para longe. Sabe, fazer uma faculdade grande... — disse eu, assustada com a proposta dele. Luke estava praticamente dizendo para que fossemos morar juntos.
— Mas eu já me inscrevi por você.
— Você fez o que?! — me levantei da cadeira num salto, perplexa. — Por que você faria isso?
— Eu achei que você fosse querer fazer uma faculdade perto, para ficar perto do seu filho. — Luke, arqueou uma sobrancelha, confuso. Para mim, aquilo parecia tão absurdo. Não era como se eu fosse para a faculdade e largaria meu filho na nossa cidade natal. Eu nem sabia se teria condições de ir para a faculdade! E odiava isso.
— Mas você não poderia fazer isso sem a minha permissão! — protestei.
— Eu estava tentando te ajudar! Pensar num futuro juntos!
— Não acha que é muito cedo para pensar nisso?! — bradei. Quando vi, já estávamos elevando nossos tons de voz.
— Ariana, eu conheci o seu filho! E você quer algo mais sério do que isso?! Por que simplesmente não consegue dizer que sim?!
— Luke, eu sinto muito, mas não é bem assim. — eu balançava minha cabeça freneticamente. Luke me mostrou um lado terrível seu, um lado que eu não conhecia. Ele passou a gritar e dizer coisas terríveis apenas porque eu não tinha reagido como ele queria, tentando fazer eu me sentir culpada. Sem paciência para o modo que ele estava me tratando, logo o cortei: — Você não tem o direito de gritar comigo! Não é o que eu quero! E pronto! — vociferei. Eu tinha que pensar no meu futuro e no meu filho e envolver outra pessoa parecia complicado demais. — Desculpa, Luke, não é o que eu quero ainda!
— Eu não posso esperar para sempre!
— Eu nunca pedi para você esperar, pedi? — retruquei.
— Talvez eu deva ficar com alguém que esteja pronto para o próximo passo! — resmungou Luke, se levantando e se dirigindo para a saída, pisando firme. — E, advinha só, fui eu quem planejei o sequestro ao seu cãozinho das montanhas!
Soltei um longo suspiro ao ouvir a porta se fechar com força e deixei as lágrimas rolarem. Não sabia como digerir tudo aquilo. Era um encontro, e tão rapidamente se tornou uma briga e um término. Ah, e a declaração de que ele tinha sido responsável pelo sequestro do Lobo, o mascote do nosso time de futebol, que já tinha sido encontrado e já estava bem.
Tudo isso estava deixando a minha cabeça a mil. Eu precisava parar, respirar, organizar os pensamentos. Com isso em mente, peguei uma das garrafas de vinho da minha mãe e bebi. Só uma taça; só umazinha.
Era quase uma da manhã, e eu me encontrava acordada na minha cama, pensativa. Todas as memórias que tinha vivido ali, naquele quarto. Todas as noites mal dormidas cuidando de Tommy. Era onde o berço dele ficava. Onde ele aprendera a andar, e onde dissera as primeiras palavras. E Jason estava presente em tudo. Em cada choro, em cada doença, em cada momento alegre e especial. Agora ele não estava mais ali e a ideia de que nossos caminhos se separariam estava mais próxima do que nunca. E isso me angustiava.
Por isso, me peguei abrindo a gaveta dele, buscando um de seus moletons e o trazendo para perto de mim. Voltei para cama, ainda com o moletom em mãos. Era quase como se Jason estivesse mais uma vez ali, deitado, conversando comigo depois de lutarmos para que Tommy voltasse a dormir. O seu cheiro estava impregnado naquela peça de roupa.
Eu não sabia o que estava fazendo àquele ponto, mas, mergulhadas em lembranças, busquei meu celular e o liguei.
— Alô, Ariana? — ouvi a voz de Jason do outro lado da linha. Parecia sonolento. Meu coração errou as batidas ao ouvir sua voz.
— Desculpa, eu te acordei?
— Não, acabei de chegar em casa. Por que ligou, está tudo bem? Aconteceu algo com Tommy?
— Não, Tommy está bem. Desculpa de preocupar. — suspirei. — É só que... não sei, seu número está nos meus favoritos. Eu queria ouvir sua voz.
— Meu número está nos seus favoritos? — indagou ele, com seu tom atrevido de sempre.
— Não fica se achando, você é o pai do meu filho. — disse eu, rindo.
Conversamos por alguns minutos e eu o contei sobre o término. Até que eu precisei desligar porque meus pais tinham chegado.
— Mãe, pai, como foi o jantar? — perguntei, descendo às escadas para vê-los.
— Sua mãe me convenceu a comer lagosta. — resmungou meu pai. — Que bom que ela fez isso. — completou, puxando-a para um beijo.
— Não, nada de melação na frente das suas filhas. — reclamou April, se aproximando. Ela me pegou pela mão e nós duas nos jogamos no sofá.
— Disse a garota que ficou horas com o namorado no telefone. — repliquei.
— Nós vamos subir, meninas. — disse a nossa mãe, depositando um beijo na testa de cada uma de nós. — Não vão dormir tarde. Ah, Ariana, posso ir lá dar um beijinho em Tommy?
Assenti com a cabeça.
— Então, como foi com Luke? — questionou April, assim que nossos pais foram para o andar de cima.
— Ah, ele me trouxe tulipas...
— Mas você odeia tulipas. — interrompeu minha irmã.
— Eu sei! Daí nós terminamos.
— Vocês terminaram porque ele te trouxe tulipas?! — exclamou ela, com os olhos arregalados.
— Não, claro que não. Nós terminamos porque ele queria algo muito fora do meu controle. Falou sobre nos mudarmos juntos e faculdade...
— E por isso você ligou para Jason?
— O que? Não! Claro que não! — comecei a gargalhar, nervosa. — Como sabe?
— Eu ouvi vocês.
Respirei profundamente.
— Desde que eu e Jason fomos até aquela cobertura de novo... Não sei, eu te disse, acho que ele queria me beijar. Óbvio que isso seria um absurdo, mas desde então, eu tenho estado meio nostálgica, entende? Não consigo parar de pensar de como era quando ele praticamente vivia aqui. Nós nos aproximamos tanto naquela época...
— Não acho que seja nostalgia. — disse minha irmã, me encarando seriamente. — Me fale coisas que você gosta em Jason.
Achei o pedido meio estranho, mas falei, com um sorriso no rosto:
— Eu gosto como ele é engraçado até nos momentos mais inconvenientes. É até meio irritante às vezes. Eu gosto como ele é espontâneo, diferente de mim, que sempre sigo minha organização. De repente ele tem uma ideia e faz planos do nada, como naquele dia que saímos para fazer piquenique na floresta ou quando ele decidiu que ia dirigir horas para que levássemos Tommy para a praia. E quando ele dorme aqui, e eu acordo exausta por cuidar de Tommy durante à noite, ele simplesmente decide fazer um café da manhã extravagante, testando uma receita quase impossível que ele viu na televisão. E ele sempre me arrasta para essas maluquices. — parei para pensar. April me olhava, curiosa. — Eu gosto como podemos conversar. Realmente conversar. Sobre tudo. Desde coisas simples e tolas até coisas profundas e sentimentais. Eu gosto do jeito que ele me olha. Com aqueles olhos azuis. E o cabelo dele... é tão macio. E ele é ótimo em abraçar e em me manter calma em momentos difíceis.
— E deixa eu adivinhar, você está sempre pensando nele. — inferiu.
— O que?!
— Talvez você esteja se apaixonando pelo Jason.
Saltei imediatamente do sofá. April estava louca! Não havia absolutamente nenhuma forma de eu gostar de Jason. Não daria certo! Éramos melhores amigos e dessa forma estava bom e tinha funcionado nesses dois ano. Era dessa forma que nós nos dávamos tão bem, e era dessa forma que tinha que ser. Qualquer outro jeito afetaria Tommy. E isso era a última coisa que eu queria.
Certo?
— Não, April! Não!
— Escuta, talvez alguma parte profunda do seu subconsciente goste da ideia de você, Jason e Tommy como uma família! E isso talvez deixe seus sentimentos confusos, só isso.
— É, eu devo gostar da ideia, é isso... — suspirei, me acalmando. — Não é nada demais.
April me abraçou.
— Sabe quem nunca te compraria tulipas porque sabe que suas flores favoritas são lírios? Jason.
— Você nem gosta do Jason, não deveria defendê-lo. — falei, indignada, jogando um travesseiro nela.
— Talvez eu devesse começar a gostar, quem sabe ele não se torna meu cunhado? — disse, para me provocar.
— Cala a boca.
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