Capítulo Onze

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— Mais rápido! Vamos, Jason! Mais rápido! — eu gritava no ouvido dele.

— Ariana, você está me desconcentrando!

— Você está fazendo errado! — reclamei. Jason tinha realmente uma mira muito ruim. Já era a terceira vez que ele comprara o ticket para ter a chance de acertar todos os patos com uma arma de brinquedo. Se ele conseguisse, ganharia um cavalo de pelúcia gigante que Tommy estava desesperado para ter.  Era uma competição muito séria, até porque tinham inúmeras crianças na fila desejando o mesmo prêmio.

— Você não vai conseguir, loirinho. Deixa as crianças brincarem. — reclamou o rapaz responsável por aquela barraca. Era o aniversário de dois anos de Tommy e nós tínhamos nos reunido com alguns familiares para um piquenique naquele parque de diversões. Nosso filho era muito pequeno para ir na maioria dos brinquedos, mas ele gostava das luzes, das guloseimas e do carrossel, principalmente por causa dos cavalos.

— Só mais uma vez, por favor. — implorou Jason. — É o aniversário do meu filho, olha, aquele anjinho ali. — ele apontou para Tommy, que brincava no colo da minha mãe. Eu ficava encantada ao ver Tommy crescer tão rápido, e ficando mais fofo a cada dia. Ele era uma verdadeira mistura minha e de Jason. Sua pele era clara, mas olhos eram castanhos e seus cabelos eram loiros e bem cacheados. — E ele quer muito esse cavalo. Ele é obcecado por cavalos. Por favor.

— Só mais uma vez. — o homem reclamou.

— É agora ou nunca. — murmurei para Jason. Infelizmente a mira de Jason não se tornou magicamente boa, e ele não conseguiu derrubar todos. Contudo, como ele tinha acertado boa parte e o rapaz ficou com pena, acabamos ganhando um cavalinho um pouquinho menor.

Voltamos para a área gramada do parque onde meus pais e minha irmã nos esperavam com o piquenique pronto.

— Olha o que o papai conseguiu! — exclamou Jason, entregando o cavalinho de pelúcia para Tommy, que pulou de felicidade. Ele já conseguia dizer uma palavra ou outra e uma delas era "cavainho". — Já é a hora de abrir os presentes? Porque um deles deu muito trabalho.

Soltei uma risada, lembrando da noite passada. Eu estava terminando uma matéria para o jornal da escola, uma vez que Tommy tinha finalmente dormido, quando recebi uma ligação de Jason:

Alô, Jason? Por que você não veio para casa ainda? — questionei, preocupada. Já era para ele ter chegado em casa do trabalho há trinta minutos.

Eu estou com um leve probleminha. Me encontra no colégio.

Deixei Tommy com April e dirigi apressada até o local indicado. O encontrei sentado nas escadarias, diante da entrada.

O que aconteceu? — disse eu, me aproximando. O loiro, que não conseguia tirar os olhos da porta, soltou um longo suspiro.

Eu deixei o presente do Tommy dentro do meu armário. — suspirou. Arregalei os olhos, surpresa. — Precisamos entrar e ir buscar.

Jason, o colégio está fechado! — contestei. Não fazia ideia do que Jason pretendia fazer.

Ainda não, o pessoal da aula noturna está saindo. A gente entra e sai rapidinho. Ninguém nem vai saber que estivemos aqui. — ele insistiu, se levantando.

Eu não vou invadir o colégio. — protestei, cruzando os braços. Ele estava louco se achava que eu ia concordar com esse plano.

Não é invadir, é buscar algo que é nosso, num horário fora do normal. Olha, eu vou com ou sem você. Mas se formos juntos, vai ser bem mais fácil.

Respirei fundo, sabendo que ele não ia desistir tão fácil.

Se formos pegos...

Não vamos. — ele sorriu e me puxou pelo braço. Até que entrar não tinha sido tão difícil, pois o colégio ainda estava fechando. Uma garota que tinha ficado com Jason na época em que nós dois estudávamos de noite concordou em distrair o segurança para que entrássemos.

O corredor principal estava totalmente vazio e mal iluminado. Era quase que um lugar diferente. Jason me guiou em direção ao armário dele. Eu comecei a vasculhar a parte debaixo, ao passo que ele procurava na parte de cima.

Nada aqui. — falei. O armário de Jason era uma verdadeira bagunça. Tinha até uma bola de futebol americano e inúmeras fotos. Fotos do Tommy, de nós três e fotos no campo de futebol.

Aqui também não... — lamentou. Olhei para ele, irritada.

Jason, você disse que estaria aqui! Não temos muito tempo!

Eu sei, eu sei. — o loiro tentou me tranquilizar. Eu continuei brigando com ele, que observava o nada, pensativo. — Já sei! — exclamou. — Deve estar no meu armário do vestiário.

Antes que eu me desse conta já estava sendo arrastada para o vestiário masculino. Jason ignorou todos os meus protestos e me empurrou para dentro.

Nossa, esse lugar fede. — reclamei, fazendo uma careta.

Achei! — comemorou Jason, tirando uma sacola do meio de uma pilha de roupas sujas.

O que é? — perguntei, curiosa, espiando dentro da sacola. Já estava embrulhado com uma embalagem de presente azul cheia de cavalinhos e um laço da mesma cor no centro.

É um kit de pintura infantil. — ele explicou. — No caso dele puxar ao pai, sabe.

E se ele gostar de escrever, como a mãe? — inferi.

Vamos ter que esperar até ele ser alfabetizado para descobrir.

Um barulho do lado de fora interrompeu nossa conversa. Assustada com a possibilidade de ser encontrada, falei para Jason que deveríamos ir imediatamente.

Eu só quero ver uma coisa. — respondeu. — Dois segundinhos, eu juro.

Soltei um gemido de frustração e segui Jason. Nós subimos as escadas em direção a um lugar que nós adorávamos ir quando estudávamos no período noturno. A cobertura. Era tranquilo naquele horário, e dava para ver o céu sob o véu da noite. Dali, tudo parecia tão pequeno.

Está exatamente igual... — murmurei, admirando a vista.

Parece que faz anos. — falou Jason, de maneria nostálgica e sentou no chão.

Não acredito que amanhã faz dois anos anos desde que eu segurei Tommy pela primeira vez em meus braços. — disse eu, lembrando do melhor momento da minha vida.

Ah, eu me lembro disso. Também me lembro da gritaria, dos xingamentos e da ameaça de morte. Por favor, não me convide para mais nenhum parto seu.

Revirei os olhos e soquei levemente seu ombro.

Se você me aguentou no parto, consegue me aguentar em qualquer momento.

É estranho pensar que eu tive uma vida antes do Tommy. — Jason riu e se deitou. O acompanhei e deitei ao seu lado. — Então, o que acha do meu desempenho como pai nos últimos dois anos?

Acho que você é um pai incrível. — respondi, honestamente.

Você também não foi nada mal. — brincou.

De repente, a energia do colégio todo foi desligada, nos deixando iluminados apenas pela lua e as estrelas. Paramos para ver as estrelas. Era rara uma noite tão estrelada quanto aquela.

Se você pudesse ir para qualquer lugar agora, aonde você iria? — perguntei.

Aqui está bom. Só falta Tommy, aí seria perfeito. — respondeu. — E você?

Todo lugar. — murmurei. O céu era tão vasto e o mundo era tão grande, cheio de lugares para ver e conhecer. — Antes de Tommy, eu adorava pensar na ideia de ver o mundo. Talvez fazer uma matéria em cada lugar. Algum tipo de jornalismo sem fronteiras. Não sei, acho que eu sentiria falta demais dos meus pais para isso.

Ainda pode acontecer. Faça as malas. Eu, você e Tommy conhecendo o mundo. — disse ele. Jason sempre embarcava de cabeça nas minhas conversas sonhadoras.

Como pode ter certeza de que eu quero que você vá? — brinquei.

Eu sou uma excelente companhia. — deu de ombros.

Bem, até acontecer... aqui está ótimo. — sorri. — É muito bonito. — completei.

É, muito bonito. — falou Jason, com a voz rouca. Para meu espanto, ele não estava mais olhando para as estrelas e sim para mim.

Virei a cabeça para encará-lo. Meus olhos estavam fixados dos dele e vice versa. E, pela primeira vez em muito tempo, eu o vi. Verdadeiramente vi. Cada detalhe do seu rosto, seu cheiro de perfume masculino. Eu vi o carinho que ele tinha por mim e nossa pequena família, expresso nos seus olhos que eram uma profundeza azul. Eu vi seus lábios brilhantes, que beijavam tão calorosamente. Me arrepiei ao me lembrar do beijo do Jason. Do toque dele. Do seu corpo em contato com o meu. Ao passar do tempo, tínhamos nos tornado tão próximos que eu tinha esquecido daqueles detalhes que faziam dele Jason Martell.

E eu tinha muita sorte de tê-lo como pai do meu filho e melhor amigo.

Sem que eu percebesse, Jason desviou o olhar para meus lábios e se aproximava. Ele estava obviamente sendo levado pelo momento. Em pânico, eu já estava pronta para desviar, mas antes que qualquer coisa acontecesse ouvimos o segurança gritar:

Ei, vocês, aí! O que estão fazendo aí?!

Sem controlar o riso, nós saímos dali correndo e desesperados para não sermos identificados.

— Nem batemos parabéns ainda. — falei, desviando meus pensamentos da noite anterior e olhando para o bolo lindo que minha mãe tinha feito. Era todo branco, com algumas florzinhas azuis e uma vela do número 2. — Aliás, mãe, esse bolo ficou incrível. Muito obrigada.

— De nada, querida. Eu faço tudo pelo netinho mais lindo do mundo.

— Tudo mesmo. — completou meu pai. — No primeiro sinal que vocês dois estão dando uma de doidos, nós fugimos com o pequeno Tommy.

— Ariana! — escutei meu nome ser chamado e meu coração deu um salto de felicidade.

— Luke! — exclamei ao me virar e vê-lo se aproximando. — Você veio!

— Eu não perderia por nada. — disse ele, beijando a minha bochecha e sentando ao meu lado.

— Vou te apresentar para minha família. Mãe, pai, April, esse é Luke Cooper. Meu namorado.

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