Capítulo Dezoito

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Acordei com uma luz branca apontada diretamente para o meu rosto. Eu começaria a reclamar e pedir para alguém ascender às luzes se eu não estivesse muito fraca.

Havia um suporte para soro ao meu lado, ligado ao meu pulso, eu estava numa cama desconfortável de hospital e sentia uma dor de cabeça terrível. Era quase como dar a luz novamente. Meu pai dormia num canto do quarto, ao passo que minha mãe sussurrava ao telefone.

— Por favor... — murmurei com a voz rouca. — Me diga que eu não estou grávida de novo.

Minha mãe tomou um susto ao ouvir minha voz. Ela correu para perto de mim, como se tivessem visto um fantasma.

— Não, você não está grávida, mas o susto que eu levei foi o mesmo! — exclamou minha mãe. Apertando minha mão com tanta fosse que eu achei que fosse arrancá-la.

— O que aconteceu? — indaguei, lembrando-me do que acontecera naquela noite. Eu havia acordado com a mesma dor de cabeça daquele momento, só que mais forte. Ao longo do dia, eu fui me sentindo mais fraca, enjoada e trêmula até que desmaiei.

— Foi hipoglicemia, Ariana! Ficamos tão desesperados que te levamos para o hospital. — explicou minha mãe. — Ainda bem que não foi nada sério. Quanto tempo você ficou sem comer?

— Eu não sei... — franzi a testa, tentando me lembrar. — Umas sessenta horas...?

— Sessenta horas?!

— Calma, Adele. — disse meu pai com voz de sono.

— Como você quer que eu me acalme, Michael?!

Ele se aproximou, sentou na ponta da cama e segurou minha perna.

— Você está bem? — ele me perguntou. Assenti com a cabeça. Eu me sentia melhor. — Viu, ela está bem? Vamos deixar as broncas para depois. Estamos todos passando por um momento difícil por causa do nosso mascote. — todos ficamos em silêncio, ao tristemente recordarmos de Pesadelo. — Quando eu perdi meu cachorro, fiquei mal também.

— Tem muita coisa na minha cabeça agora, mas eu estou bem, prometo. — afirmei, sorrindo de maneira tranquilizadora para minha mãe. — Onde está Tommy?

— Lá fora, com April. — disse meu pai.

— E...

Antes que eu pudesse terminar, minha mãe soltou uma risada e respondeu:

— Jason está aqui.

Arregalei os olhos, surpresa.

— Vocês ligaram para Jason? E ele veio? Eu estraguei o encontro dele!

— Ele estava tão preocupado com você quanto a gente. Você tinha que ver. — falou minha mãe, com um sorriso travesso.

— Parecia um cachorrinho abandonado no meio da estrada. Você não faz ideia. Ele passou horas andando de um lado para o outro na sala de espera, ele pisava tão firme que achei que fosse quebrar o chão! Aquela garota, Spencer, teve que dirigir até aqui pois ele não estava em condições mentais para fazer isso. Se ele tivesse dirigido, certamente teriam batido o carro. — ele não me deu chance de processar a informação e prosseguiu: — Ele ficava resmungando sobre como não podia te perder.

Fechei os olhos, querendo me enterrar no travesseiro, me sentindo culpada. Eu havia arruinado a noite deles.

Meu pai saiu para buscar o médico e minha mãe me contou que avisara Chloe e Ben também, e que estavam a caminho. Decidi ligá-los para dizer que estava bem, pois não queria estragar a noite de mais ninguém, porém, eles insistiram e disseram que já estavam chegando.

— Oi. — ouvi alguém bater na porta. Era Spencer.

— Oi, Spencer, eu sinto muito, muito mesmo por estragar o jantar de vocês. — me desculpei. Spencer balançou a cabeça, triste.

— Você não estragou, confie em mim. — ela esboçou um sorriso, soltou um longo suspiro e sentou ao meu lado. — Jason está lá fora falando com a mãe dele. Ele ficou muito preocupado. Todos nós ficamos. Fico feliz de saber que você está bem. Você tem um comprometimento com o nosso trabalho no blog, não pode passar mal sem me avisar, temos uma agenda para cumprir.— falou, parecendo séria. Soltei uma risada.

— Na próxima vez eu coloco na nossa agenda.

— Eu preferia que não houvesse uma próxima vez. — ordenou ela. O olhar de Spencer então parou para analisar aquele quarto de hospital. — Sabe, eu algo muito parecido aconteceu comigo uma vez.

— Como assim?

— Nada demais. Eu costumava ser modelo, na agência do meu tio. Havia muita cobrança. Meu pai queria que eu fosse a estudante perfeita, minha mãe queria que eu fosse uma dama perfeita, e meu tio queria que eu tivesse o corpo perfeito. Eu precisava ser perfeita. Mesmo que significasse... — Spencer parou por uns instantes, como se tivesse se engasgado nas palavras. Aquele era um assunto sensível para ela. — Mesmo que significasse não comer.

A única reação que consegui exprimir foi envolve-la num abraço apertado. Queria que tivéssemos resolvido nossas diferenças antes, e se tornado amigas mais cedo. Naquele momento, tudo que eu podia fazer era garantir que ela soubesse que não estava mais sozinha. Diferente das suas amigas líderes de torcida, comigo ela tinha abertura para falar sobre tudo, e eu a apoiaria.

Naquele segundo, Chloe e Ben juntamente à April e Tommy entraram no espaço, tornando a situação um pouco incomoda. Chloe e Spencer, seja lá o que tivesse entre elas, era um assunto mal resolvido, e trazia desconforto para todos no meio.

— Mamãe! — berrou Tommy, vindo me abraçar.

— Acho melhor eu ir. — disse Spencer, saindo.

— Vocês não precisavam vir. — protestei.

— Não estamos mais no colégio, quando tinha festa toda sexta à noite, agora a única coisa que eu faço é ver aqueles programas de culinária, anotar trilhões de receitas e nunca fazer nada porque sou um desastre na cozinha. — bradou Ben.

— É o jeito dele de dizer que ficamos apreensivos quando a sua mãe ligou. — riu Chloe. Me senti sortuda por tê-los ali, seja qual fosse a situação. Desde o anúncio da minha gravidez, o parto, até aquele momento.

Meu pai voltou com o médico e todos celebramos quando ele avisou que só precisava esperar a enfermeira vir tirar o soro e eu receberia alta, pois estava bem. Contudo, precisava ficar sob observação e me alimentar da maneira correta. Ele também sugeriu que eu consultasse um nutricionista.

Enquanto esperava pela enfermeira, decidi procurar Jason eu mesma, pois ele ainda não tinha aparecido e eu precisava me mexer um pouco, cansada daquela cama desconfortante. Com Tommy segurando a minha mão e caminhando ao meu lado, seguíamos em direção a área de espera.

— Aí está você! — exclamei. Assim que escutou minha voz, Jason pulou da cadeira, aliviado ao me ver. Sem delongas, ele me puxou para o mais forte dos abraços. Me permiti me envolver completamente nos seus braços e me reconfortar no seu cheiro.

— Desculpa não entrar, eu estava falando com a minha mãe e... — tartamudeou.

— Tudo bem, eu achei você agora. — disse eu. Nos sentamos e Jason colocou Tommy no colo. Quando me dei conta, o rosto do loiro estava vermelho e seus olhos marejavam.

— Droga, Ariana, você não faz ideia do susto que eu levei. — choramingou. — Sua mãe me ligou, disse essas exatas palavras "Jason, Ariana não está bem, estamos levando ela para o hospital" e a ligação caiu. Eu vim correndo para cá, sem explicação alguma! Meu Deus, eu fiquei tão preocupado. Eu pensei que tivesse tido um ataque do coração ou... ou tivesse sido, sei lá, atropelada por uma baleia!

— Tenho quase certeza de não é tão fácil assim ser atropelada por uma baleia. — comentei, franzindo a testa.

— Por favor, eu não posso fazer isso sem você. Não posso criar o Tommy sozinho. Eu preciso de você. Promete... Promete pra mim que nunca vai ser atropelada por uma baleia.

— Não posso te prometer isso. — zombei, pondo a mão sobre a dele, ao mesmo tempo que segurava o riso. — Mas posso prometer que não vou deixar você ou Tommy sozinhos. Eu preciso de vocês. Eu preciso de você.

Era verdade. Eu precisava dele. Não só porque ele era o pai do meu filho. Precisava que seu sorriso que iluminava meus dias, do seu olhar que mexia com a minha cabeça e da sua alma inspiradora que coloria minha vida. Precisava dele para ser a calmaria no meio da minha tempestade.

Jason sorriu e abaixou o rosto.

— Que bom que esclarecemos isso. — disse, em tom formal.

Coloquei a minha cabeça em seu ombro. E ficamos assim por um tempo.

Eu passei a maior parte do dia seguinte descansando no sofá. Era quase como eu estivesse adotando o estilo de vida de Tommy, que estava sempre na sala, ou na televisão, ou brincando com seus brinquedos, ou inventando travessuras para fazer. Foi ele quem me fez companhia. Considerando o quanto que aprendi sobre desenhos animados de super-heróis, aquele fora um dia bem produtivo.

O tédio começou quando meu pai pediu para levar Tommy numa entrega de material de equitação para um cliente dono de uma fazenda, assim ele poderia ver os cavalos do lugar. Com minha mãe e April trabalhando, não havia nada para fazer além do usual trabalho de mãe. Lavar as roupinhas dele, organizar seus brinquedos, trocar a roupa de cama. Eu tinha que me distrair para não queria pensar naquilo que me fazia mal, como Pesadelo ou a minha situação sobre a faculdade.

No meio das roupas sujas, estava o blazer de Jason. O que ele havia emprestado para minha mãe na noite anterior, enquanto esperavam eu acordar no hospital. O que ele teria usado durante todo o encontro com Spencer, se eu não tivesse catastroficamente os interrompido. Não importava o quanto dissessem que estavam preocupados comigo, eu ainda me sentia culpada. E com a culpa, vinha todos aquelas sensações que eu sentia quando estava perto de Jason, incluindo a lembrança do beijo. Toda vez que eu tentava afastá-la, ela arranjava uma maneira de voltar à minha mente.

Sem conseguir tirar aquilo dos meus pensamentos, resolvi passar na casa de Jason com a desculpa de devolver o blazer que eu já tinha cuidadosamente lavado. Toquei a campainha, esperando que alguém estivesse em casa. Porém, antes que alguém pudesse atender a porta, ouvi a buzina de um carro atrás de mim. Era Spencer. Suspirei. Onde eu estava com a cabeça indo visitar Jason sem motivo quando ele namorava uma amiga minha?

— Oi, Ariana. — ela me chamou, acenando. Caminhei até a janela do banco do motorista para cumprimentá-la.

— Oi, Spencer. O que está fazendo aqui? Ah, que pergunta estúpida. Você é a namorada do Jason.

— Meu Deus, Ariana, me desculpa. Com toda aquela confusão de ontem eu esqueci de te contar.

— Como assim? — indaguei, sem entender. — Contar o que? — franzi a testa, me debruçando melhor sobre a janela para ouvi-la.

Spencer mordeu o lábio e respirou fundo.

— Eu e Jason terminamos, Ariana.

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oii gente, eu postei algumas cenas dos capítulos no meu instagram @/hwllandgirl se quiserem vão lá dar uma olhada 😉❤️

obs: as cenas são meramente ilustrativas e não condizem 100% as cenas reais do livro ou com o físico dos personagens

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