Capítulo Dezesseis

•  •  •

Na véspera de natal, o cheiro da ceia deliciosa que meus pais preparavam invadiram a casa, juntamente às decorações natalinas em excesso que eu e minha irmã fazíamos questão de colocar. Não havia um móvel sequer sem decoração. Tommy alegrava ainda mais a casa, tocando, ou melhor, batendo freneticamente no piano de brinquedo, sendo observado de perto por Pesadelo. E toda vez que o gato tentava tocar no piano ele falava, irritado:

Peadelo! Não!

No meio de toda aquela organização natalina, ouvimos a campainha tocar. Corri para atendê-la, animada. Desde que Jason jantara conosco na noite da véspera de natal em que eu contei para meus pais que estava grávida, se tornara uma tradição que passássemos esse feriado juntos. Sendo a pessoa divertida que era, ele conquistou a minha família, inclusive meus avós o adoravam e viviam perguntando por ele.

— Feliz Natal! Ho! Ho! Ho! — exclamou Jason, no segundo que abri a porta. Ele deixou os inúmeros presentes que carregava no chão e me abraçou.

— Feliz Natal. — respondi.

— Papai! — gritou Tommy, correndo para os braços do loiro. Tommy também era um grande fã do natal, principalmente porque ele achava que as renas do papai noel da praça eram cavalos.

— Feliz Natal, garotão!

— Feliz natal, senhora Martell. — disse eu, cumprimentando a mãe de Jason.

— Já falei para me chamar de Jane. — ela riu. — Feliz natal, querida. Eu trouxe a sobremesa. — disse, mostrando a travessa que segurava. Em seguida, ela entrou para cumprimentar o resto da casa. Ela e minha mãe se davam muito bem, principalmente quando se tratava de mimar Tommy.

— Feliz natal, Spencer! — sorri e a envolvi num abraço.

— Feliz natal, Ariana. Você não ouviu de mim, mas... eu estou... — suspirou. — A verdade é que eu estou feliz pelo convite. Minha família é uma loucura e eu realmente queria passar o natal com Jason.

— Por nada! Fico muito feliz de receber você aqui. — respondi e me dirigi para Jason. — Estou muito feliz por vocês dois. — murmurei no ouvido dele.

— Obrigada, Ariana.

Eu havia ficado bastante surpresa quando Jason me pediu aquilo. Por mais que eu soubesse que eles estavam saindo desde o baile, a ideia de passar aquela época do ano com Spencer pareceu tão de repente. Contudo, eu e minha família aceitamos sem pensar duas vezes. Afinal, quanto mais, melhor, certo? E se um dia Spencer se tornasse madrasta de Tommy, jantares assim aconteceriam com mais frequência.

A noite seguia como de costume. Todos os meus familiares paparicavam Tommy e o enchiam de presentes, Jason e April trocavam farpas e Pesadelo ficava na defensiva toda vez que o loiro se aproximava. Tirando o fato de que Spencer estava ali, sentada ao lado dele, segurando sua mão... Não. Eu estava feliz que ela estava ali. Eles tinham finalmente se acertado e eu estava feliz por isso. Eu nem tinha pensado no nosso beijo, ou na dança lenta... tantas vezes. Só uma ou duas vezes, no máximo.

Depois do jantar, nos sentamos na sala de aula para a troca de presentes. A quantidade de coisas relacionadas à cavalos que Tommy ganhara era absurda. Meus pais, como todos os anos, davam presentes da loja de equipamentos de esporte do meu pai, ou seja, era bem, provável que ganhássemos algo aleatório como um boné de um time de basquete. Para Jason, era sempre uma bola de futebol americano, mesmo que ele já tivesse inúmera delas.

Quando meu avô Mike, um crítico de restaurantes e escritor, totalmente franco que falava sem rodeios, se juntava com Jason e suas piadas não havia uma só pessoa que não risse a noite toda. Eu gargalhava de uma conversa deles no momento em que Tommy puxou a barra do meu vestido e apontou para Pesadelo.

— O que foi, Tommy? — franzi a testa, confusa. — Você e Pesadelo estão se divertindo com os presentes?

Tommy balançou a cabeça em negação. Ainda sem entender, parei para observar o meu gato. E, naquele exato segundo, ele começou a vomitar.

A partir daquele momento, foi tudo muito veloz. Meu pai, no entanto, conseguiu lidar com tudo aquilo de maneira calma e organizada. Nós limpamos o vômito de Pesadelo, mas ele continuava parecendo fraco e desanimado, por isso comecei a citar como ele estivera naqueles últimos três meses. Ele tinha perdido peso, o apetite. April nos lembrou que ele também estava bebendo água com mais frequência.

— Eu o levei no veterinário, mas não souberam identificar o que era de imediato. — falei.

Daquele modo, o clima natalino foi completamente por água'baixo na hora em que eu, minha irmã e meus pais tivemos que correr para o carro e levar nosso gato ao médico veterinário, enquanto meus avós, Jason e Spencer ficavam em casa com Tommy. Ele estivera na família desde que eu era bem pequena. Ele estivera presente em toda a minha infância, na minha pré-adolescência quando eu não sabia me vestir e usava aparelho dental. Era ele quem estava no meu quarto todas as vezes que eu chorava durante a noite, seja por meninos, por notas, ou por qualquer outra coisa. Ele vira a minha barriga crescer e de lá sair um bebê que se tornaria seu amigo. Pesadelo era parte da minha vida, da minha história e eu não estava pronta para perdê-lo, apesar de saber que ele era um gato idoso.

No caminho, eu fazia carinho na cabeça dele. Ele piscava e me olhava, e parecia o mesmo gato serelepe que bagunçava a casa toda e fazia careta e eu enchia meu celular com as fotos dele. Só que seus olhos estavam cansados. Pesadelo estava cansado.

Assim que chegamos, não demorou para sermos atendidos, pois era natal, por isso não estava cheio. Pesadelo foi colocado numa maca na sala do veterinário, que fez a consulta, o analisou e nos fez algumas perguntas. Em seguida, pediu para esperarmos ali, pois ele já o chamaria para realizar alguns exames.

— Não acredito que esse gato quietinho é o nosso Pesadelo. Eu perdi a conta de quantas vezes ele arranhou e bagunçou as minhas coisas. — comentou April, triste.

— E o meu sofá. — completou minha mãe.

— Quando ele era filhote, costumava ser como uma versão gato do Marley. — disse meu pai. — Eu disse para a mãe de vocês que eu odiava gatos, e que preferia mil vezes um cachorro. E agora eu estou aqui. — disse meu pai, com lágrimas nos olhos. E eu nunca tinha visto meu pai chorar, a não ser no nascimento de Tommy. — É melhor você ficar bem, ou vai levar um puxão de orelha daqueles.

— Eu não sei o que dizer, Pesadelo. — me sentei ao lado dele e murmurei baixinho. Só a ideia de perdê-lo, me consumia. Eu estava trêmula, assustada, porque sabia que não podia controlar a morte. Poderia ser agora, ou daqui a cinco anos e mesmo assim eu não poderia controlar. E odiava isso. — Fomos eu você, a mamãe e o papai, e April por tanto tempo. Tommy recentemente entrou na equação, e vocês dois se deram tão bem. Eu só... Eu estou preocupada, está bem? Você não tem o direito de julgar as minhas lágrimas. Não quero pensar numa vida sem você.

— Licença. — ouvi o veterinário entrar com uma enfermeira. — Estamos prontos para levá-lo para fazer os exames.

— Eu te amo. São só exames. Você vai ficar bem. — afirmei, e, por fim, observamos Pesadelo sendo levá-lo para fora da sala.

Ficamos esperando do lado de fora. Algumas horas depois, Jason apareceu com quatro copos de café na mão.

— Não se preocupe, Tommy está bem, está dormindo e seus avós estão cuidando dele. — ele me explicou, distribuindo os copos. — Eu tinha que levar minha mãe e Spencer para casa, então resolvi dar uma passada, ver como vocês estavam.

— Muito atencioso da sua parte. — disse minha mãe. Jason sentou ao meu lado e segurou a minha mão. Ele sabia o quão aterrorizada eu estava.

— Não se preocupe, eu e ele temos um acordo. Só podemos passar dessa para a melhor quando aprendermos a nos dar bem. Pesadelo não quebraria um acordo, ele é um cavalheiro.

Soltei uma risada.

— Vocês estavam mesmo aprendendo a se dar bem? Porque algumas horas atrás eu diria que rolou um certo atrito, não?

— Somos dois machos alfa, o que posso fazer? Lidar um com o outro é biologicamente complicado. — lamentou, em tom de brincadeira. — Sabe, isso me lembra daquela vez que ficamos horas no hospital, e você estava surtando...

— Eu não estava surtando! — protestei. — Nosso filho tinha tido uma luxação no cotovelo!

— Até hoje não sei o que é isso. — ele interrompeu.

— Fizeram tantos exames até descobrirem o que era e ele ficou sentindo dor todo aquele tempo! — eu ignorei sua fala.

— Olha, o que eu estou querendo dizer, é que eu estou aqui. — ele apertou minha mão ainda mais firme. — Não importa o que aconteça, eu vou estar aqui para você. Lembra o que eu fiz daquela vez?

— Você me comprou chá e deixou eu dormir no seu ombro. E ainda me cobriu com a sua jaqueta.

— E eu farei de novo se precisar. Quantas vezes precisar. — proferiu ele, me fazendo sentir tão grata por tê-lo ali. Suspirei e com um sorriso triste no rosto, apoiei minha cabeça no seu ombro. E eu sabia, no fundo do meu coração, que não havia mais nenhuma pessoa no mundo com quem eu desejaria estar. — Só tente não babar em mim dessa vez.

Quando estava prestes a cair no sono, a voz do veterinário nos chamando me despertou. Eu automaticamente pulei da cadeira e me aproximei dele o mais rápido possível.

A expressão no rosto dele não era nada boa.

— Família Baker, é sobre o gato de vocês, Pesadelo.

A partir daí, cada palavra que ele disse era um pedaço diferente do meu coração se desmanchando.

•  •  •
finalmente um capítulo revisado e na hora certa kk e pra ser sincera, esse capítulo me deixou bem emotiva :")

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top