Capítulo Dezenove
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— Eu vim aqui buscar umas coisas. — disse ela, apontando para uma caixa no banco do passageiro. Balancei a cabeça de um lado para o outro, tentando processar a informação. Spencer e Jason haviam terminado? — Eu não quero que você pense que é sua culpa, está bem? Não é. Nós dois estamos em em páginas diferentes.
Spencer estava falando rápido demais e eu apenas franzia testa, ficando ainda mais confusa.
— O que aconteceu? O encontro não saiu como esperado? Vocês brigaram?
Spencer riu.
— Eu falei que o amava.
Algo simplesmente não parecia se encaixar. Eu estava boquiaberta, abismada. Spencer adorava contar fofocas, mas aquela parecia confusa demais para eu entender.
— Mas isso é uma coisa boa, não? — inferi.
— Eu acho que Jason e eu estávamos nos enganando esse tempo todo. Eu acho que me precipitei ao dizer que o amava. Não acho que eu o amo. E ele obviamente não me ama. Na verdade, dizer isso tornou claro que ambos estamos apaixonados por outras pessoas. Acho que estou apaixonada por... Não importa. Não daria certo. — lamentou. A cada palavra que ela dizia meu coração parecia bater mais rápido. — Mas você e ele... daria certo. Vocês precisam parar de buscar o que sentem um pelo outro em outras pessoas. Só trás mais dor para vocês e para quem é envolvido, como eu e o garoto da lanchonete da Emma, Cooper.
— Calma, Spencer, você está falando rápido demais. — gaguejei, sentindo meu coração sair pela boca. Spencer suspirou, vendo que teria que "desenhar" para mim.
— Eu disse que o amava, Ariana. Jason não conseguiu responder. Ele não conseguiu responder porque ele não me ama. Ele ama você.
Dito isso, Spencer se despediu e saiu com o carro, me deixando parada no meio da rua. Antes que eu pudesse ter qualquer reação a porta da casa se abriu e Jason saiu de lá, pedindo desculpas pela demora. E como na noite no telhado da escola quando eu vi Jason sob a luz das estrelas, naquele momento, Jason estava iluminado pelas palavras de Spencer, que pareciam abrir meus olhos para tudo que eu estava sentindo.
Havia uma resposta, diante dos meus olhos, que eu demorei tanto para ver. Eu precisei terminar com Luke, pois sabia que não era o cara certo, e eu precisei ver Jason com outra pessoa para, enfim, perceber. Para perceber que a resposta de porque meu coração acelerava quando ele estava por perto, por que meu corpo tremia quando nos aproximávamos ou porque eu não conseguia parar de pensar nos seus lábios contra os meus. Porque eu buscava conforto no seu abraço, ou por que seu humor tornava minha vida mais divertida. A resposta de por que eu era tão viciada nos seus profundos olhos azuis ou no seu cheiro por toda a casa, em suas roupas, ou no sofá.
A resposta estava bem ali.
Eu estava apaixonada por ele. Cada pedacinho, cada detalhe. Cada piada sem graça, cada sorriso, cada lágrima, cada toque. Eu estava apaixonada pelo jeito que ele olhava para mim, pelo jeito que ele me fazia rir, pelo jeito que ele era um bom pai. Eu estava apaixonada pelo jeito que ele cuidava de mim, como podíamos conversar sobre tudo, e tínhamos nosso mundinho de brincadeiras internas. Eu estava apaixonada pelo jeito que ele amava arte, e como eu podia me perder nele. Por fim, eu estava apaixonada pelo pai do meu filho, estava apaixonada por Jason Martell.
— Ariana, o que está fazendo aí? — gritou ele, vindo em minha direção. Recobrando a consciência, corri até ele. — O que foi, Ariana?
Paramos a mais ou menos um metro de distância. Minha respiração estava ofegante e minhas mãos tremiam. A adrenalina percorria meu corpo, causando aumento da minha frequência cardíaca em níveis que eu nem achava possível. O segundo em que seus olhos azuis fixaram nos meus, foi o estopim. E novamente eu me vi tragada por aquele sentimento incontrolável que parecia dominar meu corpo e meus pensamentos. Sem poder conter conter aquela excitação eu inalei uma grande quantidade de oxigênio e exclamei:
— Não era só um beijo.
A expressão facial de Jason mudou drasticamente, passando de confusa para surpresa. Incapaz de conter aquela explosão de sentimentos e adrenalina, Jason pôs fim na distância que nos separava e puxou minha cabeça para um beijo.
De repente, tudo fez sentido. Qualquer dúvida que eu poderia ter desapareceu e eu estava mais segura do que nunca. Era como a peça que faltava no quebra-cabeça. Enquanto eu o beijava, sentindo nossas línguas explorarem cada sensação um do outro e suas mãos firmes em meu rosto e no meu pescoço me trazendo para cada vez perto, o mundo ao redor de nós nunca pareceu tão insignificante. Nunca esteve tão claro na minha vida o que eu queria. Jason era o meu farol no meio da tempestade. Poderia ficar ali para sempre, perdida em seu beijo, presa aos seus braços, mesmo que significasse perder totalmente qualquer ar que restava em meus pulmões. Não havia qualquer outro lugar que eu quisesse estar.
Subitamente, inúmeros pingos de água interromperam nosso beijo e quando eu me toquei, estava encharcada. Jason e eu paramos para retomar ao fôlego e nos encaramos, rindo.
— É o sistema de irrigação da minha mãe. — sussurrou o loiro, olhando ao redor, mas sem tirar suas mãos da minha face. Quando seu olhar se voltou ao meu novamente ele ruborizou, sem poder esconder o quão feliz estava. Estava estampado no seu largo sorriso.
Voltamos a nos beijar, e dessa vez, mais intensamente.
— Sua mãe está? — sussurrei entre os beijos que nos levavam para dentro da casa. Jason sorriu maliciosamente em resposta. Senti minhas costas sendo prensadas contra parede, arrebatada pelas carícias e pelo beijo selvagem, que descia dos meus lábios para o meu pescoço e continuava descendo.
— Tem certeza? — indagou Jason. Parei para olhá-lo. Meus dedos estavam entrelaçados nos fios loiros e bagunçados do seu cabelo. Eu estava cegada pelo oceano azul que eram seus olhos, que me observavam com desejo. Eram os olhos do homem por quem me apaixonara.
— Nunca tive tanta certeza sobre algo em toda minha vida.
Em seguida, me deixei levar até ser delicadamente posicionada na cama, exatamente como a noite da festa de Bailey. Contudo, agora não havia álcool no meu sistema, meus sentidos e reações eram muito mais vívidas. Pernas trêmulas, pulsação acelerada, suor, respiração lenta e ofegante. A paixão era a brasa que ascendia nosso fogo, nos envolvia, nos enlaçava enquanto nossos corpos se moviam em sintonia. E juntos, queimamos.
x
Horas depois, minha cabeça estava recostada nu peito no de Jason, que realizava um movimento de subida e descida de acordo com a sua respiração pesada. Eu me sentia nas nuvens, flutuando. As cores pareciam mais nítidas, o som dos pássaros parecia mais melodioso e eu me sentia como uma tola apaixonada. Minhas bochechas chegavam a doer, mas eu simplesmente não conseguia parar de sorrir. E algo me dizia que Jason sentia o mesmo.
— Quem diria... — murmurei, em meio às nossas gargalhadas. — Dois anos depois e aqui estamos de novo. É quase como um déjà vu.
— Nós nunca aprendemos, não é?
Neguei com a cabeça, rindo.
— Perdemos muito da nossa adolescência com a gravidez. Mas eu não me arrependo. Me trouxe Tommy e... você. — soltei uma risada. — Em meio aos caminhos distorcidos do destino, arranjamos uma maneira de nos encontrarmos.
Com um sorriso nos lábios, Jason se inclinou para me beijar.
— Posso ter meu celular agora? — perguntei, interrompendo o beijo.
— Ariana, Tommy está bem. Ele está com o seu pai, eles foram para uma fazenda e não vão chegar até... — Jason olhou para o pulso como se ali houvesse um relógio. — Não sei, perdi a noção do tempo.
Impedi que ele me beijasse, colocando minha mão em seus lábios.
— Mas e se ele estiver sentindo nossa falta...?
Jason bufou.
— Com cavalos por perto? Eu duvido.
Voltamos ao beijo. Subi no seu colo, para assim ficar mais perto da escrivaninha. Sem que Jason, percebesse, eu peguei meu celular.
— Ha! — celebrei, pulando da cama. O loiro tentou tirar o celular da minha mão, mas eu me afastei a tempo.
— Ah, você vai pagar por isso. — ele brincou.
— Tenta me pegar. — provoquei. Como numa brincadeira de gato e rato, corri para longe da cama, porém, Jason e seus passos largos me alcançaram antes que eu chegasse na porta. Ele me segurou pela cintura e passou a beijar meu pescoço. — Eu gostei dessa punição.
O som da campainha nos fez parar. Olhei para Jason, imaginando que fosse a mãe dele.
— Ela está fazendo turno extra hoje. E ela tem a chave. — falou, como se lesse meus pensamentos. — Deve ser o carteiro, nossa caixa de correios está quebrada. Ele normalmente toca a campainha, deixa a correspondência e sai.
— Você vai pegar? — indaguei, manhosa. Tudo que eu queria era voltar para cama e passar o tempo com ele.
— Pode pegar para mim? Eu tenho que ir no banheiro, bem rápido, eu juro. — disse, já andando na direção do toalete.
— Mas eu só estou usando uma calcinha e sua blusa. Não dá tempo de por minha calça jeans! — reclamei.
— Coloca um short meu!
Daquela forma, com uma blusa gigante de Jason e um short masculino estampado para o verão, eu desci apressada as escadas, com o intuito de voltar o mais rápido possível para o quarto.
Todavia, quem estava atrás da porta não eram as correspondências, muito menos o carteiro. Do outro lado da porta estava um homem alto, de queixo quadrado e mais ou menos cinquenta anos. Seus cabelos eram loiros, mas as raízes já estavam grisalhas. Seu rosto parecia cansado, olheiras profundas e rugas de expressão. Entretanto, o que mais havia chamado minha atenção eram seus olhos azuis, extremamente familiares.
— Boa noite, posso ajudá-lo? — disse eu, desconfortável.
— Meu nome é Joseph Martell. — disse ele, num tom de voz sério e autoritário. Vendo que eu ainda não sabia quem era, ele prosseguiu: — Eu sou o pai do Jason.
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