Capítulo Cinco

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— Só mais uma volta no quarterão.

Encarei minha mãe como se ela estivesse absolutamente louca. Tudo bem que eu era a grávida cheia de hormônios malucos tomando conta de mim, mas eu ainda não tinha perdido a minha cabeça a ponto de caminhar mais quinze minutos. Ainda.

Todos estavam muito preocupados com a possibilidade de um aborto espontâneo entre o primeiro e o segundo mês, inclusive eu. Por isso eu estava seguindo todas as orientações médicas a risca. Eu até resgatara do meu computador um trabalho que tinha feito na oitava série sobre vitaminas e sais minerais essenciais para uma grávida. Meu quarto tinha se tornado uma zona para post-its sobre tudo que eu deveria fazer para evitar problemas e complicações ou doenças futuras.

Jason não era tão organizado quanto eu, até porque não era ele com um ser dentro de si que dependia completamente dele, no entanto, ele tinha se comprometido em ler todos os livros sobre paternidade que eu havia indicado. Não tínhamos nos visto muito, primeiro porque ele tinha que conciliar o treino de futebol com o novo emprego como zelador de um museu, e segundo que era para não levantar suspeitas. Em algum momento, todos iam ver a minha barriga crescer monstruosamente e obviamente descobrir minha gravidez. Só que eu preferia adiar aquele momento ao máximo.

April já tinha voltado para a faculdade. Porém, ela me ligava o tempo todo. Literalmente, a cada cinquenta minutos. Às vezes, ela ligava até mesmo para o Jason. Ele obviamente não gostava, mas ela dizia que era "o preço a se pagar por ter engravidado a minha irmã".

— Nós já fizemos caminhada por quinze minutos, mãe. — reclamei, me deixando levar pelo meu lado sedentário. — Estou exausta. E tenho uma matéria do jornal da escola para terminar.

— Exercícios só são eficientes quando duram, no mínimo, trinta minutos. — retrucou minha mãe.

Ah, é. Meus pais. Depois que eu contei a notícia para eles na véspera de natal, eles aceitaram muito melhor do que eu esperava. Na hora, minha mãe ficou em choque e não conseguia falar comigo por um dia. Todavia, ela e meu pai conversaram e acabaram me dizendo que iam me apoiar para tudo que eu precisasse, mas não conseguiram esconder o fato de que estavam tristes e preocupados também.

— Querem uma carona? — ouvi a voz do meu pai, chegando de carro.

— Ah, sim. Por favor. — exclamei, praticamente pulando dentro do carro, sendo observada pela minha mãe que balançava com a cabeça em negação, fazendo uma pose com as mãos na cintura.

Toda manhã, quando eu me vestia para o colégio, sentia que tinha algo diferente no meu corpo. Se pudesse, ficaria horas diante do espelho analisando cada detalhe. Meus seios, minha barriga. As mudanças eram mínimas e provavelmente eu só estava ficando paranoica, porém, o sentimento que algo mudara em mim nunca ia embora.

Quando entrei no colégio, logo avistei Chloe e Ben. Eles discutiam sobre alguma coisa relacionada a sub-celebridades que pouco me interessava. Eles me acompanharam pelo caminho do corredor em direção ao meu armário, mas não perceberam que, quando passávamos, um ou outro estudante nos olhava e cochichava. Ou talvez eu estivesse delirando.

O meu armário não era muito longe do armário de Jason. Ele me viu e sorriu, nada além disso. estava ocupado conversando com o seu novo caso, Spencer Lance. Ela estava com as costas no armário e ele estava praticamente debruçado em cima dela. Eu considerava Spencer particularmente bonita e inteligente. Eu e ela eramos as responsáveis pelo jornal do colégio, e apesar dela não ser minha fã número 1, eu a admirava muito.

— Vai ter um exame hoje, não é, Ariana? — a pergunta de Chloe me tirou dos meus pensamentos. Assenti com a cabeça. Chloe e Ben esboçaram um sorriso, e eu sabia no que eles estavam pensando.

— Vocês não podem ir. — disse eu, fazendo os sorrisos deles desaparecerem. — Já conversamos sobre isso. Eu e Jason cometemos o erro, somos nós que vamos cancelar nossos compromissos e passar horas num hospital.

— Isso é tão injusto. — Ben cruzou os braços, fazendo uma careta.

— A minha única chance de ser tia e eu nem posso ver o ultrassom.

— Eu trago uma foto desse ser dentro de mim. Prometo. — dei leves tapinhas dos ombros de ambos. Dito isso, me despedi deles para ir à reunião do jornal antes da aula.

Para a minha surpresa, Spencer me esperava na porta da sala. Ao vê-la, notei o quão estilosa ela estava. Era bem alta, e usava botas de cano longo, uma calça jeans preta rasgada nos joelhos, uma blusa de cor verde musgo e uma jaqueta por cima. Seus cabelos castanhos estavam presos num rabo de cavalo. O mesmo rabo de cavalo que ela usava quando estava com o uniforme de líder de torcida.

— Fez a sua parte da matéria? — ela indagou. Eu respondi positivamente e inciei um breve comentário sobre a matéria, mas Spencer me interrompeu com uma risada sarcástica. — Poxa, é uma pena que você tenha feito. Eu estava seriamente considerando mudar o assunto da matéria para algo mais... recorrente. — ela posicionou sua mão na minha barriga. Eu recuei, assustada e confusa. — Parabéns, mamãe. — e então ela entrou na sala, me dando uma última olhada maliciosamente.

Meu coração batia tão velozmente que eu achei que fosse passar mal. Eu me sentia engasgada nas minhas lágrimas e me afogando nas palavras de Spencer. Se ela sabia, era uma questão de tempo para a fofoca se espalhar. Era por isso que estavam olhando para mim daquela forma. Os rumores estavam começando como uma avalante e não pararia de rolar e rolar até me atingir. O que eu tanto temia havia começado.

Jason tinha contado. Era a única explicação.

Guardei todo o ódio e agustia que sentia para o exame. Ele já estava me esperando no hospital quando eu cheguei.

— Ufa, pensei que eu tinha chegado cedo demais. Mas também não queria me atrasar, sei o quanto você odeia atraso. — disse ele, ao me ver. Percebendo que eu não responderia por causa da raiva expressa em minhas feições, Jason pigarreou e se levantou. — Eu estava guardando esse lugar. Sabe, esquentando para você.

— Eu não quero sentar. — resmunguei.

— Ok... — Jason franziu a testa, sem entender. — Quer um café? Uma água...?

— Eu não preciso que seja meu garçom. — falei. Preciso que seja o pai desse ser. Ele pareceu um pouco surpreso e até mesmo magoado com a minha afirmação, mas ignorei.

— Ariana Baker. — uma enfermeira me chamou, algumas horas depois. Bufei e me levantei. Finalmente. A enfermeira não conseguiu disfarçar seu espanto ao ver o quão jovem eu era. — Ele é o pai?

— Sim, eu sou. — disse Jason, áspero.

— Venham comigo.

Fui encaminhada para a sala de ultrassom com Jason atrás de mim. Lá, a doutora foi bastante gentil e paciente devido às circunstâncias de que eu era uma adolescente e eu parecia bem irritada.

Entretanto, no momento em que ela pôs aquele gel frio sobre a minha barriga e pressionou o aparelho contra a minha pele, fazendo uma imagem de um pequeno e frágil ser surgir na telinha, toda a minha raiva se dissipou, dando lugar à uma emoção inexplicável. Ele não tinha formato e muito menos parecia um ser humano, mas estava ali. E estava vivo. Dentro de mim. Precisando de mim.

— Seu bebê está perfeitamente saudável. — disse a doutora.

Assim, eu finalmente senti o que deveria ser o tão famoso instinto maternal que tantos falam. A urgência de proteger aquele bebê com a minha vida. Uma lágrima escorreu pela minha face e tudo que eu queria era botar a mão na minha barriga, falar com ela, como se aquilo fosse me aproximar ainda mais dele.

Ousei olhar para Jason. Ele prestava atenção em cada palavra dita pela médica. E parecia emocionado também. Quer dizer, ele não estava chorando ou algo do tipo, mas parecia... feliz.

Quando o exame acabou, uma enfermeira veio me avisar que as fotos e vídeos do ultrassom seriam enviadas para mim. Por algum motivo, a magia de ver o bebê acabou e aquilo me lembrou que Jason havia contado à Spencer que eu estava grávida, me deixando magoada novamente.

— Vamos embora. — grunhi.

— Então agora você simplesmente decidiu que vai me tratar assim?! — exclamou Jason. Me virei para ele, pronta para entrar numa discussão.

— Ah, por favor.

— Eu estou tentando, está bem?!

— Tente manter sua boca fechada!

— Eu não sei do que você está falando!

— Nós vamos ter um bebê, Jason! — berrei. — Eu preciso confiar em você!

— Essa é a primeira vez que você chama de bebê. — comentou Jason, me encarando, perplexo. Ele sabia que eu estava evitando usar essa palavra. E se tinha usado, é porque finalmente tinha chegado no último estágio: aceitação. A gravidez e o bebê eram, enfim, reais para mim. Nós dois sorrimos levemente. — Olha... — ele suspirou, tentando acalmar a situação. Gritar não levaria a lugar nenhum. — Eu não entendo porque você não poderia confiar em mim. Confie em mim, Ariana!

— Mas você contou à Spencer. Contou que eu estou grávida.

Jason arregalou os olhos e franziu as sobrancelhas, confuso.

— Ela sabe?

Subitamente, eu me senti extremamente culpada. Jason não parecia estar mentindo. Ele realmente não tinha contado à Spencer, o que era um alívio. Por outro lado, outra pessoa deveria ter contado. E as únicas que tinham contato com ela eram Ben e Chloe. O pensamento de que um deles havia revelado o segredo me deixou nauseada, por isso me sentei. Jason sentou ao meu lado.

— Alguém contou para ela. E, em breve, todo mundo vai ficar sabendo. — lamentei.

— Eu sinto muito, Ariana. Mas eu não contei à ela. Ou a qualquer outra pessoa. Eu te prometo.

— Eu confio em você, Jason. — falei, colocando a minha mão sobre a dele, fazendo-o entrelaçar nossas mãos.

— Eu não confiaria tanto em mim... — murmurou ele, baixando a cabeça. — Provavelmente vou hackear seu e-mail para conseguir esse ultrassom. — completou soltando uma risada. Revirei os olhos, e soquei seu ombro, rindo também.

A pergunta que pairava na minha cabeça era: se Jason não havia contado, quem tinha?

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