3.0 - Ethan's fault
"Eles pensaram que eu tinha coragem, mas eles perceberam tudo errado. Eu só estava com medo das coisas mais importantes."
-BUKOWISKI
GRAYSON:
Foi exatamente nesse dia em que tudo começou a escorrer entre as minhas mãos por água abaixo. Apesar de que devo ressaltar que sempre era assim quando Ethan e eu estávamos juntos - Isso porque era uma quase um habito ou um jogo, quando queríamos, fazermos-nos como a mesma pessoa.
Justo nesta ocasião, onde tinha mandando o meu irmão de volta para casa com a magrela, Jessie proferiu as seguintes palavras que me fizeram mudar de ideia sobre o rumo do minha pacata vivencia até o pôr-do-sol.
- Dolan? - ela me perguntou, tirando um dos meus fones do ouvido da orelha e me encarando com uma expressão doce - Desculpe ter saído daquele jeito na sala de aula... Não sei o que me deu, sinceramente.
Outra das suas conversas estranhas que eu não conseguia distinguir a metade. Verdade seja dita, eu mais preferia ouvi-la do que responde-la. Preferia ouvir sua língua enrolada falar tolices por horas do que responder alguma coisa porque, de alguma maneira, a maioria das palavras que saiam da minha boca pareciam rudes e grosseiras.
- Está precisando de um psiquiatra? - eu espondi com uma das sobrancelhas arqueadas, mais uma vez saiu rude. Respirei fundo e tentei arrumar - você está me reconhecendo, certo? Porque, olha, eu conseguiria reconhecer uma garota como você dentro de uma sala de aula muito facilmente. E você não estava lá
- Uma garota... como eu? - a menina engoliu em seco, interessada.
- É, como você. Meio tonta.
Decidi que não continuaria a falar ou suas orelhas ficariam ainda mais vermelhas e eu possivelmente iria sentir o vapor saindo delas. Ela era totalmente bipolar. Imaginei que me daria um belo tapa estalado ou me xingaria... Mas ao invés disso, Jessie tirou o segundo fone do ouvido e me entregou como uma oferta de paz.
Comecei a enrola-los para enfiar na bolsa.
Sem dar parecer à minha resposta, ela decidiu encarar a janela ao seu lado. De qualquer maneira, pude ver seu rosto vermelho.
- Grayson, você ainda vai...
- Pode me chamar de Gray - interrompo-a.
- Gray - a menina forçou a voz para que eu soubesse o quão idiota fui - Você ainda vai para a biblioteca hoje?
A partir daí algumas peças do não tão complexo quebra-cabeças começaram a se desenrolar na minha mente. Não era do meu agrado quando as pessoas confundiam-me com o meu irmão, mesmo que pudesse ser algo quase inevitável.
Senti que precisava explicar para a garota o que estava acontecendo:
- Jessie, você deve estar me confundindo com...
- Eu não estou te confundindo coisa nenhuma, Dolan - Cruzou os braços para encerrar o assunto - Você vai ou não vai?
Fiquei pensativo por alguns momentos - em parte, porque o fim da minha tarde normalmente era destinado para um longo sono -, acabei decidindo ir já que nunca tinha aparecido lá realmente. Na maioria das vezes, mandava Ethan correr até lá para mim.
- Eu vou.
- E, se você for... - Novamente os olhos escuros procuravam alguma coisa no meu olhar - Só vai por causa de Anne?
- Quem é essa tal de Anne? - Sem motivo específico, minha pergunta a fez sorrir abertamente. Era algo contagioso que me fazia sorrir também, mesmo que desnorteado e ligeiramente deslocado da situação.
Quando o ônibus parou próximo a "Van Houten", Jessie segurou meu pulso e me puxou até a entrada. A biblioteca era enorme e tinha várias portas para a entrada, me sentia uma criança dentro de uma loja de brinquedos gigante - Talvez toda loja de brinquedos seja gigante para alguém de meio metro.
- Caraca... - Disse em meio a um suspiro, tentando observar todos os amontoados de livros ao mesmo tempo. Meus olhos castanhos quase esverdeados brilhavam de tamanha agitação.
- Eu sei onde você vai gostar de ir - a menina me tirou do transe, ainda me guiando pelo braço entre prateleiras e prateleiras - Ou prefere me dizer qual seu estilo literário?
- Ahn... - Não que eu não gostasse de ler, mas não tinha um estilo específico. Pensar demais faria-me parecer burro na frente dela - Ficção geral e romance.
Sua cabeça balançou positivamente, levando o dedo indicador até os lábios e procurando algo pela mente. Depois, entrou em um dos corredores.
- Não exatamente esse tipo de romance - respondi a ela quando me deparei com uma grande fileira de Nicholas Sparks, que me pareciam todos quase iguais ao meu ver.
- Por que não gosta desse tipo de categoria? - Jessie se aproximou de mim com curiosidade nas íris.
- Por que você gosta? - ergui uma das sobrancelhas.
- São como uma utopia, Grayson. Quero dizer, nenhuma dessas histórias de amor tem real chance de acontecer com a grade massa de leitores que gostam desse tipo de livro...
- Se não tem chance de acontecer, porque lêem?
- Porque as pessoas gostam de ter algo com que possam sonhar - Soou como uma repreensão
- Ou que a tirem da realidade - rebati a informação.
- Você não está me entendendo, definitivamente. Se não quisessem sair da realidade, não precisaria existir ficção ou...
Então, por impulso ou por desejo, apoiei a mão em uma das estantes, a deixando entre mim e o metal frio. Ela calou-se, suspirou rapidamente e me encarou nos olhos - Cara, como ela era linda.
E eu a beijei. Senti o gosto do batom manchando a minha boca e as mãos pequenas emaranhando meus cabelos.
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