14.1 - Ordinary ways

"Porque o amor cara, amor é pra aqueles que aguentam sobrecarga psíquica"
- Charles Bukowski

ETHAN

Meu objetivo inicial era queimar o filma do Grayson, devo deixar claro desde o início.

Ok. A realidade era a seguinte, vou te contar:

Jesse não estava menos do que linda naquela noite com um vestido azul escuro. Eu disse linda? Não, não. Quis dizer maravilhosa, estonteante, anestesiante.

Eu não estava esperando que ela colocasse tanta esperança no meu irmão gêmeo.

Engoli em seco.

- Grayson? - Ela acenou timidamente quando me viu chegando de bicicleta. Eu acenei de volta, não tão tímido.

Deixei a bicicleta num estacionamento improvisado do restaurante pequeno que mal tinha placa que identificasse onde estávamos - se morressemos ali nunca mais seríamos descobertos... Que porra você pensando, Ethan?

- Então... - Ela disse quando estávamos um de frente para o outro.

- Então... Como você está? - perguntei enquanto passava a mão pelo cabelo (tinha tirado o boné).

Jesse franziu o cenho.

- Ahn, eu estou muito bem, mas o que aconteceu com o seu cabelo? Cortou com cortador de grama? - Fez menção que tocaria nele.

Eu deixei.

Mordendo o lábio, ela delicadamente tocou meu cabelo, enfiando os dedos pela raiz dele e descendo até minha orelha. Encarou meu rosto e disse:

- Eu decidi acreditar em você - era como se o dedão dela dançasse na minha bochecha - Se você diz que não conhece a Anne, então não conhece.

- Esquece ela, é uma vadiazinha - Disse com rancor. Jess franziu o cenho ao ouvir.

Tá. Ela não só franziu o cenho. Ela, na verdade, me deu um tapa bem estalado na minha bochecha.

Eu minto às vezes.

- Não conhece ela, não tem o direito de falar isso dela, seu idiota.

- O quê?  Eu estou falando sério! Posso não conhecer, mas Ethan conhece e muito bem! - Parecia que eu estava gritando aos sussurros.

Quem criou criou a expressão amor e ódio não conhecia nós dois. Quero dizer, eles dois.

- Ah, mas você me disse que nem fazia idéia de quem era - cruzou os braços - Alguém está mentindo por aqui?

- Ora ora, temos um Sherlock Holmes? - Cruzei os braços também.

Ficamos os dois, de braços cruzados, encarando um ao outro, ridiculamente bravos sem um real motivo. Sua boca tremia pela vontade de rir, a minha também. Ela revirou os olhos, revirei também.

- Vai me chamar para jantar ou vou ficar plantada aqui durante a noite inteira?

- Estou com os seus pés? Se quiser entrar, entre! - gesticulei em direção a porta do lugar.

- Pois eu vou mesmo, seu mal educado! - Batendo os pés, virou de costas e empurrou o vidro da entrada - foda-se se vier atrás ou não! - Disse dramaticamente.

- Pois eu vou mesmo! - Repeti sua fala. Estava me divertindo enquanto a seguia pela lanchonete até uma mesa dos fundos.

- Eu não ligo, Dolan! - Mostrou-me o dedo do meio quando se virou novamente para mim, quase trombando com meu corpo - Pelos Deuses, olha por onde anda.

- Deuses? Sua religião é a grega, estranha? - Estiquei meu pescoço,  afrontando-a.

- Fala como se fosse uma coisa errada - Seus olhos encaravam minha boca como se estivéssemos tão veemente que parecia que estávamos encanado de verdade. Eu estava.

- Os santos e os devotos não têm boca? - citei shakespeare bem alto, Romeu e Julieta, cena cinco. Talvez o único livro que li na vida.

- Sim, peregrino, só para orações - Jesse captou a referência. Nesse momento todos os gatos pingados do salão nos encaravam.

- Deixai, então, ó santa, que esta boca mostre o caminho certo aos corações - minha mão segurou a cintura dela.

- Sem se mexer, o santo exalça o voto... - A garota sorriu.

- Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados.

Nos beijamos. Foi um beijo com B maiúsculo. Meu juízo era total, mas completamente perdido. Os lábios que carregava, não meus, eram de Grayson.

Algumas pessoas bateram palmas quando nos separamos.

- Vou pedir nossa comida - Falei antes de me dar a volta ate a recepção. Nunca tinha tido nenhuma platéia com a qual devesse me preocupar, mas ouvi comentários bons e ruins enquanto passava pelas mesas.

Eu encarei Jesse enquanto estava conversando com o garçom. Ela estava sentada, confusa, olhando para o celular.

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Acho que estava na hora de ir embora.

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