Capítulo 25 - Segunda Prova

Quando abro os olhos me vejo num campo florido e muito bonito. Uma casa de madeira simples está a poucos passos de mim e assim que olho para a porta desgastada de madeira velha, sinto um arrepio correr pela minha espinha.

Isso nunca era um bom sinal.

– Você lembrará de muitas coisas nessa provação Megan. E lembre-se, nem tudo o que você vê é real.

– Lembrar de coisas?

– Sim. Entre na casa e encare tudo o que vier na sua direção de frente. É tudo o que eu posso te dizer.

– Já percebi que você só pode me levar não é Fred? Por que ajudar você não está fazendo muita coisa...

– Desculpe-me Megan, mas esse não é o meu trabalho aqui. Somente você é que pode se ajudar na sua jornada...

– Entendi...

– Mas eu ainda posso te desejar boa sorte.

– Obrigada Fred.

– Entre na casa, e tente não se ater muito olhando para trás...

– Como? – me viro para encará-lo, mas somente para perceber que ele não estava mais lá, que eu já estava sozinha, para enfrentar mais aquela prova.

Vou me aproximando da casa e se pelo lado de fora, ela estava caindo aos pedaços, por dentro a realidade não era muito diferente. O chão estava desgastado e a madeira rangia quando eu pisava nela. Não havia nada dentro daquela casa, somente portas. Devo entrar nessas portas, mas estou com medo do que pode estar atrás delas. Não faço a menor ideia de onde essas portas me levariam.

Oito portas de tamanhos e cores diferentes estavam na minha frente. Três à minha esquerda, quarto à minha frente e somente uma à minha direita.

Não querendo dar lugar para a minha indecisão coloco a mão na maçaneta da primeira porta à minha direita. Ela era a maior dali e estava pintada com um amarelo bem vivo e brilhante. Entro e como o Fred tinha me dito, não olhei para trás.

A porta se abriu para o passado. Abri os olhos e vi os meus pais na minha frente. Eu segurava um sorvete de morango e minhas bochechas doíam do tanto que eu sorria. Eu me lembro desse dia. É a primeira lembrança que eu tenho de sair com os meus pais, fomos tomar sorvete e eles me deixaram segurar a minha casquinha sozinha. Me senti muito feliz por não ter que dividir o meu sorvete com a minha mãe.

Minha mãe me olhava atentamente e o meu pai olhava atento para a minha mãe, eu era muito nova para perceber na época, mas o meu pai escorria amor com seus olhos. Aquilo me encheu de alegria.

– Como está o seu sorvete Meg? – minha mãe pergunta com um olhar doce.

– Muito bom! – digo animada e começo a balançar as minhas pernas.

– Você quer que eu peça para colocar mais cobertura no seu sorvete? – agora é a vez do meu pai falar.

Concordo com a cabeça e meu pai pega a minha casquinha. Claro que eu não tinha ideia do que estava acontecendo na época, mas agora eu percebo que talvez aquele tenha sido o momento que eu percebi a felicidade de ter uma família, que eu percebi o amor incondicional que eu poderia dar e receber.

Nem preciso me esforçar muito para perceber que aquela era a primeira lembrança feliz que eu tive, uma lembrança que é só minha, ninguém precisou me falar sobre ela.

– Muito bem minha filha – minha mãe diz com um sorriso orgulhoso. – Você passou pela porta da Alegria. Pode ir em frente.

– Porta da Alegria?

– As portas são emoções. Cada uma delas com alguma que será ou é importante para você. Ainda bem que você escolheu primeiro a da alegria! Assim você pode seguir em frente um pouco mais esclarecida. Em cada porta você vai aprender alguma coisa importante sobre você. Algo que poderá vir a ser um pilar na sua vida.

– Aqui filha, o seu sorvete – meu pai volta e me entrega a casquinha.

– Posso ficar aqui até terminar o meu sorvete? – pergunto só agora percebendo a minha voz infantil.

– Mas é claro filha, suas lembranças felizes sempre vão estar com você – minha mãe diz, colocando uma mecha do meu cabelo detrás da minha orelha.

– Sei bem disso.

– Sabe, mas muitas vezes esquece – meu pai diz e aperta a ponta do meu nariz de maneira carinhosa.

Sorrio para os dois e fico ali sorrindo e tomando um sorvete de morango. Se os restantes das portas forem assim, não vou ter nenhum problema em sair dessa casa, mas o arrepio que correu na minha espinha antes de entrar nessa casa não me deixa ter essas ilusões, algumas dessas portas vão ser horrendas de se sair. O sorvete acaba e eu fico de pé.

– Obrigada – puxo os dois para um abraço e me sinto um pouco mais confiante para continuar.

Olho mais uma vez para os dois antes de abrir a porta da sorveteria e sair de lá, nem sei se é por ali que eu deveria ter ido, mas quando a porta se abriu e eu me vi novamente naquela sala sem nada, e cercada por aquelas portas, soube que tinha feito a decisão certa.

Só que agora não tinham oito portas, tinham somente sete, a porta que eu tinha entrado tinha desaparecido. Eu tinha voltado ao meu tamanho normal e estava com um sentimento de paz no meu coração. Encaro a segunda porta que eu vou entrar, estava na minha frente e não tinha cor alguma, mas a madeira dela era nova, e comparando as outras ali, era a porta que tinha o aspecto mais recente.

Entro nela e estranho a escuridão que me cerca. Estou num lugar apertado e com um cheiro muito familiar, um cheiro de casa. Meus olhos começam a se acostumar com a escuridão, vejo persianas na minha frente e estou rodeada de roupas. Percebo que há um ponto de luz na minha frente, um pouco depois das persianas.

A luz provém de um abajur, abajur que eu conhecia muito bem, aliás, eu conhecia o ambiente que estava depois dessa porta muito bem, até mesmo onde eu estava. Aquilo era o meu quarto e eu estava dentro do meu guarda-roupa.

Um choro baixo me chama a atenção e poucos minutos depois escuto a porta do meu quarto abrir.

– O que aconteceu filha? – a voz do meu pai estava bem sonolenta.

– Pai, o senhor não olhou no meu armário hoje, e eu tenho certeza que eu escutei algo ali dentro. Será que é um monstro?

– Filha, já conversamos sobre isso, não há monstros no armário... – meu pai explica paciente.

– Mas eu escutei pai... Eu juro que eu escutei! – a minha voz infantil protesta. Engraçado, eu não tinha lembrança dessa noite, será que essa porta é diferente da passada?

– Tá certo – meu pai fica em pé e vem se aproximando do armário. Congelo na hora. E se ele me ver ali? O que eu vou fazer? Me escondo atrás de um monte de roupa e logo penso o quanto é ridículo, pois as minhas pernas estão aparecendo entre as roupas. A porta do armário se abre e meu pai passa segundos, que parecem horas, sem falar nada. – Está vendo filha? Não tem nada aqui dentro.

Eu olho nos olhos da minha versão em miniatura e tenho a certeza que ela está me vendo. No entanto, ela diz pro meu, pro nosso, pai que não tem nada ali mesmo, agradece e o meu pai volta para o quarto dele. Não sei do que se trata essa porta e me surpreendo quando a porta do armário se abre e os meus olhos grandes e azuis me encaram.

– Por que o meu pai não conseguiu ver você? – ela me pergunta e fiquei impressionada como ela não parecia muito assustada.

– Não sei.

– Você é um monstro?

– Não, eu não sou um monstro?

– E por que você está dentro do meu guarda-roupa? Me disseram uma vez que monstros gostam de viver dentro de armários de criancinhas.

– Eu não estou vivendo dentro do seu armário... E quem te disse isso? Monstros não vivem em armários – eles vivem adormecidos dentro de cada um de nós, mas isso eu não quis completar.

– Imaginei que você não era um monstro, você é muito bonita para ser uma coisa ruim... – ela diz e aperta o ursinho de pelúcia que só agora percebi que ela carrega.

– Obrigada...

– Você tem medo de monstros também? – ela me pergunta assim, de repente e a pergunta me pega de surpresa.

– De monstros? – parei um pouco para pensar. – Acho que faz um bom tempo que eu não tenho mais medo de monstros.

– Você é bem corajosa então... Pois eu ainda morro de medo do escuro.

– Não é que você tenha medo do escuro, acredito que você tem medo do que pode estar se escondendo no escuro...

– É isso! – ela diz empolgada, como se eu tivesse falado o segredo da vida.

– Mas você não precisa ter medo do que se esconde no escuro, se o que quer que seja tem que se esconder para te pegar, então isso só pode significar que ele não é forte o suficiente para te fazer algum mal!

– E se o mal aparecer na minha frente?! – ela pergunta já ficando um pouco amedrontada. – Se o meu pai não estiver lá para me proteger? E se eu estiver sozinha.

– Você nunca estará sozinha – digo num sorriso. – Você sempre pode levar as pessoas que você ama dentro do coração, assim nunca de fato estará sozinha.

– E o medo um dia vai embora? – não sei ao certo o motivo, mas eu me abaixo, ficando no mesmo nível do seu olhar.

– Não. O medo não vai embora. O medo sempre é uma parte do coração do ser humano. Na maioria das vezes não se sabe quando se vai ter medo, pois ele se esconde em lugares onde não se é possível ver até que ele está na nossa frente. Mas o medo pode ser uma coisa boa. O medo de morrer pode nos mostrar que estamos vivos, o medo de perder alguém mostra o quanto essa pessoa é importante, o medo de ficar para trás muitas vezes nos faz seguir em frente.

– Então eu não preciso ter medo de ter medo não é? – ela diz com um sorriso compreensivo.

– Claro que não.

– Você parou de ter medo de monstros quando percebeu que os piores monstros se escondem dentro de cada um de nós não é? Assim como a Morgana... – nem fico chocada com as palavras que ela acabou de me dizer, só foi estranho escutar tudo isso da minha boca quando tinha uns seis anos de idade.

– Foi. Mas o medo de me transformar nesse monstro que habitava dentro de mim é que me dava forças para querer continuar no caminho do bem.

O meu eu sorrio largamente.

– Parabéns, pode atravessar aquela porta. Você passou pela porta do medo – não esperava o abraço que ela me deu, mas eu devolvi o abraço. Fico de pé e aceno para a minha versão menor, mas que ao analisar um pouco mais, tinha muito mais sabedoria do que eu. Mais uma emoção se foi.

Estou de volta e agora eu encaro a próxima porta que eu vou entrar. Escolho uma porta espelhada. Encosto nela para abrir, mas na realidade ela era um tipo de portal ou sei lá o quê para o outro lado. Respiro fundo uma vez e entro.

E eu estou de espectadora de uma cena que eu odiei vivenciar. Mais uma vez eu estava naquela maldita floresta onde eu ia morrendo, floresta na qual o Martin deu a sua vida por mim. Eu estava observando tudo de longe, e olhando o desenrolar dos fatos, eu não consegui deixar de me sentir culpada por tudo aquilo que aconteceu. Se eu tivesse prestado mais atenção, se eu tivesse percebido as intenções da Sarah naquele momento... Se eu...

– Não pense assim Megan. Já disse, mas irei repetir quantas vezes forem necessárias, você não tem culpe nenhuma – a voz agradável do Martin fala dentro do meu coração.

– Desculpa Martin, mas não dá pra tirar da minha cabeça a minha parcela de culpa nisso, eu deveria ter sido mais cuidadosa.

– Deixe disso Megan...

– Eu bem sei que tem muitas coisas que estão além do meu alcance. Mas a culpa sempre aparece.

– Você realmente acredita nisso Megan. Porque você está perdendo tempo aqui?

– Não sei.

– A culpa não vai te levar a lugar nenhum. Você tem que aceitar logo de uma vez que o que aconteceu você deu o seu melhor para impedir, assim como eu dei o meu melhor.

– Eu sei, é que muitas vezes eu me apego a essa culpa para tentar tirar um pouco da minha saudade...

– Você tem um jeito bem esquisito não é para acabar com saudade Megan? E não precisa disso. Você sabe que sempre vai ter um pouco de mim com você. E enquanto você lembrar de mim de uma maneira boa, eu vou estar com você.

– Mas você promete isso Martin.

– Claro que eu prometo Megan! Somos amigos não somos? E amigos não abandonam o outro assim! Sempre que você precisar eu irei te ajudar.

– Obrigada Martin.

– Obrigado digo eu. E devo dizer que estou um tanto quanto impressionado com você...

– Comigo? Mas por qual motivo?

– Você conseguiu passar por duas portas com o controle dos seus sentimentos aqui.

– Duas portas.

– Sim. A da culpa, que foi a que você entrou. E na porta da saudade também. Você está sabendo lidar com os seus sentimentos. Estou muito feliz por você Megan...

– Obrigada Martin – coloco a mão em cima do meu coração e fico feliz por saber que ali tem um pouco do Martin. Ele realmente era a minha saudade e a minha culpa. Vou guardá-lo sempre com muito carinho dentro de mim.

Uma porta se materializa na minha frente e eu entro. Voltando mais uma vez para a sala das portas. A porta espelhada estava sumindo, assim como uma porta pequena, pintada com uma cor lilás bem clara.

Agora escolho a porta mais bonita dali. Era pintada com um vermelho bem intenso, um vermelho profundo. Abro a porta e a lembrança era uma que eu particularmente gostava muito. O dia que eu percebi que eu gostava do Adam mais do que somente um amigo.

Era um sábado de manhã e os meus pais tinham ficado responsáveis por nós quatro durante o nosso passeio no shopping. O Lucas estava maluco para ir para a praça de alimentação. Sarah só queria assistir o filme que tinha estreado semana passada. Adam olhava um violino escuro na vitrine de uma loja de música. E eu não conseguia para de olhar para ele.

Meu coração cantarolava feliz ao observar o seu olhar calmo, fitando o violino.

E ali está o momento que eu percebi que estava caidinha por ele. Uma mecha do seu cabelo cai sob seu olho. Ele com muita calma, pega a mecha entre os dedos e coloca atrás da orelha. Ele percebe que está sendo observado, então me olha e sorri de uma maneira tão fácil, tão doce, que não haveria maneira de não me apaixonar por ele naquele momento.

A imagem vai se distorcendo e começa a mudar. E então diversos momentos de nós dois juntos, nossos quase beijos, nosso primeiro beijo, todos os momentos que eu estive ao lado dele começam a serem mostrados. Não posso deixar de sorrir e me apaixonar um pouco por ele. Muito do que eu passei, só conseguir passar por conta do seu apoio. E é claro que eu já sabia o quanto o seu amor é importante para mim. Sou uma pessoa de sorte por ter encontrado alguém como ele.

– Eu que sou o sortudo dessa história Megan – Adam aparece do meu lado e me dá um beijo na bochecha.

– Adam! – mesmo sabendo que aquilo não era real, eu o abraço apertado.

– Oi linda! Nem precisei falar nada. Você já conseguiu ver a importância da sua paixão no seu desenvolvimento! Por isso eu amo você!

– Era somente isso a porta?

– Sim! A porta da paixão – ele dá de ombros e eu fico aliviada. – Agora você só precisa fechar os olhos e você voltará para onde começou...

– Só isso?

– Só – ele sorri e eu fecho os meus olhos. Posso jurar que eu senti o quente dos seus lábios sobre os meus, mas quando abri os olhos, eu já estava encarando as portas e estava sozinha mais uma vez.

Escolho agora para entrar a porta verde. Conheci o lugar. Eu não estava de espectadora. Eu estava na minha pele. Olhei para os lados e me vi no corredor da escola. Parecia que eu não ia lá há séculos e sinceramente aquilo me incomodou um pouco.

Já era final de tarde e as aulas já deveriam ter acabado. Isso é, se ainda estivesse acontecendo alguma aula. Então escuto o barulho de passos e risadinhas controladas. E então um casal passa correndo pelo corredor. Eles não se são conta da minha presença.

Não sei ao certo o motivo, mas sinto uma necessidade de segui-los. E é o que eu faço. Eles encontram um lugar na arquibancada e não se importam com os olhares neles. A menina coloca a cabeça no colo dele e o rapaz começa a brincar com os cabelos negros dela.

Meu coração aperta com acena, de um jeito completamente desagradável. Eu não consigo desviar o meu olhar dos dois e vou me sentindo cada vez pior com a situação.

Os dois pareciam tão descontraídos com tudo, riam de algo que eu não fazia a menor ideia do que seja. Ela brincava com o cabelo dele, bagunçando de uma forma carinhosa e ele devolvia o carinho em forma de cócegas que fazia a menina rir alto.

Uma chuva fina começa a cair sobre a gente, mas eles não parecem se importar, e começam a dançar de maneira descoordenada na chuva. E aquilo fez o meu peito doer, doer tanto que parecia uma dor real.

Percebi que o que me doía por dentro era um sentimento simples, era inveja. Inveja por esse casal ter uma vida tão simples, tão descomplicada, um relacionamento onde o ponto alto era o amor, não tinham complicações com domínios, magia ou poderes.

Sim, senti inveja da minha vida deles ser mais simples.

Às vezes eu só queria que a minha vida se descomplicasse, eu tenho plena consciência que eu poderia ser plenamente feliz sem todo esse papo de magia e Nihal. A inveja toma uma proporção que eu não espero, e então percebo que ela acaba por se transformar em raiva. Raiva por saber que não posso ser assim, nem se eu desejar muito. Esse maldito sangue mágico.

Mesmo sendo completamente ridículo, eu fico ali naquele canto, invejando e cultivando uma raiva de um casal que eu nem conhecia e provavelmente nunca veria novamente. Odiava me sentir assim, mas era só o que eu conseguia pensar no momento.

Se eu nunca tivesse descoberto que eu tinha magia. Se eu fosse uma das gerações onde os poderes não afloravam, eu não saberia desse mundo agora e seria mais feliz.

Mas é então que eu percebo, que é isso. Eu já sei que existe magia. Eu sou da geração que aflora os poderes. O meu pai era descendente do Henry, eu tinha importância nessa história, na história de Nihal.

E a realidade me bate forte, como um tijolo acertando a minha cabeça. Eu não preciso ter inveja desse casal. Eu, mesmo no meio de tanto confusão e loucura, eu consegui encontrar alguém, alguém que sempre está ao meu lado, não importando a situação. Eu não preciso ter inveja de uma coisa que eu tenho na minha vida. Tão pouco eu preciso sentir raiva do que a minha vida poderia ter se tornado, se eu tinha a melhor vida que as minhas condições me proporcionavam.

Tomo um susto quando o casal olha na minha direção e num piscar de olhos eles já estão na minha frente. Eles têm um sorriso no rosto e agora, os olhando de perto, percebo que os rostos deles são muito familiares. De onde eu conheço esses dois?

– Sabíamos que você tinha um bom coração minha filha – o homem fala e eu fico um pouco espantada. Ele tem o jeito de falar igual ao meu pai... E a voz também parecia...

Então é daí que eu conheço os dois! São os meus pais, mas obviamente vários anos mais jovens. Eles devem ter a minha idade. Minha mãe tinha o mesmo brilho nos olhos, não sei como não tinha reparado nisso mais cedo.

– Você não se deixou levar pela inveja. Você não se deixou levar pela raiva. Não poderíamos estar mais orgulhosos de você minha filha... – minha mãe diz e passa os dedos pelos meus cabelos.

– Essa era a porta da inveja?

– Sim. E você também conseguiu acabar com a porta da raiva filha – meu pai diz com um sorriso jovem.

– Falta pouco para os seus sentimentos Megan. Tome cuidado, as emoções que ficam por último nem sempre são as mais agradáveis.

– Terei cuidado mãe. Não quero me demorar muito aqui. Tenho ainda portas a abrir.

– Te amamos filha – eles falam ao mesmo tempo e eu fico sorrindo feito uma boba. Dou um beijo na testa de cada um e me afasto, indo em direção à única porta que eu conseguia ver. Deixo os meus pais, a inveja e a raiva para trás e volto para aquela sala de portas.

Fiquei feliz por conseguir acabar com duas portas outra vez. A porta verde começou a sumir ao mesmo tempo em que a metálica. Respiro fundo mais algumas vezes. Estava cada momento mais perto. Eu conseguiria.

Ainda bem, só faltava uma porta. Estava cansada daquilo, nunca pensei que lidar com emoções desse modo poderia ser uma coisa tão cansativa. Não tinha mais como fugir daquela porta. A madeira velha e apodrecida estava entreaberta e só precisei abrir um pouco para ela abrir de uma vez e eu ser sugada para dentro. Caio de joelhos no chão e coloco as minhas mãos na frente para evitar que eu bata a cabeça no chão também.

Não sei ao certo onde estou e o ar é tão quente que esquenta os meus pulmões. O ar tem pouca umidade e minha garganta fica seca na hora. Fico de pé e bato com as mãos na minha calça, me livrando do excesso da areia que ficou.

Olho ao meu redor e o ambiente me parece conhecido também. De repente eu vejo alguém correr na minha direção. Oliver. Ele parece furioso ao me ver ali. Mal fala comigo. Pega a minha mão e me força a correr do seu lado.

– Temos que fugir daqui, já pegaram eles, se nos pegarmos, será o nosso fim. Pensei que você já estivesse longe.

– Eles? Eles quem Oliver?

– Ora, eles, a sua... – nem temos tempo de reagir quando algo estoura do nosso lado e somos jogados longe. Não consigo parar o impacto da minha cabeça com o chão e sou engolida pela escuridão.

Quando abro os olhos, estou amarrada em uma cadeira. Uma luz forte está em cima da minha cabeça, fazendo com que fique muito desconfortável que eu olhe para cima. Então analiso ao meu redor.

Minha avó, Adam, Oliver, Felícia e Nicky estavam em cadeiras ao meu redor, e aparentemente estavam na mesma situação na qual eu me encontrava.

– Finalmente uma reunião que podemos nos orgulhar não é? – uma voz mortalmente conhecida fala atrás de mim.

– Tobias – digo conseguindo controlar uma onda de raiva que quebrou em cima de mim.

– Mas é claro – ele sai detrás de mim e sorri ao me ver muito bem amarrada ali. Não conseguia me mover. Não conseguia usar meus domínios. Estou oficialmente em maus lençóis. – E que tal começarmos essa reunião com o coração direito? – ele diz com um sorriso perverso e num golpe rápido, limpo e mortal, acaba com a vida da Felícia, que cai sem reação e sem vida para o lado.

– NÃO! – grito desesperada e tento me livrar das minhas amarras. A raiva que não me atingiu primeiro, veio com força total agora.

– O que aconteceu Megan? Você está um pouco vermelha, deveria ver um médico – e ele desfere um segundo golpe, igualmente limpo e o coração do Oliver está nas mãos dele.

A reação é automática. Eu e o Nicky ficamos completamente desesperados e furiosos. Nicky sendo mais forte e mais experiente que eu consegue se soltar das suas amarras e parte à toda velocidade na direção do Tobias. Mas acho que ele já deveria estar esperando, pois Tobias nem parece suar ao lutar e acabar com a vida do Nicky também.

Choque é o estado mais exato nesse momento.

– Vamos lá Megan. Anime-se! Onde está o seu espírito de luta? Vou ter que despertá-lo mesmo é? – meus olhos arregalam quando ele se posta atrás do Adam. Meu coração está tão acelerado que meu peito treme.

– Não olhe Meg – ele implora, mas não consigo desviar o olhar. E vejo Tobias fazer um corte profundo na garganta dele. A vida vai se esvaindo aos poucos dele. Assim como a minha vontade de viver. Eu começo a repetir na minha cabeça. Não é real. Não é real. Não é real.

– Você tem que arrumar um motivo para continuar vivendo Megan. Mesmo que pareça que você não tem mais nada ou ninguém por quem viver, você tem que achar um motivo – a voz da minha vó praticamente me implora.

– Calada! – Tobias a impede de continuar falando. Ele desfere uma tapa tão forte no rosto dela que juro que o meu rosto esquentou.

– Pare com isso! – grito desesperada e minha voz sai esquisita. Nem tinha percebido que eu tinha começado a chorar. Tudo dentro de mim queimava numa dor que nunca tinha sentido. Fecho os olhos e os aperto com força.

– Você não vai querer perder isso... – meus olhos são forçados a abrir e não tenho outra escolha além de ver a vida da minha avó sendo tirada na minha frente. Me debato na cadeira, mas é em vão, não consigo fazer nada para impedir. – Ainda aqui mocinha? Acho que vamos ter que mudar isso... Podem trazer! – ele diz alto.

Uma porta se abre e é então que eu vejo os meus pais entrando. Não. Eles também não. Não é real. Não é real. Não é real. Repito tanto isso que a minha cabeça parece que vai explodir. Mais uma vez meus olhos são forçados a ficarem abertos, e nem com todo o esforço que eu faço, eu consigo deixar de ver essa cena.

A cena que devastou o meu coração.

Meus pais assim como a minha avó, Adam e todos os outros que eu me importava ali estavam mortos. Eu nunca tinha sentido uma dor tão grande assim. Para mim não havia diferença se aquilo era minha imaginação ou sei lá o quê. O sofrimento era real.

E então eu não estava mais amarrada. E o Tobias não estava mais ali. Só restavam a falta de vida do lugar. Tudo em mim pesava. Meu corpo tremia. Meu coração queria parar. O peso das vidas perdidas era grande demais, me sufocava, me machucava.

Encolhi-me o máximo que consegui. Apertei-me tanto que os meus braços doeram de tanto que eu me encolhi. Fechei os olhos e me deixei levar pela dor. Ela estava dilacerando e carregando a minha alma. Repetir que não era real na minha mente não estava me ajudando em nada. O meu desespero é bem real. Meu coração parece que parou de bater.

Foi então que as palavras da minha avó me atingiram em cheio. As últimas palavras dela. Eu tinha que arrumar um motivo. Não ia ser nada fácil, principalmente quando se achava que não havia mais nada para se viver. Mas não podia me deixar abalar assim. Sei que cada uma das pessoas que estavam aqui queriam me ver bem, me ver feliz, vivendo da melhor forma possível todos os dias.

Foi então que eu sinto novamente meu coração bater. Uma batida triste, machucada, mas viva. O mundo poderia estar desabando, mas enquanto eu ainda estivesse viva, eu teria um motivo para continuar os meus dias, procurando dar o melhor de mim, não somente por mim, mas por todas as pessoas que me amam e que de alguma maneira me ajudaram a estar aqui.

– Muito bem Meg – ouço a voz da minha avó. Abro os olhos assustada e a vejo na minha frente, sem ferimentos, parecendo bem viva. – Essa era a porta da escuridão. Você conseguiu encontrar a luz. Você virou a sua própria luz – ela diz orgulhosa e vejo que todos que estavam caídos no chão, começam a se levantar e a morte começa a sair daquele lugar.

– Vó, eu pensei que você... Eu pensei que vocês – digo com lágrimas diferentes em meus olhos. Estava tão aliviada nesse momento...

– Eu sei... – ela diz, me abraçando. – Mas já acabou. Você já conseguiu. Vá Meg, saia desse ambiente que só te trouxe dor, encontre um pouco de paz agora – sua mão alisa o meu rosto.

Consigo ver a porta de saída nesse momento. Meu coração ainda está pesado, mas mesmo assim eu consigo colocar a mão na maçaneta e sair daquele lugar, não olho para trás, as lembranças são horríveis demais. E assim que a porta se abre, uma brisa quente acerta o meu rosto.

Junto da brisa, um cheiro agradável de flores. A porta se fecha atrás de mim. Estou de olhos fechados e controlo a minha respiração. Levo o meu corpo para trás, para me encostar na porta, mas não há mais nada atrás de mim, então caio de costas no chão, mas não me machuco, a grama que eu caio é alta e cheia de flores.

Abro finalmente os olhos.

O céu tem uma cor azul bonita, o Sol brilha com intensa facilidade e algumas nuvens brancas passeiam tranquilas. Ergo o meu tronco e me vejo num campo colorido e cheio de vida. Nunca tinha visto nada tão bonito quanto aquele campo.

Mas não havia sinal de ninguém ali. Eu tinha entrado em todas as portas, onde estava o Fred? Ou será que eu ainda não concluí aquela provação?

Iria deixar as dúvidas para depois, pois eu fecho os meus olhos e tento me livrar de toda aquela dor que tinha se instalado no meu coração por causa daquela última porta. Nem percebi quando adormeci.


Hello lindos da vida! Já estou na contagem regressiva para o final do OND :C Faltam 5 capítulos agora. Ai que o meu coraçãozinho está apertado, eu quero terminar essa história, mas não quero terminar essa história... Vai entender o que se passa na minha cabeça completamente sem juízo... Mas e então, o que acharam da segunda prova? Acham que ela terminou ou ainda tem alguma coisa pela frente? As portas acabaram, mas será que tem alguma emoção "surpresa"?

E o capítulo de hoje vai para.... @MandinhaBicalho, @suchrose_ e @alyceesantos Muitíssimo obrigada por acompanharem o livro e por todo o apoio que vocês me dão mesmo sem saber. É incrível como pequenos atos de vocês sempre são mais do que suficiente para fazer o meu dia imensamente melhor. Vocês são os melhores e sabem disso :D (mas se não sabem, fiquem sabendo agora)

Não se esqueçam de deixar seus votos e comentários! Isso me deixa imensamente feliz. Um beijo enorme no coração de cada um de vocês e até a próxima ;*

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