VII - Tabuleiro de Xadrez
V me olha com uma feição de surpreso. Talvez esteja surpreso com tamanha coragem.
V diz, calmo e sereno:
— Você tem muita coragem de vir aqui.
Dou um sorriso de canto, provocando:
— Por que acha que tenho medo de você?
Vários corpos de pessoas mortas nas ruas. Isso só me faz pensar que é um prato cheio para Morte.
Selaphiel aproveita que V está de guarda baixa e rapidamente voa até a direção dele para acertar um golpe. Assim que ele se aproxima, V invoca um poder absurdo. O mesmo poder que vi quando ele me perseguiu a primeira vez.
Seu cabelo fica arrepiado, seu olho esbranquiçado e uma aura poderosa cobrindo seu corpo. V segura o pescoço de Selaphiel e "se divide" em dois, criando um clone de si mesmo. O clone assume a posição original, segurando o pescoço de Selaphiel enquanto o corpo original se separa do clone. V então dá sua cartada final: Usa o Judgment Cut com uma maestria que nunca vi antes.
Fico imóvel, de queixo caído. Uma proficiência dessa é raríssima. Jamais alguém deveria ser capaz de portar a Yamato com tanta afinidade. Requer laços de sangue, laços mágicos e até mesmo laços espirituais.
O Judgment Cut desintegra completamente o Selaphiel, juntamente com o clone de V. Ambos foram desintegrados da matéria, sobrando nada além do espírito.
Estou começando a ficar suado. Minha vontade é de correr. Correr tão longe, tão rápido, mais do que corri da última vez.
V caminha lentamente a minha direção, ainda com seu poder emanando. Faço uma expressão destemida, sacando minha Rebellion. PRECISO proteger as pessoas que eu amo e vingar minha família.
Ele se teleporta até mim e pega minha Rebellion com as mãos. V, meramente com sua força, quebra a réplica perfeita que meu tio fez da Rebellion. Ele destruiu uma espada considerada capaz de rivalizar com a Yamato.
Depois disso, ele crava a Yamato no meu peito com tanta velocidade que me pareceu muito a velocidade do meu pai. Não deu nem sequer para ver o vulto, a aura. Foi tão rápido...
A Yamato atravessa meu peito até a Seppa da Katana de uma forma extremamente violenta. Ele diz, com arrogância:
— Tolice. De novo, tolice. O poder controla tudo, e sem poder, você não pode proteger nada...
V arranca a Katana do meu peito com brutalidade, enquanto meu sangue escorre litros ao chão. Ele termina a frase:
— ...tampouco a si mesmo.
Caio no chão sem esperanças. Será que é meu fim?
Eu realmente acreditei que seria páreo pra ele se tivesse um pouquinho de coragem. Percebi meu erro.
Será que ele vai atrás da Sophia? Quais os objetivos dele?
Não pode ser em vão... não pode acabar assim...
Será que meu desejo em proteger as pessoas é fraco?
...
Minutos depois, os súditos de V já deixam o local. V e seu esquadrão já seguem espalhando suas ideologias, doutrinando as pessoas e fazendo com que todos aguardem a vinda do apocalipse. Enquanto fico imóvel, apenas observando a morte chegar, sem poder de fato proteger as pessoas.
Mãos esqueléticas surgem em volta do meu corpo, criando um portal e me sugando para 'debaixo da terra' enquanto minha visão fica turva, como se a Morte estivesse chegando. Eu desisto. Que venha.
Uma escuridão cobre minha mente e meu campo de visão.
Ao abrir meus olhos, me deparo em um plano semelhante ao Limbo. Um nada, um vazio. Escuridão total, com uma única imagem visível de um ceifeiro me encarando.
O ceifeiro se apresenta:
— Não imaginei que o filho dele chegaria mais cedo que ele...
Ao franzir o cenho, pergunto:
— Você se refere ao meu pai?
O ceifeiro responde rapidamente:
— Sim. Eu o conheci. Sou Morte, um dos cavaleiros do apocalipse.
Meus olhos ficam estarrecidos. Fui surpreendido tantas vezes hoje. Me encontrei em situações de desespero diversas vezes. E cá estou eu, de frente com a Morte em pessoa.
Morte questiona:
— Para onde é seu destino? Céu ou inferno?
Então esse seria o fim. Avaliar qual meu destino pós-morte e esquecer minhas pendências na Terra.
— Eu não vou morrer. — respondo, indignado.
PRECISO proteger as pessoas que amo, PRECISO que minha determinação supere as expectativas. Talvez seja isso o que esteja faltando. Vontade, perseverança, e daí sim vem o poder. Farei aquele arrogante pagar com a língua.
Morte aumenta seu tamanho drasticamente, se tornando gigante, enquanto sua voz ecoa no vazio por completo, tomando o local com muita escuridão e trevas. Ele certamente sabe amedrontar alguém. Sua foice fica enorme. Ele grita:
— Você já está morto. Não há mais nada o que possa ser feito. Não há como sair daqui. Desista!
Eu, sendo bem honesto, nunca presenciei uma cena tão assustadora. Ver Morte mexendo com meu psicológico assim é tão assustador quanto ver V me humilhando ao matar minha mãe e aprisionar meu pai.
Vou apenas com meus braços e pernas, passo a ter mais coragem e digo:
— Se eu morri, então renascerei.
Dou um salto e travo uma batalha intensa com Morte.
A cada golpe que dou, recebo milhares de volta. Suas foices são gigantescas, elas atravessam meu corpo profundamente. Me cortaram em mil pedaços, me atravessaram, me feriram de várias formas, infinitas vezes. Sinto como se estivesse morrendo a cada segundo.
Estou, de fato, tentando... sem desistir... mas sinto que está sendo em vão.
Sempre que eu acerto um golpe em Morte, ele me devolve o golpe com uma infinidade de força muito maior. Mas por algum motivo, eu não consigo parar de lutar. Sinto que, se eu desistir, estarei fadado ao pós-morte e jamais voltarei pra Terra.
Sinto tanta dor, tanto sofrimento. Meu corpo já não sabe mais o que é descanso. O que é paz.
Meu psicológico já não sabe mais o que é calma e serenidade.
Um minuto... uma hora... um dia inteiro lutando.
Estou há tanto tempo lutando com Morte que, de fato, não sinto mais dores. Não sinto mais as foices me cortar, não sinto mais o medo do lugar escuro. Não sinto mais nada.
Só sinto raiva. E quero sair daqui o mais rápido possível.
É como se eu tivesse dado alimento ao pecado da Ira, me apropriando cada vez mais dessa raiva excessiva para ter mais poder. Me sinto cada vez mais oposto ao meu pai.
Dizem por aí que as coisas só acontecem quando estamos raivosos...
Até que, suspiro, parando por um breve momento e dizendo:
— Há quanto tempo estamos aqui?
Morte dá um sorriso, parando sua foice por um breve momento e respondendo:
— Doze mil cento e setenta e oito anos.
Eu fico sem reação. Como pode tanto tempo ter passado. Eu literalmente vivi um inferno, e é como se estivéssemos no começo de tudo.
Claramente este local distorce o tempo.
Digo, de cabeça baixa, prestes a desistir:
— Não há como sair daqui, não é?
Morte levanta o braço esquelético, dizendo:
— Não. Desista. Avalie seu destino.
Olho para Morte, prestes a desistir. Quando de repente, uma luz atrás de Morte se intensifica.
Eu pensaria que seria a luz do pós-morte, mas a luz assume a forma do Medalhão de Geralt que Sophia está portando. Uma mão me puxa e me trás até ela. Morte imediatamente perde a forma, como se a luz estivesse invadindo o plano da morte.
Penso:
"Finalmente..."
...
Ao abrir os olhos, estou deitado um uma maca. Sophia me encara, lacrimejando, dizendo:
— Pensei que não fosse conseguir te trazer de volta.
Ela sorri, feliz por eu estar de volta.
Fico feliz em saber que ela está bem. Olho ao redor, o céu está vermelho. Tenho um pressentimento horrível sobre isso. Pergunto:— Quanto tempo se passou?
Sophia responde rapidamente:
— Doze minutos.
Eu fico surpreso. Como doze mil anos, naquele inferno, foram apenas doze minutos no mundo real?
Sinto que eu sai de lá infinitamente mais forte. Aguentei anos de dor e sofrimento, e sou capaz de dizer que aquilo me deixou com durabilidade de ferro. Eu gostaria de testar quem venceria uma luta agora: eu ou V.
No final das contas, tudo não passa de um tabuleiro de xadrez. V me deu cheque-mate, uma jogada onde o Rei praticamente não tem mais movimentos e a partida se encerra. A questão é que... eu ainda quero me movimentar, mesmo com minhas peças comprometidas. E não deixarei esse "mate" barato.
Pergunto a Sophia, ainda surpreso em como o céu está vermelho e a energia está tão negativa:
— Como me tirou de lá? O que é isso tudo?
Sophia responde, omitindo a segunda pergunta:
— O medalhão de Geralt apitou. Um anjo me encontrou e disse que era possível te tirar de lá utilizando o poder do Medalhão.
Começo a pensar que talvez o medalhão seja a chave para libertar meu pai. A questão é: por que ele apitou só agora?
Normalmente, Sophia usa o poder do medalhão. Mas o medalhão dessa vez agiu por conta própria. Por quê?
O anjo atrás de Sophia se manifesta em um corpo de uma bela e jovem atleta:
— Sou Barachiel. Vou te explicar o que houve. — e dá um sorriso extrovertido.
Uau... Estou apaixonado...
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