XVII - Vitória

Jun e eu tivemos aquela luta de sempre. Aquela luta de quase uma hora, onde não importa o desgaste, estaremos sempre lutando com firmeza mesmo que os pés estejam doendo, mesmo que sentissemos a dor do cansaço na pele. Aquela luta onde a espada fica cansada primeiro do que o usuário da espada.

Até a chuva, que estava pesada, já havia parado. Pode ser que volte a chover, mas já parou, e eu demorei perceber. O foco na luta é tamanho que nem reparei logo de cara.

Sabe aquele hábito de lutar desde criança? Sempre tivemos. Mas agora sinto que SÓ UM DE NÓS sairá vivo desta, a não ser que algo mude.

...

Depois de muito tempo lutando sem parar, quase beirando a exaustão, um portal se abre atrás de nós. Esse portal tem o mesmo formato do portal que Miguel abriu algumas horas atrás.

Eu e Jun interrompemos a luta rapidamente, pois de um portal nada bom poderia surgir, afinal.

...

Do portal estava saindo uma criatura bizarra, de formato ainda mais bizarro, com uma energia púrpura em todo o corpo. A coisa é facilmente identificável, pois emana um poder que não me é estranho.

É a Sparda, a Espada Lendária, que deve ter consumido Miguel e Samael. Os arcanjos, quando voltaram no tempo, batalharam até se desgastarem completamente – assim como estamos fazendo – e quando desgastados, a espada aproveitou esse momento de fraqueza e os consumiu e conseguiu voltar à linha do tempo convencional usando os poderes de ambos. Ela voltou para consumir nós dois, que estávamos lutando até ficarmos exaustos e assim absorver nosso poder...

A Sparda é esperta... e nós quase cometemos os mesmos erros dos irmãos arcanjos.

Eu salvo meu irmão de ser atacado pela coisa cortando um dos braços dela. Meu irmão percebe isso e não vê outra opção a não ser deixar nossa briguinha de lado e nos unirmos novamente para lutar por algo maior. Eu digo, apontando a espada para a coisa:
—  Você, escória, vai ser o nosso último oponente. —  e chego até o chão, ao lado de Jun.

—  Hora do Rock n' Roll de novo, meu irmão. —  ele diz enquanto coloca a espada no ombro e sorri.

Eu sorrio junto com ele. E assim caminhamos para enfrentar a coisa.

A coisa lança seu enorme braço púrpuro para nos atingir, mas eu consigo cortar o braço dele e abrir espaço para Jun chegar perto. Depois disso, eu me "teletransporto" para trás da coisa e tento enfiar a Yamato no corpo dela.

Quando Jun se aproxima, ele enfia a Rebellion na coisa e chuta a espada para dentro do corpo dela, atravessando todo o corpo até chegar do outro lado. E eu faço a mesma coisa do outro lado.

A Yamato atravessou o corpo da coisa e chegou até as mãos de Jun. A Rebellion atravessou o corpo da coisa e chegou até minhas mãos. E agora estamos lutando contra a coisa com nossas espadas trocadas.

Jun usa um estilo muito parecido com o Corte do Julgamento, porém, sem a mesma velocidade. Ele corta todos os braços a coisa, sobrando apenas um. E eu aproveito o momento e uso a Rebellion para destruir de vez as forças da coisa – pois a Rebellion é uma espada que é capaz de causar danos tão fortes e cortes tão abertos e sanguinários jamais vistos. Eu corto o corpo da coisa e ela escorre um líquido roxo, como se fosse um corte visceral. Jorrou muito líquido roxo.

Eu e Jun nos reagrupamos longe da coisa. Jun pergunta, apontando a Ebony & Ivory para a coisa, finalizando de vez com ela:
—  A Sparda não deveria ser mais poderosa do que isso?

—  Suponho que esteja desgastada por causa da viagem temporal. Viajar milênios não é tão simples, nem para Miguel. —  eu respondo.

A coisa lança seu grande braço para atacar Jun e desarma ele, fazendo com que a pistola caia no chão. Mas eu pego a pistola antes de ela cair no chão e já aponto para a coisa. Eu digo:
—  Vamos tentar do seu jeito...

Jun sorri de novo, apontando a arma também. Ele faz graça:
—  Lembra do que costumávamos dizer? —  a gente aponta a arma para a coisa.

— JACKPOT!!!  —  unimos nossas pistolas e damos o disparo, invocando todo nosso poder angelical e demoníaco de uma só vez.

Nossos disparos causam um dano muito apelativo na criatura, tão apelativo que poderia facilmente matar um arcanjo, por exemplo. A coisa acaba de sofrer um ataque carregado de dois irmãos híbridos. A coisa foi facilmente desintegrada quase que por completo, sobrando um único vestígio material da Sparda (que seria a cabeça principal). O líquido roxo começa a respingar por todo o local, mostrando que a coisa foi finalmente derrotada.

A cabeça principal da coisa começa a se materializar, fugindo, deixando um rastro de líquido púrpuro. A coisa escorre os andares abaixo da Torre da Provação.

Jun não liga. Ele deixa a coisa escapar. Ele faz graça de novo, feliz por ter derrotado de vez o último inimigo:
—  Fizemos chover? —  Jun abre a mão e sente o líquido roxo respingar por todo o local.

Nós devolvemos as armas pra cada, e retornamos à nossas armas padrão. Eu com minha Yamato e ele com a Rebellion, além das duas pistolas Ebony & Ivory.

Momentos depois, começa a chover de verdade. Dessa vez, água doce mesmo, pela segunda vez essa noite.

Eu olho para Jun e mantenho uma postura bem cuidadosa, torcendo muito para que ele não queira continuar nossa luta.

Eu já fui irado assim como meu irmão. Gostava de apontar o dedo para as pessoas e de reclamar de tudo. Vivia com raiva. Mas eu superei tudo graças à Virtude da Paciência, minha primeira virtude. Eu acredito verdadeiramente que meu irmão encontrará o mesmo caminho.

Tendo isso em mente, eu esqueço da luta que tivemos agora há pouco e digo, dando um sorrisinho de canto:
—  Derrotamos essa coisa juntos. É mérito nosso, irmão.

Meu irmão abaixa a cabeça e dá um sorrisinho de canto em resposta. Acho que esse momento foi um alívio. Ele não demonstrou querer continuar a luta e, aparentemente, entendeu o que realmente importa.

...

Acho que no fim das contas... tudo acabou...

Começo a caminhar para a beirada, olhando para o horizonte do mesmo jeito que fiz quando cheguei aqui pela primeira vez.

—  Não consegui restaurar a humanidade, nem restaurar a graça dos anjos. Mas pelo menos fiz o que nosso pai pediu. Matei Samael! —  eu digo isso, olhando para a Lua.

Jun toca meu ombro. Ele diz:
—  Pelo menos a merda do Apocalipse não aconteceu. —  depois ele olha para cima também.

Mal sabe Jun que só adiamos o inevitável.

Ficamos cerca de 1 minuto, olhando para o céu, em silêncio, enquanto as gotas de água escorrem na nossa cara. A água da chuva cai cada vez mais, e com mais força. O vento aumenta ainda mais.

Nesses 1 minuto de silêncio, minha cabeça passa por um enxame de pensamentos.

Eu perdi minha mãe, meu pai, meu único romance, meus amigos anjos... e tudo o que restou foi meu irmão.

Ele me olha, quebrando o gelo, perguntando:
—  Você está chorando?

—  É só a chuva, irmão. —  eu digo, sem mostrar nenhuma expressão facial.

Me culpar por tudo isso é ser injusto comigo mesmo.

...

Eu ergo meu braço direito e atraio a Foice de Osiris que caiu chão abaixo, beeeeem no nível zero da Torre da Provação. Jun faz o mesmo, atraindo o Machado de Arbiter.

Nós guardamos as armas que eram de nossos pais conosco. Afinal, precisamos manter o legado da família.

Eu abro a mão e deixo

Mas quer saber? Já terminamos tudo aqui.

Eu olho para Jun, quase na beirada da sacada. Olhando pra baixo, daquela altura, sem hesitar, apenas me viro e digo:
—  Acho que isso é um adeus, irmão.

Ele me olha sem entender. Ele estende a mão tentando me puxar pra perto dele.

Eu pulo de costas, caindo olhando pra cima.

Eu caio da Torre da Provação, indo ao chão como se fosse um pequeno cometa. Uma queda dessa seria fatal para um ser humano, afinal, seriam 100 andares. Mas eu sou um Nephilim. Eu me viro.

Meu irmão ainda está lá em cima, no topo da Provação.

...

Essa é outra lição pesada que eu não esperava ter que aprender...

...a lição de que as vezes não existem finais felizes.

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