Capítulo 11: O castelo que não tinha lindos sorrisos

*Eileen contando*

Lupi parou em um enorme campo com lavandas, acho que o mesmo no qual o vi pela primeira vez, desci das costas dele e fiquei olhando ao redor, ali não parecia ser um polo e não tinha mais ninguém ao redor.

- O que estamos fazendo aqui? -Olhei para Mio.

- Mesmo sendo uma traidora, a Mia estava certa, você está muito ferida, pode acabar perdendo nas próximas lutas por causa disso -Ele pulou do Lupi.

- Eu consigo -Fiquei em reta.

Acabei me desequilibrando com a dor na perna em que fui ferida por Mia.

- Anda logo, é só ir nas lavandas e tudo fica bem.

Olhei para o campo, entreguei minha bolsinha para Mio, ele ficou segurando-a.

- Sabe o que fazer? -Mio perguntou.

- Sei -Respondi indo para o meio do campo.

Quando cheguei no campo sentei, fechei os olhos e comecei a respirar, o cheiro e a serenidade daquele lugar fez as dores sumirem, todas as dores que eu poderia ter pouco a pouco foram desaparecendo. Não sei quanto tempo passou, mas quando me senti totalmente revitalizada, levantei pronta para voltar para minha batalha, acabei olhando ao redor, pensei:

{Como esse campo está lindo, nem parece que a entidade está aqui, mesmo com a nevoa e a escuridão ao redor, tudo aqui dentro está bem e sereno}

Voltei até o Mio e o Lupi.

- Por que o campo está tão bem? -Olhei para Mio.

- A devastação não chegou a esse campo, nunca soubemos o motivo.

Virei de costas para ele, olhei novamente as lavandas novamente e então eu soube o motivo.

- Acho que a devastação chegou, mas as lavandas curam todas as feridas e coisas ruins, então sempre que a entidade chega, ela cura -Sorri.

Por num momento tive memorias felizes da minha infância, lembrei da minha avó e como estava com saudades dela.

- Pode ser isso.

Olhei para Mio

- Não seria mais fácil usar as lavandas para conter a entidade em vez de sair matando os polos?

- Acho que é mais fácil exterminar a ameaçada do que só conter, afinal um dia ela pode se libertar e pode vim com mais força.

Fiquei calada um tempo.

- É, você pode ter razão -Olhei para baixo

Subi no Lupi e ajudei Mio a subir.

- Vamos garoto, até o próximo polo.

Lupi voltou a correr na nevoa, eu me sentia bem novamente, me sentia forte para lutar com o próximo que ia vim. Enquanto Lupi corria senti Mio deslizando a mão na minha perna.

- Até as feridas das suas pernas foram curadas -Mio falou passando a mão direita em minha perna direita- Acho que você vai mais forte para o próximo polo.

- Lavandas curaram minhas feridas. Sim isso é bom, vou está mais forte -Dei um sorriso.

Quando me dei conta Lupi parou no castelo dos sorrisos, mas estava diferente, estava tudo morto ao redor e com uma tonalidade escura, os sorrisos que antes decoravam toda a estrutura do castelo estavam de um jeito maléfico, com dentes pontudos e como se estivesse derretendo, antes aquele lugar me enchia de alegria, agora só dá medo, nem parece o mesmo castelo de antes. Desci do Lupi olhando para aquela construção horripilante.

- Isso é realmente o castelo dos sorrisos? -Perguntei olhando para Mio.

Mio estava descendo do Lupi.

- Era, quando o príncipe expulsou o rei e a rainha do castelo e foi dominado pela entidade isso virou o castelo dos sorrisos assustadores -Ele foi se aproximando de mim.

- O rei dos sorrisos assustadores então? -Olhei novamente para o castelo.

- Sim.

- Que conveniente, então vamos falar com o rei.

Tentamos primeiro a porta da frente, que estava aberta, então entramos e fomos caminhando de forma silenciosa, tomando cuidado com todo barulho para não alarmar o rei e nem alguma coisa que poderia esta protegendo-o, subimos várias escadas e finalmente chegamos aos aposentos do rei, abri a porta de vagar e o mesmo estava dormindo em sua cama, voltei e encostei a chave.

- Me dá trufas Mio -Olhei para ele e falei sussurrando.

Ele me entregou minha bolsinha, abri e peguei duas trufas, as comi rapidamente e então estava pronta, peguei minha faca, abri a porta novamente de forma vagarosa e entrei silenciosamente, o rei dos sorrisos assustadores estava dormindo, ele estava um pouco sombrio, tinha uma aparência toda pálida, ao redor de seus olhos eram escuros, sua boca parecia que estava derretendo, o corpo estava todo distorcido, ele parecia mais forte e mais alto. Aproximei a faca de seu pescoço, mas não pude deixar de pensar:

{Mesmo nessa forma assustadora ele ainda é o antigo príncipe dos sorrisos, mesmo que fosse mais reservado, eu ainda o considero, ele era parte desse mundo incrível, ele era parte dos momentos felizes que aqui vivi... Assim como Mia... Minha cosmos... O que eu estou fazendo?}

Comecei a hesitar um pouco.

- O que está fazendo? -Mio falou sussurrando- Tem que mata-lo antes que ele acorde.

- Ele eu não sei se consigo -Fui para o canto do quarto- Será que ele realmente fez mal ou só vou matar uma pessoa errada, será que ele não seria a vítima? -Comecei a hiper ventilar, eu sentia meu coração acelerar.

Mio veio em minha direção.

- Do que está falando? Ele é um dos polos -Mio ainda sussurrava.

- Será não teve um motivo ou ele está assim pela influência da entidade? -Falei escorregando pela parede até o chão, eu estava ficando sem ar- Para um minuto para pensar, todos os polos foram corrompidos, não eram eles mesmos, are a entidade -Disse com a ansiedade a mil.

Comecei a ter um pequeno surto interno, eu só pensava:

{Será que eu só não matei pessoas inocentes, pessoas que foram corrompidas e só por esse motivo elas agiam daquela forma? O que eu fiz?}

- Ele travou guerras e isso chamou a entidade, ele é culpado -Mio olhou para Lupi- Olha o lobo, ele está olhando para o rei com os olhos brilhando, ele é um polo.

Olhei e Lupi realmente estava da forma que Mio falou, mais minha cabeça estava a mil, parecia que ia infartar, eu não consegui pensar em nada.

- Eu não posso -Respirei de forma mesada- Mio eu não posso, eu matei Mia, não posso fazer isso também, não posso, não posso, não posso -Comecei a surtar externamente.

Quando menos esperei Mio deu um tapa em meu rosto e eu voltei a mim.

- Por que fez isso? -Falei mais calma.

- Você estava com uma crise de pânico.

Olhei para o rei que ainda dormia.

- Não posso fazer isso.

- Ok, não faça, não seja a heroína que acreditávamos que você era, mas espero que toda vez que lembrar que esse mundo foi destruído porque você simplesmente desistiu da profecia você consiga dormir à noite sabendo que é a culpada de tudo.

Eu respirei fundo, eu sabia que ele tinha razão, eu fui a escolhida e se algo me direcionou a isso é porque eu devo fazer, é meu chamado, é porque eu consigo e eu não podia fracassar, mesmo que eu ainda não estivesse totalmente bem com tudo isso, eu precisava fazer

- Está -Levantei do chão- Eu vou.

- Escolheu bem.

Fui caminhando até a cama de forma lenta, coloquei a faca próxima ao pescoço dele, fechei os olhos, respirei fundo, os abri novamente e o rei estava me olhando sério, arregalei os olhos muito assustada, paralisei na mesma hora, aquilo foi horripilante, ele me olhava com os olhos negros, acho ele havia aderido depois da entidade domina-lo, ele deu um sorriso medonho e eu senti como se eu estivesse caindo dentro da alma dele, eu estava em volta de um mar negro, tinha somente eu e uma vasta escuridão, eu tentava nadar, mas não sabia para onde, tinham ondas violentas, que me faziam afundar, eu voltava para a superfície desesperada, não sabia o que estava acontecendo, não sabia como sair daquela situação, comecei a me afogar, eu tentava me segurar o máximo que eu conseguisse na superfície, me debatia muito.

- Por que quer me matar, Eileen? -A voz do rei ecoou, ele parecia rir.

Parei de me debater, fiquei só boiando e olhei em volta, acabei vendo que o mar parecia ser a capa dele, que terminava em seu pescoço que flutuava junto com a cabeça no meio daquela escuridão.

- VOCÊ ESTÁ CORROMPIDO, EU PRECISO FAZER ISSO -Gritei olhando para ele.

- Eu me sinto bem, não me sinto corrompido -Ele falou com um sorriso assustador.

- EU PRECISO ME LIVRAR DA ENTIDADE PARA TUDO NA TERRA DAS MAÇÃS FICAR BEM.

- E eu sou o problema, Eileen? -Ele falava com um estático sorriso medonho em seu rosto.

- Você não é o problema, mas um deles.

- Mas já parou para pensar que tudo estava bem quando você estava aqui? Só bastou você ir embora para tudo ficar desse jeito, e se a culpada for você? Por ter esquecido de nós ou melhor por ter trazido sua impureza, afinal todos éramos totalmente puros e você veio de fora, lá fora é um lugar com muita escuridão.

Naquele momento eu tive um choque de realidade, pensei:

{E se ele tiver razão, aqui nunca teve problemas, até eu ir embora e se mentiram para mim e eu fui a culpada da entidade aparecer}

Parei na água e abaixei a cabeça, acabei afundando naquele mar escuro, tudo que ele falou fazia sentido se parar para pensar, e se na verdade eu tivesse trazido a entidade lá de fora e se eu for a ruim nessa história, só estava me iludindo de ser a heroína. Acabei ficando sem ar e senti que estava apagando, até que apaguei.

Levantei rapidamente tossindo, saia uma água escura da minha boca, olhei para o chão que eu estava sentada, mas aquele chão era preto, parecia um enorme vácuo, olhei ao redor e eu ainda estava perdida no lugar onde o rei me pós, o vi se materializar em minha frente, ele caminhou até onde eu estava.

- Deixe-me mostrar a realidade, Eileen -Ele se agachou perto de mim e com aquele sorriso assustador passou sua capa preta em meu rosto.

Abri os olhos e eu me vi quando criança entrando no mundo das maçãs pela primeira vez, mas tinha algo em mim, algo escuro, como uma fumaça impregnada, vi todos os meus momentos quando criança que passei aqui, mas eu sempre estava com uma fumaça e por fim vi a última vez que eu vim, a fumaça naquele dia impregnou tudo, fazendo o mundo das maçãs ficar desse jeito. O rei puxou a capa do meu rosto e eu estava com os olhos cheios de lagrimas.

- Você trouxe a escuridão para cá, todos que você matou eram pessoa inocentes que você infectou com sua podridão, é sua culpa estarmos desse jeito e ainda teve coragem de nos matar, então me deixe devolver a você, o que jogou para todos nós -Ele me deitou no chão delicadamente- Não se preocupe, ira sofrer um minuto, isso não é nada comparado a mais de 10 anos de sofrimento que nos trouxe.

E naquele momento eu percebi um coisa com a fala do rei, algo não fazia sentido naquelas imagens que ele me mostrou, olhei para cima, o rei me olhava com aquele sorriso que parecia me encarrar, então eu me acalmei e eu percebi o que estava errado naquilo tudo.

- Isso não é meu, se eu tivesse entrado com isso alguém teria percebido e como posso ser a heroína da profecia se eu sou a vilã na mesma história? Além de que só agora, depois de tantos anos foram me chamar, se tivesse acontecido logo após minha saída, eu já teria sido convocada e porque confiariam chamar a pessoa que trouxe a entidade para derrota-la? -Fiquei seria- Fora que me contaram que começou há mais ou menos um mês e não há anos

Ele me olhou hesitante.

- Calada, não conteste o que o rei fala, você é a vilã aqui, não a entidade, você matou inocentes.

Senti uma enorme raiva quando o rei terminou de falar.

- Eu posso até não ser a grande heroína, mas pelo menos eu sei que não sou a vilã.

Ele parecia furioso.

- Então não, eu não sou culpada de nada disso -Caiu uma gosma negra em meu rosto vindo do pescoço o rei.

Eu voltei ao quarto do rei e ele estava na cama tentando parar a gosma que estava saindo de seu pescoço, eu havia conseguido cortar mesmo naquele transe, quando ele finalmente parou de se mover, respirei fundo, não sei explicar eu senti um certo alivio de entender que eu não era ruim, que o que eu estava fazendo não era ruim, eu estava salvando aquele mundo. Eu virei para Mio.

- Feito -Dei um sorriso.

- Ainda bem que teve coragem -Mio sorriu.

Fui até ele.

- Acho que no final de tudo essas mortes são realmente necessárias, se eu não ferir essas pessoas elas vão acabar ferindo muitas outras.

Mio ficou calado me olhando, acho que ele não tina muito o que acrescentar a minha fala.

- Acho que está na hora de seguimos para o próximo ponto -Mio falou tocando em Lupi.

- Sim -Olhei para o rei que estava morto em cima de sua cama.

Voltamos andando por todo o percurso que fizemos, mas dessa vez sem preocupação de não fazer barulho, saímos novamente pela porta da frente, abri minha bolsinha e guardei a faca, subimos em Lupi e o mesmo correu para o próximo polo. 

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