30 de Janeiro, 2019 - Quarta (23h43)

Hoje, 29 de Janeiro (na data real, não a do universo Isaac), é o dia da VISIBILIDADE TRANS.

É importante lembrarmos de respeitar a diversidade das pessoas. Cada um de nós merece ser visto e aceito por quem realmente somos. Então não somente hoje, MAS SIM TODO DIA, celebremos a coragem e a força das pessoas trans e apoiemos sua jornada para serem verdadeiramente elas mesmas.

Juntos, podemos criar um mundo mais inclusivo e amoroso para todos.


🏳‍⚧



30 de Janeiro, 2019 – Quarta (23h43)


De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Aos poucos voltando à ativa


Boa noite, amiga! Finalmente tivemos notícias do traste desaparecido.

Como bom rato de esgoto que é, ele estava se escondendo em algum bueiro desde semana passada. Sem metáforas sarcásticas agora: um vizinho disse tê-lo visto num beco perto da casa dele, bebendo como mendigo e dizendo que não iria voltar para casa.

Imagino que o gatilho de voltar para um lugar todo destruído deve estar forte. De acordo com a Hellen, ele mesmo quebrou vários pratos, copos, cadeiras e janelas por pura raiva, e não tinha a mamãezinha idiota para limpar (sim, estou me referindo à minha avó, e que Deus me perdoe mas eu acho, sim, ela muito idiota por sempre ter feito as vontades do porco mimado).

A Hellen mandou mensagem hoje, no início da tarde, contando que ele voltou pra casa falando e gesticulando sozinho, para o nada. Não sei se ele desenvolveu uma habilidade de enxergar os espíritos obsessores que o rodeiam, ou se era efeito da bebedeira do desgraçado.

Parece que o vizinho que o reconheceu conseguiu convencê-lo a voltar depois que ameaçou chamar a polícia (percebe-se como ele é amado naquela vizinhança, não é?). E como ele já tinha passado uma noite detido, devia estar traumatizado. A eficácia foi certeira.

"Agora ele está chorando que nem bebê", disse a Hellen, por áudio. "Parece que desistiu de destruir as coisas".

Eu estava no caixa da floricultura ouvindo esse áudio, e o Jonas estava curvado ao meu lado, prestando atenção. Ele comentou:

"Ou o tio já quebrou tudo o que dava"

O tom era de brincadeira, mas ele devia estar perto da verdade.

Pedi pra Hellen continuar de olho em novidades, e ela concordou "em nome de nossa amizade". Fiz uma cara de profundo desgosto ao ouvir isso, e preferi deixar sem resposta.

O Nicolas chegou de carro pouco tempo depois, porque essa quarta foi o primeiro dia de volta às aulas da faculdade – a primeira vez que ele voltou lá depois daquela noite (do rapto e tudo o mais). Mas ele preferiu encarar isso, para não alimentar o medo de ir sozinho à universidade.

E ele está certo. Eu que sou sempre tragado pelos meus medos, e tenho certeza de que no lugar do Nick eu não conseguiria dirigir sozinho até lá. Iria sempre achar que há alguém escondido no carro, esperando eu voltar pra me apagar e levar num galpão abandonado.

E por falar em dirigir sozinho, não foi apenas a universidade que voltou à ativa. Hoje minhas aulas na autoescola voltaram das férias. Ainda tenho umas aulas teóricas (porque faltei de algumas depois daquela merda toda), e depois começa a prática de fato. É estranho me imaginar dirigindo um carro. Já dirigi o carro do Nicolas algumas vezes, mas dessa vez será eu e o professor – um senhor mau humorado que parece estar sempre pronto a dar uma bronca.

Com a volta às aulas, tanto minhas quanto do Nick, dá até a impressão de que as coisas estão voltando ao normal. É estranho fazer essas coisas comuns – atender clientes na floricultura reconstruída, ir ao mercado ou à auto escola –, mas manter sempre na lembrança os acontecimentos de novembro. Faz pouco mais de dois meses, mas a sensação de tempo dentro de mim é esquisita. Às vezes parece faz poucos dias. Mas em alguns momentos, parece que aconteceu há muito mais tempo.

Ontem à noite foi um exemplo.

É que minha avó conseguiu um serviço fixo com uma loja de roupas, e o Nick deu a ideia de levarmos alguns biscoitos para ela, parabenizando (uma receita que ela própria deu ao Nicolas no dia em que fomos resgatá-la).

Eu não notei de início, mas ele chegou a pedir ao Jonas que saísse com a Jaqueline e o Lucas, explicando que assim que os biscoitos ficassem prontos iríamos até minha avó, e que poderíamos nos encontrar lá.

"Então, me ajuda na cozinha?", ele pediu, depois que o trio saiu, nos deixando à sós.

"Eu... Não sou muito bom com essas coisas"

"Não esquenta. Separa esses ingredientes pra mim, e eu vou te mostrando como faz"

"Não acho que minha avó iria se sentir segura em comer algo que eu preparei, Nick"

Ele torceu os lábios como quem diz "deixa disso", e colocou a lista de ingredientes na bancada da cozinha. Respirei fundo e comecei a separar farinha, ovos, cacau em pó, fermento... Essas tralhas todas que se transformariam em biscoitos. EU sempre via minha avó fazendo-os quando era mais novo, mas nunca nem pensei em prepará-los. As poucas vezes que me aventurei na cozinha, naquela casa, foram o suficientes para eu entender que não era bem vindo como cozinheiro.

E naquela hora, eu estava sendo guiado pelo melhor confeiteiro que já conheci.

"Aqui, separe as gemas, assim..."

Ele me mostrou como faz, e repeti o processo nos demais ovos. Quando comecei a mexer a massa, seguindo suas instruções, o Nicolas parou atrás de mim, e apoiou as mãos em minha cintura. Beijou o topo de minha cabeça.

Respirei fundo. Senti o peito quente, ao mesmo tempo que um alerta acendeu. Engoli em seco, ainda com as mãos sujas pela massa achocolatada. Olhei para trás, encarando os olhos verdes. Ele se curvou e me beijou de leve. Foi rápido, mas o bastante para aquele calor no peito crescer. E o alerta aumentar. Falei para mim mesmo: "calma, é o Nicolas", e fixei o olhar nele, reparando os cabelos loiros, a barba baixinha, os lábios, lindos e úmidos.

Apesar de ele estar atrás de mim, segurando minha cintura, não estava com o corpo colado em minhas costas. Imagino que ele saiba que, se tivesse feito isso, meu alerta teria gritado e eu teria saído de perto involuntariamente. Não que eu queira manter distância do Nicolas. Absolutamente, não é isso. Mas sentir alguém colando lá atrás ainda me dá uma sensação terrível de perigo.

"Nicolas...", sussurrei.

"O que?", ele perguntou, com um sorriso.

"Nada... Só estou falando em voz alta pro meu cérebro entender que é você... Que é seguro"

Ele suspirou, levou as mãos até meu rosto e beijou minha testa.

"Desculpe se te assustei, Zak... Eu não ia fazer nada que você não quisesse"

A expressão dele estava tão preocupada que acabei soltando um riso.

"Eu sei, seu tonto..." falei, levando meu dedo cheio de massa até o nariz dele. "Vamos terminar logo esses biscoitos? O que eu faço agora?"

Percebi quando ele suspirou aliviado. Fizemos bolinhas com a massa, pressionando-as em seguida com um garfo, para dar aquele padrão de ondinhas em cima. Quando o forno foi fechado, lavei as mãos e percebi que ele estava saindo da cozinha.

"Nick, espera", pedi, e me sentei na bancada que havia acabado de limpar. "Aquela hora em que eu estava misturando os ingredientes, o que você queria fazer? Hãã, sabe... Pode continuar"

Abaixei a cabeça, envergonhado. Não é como se eu nunca tivesse feito essas intimações antes, mas... Já fazia tempo que eu não tinha esse tipo de iniciativa. Foi estranho. No passado, essa ousadia me fazia sentir bem, como se eu fosse "o garotinho lascivo do Nick", mas de uma forma boa. Porém naquele momento senti vergonha, como se eu não tivesse o direito de falar algo assim. Como se fosse proibido desejar esse tipo de aproximação, depois do que passei.

Eu estava descalço, de bermuda e camiseta. Ele se aproximou e parou diante de mim. Afastei as pernas para acomodá-lo.

"Tenho medo de despertar lembranças ruins em você, Zak..."

Ele não me tocou. Estava com as mãos no balcão, onde eu estava sentado.

"Eu sei", confessei. "Mas as lembranças vão vir, mesmo se você nem relar em mim. Não é o fato de você não me tocar que vai me impedir de lembrar. Aliás, acho que é até pior"

"Hum? O quê é pior?"

"Você evitar me tocar. Tenho me sentido tão sujo, Nick... Como se eu fosse indigno. Como se eu fosse uma fruta que apodreceu, e ninguém mais tem coragem de chegar perto, porque cheira mal e tem gosto ruim"

Imediatamente, ele segurou meu rosto, e deu um selinho.

"Não é verdade", falou, quase com urgência. "Não é por isso que tenho evitado tocar em você, Zak! Só tenho medo...". Ele abaixou a cabeça e beijou meu pescoço. "Medo que você faça associações erradas... Com meus toques..."

Sentir os lábios mornos e macios misturado com a fricção da barba fez todos os pelos de meu braço eriçarem. Os sentimentos estavam tão confusos que eu nem sei dizer se era um arrepio bom ou ruim. As lembranças vinham, sim, em pequenos flashes. E foi por isso que mantive os olhos bem abertos, forçando meu cérebro e todo o meu ser compreender que era meu namorado, e que eu queria aquilo. Mas que inferno, eu queria! Desgraça de lembrança ruim que ferra com tudo! Eu queria sentir o toque do Nicolas, eu queria que ele colocasse as mãos em todos os lugares, como sempre fazia!

Mas não falei nada. Permiti que ele seguisse num ritmo cuidadoso, e fiquei observando os dedos sobre minha camiseta, sobre minha bermuda. Me permiti ousar um pouco, e retirei-lhe a camiseta. Ele facilitou o processo, levantando os braços, depois tirou o que restava.

Ahh... Você não faz ideia de como eu estava com saudades de fixar meus olhos na nudez dele.

"Se afaste um pouco, Nick. Quero te ver melhor"

Respirei fundo. Lambi os lábios. Não canso nunca de admirar cada curva do Nicolas. O queixo, o peitoral levemente definido, os mamilos intumescidos, as coxas, os pés descalços, e aquelas linhas ao lado do umbigo que levam para baixo, onde uma ereção começava a se mostrar.

Fiz menção de tirar minha camiseta, mas parei. A vergonha tinha braços fortes, e me segurou. "Não acha que está atrevido demais, não?", falou a voz odiosa de minha consciência sádica. "Você acha que seu corpo magrelo se compara a esse na sua frente? Acha que assistir você se despindo vai fazê-lo sentir algum desejo?".

Soltei a barra de minha camiseta e desviei o olhar.

"Zak, o que foi?"

"É que eu..."

Não continuei. Ele se aproximou e tocou minha camiseta, perguntando com um olhar se poderia retirá-la.

Me encolhi. Não, não poderia... Eu preferia ficar daquele jeito, com as roupas, mesmo sabendo que isso era injusto com meu namorado, que estava em pé na cozinha da forma como veio ao mundo.

"Tudo bem, Zak, não precisa fazer essa cara. Vem cá". Eu ainda estava sentado na bancada da cozinha. Ele puxou minhas pernas, para que eu o abraçasse com elas. Fez com que eu encostasse no corpo dele ao máximo, e pediu: "Segure-se em mim".

Quando o fiz, ele me tirou da bancada como se eu fosse uma mochila grande colada o peito dele. Suas mãos estavam apoiando para que eu sentasse, e isso obviamente as deixava perto demais de um lugar problemático.

Nesse tempo todo, eu estava com os olhos bem abertos, encarando-o. A ponta de meu nariz tocava o dele. Sussurrei:

"Tudo bem me carregar assim? E sua perna?"

"Já está perfeita", ele respondeu, caminhando até a sala.

"Humm... E o que vai fazer?"

"Te colocar num lugar macio. Você é pesado"

Rimos. Ele me colocou no sofá.

"E agora... Que vai fazer?"

Ele deu de ombros.

"O que você realmente quer que eu faça?"

"O que eu quero..." Me calei. Não tinha certeza sobre o que responder. Tirei minhas mãos dos ombros dele, e coloquei-as na minha frente, como uma proteção. "Queria apagar sua memória, pra nunca ter visto aquilo... Para que você voltasse a me olhar como antes"

Sempre noto quando ele fica meio triste. Foi uma expressão mínima, de um segundo, mas aquela breve ruga entre as sobrancelhas me deu a dica de que ele visitou lembranças ruins naquele instante.

"Zak, eu continuo a te olhar da mesma forma que antes... Aliás... Mais do que isso, eu posso dizer com certeza que é mais forte agora. Em menos de um ano a gente já passou por tanta coisa junto... Não tem como eu te olhar da mesma forma, como olhava antes, porque agora conheço a sua coragem. Agora eu sei tudo o que fez por mim, de pegar sua bicicleta e pedalar como louco até um galpão abandonado pra me salvar de um maluco." Eu pensei que ele fosse chorar, mas não o fez. "Zak, não me peça pra te ver da mesma forma como antes... Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci na minha vida, e agora eu te admiro ainda mais!"

Meus olhos estavam ardendo, pois estavam arregalados e sem piscar desde que ele começou a falar.

"Nick..."

Finalmente pisquei, e duas gotas escorreram pelo meu rosto. Cravei meus dentes, senão iria chorar feito criança manhosa. Ele continuou:

"E se a sua preocupação é sobre eu te olhar com desejo...", murmurou, passando os dedos pelos meus cabelos, colocando os fios mais longos atrás de minha orelha. "Ah, Zak... Você é uma flor rara. Fica mais lindo a cada dia que passa. Se a sua preocupação é sobre eu ainda te olhar com desejo, a resposta é: mais que nunca. Mas eu estou indo devagar pra não te assustar"

Ele secou minhas lágrimas. Se eu ouvisse isso dois meses atrás, daria risada e diria que ele poderia fazer o que quisesse, pois não me assustaria. Mas agora as coisas estão diferentes comigo, e sou grato por essa delicadeza.

Permiti que sua mão deslizasse até meu pescoço e depois sobre minha camiseta, indo até o quadril ainda coberto pela bermuda. Era uma carícia leve, mas a consciência dos toques tão próximos de minha virilha fizeram meu coração acelerar.

"Hã, Nick? Tudo bem se eu continuar de camiseta?"

"Claro que sim". Ele sorriu. "Me fale o que eu posso fazer ou não, porque não quero ultrapassar nenhum limite, ok?"

"Tá... Pega aquela coberta", apontei para o canto do sofá menor. "Cobre a gente"

Ele levantou, e a estendeu em suas costas, como uma capa, e depois foi até mim.

"Posso me deitar sobre você? É o único jeito de cobrir nós dois..."

Acomodei minha cabeça numa almofada e concordei. Ele ficou de quatro sobre mim, e por um momento me arrependi por não per pedido para apagar a luz. Mas não falei nada.

Senti ele tocar minha bermuda.

"Posso?"

"Espera... Deixa que eu faço isso"

"Ok"

A sensação de outra pessoa puxando minhas roupas ainda desperta repulsa em mim. E eu não queria sentir repulsa pelo homem que amo. Expus minha nudez na parte de baixo, mas ela estava oculta pela coberta estendida sobre nós, nas costas do Nicolas. Ele não olhou para baixo. Não tentou me espiar. Mas eu o espiei. Estava pulsante.

"Me dá sua mão", pedi.

Ele, que estava de quatro sobre mim, cedeu uma das mãos, que eu guiei até meu umbigo.

"Até onde posso tocar?", ele perguntou.

Suspirei.

"Vamos descobrir"

Ele espalmou a mão em minha barriga, friccionando-a de leve. Mantive meus olhos atentos o tempo todo, reparando em cada expressão. Ele me encarava com os lábios semi abertos, respirando com a boca. Aquele predador que sempre surgia em nossas transas parecia estar sendo contido com dificuldade.

Eu amo aquele modo "fera voraz" mas, se eu o visse naquele momento, tenho certeza de que iria afastá-lo. E parece que o Nick sabia disso.

"Pode descer a mão um pouco mais". Ele deslizou os dedos até meu pênis, que não estava lá muito duro. Acho que por conta do nervosismo. "Se quiser, pode descer mais..."

"Tudo bem, mesmo?"

Concordei. Eu não estava à vontade, mas não era por medo dos toques dele, ou coisa do tipo. Era porque eu estava sentindo repulsa de mim através dele. Um receio de que ele estivesse fingindo me desejar. Prendi a respiração quando senti os dedos dele acariciando minha entrada. Esperei uns segundos, tentando me acostumar com a sensação... Soltei o ar.

"Não sente nojo de mim ao colocar a mão aí em baixo?"

Ele me encarou um tempo, até que perguntou:

"Se fosse eu no seu lugar... Se aquilo tivesse acontecido comigo, você sentiria nojo de mim, Zak?"

Abri a boca, pensando em retrucar qualquer coisa, mas desisti. Respirei fundo e fiz que "não" com a cabeça. No fim das contas, aquilo era novamente eu pensando demais, colocando todo o meu auto desprezo dentro de outra pessoa. Deve ser cansativo para o Nicolas, ver eu sempre falando essas coisas. E talvez esteja sendo cansativo para você ler sobre tanta insegurança de minha parte... Mas prometi ser o mais sincero e aberto possível nesses e-mails.

E, por falar em ser aberto, foi mais ou menos isso que tentei fazer com o Nicolas. Tanto no sentido literal quanto figurado. Não impedi mais que os dedos dele avançassem. Não voltei a fazer perguntas para saber se ele sentia repulsa a cada centímetro que adentrava, e fiz um esforço enorme para não ficar pensando em como deve ter sido para ele assistir àquela cena.

Não foi fácil. O tempo todo eu precisava puxar minha lembrança de volta para o presente para me dar conta de que estava tudo bem.

"Zak, se quiser, eu paro... Quero que seja sincero"

Eu estava sendo sincero. Eu queria aquilo. Minha mente, meu coração e minha alma queriam aquilo. Era apenas o meu corpo que ainda estava em dúvida, pois mesmo com todos aqueles toques que eu sempre amei e desejei, eu ainda não estava duro. Não que eu estivesse indiferente aos toques do Nick, não é isso. Estava até que agradável, como uma carícia gostosa. Mas eu não sentia tesão. Não dava aquela vontade de escancarar meu rabo para ser comido, entende? Antes eu gostava de ficar em posições até vergonhosas para o Nicolas me virar do avesso como quisesse. Eu gostava que minhas partes ficassem expostas, de forma obscena até, para ele lamber e meter como quisesse. Só de pensar nisso já me deixava louco.

Mas agora... Estou pior do que quando era virgem. É aquilo que já comentei: uma voz na minha cabeça fica medindo tudo, de olho no meu termômetro de tesão... O meu "tesômetro". Se a temperatura aumenta demais, a voz fala que sou nojento por gostar disso. E se a temperatura baixa muito, uma outra voz se desespera e grita que eu nunca mais vou sentir prazer na vida.

Então fico nesse meio termo, nem com tesão e nem indiferente, numa sensação morna que não me permite curtir o momento. Que não me permitiu sentir a intensidade que eu gostaria ao ter um homem gentil e amoroso me penetrando. Com tanto cuidado... Com toda a atenção e compreensão do mundo. Abrindo espaço numa caverna escura, em meu corpo e em meu coração, buscando lá dentro algum tipo de tesouro que devo ter escondido tão bem que nem eu encontro mais.

Porém senti um prazer diferente. O prazer de assistir o homem mais lindo do universo se entregando ao prazer, tendo a mim como centro. Ele me olhava, dizia meu nome, e perguntava se eu estava bem. Ah, sim, eu estava bem. Eu estava muito bem com aquela visão dele indo e voltando em minha frente, na posição de sexo mais básica e clichê possível, mas que naquele momento era tão necessária para mim. Comecei a pensar como eu gostaria de voltar naquele motel e vê-lo pelo espelho de teto, e sentir novamente a delícia de me permitir ser o putinho safado dele, sem medo do que minha voz maldita vai dizer. Sem medo de o "tesômetro" chegar no ponto mais alto, mandando a discrição e a decência se foder também, porque às vezes é isso que a decência precisa: de uma foda gostosa.

E eu estava precisando me permitir ter uma foda gostosa. Apenas isso: me permitir.

Permitir que o tesão corresse minhas veias sem culpa. Permitir que minha nudez possa ser exposta sem cobertas para me ocultar. Permitir fazer posições obscenas, facilitando o acesso da língua do Nicolas.

Enfim... Permitir.

No fim, tive o prazer de ver a expressão gostosa dele gozando, mas não o acompanhei. Meu maldito Isaac-interno-carrasco, fiscal de tesômetro, ainda estava enchendo o saco e falava merda toda vez que a temperatura subia um pouco.

Quando o Nicolas saiu de dentro de mim viu que eu ainda estava mole, e que não tinha nem sinal de meu sêmen em minha barriga, como geralmente acontecia. A cara de satisfação que ele estava fazendo sumiu.

"Zak... Me desculpa"

"QUÊ? Por que? Por que cê tá me pedindo desculpa, Nick?"

"Fui muito egoísta. Você nem..."

Segurei-lhe o rosto e o calei com um beijo. Ele ia falar merda. Iria lamentar que sequer fiquei de pau duro, que não gozei, ou qualquer porcaria do tipo.

"Foi eu que quis assim. Você não foi egoísta, Nick. Eu gostei de ver você fazendo comigo sem demonstrar nojo, sei lá"

"Não sinto nojo de você, Zak. E nunca vou sentir. Eu não sei como é estar no seu lugar, e não posso nem ousar fingir que entendo o que sente, mas eu me esforço. Sei que superar isso não é tão simples, mas preciso que você acredite em mim quando digo que não tenho um pingo de nojo. Eu já falei... Você está cada dia mais incrível, em todos os sentidos. E isso só me faz desejar você mais e mais. E se eu não demonstro isso com toda a intensidade é porque..."

"Porque você não quer me assustar"

"Isso..."

Me sentei no sofá e puxei a coberta para me enrolar nela.

"Vou tomar banho. Você... Quer vir junto?"

Ele arregalou os olhos.

"Posso?"

"Pode, mas... Sem rolar nada. Tudo bem?"

Ele concordou e subiu as escadas comigo. Ainda faltava meia hora para retirar os biscoitos do forno, então daria tempo.

Chamá-lo para tomar banho comigo foi meio que um passo a mais porque lá não tem coberta para me esconder, e também porque desde aquela noite os banhos têm sido sinônimos de exorcismo para mim. Era quando eu esfregava a virilha e minha bunda até arder (embora eu tenha parado com isso há umas semanas), e quando eu permitia que minhas lágrimas se confundissem com a água do chuveiro. Em outras palavras, era como um portal de lamentação.

Permitir que o Nicolas fosse comigo era abrir mão desse momento de introspecção, e substituí-lo por uma tentativa de superação.

Ele pegou a esponja e lavou minhas costas, minhas pernas... Não que eu precisasse disso, mas senti quase como se fosse um ritual, principalmente quando ele enxaguava e finalizava com um beijo no local.

Não demoramos muito. Logo saí e me enrolei na toalha. Quando ouvimos o alarme dos biscoitos, falei antes que ele passasse pela porta:

"Ei, Nick! Obrigado..."

Com uma piscadela, ele se virou e desceu para desligar o forno. Suspirei sozinho no banheiro, olhando para o espelho tomado pelo vapor. Passei a mão para desembaçá-lo, e encarei meus olhos julgadores. Respirei fundo, imaginando como o Nicolas se sente ao olhar essa cara o tempo todo. A cicatriz em minha bochecha e na testa estão sempre lá para lembrarem que sou um ímã de coisa ruim.

Dei as costas para o espelho, me vesti de uma forma que não fosse gerar comentários de minha avó durante a visita, e desci a escada.

Uma coisa que antes eu sempre notava com certo orgulho era a sensação da recente penetração. A região fica um pouco sensível durante um tempo, então eu carregava isso como um troféu secreto por ter me deitado com o cara incrível que meu namorado é. Mas naquele dia serviu como uma estranha lembrança de que tenho um ânus, e que ele já recebeu uma visita indesejada. Eu sei que comigo falando assim a coisa soa ridícula, mas... O que eu posso fazer? É como me sinto.

Chacoalhei a cabeça. Pensamento idiota. Tenho que trabalhar isso, para que volte a ser o troféu de um momento de intimidade com o Nick, e não aquela desgraça de lembrança.

Bom, colocamos os biscoitos numa vasilha e fomos até a Casa das Flores, onde a Jack, Jonas e Lucas já nos esperavam.

Mal colocamos os pés na sala, e já ouvi meu primo falar, na cozinha:

"Vó, pare de ser teimosa! Não vou te devolver o celular pra você ligar pro tio! Foi sorte ele não descobrir que a senhora estava aqui"

"Mas ele é meu filho! Eu tenho que saber como ele tá!"

"Ele tá bem! Eu te mostrei a mensagem que a Hellen mandou pro Isaac!"

A Jaqueline, que havia aberto o portão para nós, deu de ombros e explicou:

"Eu pensei em dissuadi-la, mas queria saber sua opinião antes, Dáki. Eu tenho medo que ela conte onde está e seu pai volte"

"Eu imaginei que fosse algo assim..." falei, e fui para a cozinha onde a discussão acontecia. O Jonas estava de braços cruzados, encostado na pia, e minha avó tentava pegar algo que ele segurava. O celular. "Hãã... Oi"

Ela se voltou para mim, me olhou dos pés à cabeça e depois olhou para o Nick que vinha logo em seguida. Moveu a cabeça num cumprimento que não sei dizer se era por vontade própria ou pela obrigação de fazê-lo.

"Alguém pega meu celular da mão dele?"

Eu e meu primo nos olhamos. Me aproximei dela e falei:

"Vó, você viu do que ele é capaz, né? O Jonas tem razão... Se ele soubesse que está aqui, imagine o que poderia fazer"

"Devolve meu celular"

Ela fingiu que não me ouviu. Era como se eu tivesse falado pra uma folha.

"Você vai contar onde está?", perguntei. "Se você prometer que não vai contar que está aqui, você liga. Mas a gente vai ficar ouvindo..."

Ela parou com as tentativas de pegar o aparelho seguro por Jonas e me encarou.

"Tá bão. Num falo nada, não. O menino tá doido, e não quero ele doideâno por aqui de novo"

Olhei para o Jonas, que falou:

"Tá... Mas eu vou ficar segurando o celular. Você fala pelo viva voz, e se eu perceber que vai falar qualquer coisa desnecessária, eu desligo. Ok?"

Eu meio que segurei um riso naquela hora. Se qualquer pessoa ouvisse isso fora de contexto iria concluir que a pobre velha está nas mãos de sequestradores.

O telefone dele chamou várias vezes antes que atendesse. E quando o fez, a reação calorosa de sempre reverberou por toda a casa, assustando até o Lucas que brincava na sala:

"Sua puta, onde você se meteu? Desgraçada, eu vou te achar e te arrastar de volta pra cá!"

Olhei para o chão e fui me escorar num canto. Que vergonha, meu Deus. Que vergonha saber que o dono daquela voz é meu genitor. Que vergonha dos infernos... Minha avó, paciente, perguntou como ele estava. Usando o dialeto "HURRR-DÛRRR" de homens das cavernas ele disse que estava passando fome (sendo que tem comida pra fazer lá), reclamou de ter sido abandonado e jurou que se a encontrasse iria fazê-la pagar por tudo o que ele passou. O monólogo dele durou bastante tempo, mas não tinha muita coisa além de insultos e lamentações. Quando ele se cansou de falar, meio sem fôlego até, minha avó falou, com o que restava de paciência:

"Fiquei sabendo que está destruindo tudo aí. Não vale a pena fazer isso, meu filho".

"Teu filho o cacete!"

Ela ignorou. Já está acostumada.

"Você pode reconstruir sua vida, voltar a fazer fretagens..."

"Com que dinheiro? A senhora vai dar a bunda pra comprar o caminhão? Velha imunda!"

"Se eu desse uma quantia suficiente pra comprar o caminhão, você faria as coisas direito?"

"Vai conseguir a grana como? Ah, esqueci! É uma puta mesmo! Me fala onde cê tá que eu vou te buscar agora desgraçada! ONDE CÊ TÁ?"

"Eu..."

Nessa hora, o Jonas desligou o celular. Vai que ela abrisse a boca, sei lá. Ao menos minha avó já sabe que o filho inútil está bem o suficiente para ter fôlego de proferir todos aqueles insultos (sem contar os que poupei de reproduzir aqui, simplesmente porque ficar relatando tudo faz meu ódio por ele aumentar). E me pergunto como ela tem coragem de oferecer tanto dinheiro para um alcoólatra que apenas suga todos à sua volta. Ele certamente iria converter tudo em bebidas, torrando tudo em menos de uma semana.

Ela andou vagarosamente até a mesa da cozinha, e se sentou. Soltou o ar lentamente.

"Coitado, tá com fome..."

Esfreguei o rosto, fazendo força para não praguejar na frente dela.

"Vó, ele viveu como caminhoneiro por anos. Passava a maior parte do tempo fora, em viagens de fretes distantes. Você acha mesmo que ele não sabe se virar pra matar a fome? Ele tá se fazendo de coitado pra senhora ficar com pena e voltar a cuidar dele"

A Jaqueline sentou de frente para ela e segurou-lhe as mãos.

"O Daki tá certo... Enquanto ele sentir que depende da senhora, não vai se levantar pra se virar sozinho"

Ela parecia uma pobre senhora, ruminando pensamentos. Na tentativa de mudar aquele assunto, peguei a vasilha que o Nicolas segurava e coloquei na mesa.

"Olha, vó... Eu e o Nick preparamos uns biscoitos pra comemorar seu trabalho novo, na loja de roupas"

"É a receita que a senhora me passou no dia que fomos buscá-la"

Ela abriu a vasilha.

"Vocês que fizeram, é?"

O olhar desconfiado foi de mim para o Nicolas.

"Foi. Ficou bom, prova..."

Ainda em dúvida, ela pegou um, e ficou encarando. Para quebrar o gelo, eu mesmo enchi a mão e joguei dois na boca. Chamamos o Lucas, que seguiu eu exemplo. Não sei o que se passa na cabeça dela, mas tudo o que vem de mim parece ser perigoso aos olhos de minha avó. Mas ela acabou comendo. E o que me surpreendeu mais foi a expressão dela, elevando as sobrancelhas e pegando um segundo.

"Tá melhor que o meu", comentou.

"De jeito nenhum", respondeu meu namorado. "Os da senhora são incríveis"

"Inquíveiz", repetiu o Pinguinho.

Eu não falei nada para não quebrar a tentativa do Nick de ser gentil. Mas devo concordar com minha avó: toda receita de doces que passa pelas mãos dele conseguem ficar melhores. Ele tem um "não-sei-o-quê" que faz com que tudo fique parecendo trabalho de profissional. Já falei para ele abrir uma confeitaria, mas ele gosta de cozinhar apenas para família e amigos. Ele quer mais é trabalhar com as plantações de morangos e coisa do tipo.

"E onde é a loja que você vai trabalhar?", perguntei.

"Eu não vou até lá. Eles é que vão me trazer o lote de roupas já cortadas, pra eu apenas costurar e pregar as etiquetas e botões. Eles não têm espaço pra confecção ali. A única costureira da loja é uma que faz acertos de última hora"

"Legal, melhor ainda!"

Meu contentamento foi real. Para minha avó, ter que sair todos os dias para ir até o centro de Vale do Ocaso, onde fica a loja de roupas, seria um pouco penoso. Ela parecia indiferente às emoções alheias, mas eu conheço a feição cotidiana dela.

Ela estava feliz com isso... E pegou outro biscoito.

O restante da noite foi simples, e não nos demoramos muito. Como a Jack, Lucas e Jonas já estavam lá há um tempo, o pavio de minha avó para aguentar visitas estava quase acabando.

Antes de voltarmos para o Pântano dos Mosquitos ela nos mostrou o cômodo de confecção, já cheio de pilhas de panos para costura, e duas máquinas num cantinho perto da janela. Era o quarto que antes fora do Nicolas. É estranho ver tudo mobiliado de forma tão diferente. Aliás, não apenas o quarto, mas todo o resto da antiga Casa das Flores. Até o cheiro mudou, se parecendo muito com o que tinha na casa antiga, onde eu morava com ela.

Me pergunto que cheiro a minha casa tem para as pessoas que entram lá. Não que isso importe, mas... Espero que não seja nada estranho.

Depois que voltamos, peguei meu notebook e vim para meu quarto, onde estou até agora escrevendo esse e-mail, que acabou ficando até grandinho demais. O Nicolas está estudando, porque parece que esse ano já começou com matéria complicada na faculdade, e ele quer tirar o atraso por ter ficado um tempo sem ir às aulas nas últimas semanas do ano anterior.

E sobre nosso momento íntimo, acho que aos poucos posso conseguir voltar a ser como era. Eu quero isso, mas não é fácil como ligar um botão e pronto. Um estrago daqueles é feito em poucos minutos, mas leva bem mais tempo para desfazer. Só espero que não seja tempo demais.

Ah... Estou ficando com sono. Vou parar por hoje, minha querida irmã de alma. Boa noite!




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Papo da autora...

Aos que estranharam a cena HOT, pelo fato de o Isaac ter contado como se fosse a 1ª vez deles desde o incidente, a explicação é simples: na REVISÃO farei com que essa seja, de fato, a primeira vez depois daquilo. Na cena que eu tinha escrito antes, no capítulo "17 de dezembro" (e do ano novo na boate), vai ter hot SIM, só que ligeiramente mais leve.

Desculpe por essas mudanças no meio do caminho mas, como devem estar cansados de saber, este livro ainda está na fase BETA. Isso significa que você está vendo um livro nascer, do zero. Por isso, mudanças e correções podem acontecer às vezes... 😅

Inclusive, comente aqui e diga "eu acompanhei", para eu saber. Mesmo que você tenha começado a leitura esses dias, comente ^_^

A versão final deste livro (que será paga, mas com preço amigável), valerá cada centavo, e cada segundo de espera. Isso porque, se você acha que conhece "O Monótono Diário de Isaac" agora, saiba que ao ler a versão final você se sentirá lendo algo completamente novo (e melhor).

Agradeço de coração a você que não desistiu de mim (e do Isaac), mesmo depois de tantos hiatos por conta de minha mardita depressão que às vezes morde forte meu calo... =__= (sério, obrigada mesmo).

Mas não é nada com que vocês precisem se preocupar, ok? Garanto que estou bem melhor, e meu senso de propósito está me ajudando a caminhar na luz.

Você pode me ajudar simplesmente recomendando este livro para outras pessoas, espalhando o link dele por aí em fóruns de leitores, grupos de Zap, comunidades, Discord, etc.

Fazer resenha dos meus livros no Skoob e na Amazon também ajuda DEMAAAIS!

Sou MUITO GRATA por essa ajuda! 😍❤️

Ver esse livro pronto, editado e à venda é parte de meu sonho de viver de minha escrita. E você está fazendo parte desse processo ao ler, votar, comentar... ^_^

Enfim, é isso. Valeu pela paciência de entender essas mudanças na história. Valeu por continuar me acompanhando! Valeu, valeu, valeu!

E vocês ainda continuarão juntos com o Zak por um tempo, porque do ponto em que o diário está, ainda tem mais ou menos 20 capítulos (pois é, estamos caminhando para o final, meu povo).

Super abraço desta escritora que vos tecla.

Atenciosamente,

Lyan K. Levian


PS: acesse o link (https://linktr.ee/lyanklevian) em minha bio para ver o que mais tenho a oferecer... e siga minhas redes sociais, pois lá aviso das novidades!

PS²: Tem gente que ainda acha que este diário é de minha vida, e que eu troco o nome para Isaac a fim de contar minhas próprias experiências de forma velada. MAS NÃO É. "O Monótono Diário de Isaac" é uma livro fictício.


KISSES~KISSES

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