27.05.18 - Domingo
De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Primeiros beijos
Buenas noches, amiga!
Hoje cancelei a assinatura daquele jornalzinho de domingo. Não tinha notícias interessantes (só coisas regionais e um apanhadão da greve, coisa que posso ver na Internet). A única coisa boa que este jornal me trouxe foi o Nicolas. Foi graças à essa assinatura que falei com ele da primeira vez... (aquele meu gato estudioso).
Não falei com ele exatamente por causa dos estudos (e porque ele trabalha de domingo). Fiquei o dia em casa. Aquela coisa: umas partidas de StarCraft, umas navegadas pela Internet... Descobri um site interessante, com umas fotos e gifs... (um blog chamado "homensquentes.com.br" - dá pra notar do que se trata pelo título, né?). Pois é.. Andei gastando uns lenços de papel, se é que me entende.
Ninguém é de ferro, ok?
E fiquei lembrando dos meus únicos dois beijos com "ele". De certa forma, parece até mentira, como se não tivesse acontecido, de tantos dias que já tem... Os beijos com o Nick foram rápidos, mas foram os melhores EVER.
Ah, verdade. Eu nunca falei de meus primeiros beijos, né? Bom, é que não foram grande coisa (mas já que comecei, vou continuar).
O primeiro (primeiro de todos, quando deixei de ser BV) foi com uma garota, na escola. Foi no último dia de aula da 6ª série...
Sabe aquelas festinhas que a classe faz para se despedir antes das férias? Cada um leva um prato (doces, salgados, refrigerantes) e se une com música. Só não virou uma baderna geral porque a professora botou ordem no povo. O que eu achei SUPER estranho é que neste dia uma colega de classe ficou muito perto de mim. Sabe, ela nunca tinha me dado bola, nunca tinha conversado comigo... Nada. Mas neste ultimo dia ela ficou perto demais, e meus colegas disseram que ela estava afim de "ficar" comigo (vulgo: beijar). Eu achei aquilo esquisito. Nessa época eu já tinha noção de minha homossexualidade (e eu me odiava por isso, achando que eu era "errado"), então foi estranho saber que uma mina queria me beijar. Ela era bonitinha, mas... Eu simplesmente não estava afim (eu gostava de um menino inalcançável, mulherengo, babaca, etc), mas meus colegas ficaram insistindo. E aí veio a piadinha "Por acaso é bichinha?".
Nossa... Pior é que, ao lembrar disso, não tenho raiva deles. E sim de mim, por ter sido dominado pelo medo do que eles pudessem pensar. Como eu já falei, naquela época eu não me aceitava (mesmo hoje é um processo difícil, por causa do ambiente em que cresci), então enxerguei naquele beijo uma chance de atestar alguma coisa.
Grande babaca, eu.
Tudo foi arranjado: no final da festinha de 6ª série, quando o sinal bateu, todos foram saindo da classe. Menos eu e a mina. Meus colegas fizeram questão de guardar a porta... Foi uma coisa super artificial: eu estava no fundo da sala, em pé e encostado na parede, e ela foi vindo até mim. Quando ficamos próximos, simplesmente começamos a nos beijar de uma forma mecânica... Sem graça. Eu não sabia onde enfiar a língua, não sabia o que fazer com as mãos... Era uma lambeção fria e sem graça. Eu odiei, mas não demonstrei.
O beijo não demorou muito, e quando nos separamos a gente se olhou como quem tinha acabado de fazer uma reunião de negócios (sem emoção, sem nada). "Vamos?", ela perguntou. E eu concordei "Vamos". E saímos da classe (sem mãos dadas). Meus colegas fizeram aquela zoação básica por eu ter "pego a mina", mas eu não liguei. Tinha sido tão emocionante quanto uma prova de matemática.
Se ela gostava de mim mesmo, não demonstrou (tipo... não demonstrou MESMO). E no ano seguinte ela continuou na mesma classe que eu, e como eu não dei mais bola, ela ficava contando BEM ALTO para as amigas como tinha sido maravilhoso beijar o Fulano de Tal (se referindo a um outro cara, tentando me deixar com ciúme).
Tudo muito infantil.
Depois disso fiquei com uma outra menina no 1º colegial (mais ou menos a mesma situação: colegas forçando a barra, e o tontão aqui querendo provar uma heterossexualidade inexistente só para não sofrer com o bullying). Nesse segundo eu decidi que não queria mais ir tão contra mim mesmo.
E aí veio o meu primeiro beijo gay... (não, não foi com o Nicolas).
Certa noite, eu e a Hellen combinamos de ir em uma boate na cidade onde eu morava (na época eu estava no 2º colegial). E, sim: era uma boate LGBT... Fomos eu, a Hellen e um pessoalzinho extra pra fazer volume (tinha uma promoção de cupom, e precisava somar seis pessoas). A Hellen estava vibrando no meio do pessoal. Tinha gente em excesso, muito movimento e barulho (não curto), mas eu tentei aproveitar... Fiz força para dançar, mas aquilo não era para mim. Aí a Hellen disse que eu tinha que beijar um cara (ela era a única que sabia sobre mim). E o que ela fez? Chegou no primeiro menino mais ajeitadinho que ela viu e falou "Meu amigo quer ficar com você". Desse jeito mesmo, sem introdução nem nada.
E o cara aceitou, o que me deixou ainda mais pasmo...
Quando eu olhei pra trás procurando a Hellen, ela já tinha voltado para a pista de dança com uma amiga, e eu senti a mão do rapaz em volta da minha cintura.
Ele não era exatamente bonito (era o tipo da Hellen, não o meu), mas dava para o gasto. O foda é que eu não sou do tipo que curte beijar sem antes estar apaixonado, mas na época eu pensei que: se não fosse naquela oportunidade, eu morreria "BV". E aceitei a investida dele. A gente sequer perguntou o nome um do outro... Apenas começamos a nos beijar.
E sabe o que eu percebi? Se fechar o olho, é tudo igual. Boca de homem e boca de mulher... tudo mesma coisa (o cara não tinha barba, então não tinha MESMO diferença... apenas se eu tocasse mais em baixo). Só que: o simples fato de saber que era um homem ali, me agarrando (e o cara agarrava mesmo), dava uma emoção diferente do que com as meninas... Eu ficava com isso ecoando na minha cabeça o tempo todo "eu tô beijando um cara... eu tô beijando um cara...".
Bom, meu primeiro beijo gay foi com certeza mais interessante do que os outros. Mas, porém, entretanto, todavia... Também não foi emocionante.
Não adiantava, eu não gostava do cara.
Deu tesão? É, um pouco. Ele tinha pegada, e aquela coisa... Mas não tinha conexão alguma. Aquele beijo durou um bom tempo, mas não ficou marcado em nada. Apenas serviu para confirmar que "É, eu curto caras, mesmo".
Nada além disso.
Após essa noite na boate eu não quis mais me aventurar a beijar bocas alheias. Meus colegas, e a Hellen... Todos ficaram com dezenas ao longo dos meses, enquanto eu tive somente aquelas experiências únicas e sem graça. E, quer saber? Não me arrependo.
E então eu conheci o Nicolas...
Naquele dia que eu arrisquei beijá-lo (depois da faxina no meu jardim), percebi o que é um beijo de verdade. Entendi o que é sentir o arrepio na espinha de que tanto falavam! Eu achava que eu estava "quebrado" por nunca ter sentido. Mas é que eu não tinha feito com a pessoa certa.
E a pessoa certa, para mim, é ele... Nicolas Belson.
Toda vez que lembro da maneira como ele segurou meu rosto, com ambas as mãos, e me puxou para a boca dele... Sinto vontade de fechar os olhos. É quase como se isso fosse trazer os lábios dele até mim novamente...
... E tem outra coisa: naquele dia, no fundo da casa de flores, ele disse que nunca antes sentiu atração por homens. Que eu sou o único, porque sou diferente.
Será que ele falou aquilo no calor da emoção, porque eu quase tinha morrido naquela manhã? Me pergunto o que ele tem pensado esses dias... (se ele tem vontade de me beijar da maneira que eu tenho vontade de beijá-lo).
Melhor parar com isso. Já está começando a doer.
Mudando de assunto (mas talvez nem tanto), vai ter uma Parada aqui em Vale do Ocaso. Clama-se "4ª Parada do Vale", e passou pela minha cabeça de ir.
(eu nunca fui em um evento assim... nunca tive coragem)
Pensei em chamar a Jack (vai ser no dia 3 de Junho, exatamente no próximo domingo). É no mesmo dia da 22ª Parada LGBT de São Paulo, aquela enorme (queria conhecer essa, mas é muito inacessível e distante para mim). E, como essa "Parada do Vale" é aqui em Vale do Ocaso, pensei que seria uma oportunidade de conhecer algo novo. Aí, de quebra eu e a Jack podíamos arrastar o Nicolas junto.
Seria meu "debut" LGBT, rsrs...
Mas, veremos. Tudo a seu tempo.
...
Nossa, no fim das contas, mesmo não tendo acontecido nada hoje, o e-mail rendeu. Gosto de contar a você sobre esses fatos passados, porque acabo me lembrando de como muita coisa mudou (e outras não mudaram nada). Recordar o passado é um saco às vezes, mas estou percebendo como é importante.
Bom, meu e-mail acabou, e o fim de semana também (não importa o quanto falem que "domingo é primeiro dia da semana"... pra mim o primeiro é amanhã: segunda!).
Então, amiga-irmã, boa noite. Que sua semana comece maravilhosamente bem!
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