25 de Setembro, 2018 - Terça (20h19)
Você sabia que existem alguns segredos para a criação dos personagens de uma história?
Depois que ler este capítulo, dá uma olhada na dica que deixei lá no final 😍
25 de Setembro, 2018 – Terça (20h19)
De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Consegui sorrir de novo. Bem... Só um pouco!
Oi novamente, amiga.
Essa manhã, assim que lhe enviei o último e-mail, fiquei de olho na Casa das Flores esperando o momento em que o Nick saísse de carro. Isso só foi acontecer antes do almoço, e nessa hora fui até lá para falar com a Jack, aproveitando que ela estaria sozinha.
Quando ela me viu ao lado da mureta veio em minha direção com as chaves. Deu para notar, pelo jeito que sorriu, que já não estava tão brava. Afinal, para minha cunhada, meu único crime havia sido viajar na hora errada.
Ela me convidou para entrar, e já foi perguntando se eu havia feito as pazes com o Nick. Respondi com outra pergunta: "O que ele te disse?". Minha intenção era sondar até onde eles tinham conversado. Ela respondeu: "Pra falar a verdade, ele não disse nada... Está mais fechado que antes, desde que conversou com você ontem. Ele ficou um pouco na cozinha, mas depois se trancou no quarto. Por isso estou perguntando pra você, Dáki"
Enquanto ela contava, me trouxe um pratinho com mousse de limão. Eu nem precisei perguntar, pois sabia que aquele doce era fruto da minha conversa com o Nicolas, ontem. Você sabe como ele é, né... Basta ficar chateado ou bravo que se enfia na cozinha para fazer alguma sobremesa.
Não teve como deixar de pensar que aquele mousse era quase como o sabor que senti ontem, depois de nossa conversa: doce por rever o Nicolas (e por saber que ele ainda não desistiu de mim), mas ao mesmo tempo azedo por todas as verdades que ficaram expostas.
"Então, o que rolou entre vocês? Ainda somos cunhados, né?"
Por algum motivo, a forma preocupada como a Jack perguntou me fez dar um pequeno sorriso. Tentei desconversar, e falei que eu e o Nicolas não havíamos terminado, mas que ele ainda estava muito bravo. Então aproveitei o gancho para dizer: "E imagino que você também esteja, por isso quero pedir desculpas. Eu não devia ter saído daqui em nenhum momento... Fiz isso com a desculpa de tirar a Hellen de minha casa, mas no fim acho que eu estava fugindo, mesmo...".
"Isso eu sabia... Mas, fugindo de quem?", ela perguntou.
"Provavelmente, do Nicolas. Nos últimos dias eu não conseguia conversar com ele, Jack... Sempre que eu tentava, o Nick dava um jeito de me afastar... Parecia até que não me queria por perto, sei lá! Por isso pensei que se eu me afastasse pra valer seria melhor para ele".
Ela ficou me olhando por um tempo. Os olhos dela têm um tom verde ligeiramente diferente dos do Nicolas. Mas a intensidade do "Raio-X-Belson" é a mesma. Me perguntei o que se passava na cabeça dela, mas não precisei esperar muito para descobrir:
"Tem uma coisa, Dáki, que pensei aqui... Você está dizendo que se afastou porque achou que seria melhor para o Nick. Mas... Foi isso mesmo?". A pergunta ficou no ar, porque eu não sabia o que ela queria dizer com aquilo. Até que continuou: "É que acredito que você se afastou para dar um susto nele. Você fez isso pro meu irmão largar de ser besta e perceber que, na verdade, queria você por perto... Não é?".
Olha, amiga... Eu não tenho certeza de qual cara fiz naquela hora. Só sei que, até agora, estou meio pasmo com o que a Jack supôs. Após dizer isso ela deu uma risadinha, começou a comer o doce e murmurou "Touché!". Já eu, fiquei um tempo quieto, pensando, tentando me entender.
O que a Jack disse não era exatamente uma surpresa para mim. Eu até cheguei a comentar isso com você no dia em que estava indo para lá, lembra? Mas desde que te contei aquilo, não voltei a pensar a respeito. Então foi meio chocante vê-la batendo no ponto. Conscientemente, não acho fácil aceitar isso. Para concordar com a Jaqueline eu precisaria admitir que estava fazendo um teatro infantil para o Nick. Quase como uma criança birrenta querendo atenção, e eu não sou isso!
Aliás... Acho que não. Eu não sei... Não sei! Aquela constatação dela me deixou atordoado, porque faz sentido. Mas, se for isso, onde é que entra a coisa que fiz com a Hellen? Minha necessidade pela atenção do Nicolas não pode ter ido tão longe... Simplesmente não pode! Eu nunca faria algo daquele tipo em sã consciência, então não aceito que eu tenha descido tanto no poço por conta de uma birra.
Não. Aquilo não era eu!
...
Tive que parar de escrever, e tomar um pouco de água. Ficar lembrando daquilo ainda me faz mal. Mas, voltando ao relato... Foi com esses pensamentos girando em minha cabeça que a Jack finalmente sentou ao meu lado e me abraçou: "Dá pra ler na sua cara, Dáki... Nesse ponto, você e o Lucas se parecem um pouco, porque ele faz o mesmo". Com esse comentário, ela riu. Eu não achei engraçado, porque ela estava basicamente dizendo que minha atitude foi infantil.
E mesmo que tenha sido, ouvir isso de alguém não é a coisa mais agradável do mundo. Por isso, coloquei o pote vazio de lado (estava delicioso, como sempre) e novamente me desculpei com minha cunhada. Mas ela conseguiu ser a fada fofa de sempre, e o sorriso dela chegou em mim como uma toalha morna e macia no coração: "Eu estava brava sim, Dáki, mas agora você voltou... Eu não vou mais deixar você fazer aquilo de novo. Olha só como ficou seu rosto! Aiai, Dáki...".
"Eu sei, tá horrível. O Nicolas fez eu prometer que não faria de novo. E do jeito que ele falou ontem, deu a impressão que se eu voltasse a fazer isso terminaria comigo".
"Rá! Meu irmão não largaria de você por causa disso. Acredite, o Nick te valoriza mais do que você imagina".
"Ah, é? Se ele me valoriza tanto, por que não aceitava se abrir comigo quando tentei conversar, antes de eu viajar? Jack, ele praticamente me expulsou no outro dia! Parecia que eu era a praga da vida dele!".
Dizer aquilo para a Jack foi como tirar um espinho ardido de meu peito. Não era o mesmo que dizer isso diretamente ao meu namorado, mas mesmo assim ajudou. Minha vontade era de continuar reclamando sobre como o Nicolas tinha sido frio comigo nos últimos dias, mas me segurei. Não queria piorar a imagem de garoto imaturo que eu tinha construído... Sem querer.
"Ah, Dáki, depois que nossos pais se foram, meu irmão parou de se abrir quando estava mal. Essa coisa de afastar as pessoas quando ele está atolado de problemas é o jeito de ele não querer atrapalhar. O que eu sugiro é que você explique a ele como estava se sentindo, senão ele não vai adivinhar. Ele pode até ser muito inteligente, mas é meio lerdo pra essas coisas".
"E correr o risco de ele me achar pedante e melodramático? Não, valeu".
Eu não quis dizer a ela, mas me lembrava bem de como o Nicolas havia dito que eu ajo como se o mundo girasse ao meu redor. E o motivo de eu não ter contado à Jaqueline é porque algo me dizia que ela concordaria... Sabe por que acho isso? Porque agora começo a concordar com o Nicolas, embora eu odeie admitir. Naqueles dias, o que eu mais fazia era observar o Nick, e cada gesto dele fazia com que eu relacionasse com algo errado que eu supostamente havia feito. Então, mesmo que ele estivesse preocupado com o caso da Sônia e o destino do Lucas, eu pensava que eu tinha feito algo de errado, e que o motivo de ele estar mal era por minha culpa.
Eu sou mesmo um egoísta podre que só pensa no próprio umbigo. Talvez, no lugar do Nick, eu também ficasse bravo com alguém em meu pé o tempo todo, pedindo desculpas por algo que não tenha feito. E foi o que eu fiz, não foi? Em vez de estar sempre lá para ele, fiquei preocupado com o que ele estava pensando sobre mim.
É possível eu ser mais patético que isso?
Bom, no fim a Jaqueline apenas insistiu novamente para que eu conversasse e explicasse meu lado, colocando o Nicolas contra a parede para que ele expressasse seus sentimentos. Eu não falei para a Jack, mas a verdade é que vou ter que esperar um pouco até sentir que tenho o direito de fazer algo do tipo.
Perguntei sobre ele, e descobri que estava na faculdade, como imaginei. Parece que o Nick tem ido mais tarde (pois tem dormido demais), e tem ficado lá até tarde também (com exceção de ontem, que voltou cedo para falar comigo). Queria saber o que ele fica fazendo lá quando acabam as aulas... Será que participa das rodas de conversa com os colegas? Vai para um bar próximo? Fica na biblioteca?
Aí eu te pergunto: você acha que eu tenho o direito de me preocupar com isso, sendo que sumi por uma semana e ainda fiz uma besteira daquelas?
Acho que não. Mas não quero pensar nisso... Tenho que confiar no Nicolas e, mais do que isso, dar motivos para que ele confie em mim.
Depois de um tempo, percebendo que o clima com a Jack já estava leve, finalmente mostrei os vídeos que o Claus gravou. Fiquei bem atento às reações dela, e foram como imaginei: choque. Enquanto ela assistia o último deles, comentou: "Eu sabia que a Sônia era desregulada, mas... Isso é demais pra aceitar... Nesses últimos meses ela não me deixava entrar na casa dela, e agora entendo o motivo. Como você conseguiu esses vídeos?".
Então expliquei que troquei contato com o Claus, e que o tio do Pinguinho está disposto a nos ajudar.
"Caramba... Às vezes o auxílio vem de onde a gente menos espera", ela disse, enquanto eu enviava os vídeos para o celular dela.
Aproveitei também para falar do aniversário deles, que é amanhã. Não revelei que eu havia esquecido, apenas comentei que aqueles problemas (com a Sônia) estavam vindo em péssima hora. A Jack riu e disse: "E por acaso existe hora boa para os problemas?".
Ela sempre consegue me surpreender. Aquele riso foi cristalino, e pareceu dissolver uma parte da nuvem carregada de angústia que estava dentro de mim (não que essa nuvem tenha ido embora... Ainda está aqui, enquanto escrevo, mas bem menor). No fim a Jack até brincou, dizendo que o universo deu a eles, de presente de aniversário, uma audiência com a Sônia amanhã (que eu terei que participar também). E comentou que os vídeos com certeza vão ajudar bastante. Ela disse que será meu presente para o Nick.
Pfff... Até parece. Os vídeos são mais para eu me redimir das coisas que fiz do que um "presente". Essa visão otimista dela é muito bonita, mas não consigo ver aquilo como presente para o Nick, por mais que eu tente. Por isso perguntei se tinha algo que ele estivesse precisando (e que não fosse tão caro). Ela me levou até a cozinha e mostrou uma lista de livros que ele precisa para a faculdade. Tirei uma foto para poder pesquisar depois (assim que eu te enviar esse e-mail vou dar uma pesquisada online).
Quando voltamos para a sala, perguntei: "O que posso fazer pra ficar bem na fita com seu irmão? Quero dizer... Não quero que ele fique me dando gelo por muito tempo, então...".
"Só dá um tempo pra ele esfriar a cabeça e organizar os pensamentos. O Nick é muito tonto, porque tá querendo abraçar o mundo todo sozinho pra mostrar que é um cara responsável, mas acaba se sobrecarregando por conta disso. Vá chegando perto dele aos poucos, e ele vai amolecer com o passar dos dias. Ele é um irmão bem pedante, e vive se intrometendo nas minhas coisas, mas... Você sabe que ele é um doce, né? O Nicolas pode estar estressado agora, mas ele tem a cabeça no lugar, Dáki. Então fica tranquilo. Só não faça mais essas coisas com você mesmo...".
"Aham... Essa parte eu já captei".
Quando ela falou sobre fazer "essas coisas", não apontou para meu rosto, nem nada. Imagino que ela estivesse se referindo a tudo: desde minha fuga, até o fato de eu ter me arranhado e me mordido.
Depois conversamos um pouco mais, e fiquei sabendo que o Lucas está bem, na medida do possível. A avó fica com ele quase o tempo todo, e o Claus afasta-o da mãe sempre que ela está usando drogas. No fim, ele praticamente só a vê quando ela o busca da escolinha (sempre mais cedo que o normal, pois a mocreia tem medo que o Nicolas "roube" o Pinguinho... Ah, fala sério).
Em nossa conversa eu também contei as partes "não proibidas" de minha viagem. Não que tivesse muito para contar, já que fiquei quase o tempo todo na praça, fugindo da Hellen, ou trancado no escritório da tia dela (que serviu de quarto ao longo da semana). Também comentei sobre como minha avó ficou horrorizada com meu cabelo mais longo que o normal, e ela disse: "Ah, mas você não vai cortar meeesmo! Se você voltasse pra cá com seu cabelo curto aí sim que eu não perdoaria!".
Apesar do tom de brincadeira e de nossas risadas, senti que tinha uma ponta de seriedade naquilo. E isso acaba tornando a coisa ainda mais cômica. Eu daria mais risada ainda, enquanto te escrevo essa mensagem, se não estivesse com essa bola horrível na garganta.
Mas, você sabe... Eu não pretendo cortar meu cabelo. Sei lá, tenho gostado dele assim. Daqui a uns meses vai dar para prender, aí a franja não vai ficar caindo sobre meus olhos.
Ah, espera... Recebi uma mensagem de alguém.
...
Você não vai acreditar. Eu nem tenho mais xingamentos para aquela larva do inferno (sim, é lar-va mesmo, e não LA-VA, porque ela é um inseto rastejante, entendeu?). Olha o que ela me mandou:
Hellen: Como cê tá, bebê? Deu ruim com teu boy?
Hellen: Já tô com saudade de ser comida por meu gatinho selvagem...
Hellen: Quando vc volta, bebê?
Aquela puta finge que nem lembra que me ameaçou quando eu saí de lá, caralho! Como ela consegue fingir que não fez isso? COMO ELA CONSEGUE SER TÃO DISSIMULADA, PORRA? Ela com certeza acredita que o Nick terminou comigo por causa da mensagem que a víbora venenosa mandou. Vaca do capeta! Concubina do tinhoso! Vou mandar um áudio, para ela ter certeza de que sou eu falando, e não outra pessoa.
...
Ok, estou de alma lavada. Mandei ela ir se foder sozinha, literalmente. Falei para não encher meu saco e para nunca mais entrar em contato.
Se vai adiantar? Não sei. Só queria que ela me esquecesse. Puta que pariu, não é pedir muito... Ela que arranje outro babaca para manipular. Eu já cansei de ser "o otário da Hellen".
Graças a essa manipuladora peçonhenta, joguei minha virgindade de ativo na latrina! Era para ter sido o Nicolas... ERA PARA TER SIDO O NICOLAS, INFERNO! Que ódio dessa desgraçada!
Falando nele, o Gol acabou de estacionar na Casa das Flores. Acho que é querer demais esperar que ele me contacte de alguma forma, né?
Bom, melhor não ficar esperando milagres. Amanhã vou ter que vê-lo de qualquer maneira, porque depois do meio-dia vai acontecer a audiência que vai decidir o destino do Lucas, e eu tenho que participar (como testemunha e como acusado, graças às denúncias ridículas da monstra).
Seja o que Deus quiser... Boa noite, amiga-irmã!
OS SEGREDOS DA CRIAÇÃO DOS PERSONAGENS:
bit.ly/Vilto-CriarPersonagens
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Só mais uma coisinha... Poderia responder as perguntas abaixo? Isso me ajuda a melhorar o trabalho...
1) Qual foi o sentimento predominante que sentiu ao ler este capítulo?
2) Como posso deixar este capítulo melhor?
3) Votaria neste capítulo? ^_^
Muito obrigada por acompanhar meu trabalho!
K I S S E S ~ K I S S E S
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