25 de Outubro, 2018 - Quinta (20h19)


25 de Outubro, 2018 – Quinta (20h19)


De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Isaac vida loka! O retardado radical! Óbvio!


Hey, amiga! Acabei de voltar do posto de saúde. A Jaqueline me levou para retirar os pontos. Faz só quinze dias desde aquilo tudo, mas para mim a sensação é que se passaram meses. O pior é que pensar que faz tão pouco tempo me lembra que o Marcus pode estar perto.

Enfim... A sensação de entrar no consultório foi desagradável, pois esse tipo de lugar acaba me lembrando dos outros cortes que tenho. O médico que retirou os pontos até fez uma brincadeira comigo, dizendo que sou acidentado e para que eu tivesse mais cuidado em minha "vida radical". Disse que esportistas dão muito trabalho quando não se protegem com capacetes, e blá, blá, blá.

Minha vontade de explicar a verdade a ele era tão grande quanto meu desejo de tomar uma bofetada na cara. Por isso, me mantive calado ouvindo o sermão do médico enquanto ele tirava meus pontos fazendo questão de beliscar minha pele com a pinça. Provavelmente para que eu pensasse duas vezes antes de voltar a ter uma "vida radical".

Claro! Bota radical nisso! Tão radical quanto um rato num laboratório de testes, sofrendo pela vontade do cientista louco que só quer vê-lo se foder na ponta da agulha.

Radical pra caralho essa minha vida! Inferno da porra!

Mas, o que posso fazer? Creio que ele deve ter pensado que minha cicatriz da bochecha e os recentes pontos na testa (os que ele estava retirando) tenham sido por motivos bestas, tipo uma queda de bicicleta, ou algo assim. Não é como se as pessoas fossem me olhar e já tomar consciência de que sou o saco de pancadas do destino, alvo de malucos segurando lâminas.

Sempre que eu me olhar no espelho vou lembrar dessas duas situações horríveis. Situações em que eu alegremente pulei para os braços da morte apenas para curtir um pouco de adrenalina no sangue.

Adoro quase morrer. Amo de paixão, sabe? É tudo o que quero para minha vida: a incerteza do dia de amanhã!

Puta que pariu... Falando sério agora, me pergunto se vou conseguir chegar até meu próximo aniversário sem ter novas cicatrizes. Aliás, se eu estiver vivo até lá já é uma vitória.

Me perdoe, amiga... Já fui começando este e-mail com coisas densas, não é? Às vezes fico impressionado com a capacidade que tenho de olhar pro buraco. Mas se os últimos e-mails foram mais leves é porque minha cabeça tinha conseguido se distrair um pouco.

Ao menos tem coisas boas para contar, sem tanto sarcasmo envolvido. Mas a parte mais irônica é que a coisa boa envolve a desgraça daquele puto desaparecido. É que colocamos a cerca elétrica. Ontem veio um pessoal aqui, e eles ficaram durante horas mexendo, testando, mostrando para nós como funciona e garantindo que agora não tem como pularem o portão.

Por conta disso a gente decidiu manter a Belson's Flora semi aberta. E isso significa que as pessoas até podem vir até aqui, olhar as mercadorias, mas só abrimos quando a campainha é tocada e vemos bem a cara da pessoa antes de abrir.

Ah, sim. Não tínhamos campainha também. O Nicolas comprou ontem, na volta da faculdade, e custou bem barato. É daquelas de instalação fácil, sem fio, que só precisa de uma pilha em cada peça.

Agora em nosso portão, junto com a placa da floricultura, tem um aviso para que as pessoas toquem a campainha para serem atendidas. Ao menos os negócios não pararam, mesmo enquanto estávamos totalmente fechados (eis a vantagem de ter uma loja virtual – a única parte onde eu realmente me sinto útil aqui, já que entendo de programação, criação de módulos e anúncios em redes sociais).

Quando o Nicolas chegou, no finalzinho da tarde de ontem, já estava tudo pronto. O Jonas também estava conosco, e ficamos os quatro sentados no chão da varanda, jogando conversa fora e falando sobre o casamento deles. Até que a Jaqueline e o Jonas decidiram subir para meu ex-futuro-quarto (era meu quarto, agora não é mais, mas voltará a ser quando eles se casarem).

Ao ficar sozinho com o Nicolas, decidi entrar naquele assunto que eu havia evitado da outra vez, sobre ele ter sido passivo.

"Ah... Então, sobre aquele dia... Eu sei que não fui um cavalheiro, mas... Foi tão horrível assim para você nem querer falar disso?"

Ele se recostou na parede de madeira pintada de branco, mordeu o lábio e suspirou:

"Não vou falar que foi exatamente agradável, mas também não foi horrível, já que eu sabia que era você". Eu sabia que ainda tinha um milhão de coisas ali para serem ditas, então fiquei quieto, esperando o tempo dele. O Nicolas nunca foi de sair se abrindo assim, como faço com você. Inclusive, foi esse o motivo de nossa briga mais feia, né. O que eu entendi é que não posso pressionar, mas também não posso deixar pra lá, senão a coisas complicam. Por isso, tudo o que eu queria era que meu namorado sentisse a segurança de falar comigo. E foi difícil ficar quieto. Mas ele finalmente abriu a boca novamente: "Acho que... Estou me sentindo meio estranho por ter sido passivo. E não fique chateado, sei que isso é horrível da minha parte, Zak. Mas... Ah, não sei como explicar".

Eu desviei o olhar, e não tenho certeza se era porque estava doendo em mim, ou se era para que ele não se sentisse pressionado. Se eu ficasse encarando poderia dar a impressão de que o estava forçando a falar, e essa era a última impressão que eu queria que o Nicolas tivesse.

Mas, como o silêncio durou tempo demais, arrisquei.

"Por acaso o rótulo que isso dá de 'gay' está te incomodando?"

"Mas eu já era... No instante em que decidi que queria ficar com você. Não é?"

Por um momento pensei que a pergunta do Nicolas era retórica, mas logo notei que ele realmente esperava uma resposta. Ele já me disse que não é de pesquisar muito sobre isso, e por ser tão fechado duvido que tenha conversado a respeito com a Jack no passado.

"Nick, no momento em que você bateu uma punheta para um garoto de cartaz de banda você já deveria ter se considerado, no mínimo, bissexual. Depois você falou sobre ser Pan, e agora o rótulo de homossexual tá te incomodando... Eu não entendo".

"Não entende? O que?"

"Quem tem receio de se mostrar em público sou eu! Você até me beijou na frente de sua classe toda, andou de mãos dadas no shopping sem se importar com olhares... Por que no sexo, que a gente faz sem ninguém ver, as coisas mudam?"

Nessa hora, eu já estava olhando para ele de novo. E dessa vez não dei brecha de desviar o olhar, porque até as menores expressões dele me interessava. Meu maior medo, para falar a verdade, era perceber algum sinal de nojo. Mas tudo o que eu vi foi uma cara pensativa.

"Eu não sei..."

"Tenta, Nick, por favor..."

Então, novo silêncio. Aquele silêncio que quase faz meu coração querer sair pela boca e gritar para que ele desembuche, pelo amor dos deuses.

"Sinto como se... Alguém tivesse entrado no meu quarto e me arrancado de lá sem que eu quisesse sair. Isso faz sentido?"

Eu pensei antes de responder. Eu queria mesmo entender aquilo, e essa coisa de quarto poderia significar um zilhão de coisas. Mas se eu não arriscasse, poderia perder o embalo do Nicolas.

"Será que... Você tem receio que eu te olhe naqueles ângulos?"

Por um momento, ele riu.

"É, acho que tem um pouco disso, também. Mas tenho que ser sincero com você: desde nossa primeira transa eu nunca tinha pensado em fazermos essa inversão. Acho que posso estar sendo um cretino, mas eu talvez tenha me acostumado com as coisas do jeito que estavam. Isso que aconteceu foi totalmente novo... A sensação incômoda, a vergonha que senti por você me olhar bem ali, e aquela coisa de que 'tomar no cu' sempre foi algo dito para ofender, então ainda está categorizado como algo pejorativo para mim... Acho que é isso".

Por um momento, achei engraçada a forma como ele falou, mas aos poucos, enquanto ele falava, meio que fui captando o sentido de tudo.

Acho que se eu fosse culpar alguém pela forma como meu namorado estava se sentindo, esse culpado seria a própria sociedade, que sempre faz todo o possível para que as pessoas "fora da linha" se sintam o mais mal possível por serem quem são.

Não que eu vá parar de mandar os outros tomarem no cu ou se foderem (está enraizado demais em mim, seria difícil abrir mão), mas é fato que esse assunto – homens tendo prazer anal – é mais tabu que falar mal da mãe. Mas eu não tenho nenhuma moral para criticar quem fala mal da mãe. Provavelmente sou o pior filho que já caminhou sobre a terra. Se não fosse minha avó insistir em me chamar de Isaac, é capaz de que minha mãe tivesse mandado colocar "Merdinha" na certidão de nascimento.

Ok, já estou dispersando aqui... Depois que o Nicolas contou aquilo, fiquei apenas processando a informação.

"Então... Acha que fui rápido demais, naquele dia?"

Ele respirou lentamente, bem fundo, e confirmou com a cabeça.

"Ah, Nick... Por que não pediu para eu parar?"

"Não... Apesar de tudo, eu queria ver seu rosto enquanto fazia isso comigo. Você estava tão lascivo, tão envolvido, que não tive coragem de parar. Eu queria mesmo ver você, e... No fim das contas, gostei do que vi. Eu só não estava pronto. Não é para fazer essa cara de culpa, ok?". Até ele falar aquilo, eu sequer tinha notado, mas eu estava quase me ajoelhando para pedir perdão. "Se a coisa rolou, é porque eu quis que rolasse... Eu tinha que testar e saber o que é estar em seu lugar".

"Você não precisava ter feito isso".

"Bom, eu quis. Como eu disse, a cara que você estava fazendo era boa demais para deixar passar, Zak. Então entenda que não tem culpa nisso, tá bom?"

Eu concordei, mas no fundo de minha mente aquela voz chata ficava me lembrando que eu posso até não ter a culpa por ter feito, mas sem dúvidas era responsável por ter feito mal.

"Da próxima vez me controlo. Não vou sair penetrando você só porque estou louco de tesão vendo sua bunda piscar pra mim".

Eu falei isso tentando conter o riso, mas não consegui. Ele me puxou para bagunçar meu cabelo, e pediu para que eu falasse mais baixo, já que a sacada de meu ex-futuro-quarto ficava logo acima. Nessa hora meu coração gelou. Já pensou se a Jaqueline ou o Jonas ouvissem a conversa? Ao menos ouvi a televisão ligada alto no andar de cima.

Ainda me abraçando para me despentear, o Nicolas perguntou: "E quando vai ser essa próxima vez?"

Minha mente trabalhou rápido. Eu queria naquele mesmo instante (o assunto me deixou de pau duro, e não tinha nem como eu disfarçar), mas fazer no sofá seria loucura, pois não estávamos sozinhos como da última vez. Então olhei para o carro.

"E se...?"

"Ah, Zak... Não sei..."

"A gente deixa tudo apagado... Eu juro que gemo baixo".

"Você, gemer baixo? Tenho minhas dúvidas..."

A melhor parte era que ele estava comprando minha ideia aos poucos. Percebi ele espiando em volta, olhando para a sacada acima, como se avaliasse o terreno.

Amiga, a gente é louco. Eu sei. Em plena noite de quarta-feira, peguei minha mochila e fomos para lá. Fizemos questão de fechar a porta do carro sem bater, no maior silêncio do mundo, e não acendemos nada. Fomos para o banco de trás, e dali em diante não teve mais um pingo de conversa.

Ele me beijou como se não nos víssemos há semanas, e não esperou muito para entrar em mim. É, foi com essa pressa mesmo que a gente começou. Acho que, para falar a verdade, as preliminares já tinham acontecido em nossas cabeças, porque eu estava no ponto certo, só querendo senti-lo dentro de mim. O único momento em que falei algo foi para pedir:

"Quero que coloque isso enquanto me come... Vai, coloca e liga".

Se o nome disso é tratamento de choque, então posso dizer que foi exatamente a tática que eu decidi adotar. Fazer ele se acostumar aos poucos com a penetração que não fosse o meu pênis, algo que sem dúvida poderia dar a ele uma sensação agradável (aquela coisa tremendo dentro da gente é incrível), e com o tempo quem sabe ele venha a desejar que seja eu ali, não concorda?

A parte boa é que ele parecia estar gostando. Enquanto estocava dentro de mim, daquele jeito meio cavalheiro e meio cafajeste (que eu amo, diga-se de passagem), o vibrador fazia o trabalho dele enterrado no Nicolas. Eu queria ter visto aquilo, olhado bem de perto o ânus dele alargado e cheio de lubrificante, mas ele disse que esse era um passo grande demais.

Só me restou aproveitar o que estávamos fazendo sem reclamar. E tive que morder minha camiseta para não gritar de tesão. Ah, como aquilo foi bom... E o Nicolas fez umas caras diferentes do comum.

"Hunn... Tá bom, lá atrás?"

Minha pergunta foi meio ousada e ao mesmo tempo invasiva. Mas como estávamos ambos no clima, nem me importei.

"Ah, sim... Ah, Zak..."

Ah, meus deuses... Ele falou exatamente assim. Na verdade ele não falou exatamente. Aquilo foi quase um gemido, e não tinha como duvidar que estava bom.

Eu gostei. Aliás, eu amei. Ser dominado daquele jeito pelo Nicolas sabendo que ele também estava com algo enterrado. Ah, céus, eu fico só lembrando e me dá vontade de repetir tudo! Mas agora o Nicolas está estudando, e a jack está na sala. Seria quase impossível termos um momento daqueles agora.

Hum, pensando agora... Eu sempre me sinto dominado pelo Nicolas quando a gente transa. Mesmo quando sou eu montando nele, o fato de estar sendo penetrado é como se eu estivesse sendo dominado.

Será que é por isso que ele se sentiu mal naquele dia? Hum... Vou conversar isso com ele. Talvez nem o Nicolas tenha se dado conta da sensação, já que não comentou nada.

E por ele ser sempre tão na dele, com o mundo dele no controle, sempre sendo quem cuida de todos, talvez o fato de "ser dominado" tenha batido de frente com algo que ele entende sobre si mesmo.

Não acha?

Amiga, acho que pode ter sentido.

Quando eu descobrir algo, te conto. E assim que houver novidades, conto também. Amanhã vamos ao mercado para comprar as coisas para o churrasco de sábado. Estou meio ansioso, e não sei nem se isso é bom ou ruim. Eu não sou chegado a eventos cheio de pessoas, mas dessa vez fiz questão, tanto pela inauguração do "LAR" quanto para me sentir mais protegido cheio de gente.

A transa no carro foi deliciosa, mas confesso que ficar lá fora só nós dois deu um gelinho. Mesmo com a cerca elétrica.

Ah, já estou começando a devanear sem rumo, então significa que meu assunto por hoje acabou.

Boa noite, amiga! Até o próximo e-mail!


Hey, olá! Lyan aqui.

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Quem sabe algo lhe interesse? 😊


Ah, e não esquece daquele voto lindo seu 


Conheça também meu novo trabalho:

Estrela Transcendente



Atenciosamente,

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